A Revolução da Tecnomagia escrita por JMFlamel


Capítulo 6
Viagem Agitada


Notas iniciais do capítulo

Kadu parece ter um para-raios de encrencas. Ainda bem que ele sabe como se livrar delas.



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CAPÍTULO 5

 

VIAGEM AGITADA

Mesmo com toda a ansiedade envolvida na ida para Hogwarts, tive uma excelente noite de sono e acordei por volta das 08:30 horas, tomando um banho e revisando o material. Meu pai já havia ido para o Ministério e um carro seria mandado para me levar à Estação King’s Cross.

Às 09:30 h, o motorista tocou a campainha e eu saí, com a bagagem toda pronta. Na gare lotada, comprei uma garrafa de água mineral e me encostei de maneira casual na barreira que separava as Plataformas 9 e 10, atravessando a parede e saindo do lado bruxo da estação, na Plataforma 9 ½. Lá, tratei logo de despachar a bagagem e fui para um dos vagões de passageiros procurar por uma cabine, antes que começassem a lotar.

Quando fui entrar no vagão, um cheiro diferente chamou a minha atenção, um cheiro que não combinava com o local. Me abaixei para verificar se havia algo por baixo do vagão, no momento em que um carrinho passava, levando mais uma carga de malas para o vagão de bagagens. Como o cheiro desapareceu de repente, não me preocupei mais e entrei, logo encontrando uma cabine e me instalando perto da janela, começando a olhar o movimento dos alunos chegando com suas famílias, os calouros ainda meio assustados e os veteranos mais à vontade, reencontrando os amigos e trocando as experiências das férias.

Com pontualidade britânica, sem trocadilhos, o Expresso de Hogwarts deixou a Plataforma 9 ½ às 11:00 h. Depois de cumprimentar os alunos que chegavam para ocupar o restante dos lugares, procurei me entreter com as páginas do livro que eu havia trazido, ainda que aquela impressão relacionada ao cheiro insistisse em não sair da minha cabeça. Um bom chimarrão conjurado animava bem e, à medida que outros alunos chegavam à cabine para ocupar os lugares vagos, eu oferecia a cuia. Aqueles que já conheciam ou que já haviam tomado antes aceitavam de bom grado, enquanto os que ainda não conheciam estranhavam um pouco o amargo do sabor, mas logo gostavam e sorviam com gosto, quando a cuia passava por eles.

—No começo o sabor é um pouco amargo e até meio estranho, mas depois fica bem gostoso. – disse uma garota do terceiro ano, chamada Willa Jane Murdstone, da Lufa-Lufa – Então é uma espécie de chá?

—Sim, Murdstone. – disse, após fazer a cuia roncar, cevar e passá-la para outro aluno – Com a diferença que não é coado, os furinhos da bomba é que filtram, a grosso modo semelhante a um café Espresso.

A chegada do cobrador, para conferir os bilhetes, me fez mudar o foco da atenção, vendo que os bilhetes tinham código de barras e ele usava uma leitora infravermelha para conferi-los fez com que uma luz se acendesse na minha cabeça.

—Com licença, chefe, eu posso lhe fazer uma pergunta?

—Pois não, meu jovem. – respondeu ele – O que seria?

—O Expresso de Hogwarts está começando a utilizar recursos de Tecnomagia?

—Alguma coisa, meu jovem. Leitoras de código de barras para os bilhetes, comunicação por rádios via satélite com as estações, aquela coisa chamada “PGS”...

—“GPS”, o senhor quer dizer. Aqueles localizadores por satélite, que agora estão sendo liberados para uso civil. Eu poderia lhe falar em particular?

—Claro, mas sobre o que seria?

—Tenho quase certeza de que alguém armou um atentado contra o Expresso de Hogwarts. Talvez algum daqueles grupos radicais anti-Tecnomagia.

—Isso é grave, meu rapaz. E de que tipo? – perguntou o cobrador.

—Explosivos. Derivados de pólvora...

—Conheço explosivos, jovem. Minha família é de Newcastle e mineração de carvão não me é estranha. Costumávamos dizer que se algum de nós espirrasse sobre uma folha de papel, sairia um desenho a crayon.

—OK, chefe. – disse eu, achando graça no comentário – Na plataforma, senti um cheiro estranho, que passou logo em seguida. Mas estava passando um carrinho de malas e eu acho que a fonte do cheiro estava nele. Então, deve estar no vagão de bagagens.

—Vamos lá, então. – disse ele – Que não seja uma brincadeira estilo Fred e Jorge Weasley.

—Então o senhor conhece os filhos de Arthur Weasley?

—Quem não conhece aqueles dois aprontadores? Pena que perdemos Fred, na batalha final de Hogwarts. Bem, chegamos. E agora?

Assim que ele abriu a porta, entramos e tentei sentir novamente o cheiro estranho. Fui até uma pilha de malões e parei.

—É aqui. – disse – Agora vamos ver em qual delas. “SUSPECTUM REVELIO!

Um dos malões emitiu um brilho avermelhado e eu logo tratei de separá-lo dos outros, com todo o cuidado.

—É este?

—Sim, senhor. Bem, não parece ter um detonador secundário, acho que dá para abrir. “ALORROMORA!

O malão se abriu e eu vi algo que nunca esperava ver em um trem bruxo. Um detonador com um cronômetro digital e vários pacotes de SEMTEX e C-4.

—Praga! Isto é muito mais forte do que Dinamite ou Nitroglicerina. O que tem aqui é o bastante para transformar o Expresso de Hogwarts em um monte de ferros retorcidos e todos nós em patê de bruxo. E o cronômetro acelerou, acho que era um sistema de segurança acionado pela abertura do malão.

—E o que vamos fazer?

—Só sei que temos que tirar essa coisa do trem. Precisamos jogá-la do vagão, de preferência em um local vazio.

—Vamos abrir a porta lateral. – disse o cobrador – Mas esse detonador não é tecnomagizado?

—De uma forma rudimentar, com um feitiço para que o cronômetro digital não pife. Irônico, usar eletrônicos trouxas enfeitiçados em um atentado para protestar contra Tecnomagia.

—Estamos chegando ao viaduto. – disse o cobrador – Acha que é um bom lugar?

—Com certeza, chefe. – disse – Vamos jogar o malão para fora, quando estivermos no meio, ainda temos algum tempo. Se explodir no ar, os passageiros levarão um susto com o estrondo e a onda de choque. Se explodir no riacho, no máximo os peixes é que vão sofrer. Só o que não pode acontecer é essa coisa explodir aqui dentro.

Levantamos o malão com cuidado e o jogamos, através da porta lateral aberta. A bagagem letal descreveu um arco enquanto caía e, menos de trinta segundos depois, uma bola de fogo alaranjada e um estrondo ensurdecedor anunciavam que o malão havia explodido no ar.

—É, parece que os peixinhos se safaram desta vez. – disse o cobrador.

—E vai ser o assunto da semana entre os passageiros. Ainda bem que o vagão de bagagem é o último e poucos devem ter visto a explosão, somente ouvido o estrondo. Muito obrigado, chefe.

—De nada. Ei, mas você é o aluno transferido do Brasil, cujo pai está colaborando com o Ministério, na difusão da Tecnomagia não é? Seu inglês é perfeito. E como você conhece esses explosivos?

—Meu pai é engenheiro aeroespacial, especializado em propulsão a jato, portanto explosivos militares não são novidade para nós. Reconheci o cheiro do material. Seria bom que o senhor entrasse em contato com o Ministério, mas não entrasse em muitos detalhes para não criar um clima alarmista. Depois eu mandarei uma coruja para meu pai e para o Ministro Shacklebolt.

De volta à cabine, Lancelot Munro, um jovem escocês do quinto ano, da Corvinal, perguntou se eu sabia de alguma coisa.

—Ei, “Gaúcho” (o apelido certamente iria pegar), você sabe o que foi aquele barulho que ouvimos?

—Olha, Munro, eu acho que alguém estava pescando com bombas, no riacho lá atrás.

—Mas a pesca com bombas é proibida! – exclamou Murdstone.

—E ele deve ter exagerado na carga. – disse um calouro, Daniel Fauntleroy, que nós logo começamos a chamar de “Pequeno Lorde”, em alusão ao personagem.

—A erva já está meio lavada. – disse eu, cevando uma cuia e provando, notando que o sabor já estava mais fraco – Se alguém quiser mais, posso conjurar outro.

—Estou dentro, Gaúcho. – disse Murdstone – Dizem que faz muito bem para a saúde.

Naquele momento, entrou uma garota, pequena e magra, com longos cabelos negros e lisos e olhos de um azul penetrante. Uma caloura.

—Com licença, posso ficar nesta cabine? – perguntou ela, com voz baixa, porém firme e educada – Parece que este ano o trem está mais cheio do que o normal.

—Sem problemas. – disse Fauntleroy – A vantagem dessas novas cabines com Feitiços de Ampliação Interna é que elas são mais espaçosas do que parecem, vistas de fora. E sempre cabe mais um.

—Obrigada. – disse ela – Ei, é chimarrão o que vocês estão tomando? Já vi em documentários, mas nunca ao vivo e nem provei.

—Junte-se a nós. – e ofereci a cuia – Acabei de conjurar. Qual é o seu nome?

—Nereida. – disse ela, aceitando e tomando – Nereida Prince. Amargo, mas bem gostoso. Vocês viram a explosão agora há pouco?

—Só ouvimos o estrondo. – disse Munro – Parecia que alguém estava pescando com bombas.

­Nada disso. – disse ela – Eu vi que algo foi lançado daqui do trem. Parecia um malão, que logo em seguida explodiu no ar. Se eu fosse meio paranoica, pensaria que foi um atentado.

—E quem seria o autor? – perguntei, admirado com a perspicácia daquela garota – E por que fariam isso com o Expresso de Hogwarts?

—Ora, os radicais anti-Tecnomagia. – disse ela – E está na cara, é porque a Tecnomagia está se difundindo cada vez mais na Bruxidade e eles não se conformam.

—Não seria bom que muita gente soubesse disso, poderia no mínimo criar um clima de insegurança. – disse, olhando para todos – O Ministério já está ciente do ocorrido e...

O meu telefone tocou, interrompendo a frase.

—Alô? Oi, pai. Eu ia mandar Farroupilha com uma mensagem, logo mais. Sim, explosivos, SEMTEX e C-4. Não, agora está tudo bem, explodiu no ar. O Expresso de Hogwarts foi salvo, mas pelo Condutor. Por favor, omitam minha participação no caso. Obrigado, pai. Tchau.

Guardei o telefone e vi que todos me olhavam.

—Telefone experimental tecnomagizado? – perguntou Nereida – Ele se parece com algo que eu já vi em histórias de ficção. Nem mesmo as fábricas de maior destaque em telefones móveis, tipo a NOKIA, a SONY, a MOTOROLA e a SAMSUNG têm algo assim.

—Então seu pai só pode ser o engenheiro trouxa que está colaborando com o Ministério, na difusão da Tecnomagia. – disse Fauntleroy – Você é Kadu Kapplebaum.

—Sim, sou eu. Como meu pai veio para a Grã-Bretanha, tive que me transferir para Hogwarts. E o que suas famílias acham da Tecnomagia?

—As opiniões estão divididas, mesmo dentro das famílias. Alguns acham que a Tecnomagia vai comprometer as tradições e a identidade cultural dos bruxos, outros são favoráveis, achando que uma maior aproximação com os trouxas fará bem e levará o mundo a uma era de harmonia e cooperação. Já outros, bem mais radicais, acham que aparelhos trouxas e mesmo sua cultura são coisas demoníacas e que devem ser evitadas a todo custo.

—E eu ouvi dizer que você quase foi vítima de um desses últimos, no Beco Diagonal. É verdade, Gaúcho? – perguntou Murdstone.

—Sim, Murdstone. – confirmei – Mas os Aurores resolveram tudo. Só não vamos deixar que isso se espalhe, para não assustar os outros.

—Por mim, tudo bem. _ disse Munro – Todos concordam?

Todos os outros concordaram e a conversa rumou para assuntos mais leves.

—Tem ideia de para qual Casa será selecionado, Kadu? – perguntou Fauntleroy.

—Não, Fauntleroy. Mas seja qual for, darei o melhor de mim. E quanto a você?

—Sei lá, Kadu. Só não gostaria muito de ir para a Sonserina.

—Para mim, uma Casa é uma Casa. – disse Nereida – A Sonserina tem má fama, mas não significa que todo sonserino seja mau-caráter. Vejam, por exemplo, Severo Snape.

—É verdade. – disse Munro – Ele amargou um terrível segredo durante anos e conseguiu enganar o próprio Voldemort.

—Ninguém mais conseguiria espionar para Dumbledore, correndo o risco que correu. No final Voldemort o matou, mas jamais soube da verdade, eu acho. Morreu em duelo contra Harry Potter, ainda pensando que Severo Snape fosse seu espião na Ordem da Fênix. – disse Murdstone.

Quando o trem aproximava-se do final da viagem, trocamos as roupas diárias pelos uniformes de Hogwarts, eu e os calouros com as gravatas pretas, já que ainda passaríamos pela Seleção. Dali a pouco, logo após o anoitecer o Expresso de Hogwarts diminuía a marcha, até parar na plataforma da estação de Hogsmeade.

Saímos dos vagões, enquanto as bagagens eram acondicionadas nos coches “sem cavalos”, na verdade puxados por Testrálios. Eu podia vê-los, pois já havia visto a morte de muitos, inclusive minha mãe, no atentado terrorista ocorrido no dia do meu Bar-Mitzvah. Procurei espantar os pensamentos tristes e ver para onde eu deveria ir, até que ouvi uma voz grave e forte.

—Alunos do primeiro ano e transferidos, venham comigo!

Me virei na direção da voz e vi uma pessoa colossal, toda vestida de couro. com cabelos e barbas longos e desgrenhados. Acompanhei os alunos do primeiro ano e alguns outros transferidos, até um ancoradouro no qual vários botes e um pequeno veleiro estavam atracados.

—Venham, vamos embarcar. Os transferidos comigo, no veleiro. Os alunos do primeiro ano nos botes. Vamos logo, para a sua Cerimônia de Seleção.

Embarcamos e a flotilha mágica, capitaneada pelo veleiro, seguiu pelo lago em direção ao castelo, que logo pôde ser visto.

—É ou não é uma vista maravilhosa? – perguntou o nosso descomunal condutor – A propósito, para aqueles que não me conhecem, meu nome é Rúbeo Hagrid.


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