O Protetor escrita por Pedro Haas


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Obg por tudo, espero q gostem



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Hoje era um dia especial, Carlos segurava a mão de Gisele enquanto caminhavam pelo parque Villa Lobos, em São Paulo. Haviam visitado todo tipo de lugares hoje: Jardim Botânico, pequenas exposições de arte, e até um pequeno campo de flores, onde Carlos pegou uma delas e colocou atrás da orelha de Gisele. Ela estava linda, com um vestido rosa e detalhes brancos, que destacava sua pele, era um dos que ela mais gostava. Ela adorava vestidos, e as vezes Carlos sentia isso no bolso, mas hoje não era dia de ficar pensando em dinheiro.

Ele iria fazer o pedido hoje, estava decidido. Desde que a conheceu naquela noite, nunca havia se sentido tão feliz. Já tivera outras namoradas, mas, no fundo, sentia que ela era a mulher da vida dele. Agora, eles moravam juntos, se ajudavam e já tinham praticamente uma vida de casados, não havia problema em oficializar tudo, havia?

Eles estavam sentados na grama, observando o pôr do sol e jogando conversa fora, o dia de folga estava acabando, ele deveria pedir logo. Seu coração acelerou e ele acabou gaguejando um pouco.

— O que foi? – ela perguntou, sorrindo. Seu rosto iluminado pelo pôr do sol.

— Só... Estou observando sua beleza.

— Ah, para com isso! – ela disse rindo constrangida.

Ela bateu no ombro dele e olhou para frente, observando o sol.

— Obrigada, Carlos.

— Pelo que? – ele perguntou, colocando a mão no bolso, buscando algo que Gisele não se importou em perguntar.

— Por estar ao meu lado, me aguentar dessa forma maluca que eu sou.

— Gi?

— Oi – ela disse, se virando para ele – Ah, meu Deus...

Ela levou as mãos ao rosto, estava surpresa. Carlos segurava uma pequena caixinha aberta, revelando um par alianças, com um sorriso bobo.

— Bem, você sabe, eu não sou muito bom com isso, mas... – ele suspirou profundamente, reunindo coragem – Casa comigo?

— Eu... – ela se levantou, limpando o vestido com algumas batidinhas – Eu... Preciso pensar, me desculpe, é tão inesperado.

Carlos desviou o olhar, por um lado ela estava certa, ele se sentia inexperiente demais, passional demais, talvez isso assustasse Gisele um pouco. Talvez fosse isso...

— Tudo bem! – ele disse, animado, escondendo o medo de ter ferrado com tudo – Seguinte, vamos pra casa, já tá tarde.

***

Era engraçado como o mundo havia se tornado tão previsível para Duda. Meses atrás, quando teve que fugir do Vazio, ela pensou que talvez não estivesse tão preparada quanto ela imaginava estar. Ela era uma garota de metas, que perseguia resultados, e enfrentar um homem tão imprevisível quanto o Vazio havia mexido um pouco com ela. Porém, desde aquele dia, ela nunca mais o vira; era como se ele tivesse sumido do mapa. Claro, algumas vezes ela enfrentava alguns FAN disfarçados que ela percebia tentando se esgueirar para seguí-la. FAN; ela não sabia o que significava, aqueles idiotas não pensavam em muitas outras coisas que pudesse dar a Duda alguma dica. Essas letras ficavam estampadas em seus pensamentos, juntos com os pensamentos rápidos de ataque. E era nesses que ela se concentrava para contra atacar e fugir. Mesmo sabendo que era uma pessima ideia, ela queria muito reencontrar o Vazio, ele lhe dava uma sensação de adrenalina que uma pessoa normal não era capaz.

Ela estava deitada na grama de um parque em São Paulo, de onde um casal havia acabado de sair, observando o pôr do sol. Tinha se saído muito bem, muito melhor do que o esperado. Sempre apagava seus rastros, influenciando outras pessoas a lhe dar dinheiro; não era muito afim da ideia de ameaças, parecia fazer da coisa toda um roubo de verdade. Claro que, influenciar as pessoas a lhe darem o dinheiro, ou comida, ou até mesmo abrigo, não era muito diferente de roubo, mas a deixava com a consciência mais limpa. Era por uma boa causa.

Ela estava com os cabelos ondulados na altura do ombro e razoavelmente bem cuidados. Vestia um colete marrom e uma camisa listrada preto e branco, tudo muito simples, ela não chamava muita atenção. Ainda tinha a altura de uma criança de 14 anos, o que a fazia parecer indefesa, e é exatamente isso o que ela queria.

Ela tomou uma garrafa de água aos goles e se levantou quando o sol havia acabado de se pôr, algo estava errado. Um dos problemas de se viver a maior parte do tempo na rua, era que a paranóia era difícil de se evitar. Tudo parecia quieto demais, o tempo ameno demais, as pessoas se divertiam demais...

Ela olhou para seu celular – Não o mesmo que tinha quando abandonou sua casa, e sim um que "ganhou" de uma garota que Duda se certificou de saber que tinha outros iguais –, uma mensagem havia chegado.

"Eu sou Luíz, desculpe a demora", Disse a mensagem. O número não era nacional, pelo menos, não era de nenhum lugar que Duda reconhecesse. "Represento o Lar Arsalein". A mensagem era curta e simples. Duda não sabia se poderia confiar, mas nunca havia conversado nem passado seu número para ninguém; o celular era mais parte do disfarce de adolescente normal do que qualquer outra coisa.

Duda tentou responder

— O que sabe sobre o Lar? – disse em voz alta, enquanto digitava. "Número inválido".

"Não poderá responder a estas mensagem". Duda praguejou, tantas perguntas, tanta coisa para perguntar e esse maldito... "Encontre-nos neste ponto em exatos 3 dias". A nova mensagem interrompeu a linha de pensamentos da garota.

Logo depois dela, um mapa ampliado apareceu na tela do celular, marcado com um pequeno ponto vermelho. Marcando uma casa na Avenida Atlântica, na zona sul.

"Anote este endereço em sua mente, esta conversa não existirá mais em 5 segundos...".

— Filho da... – ela se apressou e memorizou rua, número e pontos de referência; ou pelo menos tentou.

O celular dela esquentou por alguns instantes, e toda a conversa desapareceu, mensagem por mensagem. Se apagou da memória e do histórico, era como se nunca tivesse estado lá.

A garota olhou em volta, sentindo uma pontada de ansiedade. Ela havia passado esse tempo todo procurando pistas furadas, tudo que havia encontrado sobre "Arsalein" era uma escola particular e histórias sobre seu fundador, do qual ela mesma não conseguira o endereço. Seu próximo passo era descer até o sul, procurando de uma vez por todas a diretoria daquela maldita escola.

Não queria admitir, mas por um tempo havia se divertido sendo uma garota de rua. Bem, seus poderes lhe davam uma vantagem significativa, claro, mas ela já não via mais tanto valor em achar o Lar Arsalein quanto nos dias em que havia fugido de casa.

De que lhe serviria, afinal? Uma casa que parecia existir somente nas lendas, que lhe ajudaria a lidar com seus poderes e a viver em sociedade. Ela já sabia lidar com seus poderes, já sabia viver na sociedade, o que ela ganharia ao entrar nesse lugar? E, agora, depois de todo esse tempo, eles finalmente entram em contato. Dizendo para ir a lugares desconhecidos, tentando ser discretos. Poderia muito bem ser uma armadilha da FAN. Mesmo assim, ela estava disposta a descobrir.

Ela estava andando pelo parque que, naquele momento, se encontrava estranhamente vazio. Duda olhou ao seu redor, toda aquela sensação estranha voltou com tudo.

Junto com uma outra sensação, uma que Duda não sentia há muito tempo.

O Vazio.

"FAN", "FAN", "FAN".

As letras invadiram sua mente, e, de repente, três homens apareceram ao seu redor, a cercando. Seus pensamentos não diziam outra coisa, estavam plenamente focados em captura-la e nas letras. Era como se estivessem preparados para enfrentar especificamente ela. Duda tentou deixar o medo de lado e encarou eles de volta, medindo o momento certo para alcançar sua arma que descansava na mochila.

O Vazio estava por perto, com seu silêncio arrebatador, Duda só não sabia onde. Olhou em volta, procurando-o, e foi quando os FAN atacaram.

Duda conseguiu prever o primeiro golpe numa fração de segundos, desviando por pouco de um soco certeiro. Ela girou e acertou um chute na costela do homem, buscando por algum ponto frágil para que ele caísse e não mais levantasse. Outro veio em sua direção neste momento, enquanto o último apenas a rodeava, querendo impedir que ela fugisse se tentasse. Se conseguisse.

O segundo a atacou por trás, mas Duda jogou seu corpo para o lado e respondeu com uma cotovelada na altura do estômago, ela se virou rapidamente e socou o nariz do homem. Estava ficando boa nisso. As pessoas não a surpreendiam mais, todas elas tinham os mesmos pontos fracos, os mesmos padrões. Todas elas a subestimaram por ser apenas uma garotinha, e todas elas iriam pagar por isso.

Ela saltou rapidamente e contra atacou o primeiro, que já estava vindo em sua direção, com um chute no rosto. Por ser um pouco magricela, aproveitou para usá-lo de impulso e correr dali. Ela não era boba, sabia que não aguentaria se a batalha continuasse, tudo o que ela precisava fazer era ganhar tempo e esperar que conseguisse fugir, geralmente, ela era bem sucedida agindo assim.

Ela encarou o terceiro FAN de frente e girou o corpo para o enganar, fazendo ele reagir para um lado enquanto ela fugia de outro. Duda gargalhou com a vitória.

— Tchau, otário – ela mostrou o dedo do meio para ele e correu com toda velocidade.

O Vazio estava ficando para trás. Ela iria conseguir, de novo, estava se sentindo muito orgulhosa de si mesma e...

Click, BUM! Uma bala passou quase levando sua cabeça junto. Duda parou por um instante, horrorizada, definitivamente nunca estivera tão próxima da morte como neste momento. Olhou a sua volta freneticamente, e encontrou outros 2 FAN, um de cada lado, escondidos nas árvores do parque. Estavam armados.

— Droga! – ela pensou alto.

Disparou para o outro lado, correndo para o lado do estacionamento do parque. Concentrou para localizar os inimigos, O Vazio havia desaparecido, de novo, mas em seu lugar, dúzias de FAN's apareceram. Dúzias, muito mais do que ela já havia enfrentado, eles não estavam brincando. Ela estava encrencada.

Ela correu com todas as forças, tentando se desviar dos FAN que apareciam. Um deles simplesmente surgiu do nada, e Duda foi agarrada. Ela se debateu freneticamente nos braços do homem parrudo que a segurava, tentou apertar o pulso dele, buscando pontos fracos, nada.

— Filho da...! – ele a chacoalhou e ela mordeu os lábios.

Ela estava chorando. No que eu pensei? Que poderia sobreviver sozinha contra eles pra sempre? Ela lamentava, Eu sou apenas uma criança, meu Deus... Eu...

Você é mais forte do que imagina... – uma voz desconhecida invadiu seus pensamentos, abrandando seus sentimentos, a deixando menos desesperada.

Ela usou este breve momento de paz para se concentrar, direcionando todo seu poder ao FAN que a segurava. O influenciando com todas as suas forças a solta-la. Foi um sucesso. Duda desceu ao chão e suspirou pesadamente, se virou ao FAN que estava parado e o encarou com desdém.

— Fique parado, até que alguém fale seu nome três vezes – ela disse com um sorriso malicioso – Então você vai bater nela, até esta pessoa dizer o nome da sua mãe.

Ela virou as costas e continuou a correr, rindo sozinha.

***

O parque estava estranhamente vazio, e Carlos jurava ter ouvido tiros ao fundo, mesmo assim não apertou o passo em direção ao seu carro. Ainda segurava a mão de Gisele, ainda temia ter estragado tudo. Ela estava pensativa demais, calada demais, com o olhar perdido.

O sol já havia se posto e estava começando a escurecer, foi quando ele ouviu os tiros. Longe, no outro canto do estacionamento, alguém corria aos tropeços, enquanto alguns homens atrás atiravam.

— Gisele, entra no carro, agora! – ele olhou para ela com preocupação, ela também já havia visto e não questionou.

Mas que diabos... Ele pensou, correndo a porta do motorista e abrindo o carro, deixando ele e Gisele entrarem. A figura estava se aproximando, o estacionamento vazio, num espaço aberto demais, ela estava correndo diretamente para o carro de Carlos. Uma garotinha.

Ela estendeu as mãos em sua direção, e não precisou falar nada para Carlos entender o que ela queria. O que ela precisava. Proteção. Carlos saiu do carro rapidamente, com apenas um pensamento na cabeça, ele deveria protegê-la, não importava o quê. No momento que pôs o pé para fora, sua "Explosão" aconteceu. Ele correu em direção à garota.

— Carlos! – Gisele gritou horrorizada. O que ele estava fazendo era perigoso, afinal, por que exatamente estava fazendo aquilo?

Ele avançou até se encontrar com a garota.

— Me proteja! – ela o olhou com olhos que tentavam parecer sérios, mas que mais suplicavam do que qualquer outra coisa.

Carlos estendeu o braço e o deixou tenso, ele havia visto que, lá longe, um dos homens havia atirado bem na direção da cabeça da menina. Ele não podia deixar. Nanossegundos foram necessários para que Carlos, durante sua explosão, pudesse capturar a bala em pleno ar antes de atingir a cabeça da garota.

***

Duda já havia comandado proteção para diversas pessoas, desde que aquele caminhão parou na autoestrada no primeiro dia de sua fuga. Nenhuma delas nunca havia segurado um tiro com apenas um arranhão. Nenhuma delas tinha as pupilas e as íris dos olhos prateados daquela forma. De certa forma, este cara assustou mais do que todos os outros FAN que a perseguiam, mas ele estava ao seu lado, só precisava manter sua influência sobre ele.

No instante seguinte, ela correu até o carro do homem e se jogou no banco de trás, o homem a acompanhou logo depois, sendo acompanhado pelos berros da mulher que estava no banco do passageiro.

Ela vai ser um problema... Duda não estava interessada em perder a influência numa pessoa como aquele cara, mas a mulher com certeza a atrapalharia. Duda apertou os olhos em direção a mulher, que retornou com um olhar frio, se esforçando para usar sua influência e mandar ela calar a boca.

O homem, Carlos – como a mulher o chamava – deu partida no carro cantando pneu, pouco antes dos FAN os alcançarem. Duda passou olhando para eles, mostrando o dedo.

De longe, o Vazio a observava com um sorriso no rosto.

***

Duda estava tentando, com dificuldades, processar todas as informações.

Uma voz esquisita apareceu em sua cabeça e a acalmou? Não, ela a influenciou a ficar calma. Muitos FAN's a perseguindo, mais do que em qualquer outra vez, o que era aquilo?. O homem que pediu proteção tem poderes, tão forte que segurou o tiro com a mão...

Duda olhou para ele do banco de trás, seus olhos prateados agora estavam castanhos, e seu rosto estava suando frio. A velocidade que estava dirigindo não o deixava tirar os olhos da estrada, ele ainda estava sob a influência de Duda, e enquanto estivesse, ela não teria problemas.

— Carlos! Que porra é essa que você tá fazendo? – a mulher, Gisele, estava extremamente nervosa. Tanto, que Duda não conseguia mais segurar a influência nela, então teria que aguentar ela gritando por um tempo.

— Meu amor, se acalme – Carlos respirava fundo, Duda sabia que a cabeça dele estava em polvorosa agora. Ela fechou os olhos. — Temos que deixar ela segura, sinto isso, ela é importante, e iria ser morta! Não posso deixar isso acontecer!

— Carlos! – ela gritou injuriada quando Carlos ziguezagueou por entre os carros na Marginal Pinheiros

— Eles estão vindo... – ele disse, os olhos dele estavam ficando prateados lentamente.

50 metros atrás, duas SUVs pretas desviavam dos mesmos carros que Carlos passara a instantes atrás. Estavam sendo seguidos. Duda tirou de dentro de sua mochila sua Imbel, roubada de um FAN há algumas semanas. Gisele calou a boca na hora, olhando para a garota com a expressão mista de horror e confusão. Duda abriu o vidro do lado esquerdo de trás e se esgueirou para fora, tentando ter uma visão clara das caminhonetes ferozes que a perseguiam.

Ela nunca realmente precisou atirar, seus poderes sempre serviam, mas carregava uma arma por motivos de intimidação. Já havia tentado atirar antes, o coice da arma quase lhe rendeu um ombro deslocado, mas eventualmente ela aprendeu a controlar a arma... A mira, no entanto...

Colocou os braços para fora de um jeito desajeitado, segurando a arma com força, suas mãos estavam suando, seu corpo inundado pela adrenalina. Os carros ao redor de Carlos se afastaram para sair do caminho, alguns buzinaram de forma assustada, apenas a presença da garota com a arma para fora já causou um alvoroço, ela nem ao menos precisou dos seus poderes para limpar o caminho. Bam! Um tiro ricocheteou perto do carro de Carlos, e Duda não pensou duas vezes antes de devolver o ataque. Seu tiro, além de desestabilizar seu equilíbrio, passou bem longe do alvo.

— Merda! – ela se ajeitou, tentando manter a calma.

Carlos ainda estava com seus olhos prateados, sua "Explosão" ainda não havia terminado. O velocímetro marcava 130kmph, Duda sentia o carro balançar enquanto Carlos costurava os veículos a sua frente.

Ela tentou atirar de novo! O retrovisor de uma das caminhonetes explodiu.

— Chupa essa! – ela gritou mostrando o dedo, um tiro atravessou o para-brisa traseiro e ela se assustou, voltando para dentro do carro.

Gisele encarou o rastro da bala, que por pouco não a atingiu, e parou o olhar no rosto da garota que seu namorado havia acabado de salvar.

— Carlos... – ela disse, tremendo, seu rosto estava vermelho e um pouco inchado, pelo medo e choro – O que está fazendo...?

Ele olhou para ela, e Duda sentiu sua influência falhar por um momento.

Carlos pegou a pistola de Duda e pisou fundo no freio.

— Se segurem! – Duda quase voou para fora do carro, por esta sem o cinto.

As duas caminhonetes desviaram por instantes com a redução brusca de Carlos, uma delas capotou por diversos metros, tão rápido que atravessou a barragem da marginal e caiu na linha do trem ao lado. Carlos apontou rapidamente a pistola para o segundo carro, e com precisão, atirou no pneu dianteiro da caminhonete, fazendo-a girar na pista numa velocidade descomunal. Seus olhos voltaram à cor normal, e ele apenas seguiu em frente, sem prestar atenção no estrago que acabara de fazer. 

***

— Isso é loucura... – Gisele sussurrou, com o controle remoto em mãos, olhando para a TV, sentada no sofá da sala de casa. Seu rosto estava vermelho, maquiagem manchada, muito diferente da mulher que era há uma hora atrás.

Ela olhou para Carlos que estava sentado na mesa de jantar da casa pequena que tinham, ele estava com a mão na cabeça, quieto. Duda estava do outro lado da mesa, recarregando a pistola, encarando Gisele. Fazendo força para parecer inabalada. 

— Tanta coisa... – ele disse.

— Carlos, onde estava com a cabeça? Quem eram aquelas pessoas? – ela voltou seu olhar ao namorado – Como... Como você soube fazer aquelas coisas? Seus olhos estavam estranhos... – enquanto ela perguntava exasperada, Carlos esfregava as mãos na cabeça.

Também estava vermelho, a adrenalina baixou e todos estavam confusos. Duda nunca levou sua influência tão longe, não sabia que efeitos isso teria em alguém como Carlos, mas decidiu ficar calada.

— Eu não sei... – ele disse, baixinho.

— Por que você fez aquilo? – ela se aproximou dele e segurou sua mão – Será que... Foi por eu ter recusado sua proposta?

Carlos dirigiu o olhar a ela, um pouco culpado. Duda percebeu que essa deve ter sido a desculpa que ele deu a si mesmo para todas aquelas ações. Como saberia? Ela não pode ler a mente de ninguém enquanto está exercendo influência. Quase sentiu pena de Carlos. Quase.

— Eu... – ele não conseguiu continuar a frase.

— Seu desgraçado! – ela se afastou dele rapidamente – Que tipo de atitude é essa? Se envolver com gente perigosa – olhou para Duda, que devolveu o olhar com um risinho cínico – Com a Polícia! Pra que? Pra me assustar? Me impressionar?

Carlos não tinha palavras para discutir. Sua cabeça estava uma verdadeira bagunça naquele momento, tudo era assustador, desconhecido. Muitas perguntas, poucas respostas.

Ele olhou pra Duda enquanto Gisele falava, ele procurava por algum apoio.

— Gisele... – Maria Eduarda começou a falar, mas foi recebida por um olhar frio que a fez engolir seco. Vaca...

— Quem diabos é você, afinal? – ela quase gritou essas palavras. – Quem são vocês?

Silêncio. Duda resolveu não responder, tinha que concentrar sua influência em Carlos, senão as coisas poderiam ficar bem feias. Quero nem pensar no que ele faria comigo se ele usasse esses poderes contra mim... Ele tem que estar do meu lado. Ela repetia essas palavras para si mesma, enquanto Gisele se afastava.

— Quer saber? Chega – ela foi ao quarto do casal, e instantes depois, voltou com uma mochila nas costas – Vou ir pra casa da minha irmã. Não me procure, fique com a sua... Protegida aí – ela disse com asco na voz – Não quero saber de você, não quero ouvir seu nome.

— Gi... – ele começou a falar, mas Duda conseguiu calar sua boca com sua influência.

— Não fale nada, já chega! – ela limpou os olhos marejados – Chega... Chega...

Ela suspirou, e se dirigiu a saída.

— Adeus, Carlos.

Ela se foi, deixando-o com as mãos no rosto, chorando baixo. Duda apenas observara, aliviada por tudo ter corrido bem.




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Notas finais do capítulo

Oq acharam? Façam suas apostas!



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