Shino era ele mesmo e então não era ele mesmo.

Ele sentia aquele impulso compelido lutando dentro de si, querendo assumir. E, às vezes, ele conseguia. Como uma duplicata sua, um irmão gêmeo maligno que tomava seu corpo e agia fazendo coisas que ele não faria.

E tudo o que podia fazer era assistir.

Assistir enquanto sua cópia maligna imprensava Kiba contra a parede, beijando sua boca vorazmente, as mãos descendo pelo corpo do menor até que cobrisse cada centímetro, apertando-lhe a cintura com força enquanto os membros roçavam fazendo-o arfar de surpresa, o rosto corado de vergonha.

− S-Shino! – Kiba mal teve tempo de ocultar o rosto antes de sentir a mordida forte em seu pescoço, um gemido escapando dos lábios. Tentou afastá-lo, compreender o que acontecia, quando o olhar voluptuoso do namorado o encarou por trás das lentes escuras.

− Quero você, Kiba. – murmurou em tom lânguido, a voz rouca parecendo um tom de comando e total controle de uma forma que Inuzuka nunca antes vira. – Quero você agora.

Tornou a beijá-lo enquanto puxava o casaco de Kiba para cima, sem se importar com o rastro de marcas que deixava em seu corpo.

Por dentro, Aburame gritava incessantemente, sem ser capaz de alcançar Kiba.

Eu estou aqui, eu estou aqui, eu estou aqui.

Por favor, por favor, por favor.

Mas não era ouvido. Apenas o som dos beijos molhados, das roupas alcançando o chão.

Tem que lutar contra isso, não se deixe vencer, seu pai dissera. Mas era tão difícil.

Enquanto isso, assistia a seu doppelganger fazer tudo aquilo que refreava em seus próprios desejos.

Respirou fundo. Sabia que se ele continuasse assim... se Kiba continuasse assim...

− Pare com isso, maldito! – A voz do namorado o surpreendeu, puxou-o de volta para a realidade, fazendo com que aquela voz que tentara lhe tomar... com que tudo aquilo silenciasse. Os gritos. – Shino. Olha pra mim.

Escuro.

− Shino!

Seus olhos se abriram de supetão, luz intensa cegando-o até que Kiba colocou-lhe os óculos de volta na face.

− O que... o que aconteceu? – A cabeça seguia confusa, os pensamentos sem coesão.

− Você... não se lembra? – Kiba desviou o olhar por um momento. Ainda sem o casaco, Shino enxergou as marcas no corpo do namorado. Vergonha tingiu sua face.

− Eu.... sinto muito.

− Não era você. – Kiba murmurou, os olhos voltando-se para Shino.

− Como você...

− Não era seu cheiro. – rebateu. – Era algo amargo... ruim. Feria meu olfato. Não era você, Shino. – As lágrimas brilharam nos olhos do Inuzuka.

− Kiba... eu sinto muito. – repetiu novamente. – Sinto muito, sinto muito, sinto muito.

As palavras se perderam no abraço que Kiba lhe deu, escondendo o rosto na curva de seu pescoço, aspirando o cheiro que tanto amava. Ali, Kiba sentiu-se confortável. Ali, não em nenhum outro lugar. Não com nenhum outro alguém.

− Vou te proteger. – prometeu Kiba, apertando mais o abraço em torno da cintura do namorado. – Vou te ajudar nisso.

Shino acreditava nele. De todo coração.