The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 42
A Ajuda Inesperada


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo! Aproveitem!



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PONTO DE VISTA – REY 

 

(12 dias desde a infecção.)

 

— Caramba! Você não tinha falado isso! – Glenn dizia surpreso para mim. Estávamos quase no nosso destino. Havíamos subido a rua Pevensie, indo na direção contrária de nossos amigos. Temos que chegar a uma minúscula farmácia que Glenn alegara ter visto em sua fuga antes de se juntar a nós.

Espero que lá tenha o que precisamos...

— Não? Achei que tinha mencionado! – Falo sorrindo de lado e rindo de seu entusiasmo exagerado.

— Você não falou que era acessor! Trabalhou com algum famoso? – ele perguntou interessado.

— Eu não era tão bom assim! Tinha acabado de entrar em um estágio, o máximo que consegui foi ver a Beyoncé a alguns metros de mim. – digo me lembrando do dia que fiquei do lado da minha chefe em um hotel vendo a Beyoncé conversar com ela enquanto me controlava para não surtar.

Heh...

— Beyoncé! Caramba! – Glenn disse amistosamente e balançou a cabeça – Gosta das músicas dela?

— E como! Tava me controlando do lado daquela deusa! – digo e ele ri.

Continuamos a caminhar atentos com os poucos zumbis que apareciam. Até agora tudo bem...nada que não pudéssemos controlar.

— O que acha da galera nova? – pergunto a ele depois de um tempo. Ele suspira e dá de ombros.

— Parecem boas pessoas. Preciso falar com eles melhor...mas parecem legais. – ele diz e eu confirmo com a cabeça.

— Com quem você mais falou? – pergunto a ele enquanto gesticulo com a cabeça para virarmos a próxima rua. Estávamos quase lá.

— A mais velha. Ma-maggie... – ele diz fitando os próprios pés. Eu o olho e ele parece nervoso. Vejo uma oportunidade de brincar com a situação para descontrair.

— Hum... – eu digo com um sorriso de canto, ele percebe meu tom presunçoso e me olha.

— O que? – ele pergunta confuso.

— Ah, nada. Não é nada. – eu digo e aumento um pouco meu sorriso, agora encarando a minha frente. Um zumbi está se aproximando.

— Como nada?! Você tá estranho. – ele diz e balança a cabeça. Parece mais nervoso do que antes com a minha pequena piada. Eu ergo meu facão no ar e a enfio na testa do zumbi, segurando seu ombro com a mão esquerda, o morto cai sem dificuldade e continuamos a andar.

— Não é nada mesmo. É que...ela é bem bonita né?! – digo e agora o encaro erguendo uma sobrancelha, mantendo meu sorriso malicioso no rosto.

— Não acredito! – Glenn ri fraco e começa a balançar a cabeça negativamente.

— Ela é feia?! – eu pergunto chocado e ele se vira surpreso.

— Não!! – ele nega bruscamente, depois arruma seu tom de voz – Quer dizer...não! Ela...é bonita, na verdade é bem bonita...mas...er...digo...ela é normal...mas é bonita, linda, tem...você sabe...er...olhos bonitos...mas não reparei só nos olhos...quer dizer..você..? Digo... – Glenn se embolava quanto mais tentava falar e eu estava me segurando ao máximo para não explodir em risos ali mesmo.

— S-sim sim! Ela é bonita. Gente boa! – o interrompo na tentativa de ajudar e tentar encerrar o assunto. Ele passa a mão livre nervosamente pela testa e balança a cabeça.

— Isso! Gente boa! – ele afirma com a cabeça nervosamente.

Se controla Rey, não vai rir e deixar o menino sem graça pelo amor de Deus.

— A irmã também é legal...a Beth. Parece ser uma boa menina... – digo.

— Pelo pouco que falei com ela, parece ser legal também...só não tive chance de falar com...você sabe. – Glenn diz e suspira ao terminar sua frase.

Eu balanço a cabeça tristemente.

— É...tenho certeza que vão gostar do Hershel. Ele é bem parecido com as filhas em alguns aspectos, parece ser compreensível e confiável. E seria bom termos um médico no grupo, mesmo que seja um de animais. – comento com Glenn.

— Com certeza...quero dizer, Mary está fazendo um ótimo trabalho mas sei que o conhecimento dela deve ser limitado, não é? – ele me diz em forma de pergunta e eu confirmo com a cabeça.

— Espero que o pessoal esteja conversando com a ladra a essa hora, se não... – eu dou um longo suspiro.

— Teremos que achar os remédios. – digo a Glenn e aponto para a farmácia a nossa frente. Ele joga a própria mochila para frente e começa a abrir, provavelmente procurando o quebra-cadeados.

— Vamos achar. Não se preocupe, vai dar tudo certo. – Glenn diz tirando a ferramenta da mochila.

 

PONTO DE VISTA – ENID

 

(12 dias desde a infecção.)

 

— EI VOCÊ! – a mulher alta que saiu de dentro da loja grita, ela parece irritada. Logo uma outra mulher mais baixa que ela e um cara, mais alto do que todos ali, sai da sala também.

A Alta dá um passo pra frente, mantendo o olhar fixo em mim.

Ela é problema! Olha o jeito que ela tá me olhando! Vão me roubar!

Chego até mesmo a hesitar em andar pra trás porque percebo que ela usa uma bandana militar na cabeça, mas ela não parece estar disposta a uma conversa ou algo do tipo.

Faço o óbvio: corro. Me viro tão rapidamente para correr que quase caio no primeiro passo dado.

Eles são quatro pessoas! E uma deles parece uma leoa atrás de um cervo, que no caso é você mesmo, então CORRE GAROTA!

— OW! PARE! – escuto a mulher gritar enquanto corro com toda a velocidade que tenho.

O QUE EU FAÇO O QUE EU FAÇO?!

SERÁ QUE EU PARO E APONTO UMA ARMA PRA ELA? ESTOU EM DESVANTAGEM!

Decido tentar faze-los me perder de vista. Eles são quatro, eu podia fazer eles se dividirem pra me procurar, assim eu teria mais chance de correr até meu pai e falar o que está acontecendo.

Mas nem eu sei o que está acontecendo!

Escuto os passos atrás de mim se intensificarem a medida que corro pela rua, olho por cima do ombro e vejo que os quatro estão me perseguindo.

Eles tem armas pesadas! Aquilo é um fuzil?! UMA ESPADA?

Me viro pra frente para não trombar em nada, vejo um zumbi a minha frente e decido usa-lo para atrapalha-los. Quando estou próxima o suficiente dele, consigo ser rápida o suficiente para pega-lo pelos ombros e o empurrar para trás, bem em cima do rapaz mais alto, antes de voltar a correr. Com isso todos do grupo se viram surpresos para o zumbi que lutava para atacar o homem.

— FILHA DA PUTA! – ele grita irritado. A mulher de bandana o olha por cima do ombro e depois percebo ela apressando o passo. O outro homem ali presente, um rapaz moreno consegue se desviar do zumbi e por um momento fica confuso entre ajudar ou continuar a me perseguir antes de finalmente voltar a correr atrás de mim. A mulher sem bandana estava logo atrás do rapaz que estava em uma luta de força com o zumbi. Como ele parou de correr graças ao ataque, ela acaba se esbarrando nele e os dois ficam para trás, restando agora apenas dois do grupo me perseguindo.

Dois a menos! Está indo bem Enid!

Vejo que o lugar onde meu pai se encontra está próximo, mas não quero arriscar. Passo correndo pela frente do escritório e sigo pela direita.

Preciso de mais distração! Não posso entrar sendo que eles todos estão ainda muito próximos uns dos outros!

Faço um ziguezague pelas ruas seguintes, na tentativa de faze-los me perder de vista. Já estava ficando cansada, mas os dois ainda corriam ofegantes atrás de mim. Podia ver seus rostos vermelhos graças a correria.

— HEY! – a mulher grita, mas eu não me viro pra ver o que estava acontecendo. Vejo mais dois zumbis e decido fazer uma coisa arriscada, mas que se desse certo eu iria me livrar de vez dessa galera que quer me machucar.

Ou é Eles ou é você e seu pai, Enid!

Me desvio dos dois zumbis, empurrando um em cima do outro, depois, empurro uma pilha de tábuas encostadas na parede, as fazendo ficar aglomeradas na frente dos zumbis. Duas distrações.

Mas quando eu olho pra trás para ver o resultado de minha artimanha, percebo que só o rapaz moreno está lá. CADÊ A MULHER?

O rapaz grita e empurra um dos zumbis para longe, ele gira o corpo e acerta o zumbi mais próximo com um cano enquanto já se posiciona ofegantemente se preparando para o próximo morto-vivo. Eu volto a virar para frente continuando minha corrida, com um sorriso no rosto por ter conseguido faze-los se perder de mim. Havia mais duas esquinas a minha frente, uma a esquerda e a próxima a direita. Mentalizo que quero virar a direita.

Foda-se aquela mulher! Não sei onde ela está e nem quero sab...

De repente algo tromba bruscamente em mim quando eu estava prestes a passar na frente da esquina a esquerda. Seja o que for, me pegou pela cintura, me tirando do chão e me fazendo cair feio, a parte de trás de minha cabeça dói após o contato da mesma com o chão duro.

— AAAH!! – grito com o susto abrindo meus olhos logo em seguida. Vejo quem está em cima de mim...

A mulher.

ELA TOMOU UM CAMINHO DIFERENTE?!

— Onde...pensa...que...VAI?! – a mulher fala ofegantemente enquanto segura fortemente meus ombros contra o chão, vejo milhares de gotas de suor cair pela lateral de seu rosto.

— ME SOLTA! – tento me livrar dela mas ela é mais forte do que parece, ela tira as mãos dos meus ombros e agora foca em segurar meus punhos para que nenhum a acerte.

— PARA! – ela grita pra mim, mas eu não desisto, continuo a tentar me soltar dela até escutar um *click*

Viro pro lado e vejo que o rapaz moreno estava ali. Ele aponta uma arma pra mim.

— Se...correr de novo... – ele diz ofegante, mas para de falar logo em seguida para puxar mais ar. Assim que o faz ele continua – eu atiro.

Eu paro de me mexer, sinto lágrimas se formarem em meus olhos mas faço questão de não deixa-las cair. Eu estava irritada comigo mesma.

Desculpa, pai. Falhei com você.

Sinto mais lágrimas quererem vir a tona enquanto a mulher em cima de mim afrouxa a mão, eu me solto dela rapidamente.

— A...agora você...para...né?! – ela fala entre suspiros ofegantes.

— Levanta...bem devagar.... – o rapaz me diz e eu obedeço. Os olhando como se quisesse mata-los. Passo a mão no rosto para limpar uma lágrima que eu não consegui segurar.

Eles ficam algum tempo em silêncio recuperando o ar. A mulher leva a mão em uma pequena caixinha preta presa próxima ao seu ombro:

— Estamos com ela. Na esquina da Vantrô com a Colby. – ela diz após apertar um pequeno botão. Ela aguarda um pouco e uma outra voz sai do rádio.

— Estamos a caminho, câmbio desligo. – a voz masculina diz. Um frio cresce em minha barriga e eu começo a olhar para os lados em busca de alguma coisa que eu possa fazer.

— Não seja idiota. – a mulher diz me fazendo olhar de volta pra ela.

— Só me deixem ir embora. – eu retruco e me esforço para manter meu tom forte, para que não percebam que na verdade estou me cagando de medo do que podem fazer comigo.

Porque uma militar tentaria me machucar? Os militares não deviam nos proteger em vez de nos olhar como se fossemos uma zebra pra um tigre?!

— Você pode ir embora assim que devolver o que é nosso! – ela diz dando um passo em minha direção, me fazendo olhar pra cima graças a sua altura. Sou pega de surpresa pelo que ela disse.

— Devolver o que é de vocês?! Não sei do que estão falando! – eu falo e dou um passo pra trás, mas ela me acompanha.

Me sinto uma presa sendo encurralada. Isso é ridículo!

— Não sabe mesmo?! – ela se aproxima mais, sua voz é firme e ela me encara 100% do tempo. Sinto o gelo em minha barriga aumentar. Eu não faço ideia do que ela está falando.

— E-eu... – é tudo que consigo dizer, balanço a cabeça e dou de ombros. Não sei a cara que eu devo ter feito, mas sei que a mulher suavizou um pouco sua expressão e deu um passo para trás, mordendo o lábio inferior. Apesar da expressão suavizada ela ainda me olhava com a testa franzida.

— O carro. Você pegou uma coisa em um carro. – ela diz e uma luz se ilumina em minha cabeça.

O carro era deles?! Ah tá! Claro!

— O ca-carro era de vocês? – eu pergunto.

— Era. – os dois ali presentes me respondem em uníssono. Escuto passos e eles viram a cabeça na direção do barulho. Penso em fugir, mas lembro de que o moreno poderia me acertar a distancia. Bufo frustrada.

— Então, cadê... – o rapaz mais alto chega e põe os olhos em mim. Vejo sua expressão ficar mais rígida – ela.

A outra mulher chega junto com o homem. Agora tenho quatro estranhos olhando pra mim de forma ameaçadora. A que tem a expressão mais suave é justamente a mulher mais baixa, ela parece mais confusa do que irritada.

— Encosta na parede. – a militar diz pra mim e aponta para a parede logo atrás. Eu me viro lentamente.

Porque eu fui sair sem arma?!

Ora...também não tinha como eu saber, certo? Eu só estava voltando para a loja de 1,99 para ver se tinha mais alguma coisa lá...como eu já tinha limpado o caminho até lá na primeira que fui, não senti a necessidade...burra!

Logo começo sentir a mulher me revistar, ela me tateia rapidamente. Não demora muito até ela terminar e eu ouvir ela se afastar. Me viro de frente a eles de novo.

— Onde está? – a mulher mais baixa e confusa pergunta. Eu não respondo.

— Onde. Está? – ela fala mais marcadamente e dá um passo a frente, agora vejo que ela não parece tão confusa. Eu mantenho minha expressão irritada.

— Não sei. – eu digo e o moreno bufa.

— Garota não brinca comigo. – ele responde.

— Eu não sei porque me roubaram. – minto. Todos ficam me olhando e depois eles se entreolham até por fim pousarem o olhar na militar, que até agora não tirou os olhos de mim.

É ela que manda eu acho. Parecem esperar que ela fale alguma coisa...

— Qual é seu nome? – ela dá um passo em minha direção, me fazendo recuar um pouco.

— E-Enid. – respondo sem a olhar nos olhos.

— Enid... – ela balança a cabeça e dá mais um passo em minha direção. Sinto um frio mais denso na barriga, a voz dela me assusta pois ela parece calma sendo que sua expressão se mantém séria.

— Te direi uma coisa Enid, e quero que preste atenção. – ela me diz, eu continuo a encarar o chão.

— Olhe pra mim, estou pedindo atenção. – ela continua e eu engulo seco sem olha-la.

— Olhe. Para. Mim. – ela diz mais alto e pausadamente. Eu suspiro e a encaro.

Ela parece jovem, poderia ter idade pra ser uma irmã mais velha minha. Não deve chegar nem aos vinte cinco...deve ter a mesma altura que papai. Tem olhos castanhos escuros quase que pretos, que combinam com o tom negro dos cabelos levemente encaracolados.

— Eu não gosto de mentiras, Enid. – ela diz me encarando e eu engulo seco.

— Se mentir pra mim... – ela suspira – Digamos que se você acha que está com problemas agora, vai descobrir que mal sabe o significa de “problema”.

— E-eu... – quero mentir novamente, mas algo me diz que não é uma boa ideia. Me sinto pressionada e afasto meu olhar do dela.

— Sei que está acobertando alguém. Você é uma garota esperta, não deixaria a mochila de bobeira. – ela diz e eu volto a encara-la subitamente. Ela sorri de leve, de um jeito meio macabro.

Então isso é sobre os remédios?

— Ah... – ela solto um riso nasal – Então você está de fato acobertando alguém...

Desgraçada.

— Eu tinha certeza que ela era esperta, mas agora tenho dúvidas... – a militar vira o rosto para o grupo de pessoas atrás dela, o rapaz alto ri nasalmente.

— Você não tem o direito de manter presa aqui com vocês! – eu digo e ela se vira novamente para mim.

— Escuta aqui... – ela se aproxima mais uma vez e ergue o dedo indicador – Você jogou zumbis em dois dos meus amigos e roubou uma mochila preta cheia de remédios, a última coisa que você pode fazer é exigir algo.

Eu bufo irritada e cruzo os braços.

— Vamos garota, eu não vou pedir de novo. Eu não quero te machucar e sinto que isso é desnecessário. Só queremos o que é nosso e vamos embora, beleza? – ela diz e eu a encaro. Simplesmente não sei o que fazer.

Se eu levar eles até meu pai, vão levar os remédios embora e eu não vou poder cuidar dele...ele iria morrer!

Eu pago o preço.

Mordo o lábio inferior e começo a fitar o chão. Não vou abrir a boca. A mulher a minha frente range o maxilar.

— Eu avisei. – ela leva a mão até as costas, mas antes que tire qualquer coisa dali a outra mulher dá um passo a frente, encostando no braço da militar.

— Espera! – a mulher diz para a militar, que a encara seriamente.

— Er...Enid, certo? – ela diz pra mim, eu balanço positivamente a cabeça. As duas mulheres trocam olhares estranhos. A militar balança negativamente a cabeça mas a outra mulher, de olhos verdes só umedece os lábios e dá um passo devagar em minha direção. Dessa vez eu não recuo.

Ela estende a mão pra mim.

— Me chamo Maggie. – eu olho confusa para a mão ali, ela sorri de leve pra mim, me incentivando a aceitar o cumprimento. Eu decido apertar sua mão. – o carro é meu.

— Olha...essa galera não vai te machucar. Não se preocupe. Estamos todos a flor da pele aqui, certo? – ela me diz bem calma. Seu tom de voz e a sensação que tenho ao falar com ela é totalmente diferente da que eu tive com a militar.

— Você não pode me garantir isso. Na verdade, como saberei que o carro era seu mesmo? – eu digo e ela põe a mão no bolso de trás da calça, eu me afasto e ela estende uma mão em minha direção.

— Calma! É só as chaves! – ela balança o chaveiro em suas mãos – Veja só, tem um “M” prateado aqui...é de “Maggie”.

Ela diz e eu franzo meu cenho.

Pode ser uma coincidência.

— Você pegou uma caixa de munição e uma pulseira de couro também né? – ela pergunta e eu tiro os meus olhos do chão para encara-la – É a pulseira da minha irmã.

— Irmã? – pergunto. Então eles são mais de quatro pessoas!

— Sim...ela está com meu pai. Por isso estamos aqui falando com você agora. – ela diz e eu inclino a cabeça levemente pro lado, confusa.

— O que seu pai tem a ver com isso? – pergunto a ela. Todos os outros membros do grupo dela estão atrás, atentos a conversa. Vejo que ainda há uma arma apontada pra mim e o gelo em minha barriga sobre novamente.

A tal “Maggie” se vira lentamente e coloca a própria mão sobre a arma do moreno, que por sua vez olha pra militar. Há uma troca de olhares entre os três. A militar balança negativamente a cabeça de novo. Maggie se vira pra mim.

— Ficaria mais confortável se ele abaixasse a arma? – ela me diz e eu balanço a cabeça positivamente. Maggie olha pra militar que revira os olhos e se vira de costas pra nós, coçando a própria cabeça. O moreno abaixa a arma.

— O meu pai...está muito mal. Ele tem febre alta. Precisamos de remédios fortes, hoje estávamos indo para o carro buscar-los e Carley ali viu você pegando tudo. – ela gesticula para a militar, que se virou para nós momento que ouviu seu nome na conversa.

Eu olho para a mulher de olhos verdes em minha frente e sinto que ela fala a verdade. Seu tom é preocupante e ela parece muito controlada.

— Então Enid...como você está acobertando alguém, acho que você entende o que é querer o bem de quem se ama, certo? – ela me diz calmamente e eu fico mexida com suas palavras.

— Sim... – não consigo evitar de responder. Ela precisa dos remédios...

Mas eu também preciso!

— Eu...não posso entrega-los. Preciso deles. – abro o jogo pra Maggie. Todos os outros se entreolham, menos a militar, que permanece me encarando, mas dessa vez com uma expressão mais suavizada.

— Precisa porquê? – Maggie pergunta franzindo o cenho – São remédios bem fortes como bem sabe...

— Porque... – começo a dizer, mas fico confusa se devo ou não dizer a ela.

Essa mulher parece confiável e definitivamente não parece do tipo de pessoa que me machucaria...mas não posso dizer o mesmo de seus amigos.

Principalmente dessa militar sinistra!

— porque... – tento mais uma vez e enquanto ela me olha pacientemente – meu pai está doente.

Maggie balança a cabeça lentamente enquanto me dá um sorriso fraco. Ela troca olhares com a militar rapidamente antes de se virar pra mim de novo.

— O que ele tem? – ela pergunta – Meu pai é...médico...Ele pode ajudar se você nos deixar salvar ele.

Meu coração se enche de esperança por um momento.

Acho que eu devo contar...

— Meu pai perdeu a mão. Ele está com febre alta também, e-e está fraco. Por favor, não tirem os remédios de mim, preciso do meu pai! – acabo despejando toda a verdade ali mesmo. Sinto lágrimas se formarem em meus olhos ao pensar naquela militar simplesmente tacando o foda-se pro meu pai e levando todos os remédios.

— Ei ei! – Maggie põe uma das mãos em meu ombro – Ninguém vai deixar você na mão, mas precisamos pensar em uma solução...

— Certo? – ela se vira pra militar que agora coça o queixo enquanto encara vários pontos aleatórios do chão.

Um silêncio se faz enquanto a mulher alta começa a andar de lá para cá.

Ela definitivamente é a manda chuva. Porquê ninguém comenta nada?

Todos a observam andar, até que ela para, suspira profundamente enquanto passa a mão no rosto. Depois ele pousa os olhos em mim e começa a caminhar em minha direção. Eu engulo seco e sinto o gelo na barriga subir.

— Onde ele está? – ela me pergunta e eu transito meu olhar entre ela e Maggie que ainda permanece ali.

— O quê? – pergunto confusa.

— Seu pai. Cadê ele? Não deve estar longe, certo? – ela me pergunta.

— Não....ele não está. – digo ainda receosa de falar com aquela mulher. Ela abre os braços.

— Entãããão? E aí? Vai nos levar até ele ou não? – ela diz e depois cruza os braços. Eu olho pra Maggie novamente.

— Está tudo bem. – Maggie me diz. A militar bufa.

— Não vou te machucar garota. Só quero resolver isso rápido, tá bem? Deixa eu falar com seu pai pra vermos o que podemos fazer. – ela diz abaixando seu tom. Ela parece querer me convencer.

Eu balanço minha cabeça positivamente.

— Me sigam. – eu digo e a militar abre passagem pra mim.

— É só você e seu pai? - ela pergunta atrás de mim enquanto começo a caminhar lentamente.

— É. – respondo sem olhar pra trás.

Vamos caminhando até chegar na frente do escritório onde meu pai estava.

— É aqui. – ponho a mão na maçaneta e a giro. Quando abro a porta vejo meu pai sentado na mesa de madeira, folheando um jornal.

— Enid porque demorou tan... – ele ergue a cabeça e repara que eu entrei junto com mais quatro pessoas. Ele joga o jornal para o lado e saca a arma. Em questão de segundos a militar passa o antebraço pelo meu pescoço e põe uma arma na minha cabeça. O outros dois rapazes que do grupo também sacam suas armas. Maggie levanta as mãos em rendição.

PORRA PAI!

— WOW WOW WOW! Calma aí, Capitão Gancho! – ela diz para meu pai que recentemente aderira ao novo visual que lhe propusera.

— SOLTA ELA! – meu pai grita.

— Pai! – eu grito de volta pra ele, lá vamos nós de novo com toda essa coisa de arma.

— CALMA! Calma!  Abaixa a arma, moço! – Maggie diz para o meu pai.

— O que querem?! Soltem ela! – meu pai diz e logo em seguida dá uma forte tossida para o lado. Ele ainda tem o semblante péssimo.

— Viemos conversar! Está tudo bem! Calma! Os dois baixem as armas! – Maggie diz tanto para meu pai quanto pra militar que me segura.

— Seguinte Gancho, eu vou soltar ela e você vai abaixar a arma tá beleza? Só queremos resolver uma questão causada por sua filha e ir embora. Só isso! – ela diz e meu pai aperta a arma com mais força.

— Então solta ela primeiro. – ele diz e a militar tira lentamente a arma de perto da minha cabeça, a apontando agora pra cima. Ela me tira o braço do meu pescoço me deixando livre.

— Abaixamos ao mesmo tempo, sim? – meu pai diz para os dois rapazes do grupo que ainda apontavam suas armas. Eles confirmam com a cabeça e começam a abaixar lentamente a arma. Meu pai faz o mesmo e assim todos tem as armas abaixadas.

Corro até meu pai e o abraço.

— O que houve, estrelinha? – ele me pergunta baixo enquanto beija o topo da minha cabeça.

— Os remédios que peguei. – olho pra ele – São deles.

Meu pai olha para o grupo.

— E tem como vocês provarem isso? – ele pergunta e Maggie estende novamente as chaves que estavam em seu bolso.

— Me chamo Maggie. O carro é meu. – ela aponta para o chaveiro com a letra “M” novamente  - Precisamos dos remédios pra salvar meu pai, que está muito doente.

— Acontece que eu também não estou nos meus melhores dias, moça. – meu pai responde e aponta para o gancho em sua mão direita.

— Sua filha nos contou que você perdeu a mão. E que tem febre...tenho algo a propor. – a militar toma a frente

— O que sugere? – meu pai trinca o maxilar. Se eu não o conhecesse, diria que ele também não gostou muito dessa mulher.

— Sugiro que dividimos os remédios. Assim ninguém sai perdendo. – ela diz e meu pai olha para um ponto aleatório do chão. Está pensando.

— Pai...ela disse que o pai dela é médico. – digo Maggie ao meu pai gesticulando para Maggie. Ele depois de ouvir essa informação, a encara.

— É verdade? – ele pergunta e Maggie assente.

— Ele perdeu a perna. Também tem febre. – Maggie responde e meu pai volta seu olhar para a militar.

— Quantos vocês são? Estão seguros? – ele pergunta e a militar dá um passo pra trás.

— Wow wow...isso já é muita informação. Eu não te conheço. – ela diz e meu pai da um passo na direção dela.

— Por favor. Se tem um médico onde vocês moram, eu gostaria de vê-lo. Eu... – ele se interrompe e me olha, vejo em seus olhos algo que eu não tinha visto antes: desespero.

— Eu...não estou nada bem. Tenho medo de...de acontecer alguma coisa. Não posso deixar que nada me aconteça então por favor, nos deixe ir com você. – ele diz e eu arregalo meus olhos. A militar parece prestar atenção no que ele diz, ela se vira de costas pra ele, pondo ambas as mãos na cintura enquanto fita o chão.

— Podemos... – ele começa a dizer, mas acaba fazendo uma careta levando a mão livre no suporte do gancho...ele anda sentindo essas fisgadas na mão cortada com muita frequência.

— Podemos ajudar enquanto estivermos lá! – ele diz depois da dor passar – Depois de me tratar podemos ir embora, você não vai ter nenhum prejuízo! Só...por favor... – ele continua a implorar e eu fico impressionada com o que está acontecendo.

A militar suspira ainda de costas, coça a cabeça e depois se vira caminhando na direção de meu pai.

— Somos em maior número, quero que se lembre sempre disso. E sim, estamos seguros. Vocês... – ela morde o próprio lábio enquanto encara os olhos carentes de meu pai – Só...

Ela começa a balançar negativamente a cabeça.

Ela não quer fazer isso.

— Só...não façam nada idiota. – ela diz e logo depois se vira de costas novamente abrindo a maçaneta. Todos ficam encarando ela parada na porta sem saber exatamente o que fazer. Ela abre os braços.

— Então?! Vão pegar as coisas de vocês ou não?! – ela nos diz. Meu pai me olha e assente.

— Vamos, Enid. – ele me fala e já começa a andar em direção a própria mochila.


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