O Protetor escrita por Pedro Haas


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

o que acharam da capa? to apaixonado por ela até agoraaa



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Maria Eduarda estava ofegante, correndo pelas ruelas de paralelepípedos com uma pequena mochila balançando nas costas. Ela vestia uma roupa confortável de corrida, seus cabelos castanhos ondulados estavam presos num coque descuidado, para que não a atrapalhasse na fuga. Tentou não forçar muito seu corpo, seria problemático se ficasse exausta, mas agora, estava nervosa.

Ela sempre fora uma garota racional, planejou sua fuga com meses de antecedência; meses usados para pesquisas escondidas e treinamento de seus poderes, mas teve que antecipar tudo esta noite, quando percebeu que sua mãe a havia entregado para alguma instituição estranha, e ela não estava nem um pouco interessada em descobrir.

Naquela noite, enquanto pesquisava em seu quarto, cinco homens invadiram sua casa, tentando fazer o mínimo de alarde possível, pensaram que ela estaria dormindo àquela hora. Subiram as escadas até seu quarto em silêncio, mas seus pensamentos já havia os entregado. Todos, menos um. O Vazio.

Duda era capaz de ouvir os pensamentos das pessoas ao seu redor desde criança, no início era uma bagunça e desencadeou muitos problemas de dor de cabeça, mas agora ela tinha certo controle. Mesmo assim, ainda em seu subconsciente, ela ouvia sem parar, nunca havia silenciado, até hoje. O Vazio era um dos cinco homens que entraram em seu quarto pouco antes dela saltar da janela, ele estava na frente, cabelo bem cortado, barba ainda por fazer, sua postura era impecável, e seu sobretudo preto com um pequeno H azul no peito o deixava com um ar imponente. Ele olhou nos olhos de Duda e sorriu brevemente, o Vazio preencheu os pensamentos dela com silêncio, a deixando atordoada.

Como as pessoas podem viver nesse silêncio o tempo todo? Ela pensou, enquanto corria. Ela era a invasora, a influenciadora, a que sabia de tudo, mas agora que dera de cara com alguém que ela não descobrira o nome com uma busca rápida na sua consciência, ela estava com medo. Medo, como poucas vezes havia tido na vida.

Tivera medo quando as vozes apareceram em sua cabeça, e agora, ironicamente, tivera quando elas desapareceram.

Desde que pulou da janela, no entanto, ela não teve tempo para refletir no que estava acontecendo. Apenas corria, corria e tentava se esconder. Estava atordoada demais para usar seus poderes e se guiar, se sentia como um ratinho sem visão periférica.

Por um momento, pensou ter ouvido uma voz em sua cabeça, uma que intencionalmente abafara todas as outras. E então, ela voltou.

— Maria Eduarda – ele falou metodicamente, seus instintos disseram na hora que era a voz do Vazio – Nascida em 11 de Agosto de 2000, quase 14 anos. Uma Influenciadora...

— Cala boca! Cala a porra da boca! – ela xingou, aterrorizada. Não conseguia rastreá-lo, ele poderia estar ao seu lado, ou do outro lado da cidade. Ela se sentia cega.

— Uma garota sem medo, eu entendo, difícil ter medo quando você sabe exatamente o que outras pessoas pretendem.

Duda olhou em volta, a voz do Vazio parecia logo atrás dela, sussurrando em seu ouvido, a deixando cada vez mais assustada. Maria Eduarda odiava ficar assustada.

Ela finalmente achou e correu até a autoestrada que circundava sua pequena cidade. Estava escuro, completamente escuro. O que por um lado era bom para ela, já que poderia ver qualquer um que se aproximasse. E, seria mais fácil de perceber o Vazio se aproximando.

— Está curiosa sobre mim? – A voz dele invadiu seus pensamentos.

— Você é muito arrogante, não é? – ela respondeu em voz alta, olhando em volta, tentando espreitar na escuridão.

Nenhum carro passava, não havia nenhum poste de luz, tudo estava bem silencioso. Ela sentia o Vazio em sua mente.

— Eu lhe diria meu nome, mas, você me chamar de Vazio é mais engraçado – a voz dele parecera despreocupada, por um momento, Duda suspeitou de que tivesse deliberadamente parado de tentar segui-la.

— Quem é você? – ela perguntou sem rodeios.

— Sou... Alguém como você, ouço as pessoas a minha volta, mexo com elas, você é uma garota inteligente, sabe do que estou falando – sua voz sussurrava no ouvido direito, depois no esquerdo. Estava deixando ela maluca

O silêncio parecia crescer mais e mais, por alguns momentos, Duda não conseguiu nem mesmo ouvir a própria consciência. Era como se ela estivesse surda, e então, antes de qualquer reação, o homem apareceu a sua frente. Sem barulho, sem rastros, ele apenas a olhava com o queixo levantado, no desprezo.

— Você tem muito a aprender – ele estendeu a mão, num cumprimento – Não há muitos influenciadores. Somos únicos, até mesmo em nosso meio. Venha comigo, lhe mostrarei sua gente.

Duda olhou para ele, e por um instante ela considerou a proposta. Era diferente de tudo que estava acostumada, o poder parecia chamá-la, a tentar. Mas tudo mudou quando ela olhou nos olhos do Vazio. Olhos brilhantes. Olhos de um caçador espreitando a presa. Algo lhe disse que ela não deveria confiar nele, e ela seguiu esse instinto.

O silêncio em sua cabeça parecia sufocá-la, e ela hesitou ao segurar a mão dele. Por um instante, o tempo pareceu parar. Ela fechou os olhos e suspirou, quando abriu, vislumbrou o sorriso cínico do homem.

Hora do ataque. Ela o puxou tentando desestabiliza-lo, apertou e torceu o pulso dele, e preparou uma joelhada em seu abdômen. Antes que o Vazio pudesse reagir, antes sequer dela poder mentalizar isso, já estava atacando. O homem se desequilibrou por pouco tempo, mas foi o suficiente para que Duda pudesse se afastar dele. Nesse momento, seus poderes voltaram, e ela sentiu os pensamentos de alguns soldados a espreitando. Eles queriam derruba-la, e ela não deixaria.

Um deles estava atrás de uma árvore, de cara para a cena. Duda ouviu no exato momento em que ele pensou em puxar o gatilho e conseguiu se desviar por pouco. Ela era uma garota atlética, fazia lutas e esportes e se saia bem nisso, quando disparou na autoestrada, correu com todas as forças, na esperança de que um carro passasse.

Outras balas zuniram por perto dela, e ela trabalhava para impedir que elas a acertassem. O Vazio estava em pé, observando a Lua. Duda olhou de relance para ele, se perguntando por que ele não a perseguia, quando um tiro zuniu perto da sua orelha.

Lá na frente, dois faróis brilhavam. Um caminhão. Ela correu na faixa em que ele vinha e estendeu os braços para frente, desesperada, buscando forças o suficiente para que pudesse influenciar o motorista a parar. O pneu queimou o asfalto com a intensidade da freada, Duda não perdeu tempo e se jogou para dentro da cabine, e o motorista zarpou rapidamente.

— Puta merda! – ela pensou em voz alta. Havia dado certo!

Por vezes, quase havia sido atropelada, treinando a sua influência com carros que passavam pela autoestrada. Ela havia se preparado, sabia que um dia precisaria correr este risco. E agora, o motorista do caminhão nem ao menos questionou quando ela entrou, ele apenas sabia que tinha que deixá-la no posto mais próximo, e não conseguia – nem queria – desobedecer esta ordem.

Duda se abaixou para que o Vazio e seus soldados não a vissem no caminhão, rezando para que eles assumissem que ela havia apenas passado na frente e assustado o caminhoneiro. Tudo dependia disso. E quando o veículo apenas seguiu em frente, sem mais nenhuma parada, ela se endireitou no banco e suspirou pesadamente.

Ela conseguiu.

Lar Arsalein a aguardava.

Lá atrás, o Vazio encarava o caminhão sumir no horizonte.

— Muito bem, a operação começou – ele disse no Walkie talkie – Mantenham os olhos nela, vamos ver até onde nossa garota nos leva.

***

Carlos nunca se sentiu muito a vontade com música alta, mesmo assim, seus amigos o convenceram a ir na balada hoje. A casa era grande, a pista que tomava o centro estava lotada, era sexta-feira à noite e estava frio. Muito frio para Carlos, calor para os outros.

Ele não entendia muito bem como alguém conseguia viver numa temperatura constante de 15° e calor aleatoriamente como fazia em São Paulo. Não tinha mais que um mês que saiu do interior da cidade, mas já estava incomodado. A cidade era bonita, mas lotada de pessoas. Eu sempre fui antissocial assim? Ele pensou. Estava acostumado com a cidade pequena, seus campos, as poucas pessoas da qual ele conhecia a todos. Porém, ele estava decidido: saíra da casa dos pais decidido a seguir sua carreira, e ainda estava.

Seus amigos rodeavam a pista, procurando garotas solitárias para darem um bote, enquanto Carlos estava sentado numa das cadeiras elevadas do Bar, decidindo se iria ou não pedir alguma bebida.

— Uma Ice, por favor! – uma mulher falou ao seu lado, ele nem tinha percebido ela chegar até aquele momento.

— Desculpe, eu não trabalho aqui... – ele respondeu, olhando para ela. As últimas palavras sendo pronunciadas lentamente, quando ele percebeu que ela não estava falando com ele.

Ela sorriu, quando percebeu a situação.

— Hey! Qual seu nome? – ela se aproximou um pouco mais dele. Vestia um belo vestido azul marinho que delineava suas curvas. De pele morena e olhos escuros e cativantes, Carlos sentiu o estômago apertando.

— Eu sou o Carlos – ele disse, um pouco tímido. Ele, no geral, não tinha problemas em falar com mulheres, mas, cidade nova, gente nova, ainda o deixava inseguro.

Ela olhou em volta parecendo um pouco preocupada, mas logo voltou o olhar doce para Carlos.

— Olá, Carlos – ela parecia estar no estágio inicial da embriaguez, olhos caídos e a fala começando a se arrastar, mas plenamente consciente. A mulher pegou o drinque pedido, e Carlos sentiu a necessidade de pedir um também, para acompanhá-la – Pode me chamar de Gisele – ela sorriu, seus dentes perfeitos e alinhados e o batom vermelho chamativo, Carlos não conseguiu tirar o olho do sorriso dela.

E por alguns instantes, eles apenas ficaram se encarando assim, com sua linguagem corporal falando por si mesmos. E então, começaram a se conhecer. Lentamente, Carlos perdeu a incerteza, a timidez por estar usando roupas baratas. Ele se sentiu bem conversando com ela, mesmo que ela estivesse sempre olhando ao seu redor.

— Por que fica olhando pros lados o tempo todo? Esperando alguma amiga? – ele perguntou, curioso.

Ela olhou para ele um pouco tensa hesitando em falar, mas antes que conseguisse dizer qualquer coisa, um homem chegou entre os dois com ar um tanto... Agressivo.

— Gisele! Se divertindo com quem hoje? – o homem a olhou com uma expressão cheia de ódio – Cuidado, amigo – voltou seu olhar para Carlos, que estava atônito – Essa mulher vai acabar contigo.

— Cala a boca, Samuel! – ela gritou com ele, e Carlos entendeu a situação na hora – Já acabou, some da minha vida.

Ela disse essas palavras pausadamente, mas o homem – Samuel – se virou com tudo num soco, derrubando Gisele de sua cadeira elevada, fazendo a casa inteira parar para olhar. A música estava alta.

Carlos se levantou sem perceber, seus olhos lhe deram uma visão 360° e o tempo pareceu parar por alguns instantes, e ele soube na hora que estava acontecendo. De novo. Sua explosão. Não era a primeira vez, no entanto, era algo que mais ajudava do que atrapalhava. Era sempre em situações de perigo, sempre que precisava fazer alguma coisa, impedir algum desastre. Sempre que precisava proteger alguém. Durante a explosão se sentia invencível, via tudo, lidava com todas as informações ao mesmo tempo, e não se sentia um fracote como na maior parte do tempo.

Ele se levantou da cadeira e segurou a mão de Samuel com força. O homem olhou para ele surpreso por alguns instantes, mas logo a surpresa foi tomada pela raiva cega e ele virou em um soco certeiro no rosto de Carlos, que se desviou para o lado e chutou o homem na cintura, fazendo-o se desequilibrar e cair.

— Ela disse que é para deixar ela em paz! – Carlos estava ofegante, sua explosão havia terminado, e agora parecia que estava vendo o mundo por um tubo.

Não se sentia mais poderoso, isso era um problema. Ele encarou Samuel e seus comparsas enquanto se movia em direção a Gisele, ajudando-a a se levantar. Estavam em um impasse, estudando uns aos outros, decidindo se atacariam.

— Por favor... – Gisele sussurrou, segurando a mão de Carlos.

Samuel se endireitou e encarou toda a multidão que olhava a briga com olhos ávidos, eles queriam um show, e Samuel decidiu não entregar isso a eles.

— Certo. Pode ficar com ela, amigo – ele se virou — Depois não diga que eu não avisei.

Ele foi embora, acompanhado de seus amigos. Gisele entrelaçou seus dedos nos de Carlos e se apoiou nele.

Tentaria não se envolver em tantas brigas dali pra frente. 


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Notas finais do capítulo

animadinhos? leave your comments below!

sério, eu fico bem contente



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