Era uma dor insuportável. Rasgava-lhe o peito. Mas necessária. Eram um time, mas às vezes precisavam se separar. E Kiba fora requisitado para treinar os cães ao lado da irmã, enquanto Shino deveria vigiar junto de seu pai do lado de fora da vila.

− Em que está pensando? – Hana questionou, olhando para o irmão enquanto alinhavam a formação dos cães.

− É a primeira vez que ficamos separados por tanto tempo, eu e Shino. – Seus olhos marejaram, mas não chorou. Hana reconheceu a força do irmão, apertando de leve seu ombro.

Faziam dois meses que os perímetros tinham sido montados. A guerra estava chegando e isso era claro para todos. Inevitável, até. As notícias da morte de Itachi já haviam se espalhado. A Akatsuki avançava e, ao lado deles, Sasuke.

− It won’t rain all the time. The sky won’t fall forever¹. – Hana cantarolou a música de um filme que os dois tinham visto juntos. – Sei que é difícil, mas não deve ser fácil para Shino também. Vocês vão superar isso. Logo estarão juntos, otouto.

Kiba acenou positivamente com a cabeça, olhando para o céu escuro; indício de chuva forte. Viu quando um pequeno inseto aproximou-se e ergueu o indicador para que pousasse em seu dedo.
Reconhecendo imediatamente nele o cheiro de Shino. Hana deu as costas, gritando ordens. Fingindo não ter visto.

As lágrimas agora se derramaram, singelas, contidas. Kiba odiava chorar.

Odiava sentir-se tão emotivo. Mas não era a saudade, já haviam ficado longe antes.

Era o medo de perdê-lo para a batalha que o abatia daquela forma. Não sabia o que faria se Shino morresse. Sentia que morreria junto e aquilo não era exagero.

Não era o simples fato de serem namorados, de ele ser seu melhor amigo.

Era algo muito mais profundo e que não sabia explicar. Como amar poderia ser tão bom e, ao mesmo tempo, machucar tanto?

− Sei que você também sente minha falta, Shino. – murmurou. – Deve estar sendo difícil aí, com todos esses Aburames quietinhos, né? Mas logo logo a gente vai estar junto de novo. Akamaru sente sua falta. Até das pulgas!

Kiba riu baixinho.

− Tô sendo um bocó, né? – Enxugou as lágrimas com as costas da manga do casaco. Um dos casacos de Shino que pegara emprestado antes de se separarem. – Mas prometo que a chuva vai passar. E quando o sol surgir, vou estar te esperando voltar.

Do outro lado da comunicação, Shino tirou os óculos, erguendo o rosto para o céu, sentindo a garganta fechar-se com o nó que a ausência de Kiba causava.

− Algum problema, filho? – Shibi questionou.

− Apenas um cisco. – respondeu com a
voz embargada. – Que passou através do meu óculos.

− Claro. – Shibi não insistiu. Não era do feitio de Aburames fazerem isso. – Vamos, filho. Agora você tem que aprender como ditar as ordens.

Shino anuiu, a imagem das lágrimas de Kiba em sua mente. Dando-lhe forças. Mesmo que a noite parecesse longa, Shino pensou, suas lágrimas não cairiam para sempre.