Cotidiano escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 80
Legado


Notas iniciais do capítulo

80 – Baseada numa experiência pessoal de leitura e/ou escrita



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Sendo sincero, nunca achou que conseguiria. Pensou que passaria a vida toda em estarem do outro lado da balança. Era ainda jovem demais, mas no mundo shinobi começamos a compreender as coisas cedo, principalmente em períodos de guerra como aquele em que havia vivido.

Durante dias, ele simplesmente correu a esmo pela floresta sem olhar para trás, sem querer lembrar-se do tormento que foi estar sob os olhos atentos daqueles que lhe torturaram, fazendo de seu corpo uma zona para experimentos como se ele não fosse mais humano e sim apenas uma cobaia.

Uma cobaia viva, testada de diversas formas para se tornar algum tipo de arma militar, era o que diziam.

Quantos testes haviam executado até que os olhos bondosos daquela mulher que também era prisioneira caíssem sobre si?

Ela poderia ter fugido, tinha certeza que sim. Mas optou por dar-lhe uma brecha, por permitir que escapasse em seu lugar.

Não entendia o motivo. Talvez nunca compreendesse.

Você me lembra alguém, ela lhe dissera certa vez. E quando perguntou quem era, ela estendeu a mão algemada para afagar seus cabelos.

A pessoa mais importante do mundo.

Ele guardou para si o sorriso caloroso, as palavras acalentadoras que lhe lembravam da mãe que havia perdido tão jovem na guerra.

“Vá e viva. Volte para Konoha. Encontre um lar.”

Ele não sabia o que era nada disso. Nada além do branco vazio e eterno e das marcas triangulares que, com o tempo, desapareceram do rosto dela para dar lugar a hematomas.

Sua vida era marcada por tons de roxo que se tornavam esverdeados com o tempo. Como os estigmas e as cicatrizes que sumiam com o tempo.

O vermelho era do sangue que escorria por cada ferimento.

E achou que nunca fugiria. Até que o momento surgiu. Até que aquelas mãos se fecharam sobre seus ombros, dias ou semanas depois – ele não sabia – e tudo o que pôde fazer foi gritar e gritar e gritar até que o embrulharam em um cobertor e o levaram de volta para casa.

Mas ali, naquele orfanato, não encontrou refúgio. Não havia o sorriso caloroso de Inuzuka Hana, ou as histórias que ela lhe contava quando tinham um tempo distante dos olhos argutos de seus captores.

Havia somente o vazio branco da neve que havia lhe acompanhado nos últimos dias—quiçá meses, não sabia ao certo. Era como se tivesse vagado sem rumo apenas para ser encontrado depois que toda esperança havia definhado dentro de seu pequeno corpo.

“Qual o seu nome?”, as pessoas perguntavam, mas na verdade não tinha vontade de responder.

Então Touji apenas compartimentalizava tudo o que sentia, tentando se concentrar naquele sorriso.

Vermelho passou a não representar mais o sangue, mas as marcas que ela carregava.

Encontre um lar.

Ele não sabia o que aquilo significava. Talvez nunca soubesse de fato.

Ou talvez compreendesse apenas quando um sorriso tão caloroso quanto aquele, acompanhado pelas marcas gêmeas no rosto, aparecesse em sua vida novamente, preenchendo-a com cores que Touji ainda desconhecia.


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Notas finais do capítulo

Usei a leitura de Momentos como minha experiência. Para quem quiser saber mais sobre o Touji, ele aparece lá. Acompanhem Momentos, que é uma continuação de Cotidiano!

https://fanfiction.com.br/historia/751536/Momentos/



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