The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 4
Ficar ou Sair


Notas iniciais do capítulo

Aviso: CAPITULO TENSO!
Peguem as bombinhas de ar!



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PONTO DE VISTA – REY

 

Algo deu errado. Deu tudo errado.

Olhávamos todos em direção a Avenida Denbrough pela janela do terceiro andar da escola. Eu já estava ignorando completamente o que estava acontecendo dentro da sala que estávamos. Só conseguia prestar atenção nas MILHARES de pessoas, que conseguíamos ver com muito esforço graças a distancia, que agora estavam correndo pela avenida, indo todas em direção contrária onde supostamente os carros estariam sendo inspecionados pelos militares horas atrás. Os tiros e a gritaria não paravam. Mas não sabia dizer se estava vindo somente da rua.

Não tem infectado aqui dentro. Pensei tentando me acalmar e ao mesmo tempo olhando diretamente para baixo em direção ao portão de entrada do colégio que estávamos nesta manhã. Nossa visão para o portão era perfeita, dando para ver tanto a entrada como a rua na qual a escola estava localizada.

— Vê mais alguma coisa? – Carley me perguntava enquanto todos nós procurávamos algo no horizonte. Alguns ainda fitavam as pessoas em fuga, outras fitavam a rua do colégio a procura de algo. Infectados, talvez.

Espera....isso tá acontecendo na Denbrough.... então.... MEU DEUS!

— Carley. – disse virando meu rosto para Carley tentando chamar sua atenção. Minha voz soava preocupada. Ela não me olhou, continuou olhando para a rua. Procurava algo no horizonte.

— Tem...fumaça. – Rob disse algo finalmente. E apontava lentamente para o lado esquerdo de Carley.

— É da bomba – Harry disse.

— Carley! – chamei novamente.

Cacete, vocês não tão ligando as coisas?! O que estamos fazendo parados aqui?!

— O quê?! -  Matt disse mais alto. Estava tendo uma gritaria na escola, tanto na nossa sala como aparentemente dos andares superiores, eu escutava agora barulhos de pés andando com certa pressa no teto acima de nossas cabeças, acompanhado dos gritos. Gritos na rua e dentro da escola.

— É DA BOMBA! – Harry gritou em resposta.

— Eu não sei, talvez a gente devesse procur.. – Carley começava a falar, mas ela precisava me ouvir.

— CAR-LEY! – disse agora dando dois tapas no ombro dela, o que a fez se virar imediatamente para mim.

— Ai! O QUE FOI? – Ela gritou com as mãos levantadas para cima como quem se rendesse.

— A gente tem que sair daqui. – disse.

— E vamos! Calma, a gente precisa pensar primeiro, ficar aqui é mais seguro. – ela me disse enquanto olhava pros meus olhos.

Os gritos da nossa sala iam se transformando em conversas desesperadas. Os tiros continuavam com apenas alguns intervalos e ainda gritavam na rua.

— Não! Você não entende! – disse me virando para ficar de frente com ela – A Denbrough!

— Eu sei que tá dando merda na Denbrough! – respondeu ela lentamente, como se me explicasse alguma coisa.

— Pessoal, cadê a professora? – Mary surgiu entre nós, ao olhar pra ela percebi que seus olhos estavam vermelhos. Sua voz surgia de forma urgente.

Mais essa agora! Onde CARALHOS está a professora afinal de contas?! Eu....eu não sei o que fazer....como sair? Será que devemos sair mesmo? Talvez seja o melhor....ou talvez não.

— Não! Não! Olha aqui, presta atenção – falei agora levando minha mão direita em seu ombro e a encostando na janela – Tá vendo a rua da escola?! Ela entra na Denbrough! O colégio fica no meio das avenidas! – disse finalmente indicando para ela a rua do colégio e como seu começo se encontrava com uma das esquinas da desastrosa avenida.

— MEU DEUS! E SE ELES VIREM PRA CÁ?! – Matt gritou para que eu o escutasse, agora olhando fixamente para mim.

Merda. Esqueci que não estava falando somente com Carley. Hora do pânico.

Quando Matt disse aquelas palavras, começamos a ser bombardeados por por perguntas de estudantes próximos a nós que pegaram somente metade da conversa, perguntas como:

“ELES ESTÃO VINDO PARA CÁ?!”

“QUEM ESTÁ VINDO?!”

“A POLICIA TÁ LA FORA?!”

“A POLICIA TÁ AQUI?”

“TEM INFECTADOS AQUI?”

“INFECTADOS? AQUI?!”

Mary se virou para eles e fez pelo menos umas três tentativas de tentar conversar, depois de falhadas, ela simplesmente gritou:

— CALMA CALMA! NÃO TEM INFECTADO AQUI! Tá acontecendo lá na Denbrough! ACALMEM-SE!

As perguntas pararam, porque eles agora estavam voltando a conversarem entre si , todos muito assustados e ofegantes graças aos tiros que estavam aumentando seu intervalo, mas que ainda assim aconteciam. E parecia que estavam ficando mais próximos.

Carley não disse nada. Ficou passando os olhos da mesma forma que eu acabara de indicar com meu dedo e depois virou seu olhar para o céu nublado. Ficou ali encarando as nuvens de  chuva que provavelmente se formariam e depois voltou seu olhar para a entrada do colégio. Senti seu ombro começar a tremer levemente, olhei para suas mãos. Estavam trêmulas. Assim que percebeu que eu olhava pra suas mãos, fechou elas em punho, me olhou de canto de olho e se virou apoiando as costas na janela, ficando de frente com nosso pequeno grupo. Ela deu um longo suspiro e disse:

— Certo. Primeira coisa, temos que nos manter aqui dentro por enquanto. Sair lá fora não é uma boa ideia, temos que pensar que....que... – ela parou de nos olhar e começou agora a fitar o chão. Respirava rapidamente. – que... se eles estiverem lá fora, temos que estar seguros aqui dentro pra não sermos...para não, ficarmos doentes. – ela arrumou essa última palavra.

— Não tem o que fazermos lá fora, temos que ficar aqui mesmo. – Harry dizia passando as mãos no cabelo e dando um pequeno espasmo logo em seguida, graças a um tiro. – Porra! – reagiu ao barulho.

Certo. Certo. Carley tem razão. Não tem porque sair, não vamos sair. Pelo menos não agora né? Sabe Deus o que vamos encontrar lá fora?

Mas... e a minha família? Eu moro a poucas quadras daqui, será que...será que estão bem? E agora?

— Não, não! Eu quero voltar pra casa o mais rápido possível e ficar lá! Em casa é mais seguro do que aqui perto do perigo! – Robb dizia com a voz fraca, estava prestes a chorar novamente e olhava pra Carley e Harry como quem pedia ajuda.

— Eu também quero ir pra casa Carley, eu não aguento ficar mais um minuto aqui. – Mary disse tão baixo que quase não pudemos escuta-la, ao falar isso ela segurou o braço de Carley suavemente – Por favor, não me obrigue a ficar aqui. Eu não vou ficar aqui. – Ela olhava pra Carley de forma vaga, como se não estivesse ali conosco, seus pensamentos estavam em outro lugar, com certeza.

Carley segurou a mão que Mary apoiava em seu braço e a olhou cuidadosamente nos olhos:

— Eu sei. Não vamos ficar aqui por muito tempo, ok? Só digo o que acho melhor, quero que fiquemos juntos nessa. Se tentarmos sair agora, podemos nos arrepender depois. Também quero estar com a minha família, mais do que nunca. – Carley parou de olhar Mary e agora direcionava seu olhar para Rob – Mas vocês não estão entendendo a gravidade da situação. Eu não quero fazer algo que arrisque nossa VIDA.  – voltou a olhar Mary.

Arriscar a nossa...VIDA?! Ok, isso já é demais.

Mary tirou a mão de súbito do braço de Carley, e afastou um passo pra trás. Todos nós agora olhávamos diretamente para Carley, que ainda mantinha seus olhos fixos em Mary que a olhava de volta com uma expressão chocada enquanto Carley tinha uma expressão fechada, mostrando seriedade.

Ela sabe de algo realmente? Aquela hora que ela ficou pra trás...depois voltou diferente...

Não, não.

Ela não é assim.

Carley não é assim, eu a conheço muito bem.

Bem até demais.

Ela não esconderia nada de nós se soubesse de algo, principalmente com nós do jeito que estamos. Ela teria me contado. Ela me conta tudo. Mas será que..?

Mas não pude deixar de também encara-la, tentando decifra-la.

Você não está me contando tudo, está Carlie? O que está acontecendo aí dentro dessa cabeça?

— O que você sabe afinal de contas?! – Matt disse dando um passo a frente com a voz fraca e com uma expressão que passava incredulidade – Hein?! Porque está agindo assim Carlie? Você pode nos contar!

— O que eu sei?! O que quer dizer com isso?! – Carley virou-se para Matt com a mesma expressão incrédula que ele fizera a ela e que ainda estava estampada em seu rosto.

Oh-oh. Agora eu a decifrei. Ela não sabe de nada. Tenho quase certeza agora. Se Carley estivesse mentindo, eu saberia.

— A gente sabe que aconteceu alguma coisa com você! Você deve ter ouvido algo e não está querendo nos contar! – Matt falou mais alto – Você estava lá naquele pátio tão confusa e assustada quanto nós e agora DE REPENTE está agitada e está lidando com tudo isso naturalmente!  Como se soubesse exatamente o que acontece lá fora!

— Eu NÃO sei o que acontece lá fora, Matthew! – Carley se aproximou um passo na direção de Matt, o olhava com os olhos arregalados. Harry se colocou entre os dois, não que estivessem próximos o suficientes para eu achar que iria começar uma briga, mas acho que é melhor prevenir do que remediar.

— Parou! Parou! Parou! – Harry gritou. – Calma aí! – ele olhava de Matt para Carley e estendia cada uma de suas mãos para eles.

— Gente , que isso?! – Eu disse me juntando a Harry, também ficando entre os dois. – Vamos todo mundo baixar a bola e CONVERSAR, tá bom?! – passei meus olhos de Carley para Matt e depois voltei a fixa-los em Carley. Levantei minhas sobrancelhas para que ela entendesse que eu estava me comunicando mais com ela do que com Matt.

Carley revirou os olhos, deu um suspiro alto e se virou de costas para nós se voltando para a janela. Segurou firmemente as cortinas que estavam em volta e baixou a cabeça para olhar os próprios pés.

— Oxe! Eu estou TENTANDO saber o que tá acontecendo! – Matt dizia agora os braços abertos – Eu só acho que se temos informações, temos que contar pra todo mundo! Eu tô errado? – Matt se virou para Rob que fez um sinal negativo com a cabeça.

— Você tá certo! Carley, fala logo! – Rob disse e agora olhava pra Carley. Todos nós olhávamos.

Resolvi quebrar o silêncio que acontecia entre nós. A sala em si não estava silenciosa porra nenhuma, todos os alunos ainda conversavam freneticamente entre si e tentavam usar seus celulares

— Carley. – dei dois passos a frente, ficando a alguns metros de suas costas – Por favor, com calma...você tem alguma coisa pra nos contar?

Não que eu duvidasse de Carlie, eu não duvidava. Só queria acabar com a discussão.

Carley levantou levemente a cabeça, encarou o horizonte e ficou em silencio por 1 minuto mais ou menos. Mary chamou-a novamente:

— Carley?

Ela se virou.  E pelo que pude interpretar de sua expressão, jurava que ela queria muito chorar. Mas não chorou, em vez disso, abriu lentamente a boca e disse de forma calma :

— Eu não sei. De absolutamente. Nada. Que vocês não saibam. – Ela encarou Matt que a encarou de volta. Ela se aproximou a passos lentos na direção de Matt até ficar de frente pra ele, Harry, que estava na frente de Matt, deu espaço a ela. – Você acha que eu sou algum tipo de filha da puta pra esconder alguma coisa dos meus amigos numa situação como essa? – ela disse a ele com o os dentes semicerrados.

Resolvi me aproximar dela. Estava com medo dela fazer alguma loucura. Harry fez o mesmo, possivelmente se arrependendo de ter dado a brecha pra ela passar.

Ela ficou ali aguardando a resposta de Matt, apenas levemente para cima, em direção ao rosto de Matt, que era mais alto que ela. Ele engoliu seco e estudou sua expressão, depois de alguns segundos finalmente disse:

— Não. Só quero saber o porquê devemos nos preocupar tanto se a policia já está cuidando do assunto. – ele disse sem tirar os olhos dela em baixo tom.

Ok, eu não estou entendendo se isso é uma conversa ou um confronto. Gente? Vamos parar?

Carley expirou sarcasticamente. Depois lentamente virou a cabeça para Rob e o olhou um pouco. Acho que esperava que ele disse alguma coisa.

— Só quero sair daqui. Tenho certeza que você não quer ficar aqui, Carlie. – Rob disse olhando para ela. Ele o olhou de volta por alguns segundos enquanto suspirava profundamente.

Depois, virou-se de costas novamente e começou a andar em direção a janela, mas parou subitamente e disse:

— Quer saber? – virou para nós bruscamente e novamente expirou com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

Sorriso?

— Vocês façam o que vocês quiserem! Eu não tô afim de morrer. Se quiserem ir lá fora se matar, vão em frente! Só não digam que não avisei! – e virou novamente para contemplar a vista.

Choque. Foi a palavra que descreveu a todos nós naquele momento. Todos nós começamos a nos olhar, Mary se aproximou de nós e disse baixo:

— Gente...vocês realmente acham que...?

— Não sei. Talvez seja a verdade. – Harry disse também baixo.

Eu não conseguia entrar naquela conversa agora. Precisava saber de uma coisa, e assim definir de uma vez por todas o que estava acontecendo com Carley e porque aquele comportamento explosivo agora pouco.

Fui até ela.

— Hey. – disse me apoiando na janela, de costas pro pessoal, exatamente como ela estava. Ela me olhou rapidamente, e voltou sua atenção a vista. Segui seu olhar.

Ela olhava em direção a Av. Denbrough, onde os tiroteios e gritos ainda podiam ser escutados, junto com alguns....murmúrios, quem sabe? Não sei dizer. Havia pessoas que corriam em todas as direções agora, inclusive, algumas entravam na rua do colégio em ritmo de fuga. E passavam correndo para chegar no final da rua, em direção a avenida. Policiais e Militares eram vistos na Denbrough atirando contra alguma coisa que se encontrava na frente deles, mas não podíamos ver o que era exatamente. A fumaça da explosão que acontecera minutos atrás se misturava com o clima escuro que se montava em nossas cabeças graças a uma possível chuva que poderia estar a caminho. Um cenário assustador.

Eu entendo agora. Isso tudo...os tiros que não param, as pessoas gritando e correndo desesperadas, a explosão, a ordem de ficarmos aqui dentro....entendi. Carley não está tomando uma atitude explosiva, e sim realista. É isso. Está acontecendo.

Lágrimas começam a se formar lentamente nos meus olhos, e sem olhar para minha amiga, pergunto:

— Você....você está bem? – uma lágrima solitária escorre no meu rosto.

Ela morde o lábio inferior, fica alguns segundos em silencio, e responde ainda vidrada na entrada que ligava Denbrough a rua do colégio :

— Estou.

Olho para ela. E vejo sua expressão. Sei que ela está disfarçando o melhor que pode, ela sempre tenta, mas depois de anos de convívio....ela já devia saber que não valia a pena mais tentar fazer esse truque comigo.

Está mentindo.

 

PONTO DE VISTA – MATTHEW

 

— Não fala uma coisa dessas! – eu digo baixo enquanto chacoalho minhas mãos.

Não pode ser verdade! Não quero que seja!

— É o que eu acho! – Harry falou por fim, cruzando os braços.

Entendo que a situação esteja tensa. Sei que não tem nada bom acontecendo nesse momento, mas Harry não podia simplesmente ficar falando que estamos presos aqui dentro! Tem MILITARES lá fora, e eles logo virão para cá e falarão para Marsha nos liberar...está tudo sobre controle! Estão demorando pra manter uma segurança maior pra gente!

— Talvez. Mas se estivéssemos em situação crítica, acho que seríamos informados! – rebato – Além do mais, eles estão dando tanto tiro exatamente pra garantir nossa segurança, vai ver os doidos foram pra cima da Polícia, eu sei lá! Só sei que quero ir pra casa! Quero subir a rua, ir até o final dela e pegar o primeiro ônibus com destino a minha casa que eu encontrar.

— Não sei, Matt. Quero muito ir pra casa logo e me desligar disso tudo, você me conhece. Mas e se...e se a Carley estiver certa? E se estiver REALMENTE perigoso lá fora? Como a gente sairia? – Rob perguntou enquanto roía as unhas. Estávamos uma montanha russa de emoções aqui.

— Pelo portão e depois corre pra o ônibus ué! Bem ligeiro! Um, dois! – disse estalando os dedos – Se a gente for pela St. John, a gente foge do lado que os policiais estão, fugindo também dos doidos!

— Você tá de brincadeira né? – Harry dizia olhando incrédulo para Matt, ainda de braços cruzados.

— Faz sentido. – Mary disse olhando em minha direção. Seus olhos agora estavam secos, mas seu nariz estava levemente avermelhado graças ao choro recente.

— Gente?

Rey apareceu e todos nós nos viramos pra ele. Carley ainda fitava o horizonte, pensativa.

— O que estão falando? – Rey olhava para nós e ia se posicionando na roda de amigos.

— Adivinha? Eles querem sair! Êê novidade! – Harry dizia agora com as mãos pra cima – “eba vamos ignorar os tiros e sair na rua, porque isso vai dar muito certo! Vai ser louco!” – Harry disse isso fazendo uma espécie de voz diferente como se zombasse de nós, o que me deixou levemente irritado – Vocês estão me zuando né? Onde vocês tão vendo que isso vai ser uma boa ideia?! – ele disse colocando as mãos na cintura.

— Não é hora de brincar, cara. – Mary falou séria.

— Exatamente! Sem brincadeiras que podem causar óbito. Obrigado!  – Harry falava sarcasticamente

Aff. Que desnecessário.

— É melhor do que ficar preso aqui, sem saber de nada! Isso só dá mais tempo de ter mais infectado lá fora enquanto a gente podia estar trancados, seguros em casa! – disse por fim

Harry bufou e se virou pra Rey.

— Que que você acha, Rey? Você concorda com isso?! – Harry falava e apontava para Rob, Mary e eu.

Olhamos todos para Rey.

— Olha gente, desculpa. Mas eu vou ficar. Vocês... já viram a janela? – Rey falava como se suas palavras carregassem algum tipo de mistério.

— Já! – Eu, Mary e Rob respondemos em uníssono. Harry só olhava Rey.

— Não. Eu me refiro... a agora. Olharam como estão AGORA as coisas lá? Não é brincadeira. É sério.

Nos olhamos.

Como assim “é sério”? O que tá acontecendo?

Fomos todos até a janela, Carley ainda estava lá parada piscando lentamente e pareceu nem notar nossa aproximação, porque não chegou nem a mexer os olhos.

— Ai, Merda! – Rob disse do meu lado e levou suas mãos na boca.

O QUE?! Da onde veio todas essas pessoas?!

— Puta que pariu... – Harry disse de forma quase inaudível indo com as mãos na testa.

Nossos comentários atraíram a atenção de um pequeno grupo que estava próximo de nós, eles olharam para nós e foram em direção as janelas do fundo da sala, e logo , começaram a comentar também fazendo outros se levantarem e fazerem o mesmo.

Eu não conseguia acreditar. Agora não era só a Denbrough que estava vivendo um caos em forma de fuga, a  rua que estávamos também estava assim....a rua do colégio.

Homens, mulheres e crianças. Todas corriam pela rua, boa parte indo em direção a sua outra extremidade, a outra parte ficava chamando uns aos outros no meio da confusão. Os tiros continuavam com intervalos cada vez maiores e o céu estava escuro.

Os tiros...estão parando! Isso é...bom. Não é?! Então porque continuam correndo?

No portão da escola, o porteiro tentava conter vários alunos que estavam querendo sair de lá, assim como eu queria. Alguns alunos reconheci como os ex-alunos da minha antiga sala, na época que eu estudava. Eles estavam misturados com todos os alunos mais jovens e todos eles gesticulavam contra o porteiro enquanto iam aos poucos o encurralando. Não conseguia escutar o que eles diziam, graças a barulheira.

— Como a gente vai sair agora?! – Rob disse se virando pra mim. Não consegui olhar pra ele. Estava petrificado.

— GENTE! OS TIROS TÃO PARANDO EU ACHO! – Mary disse sorrindo. Todos os nossos rostos estavam confusos. Mary ao perceber isso, deixou o sorriso morrer.

Isso é bom ou ruim? Porque tantas pessoas estão correndo?

Mas o pior estava por vir.

De repente, escutamos um barulho enorme vindo exatamente abaixo de nós. Todas as cabeças que estavam nas janelas olharam em direção ao portão, que agora, de alguma forma, se encontrava aberto e o porteiro estava no chão, sentado olhando todos aqueles alunos saírem as pressas da escola. Um aluno próximo a ele estava com uma chave em mãos. O porteiro gritava e gesticulava com as mãos, mas os alunos simplesmente o ignoraram e começaram aos poucos se misturar com a correria da rua, indo na mesma direção que as pessoas desconhecidas. Os comentários na sala de aula não paravam nem por um momento e se misturavam com o som da bagunça lá de fora:

MEU DEUS VOCÊ VIU ELES DERRUBANDO ELE?!

SAÍRAM! ELES SAÍRAM!

VAMOS SAIR TAMBÉM!

OS DOIDOS VÃO VIR PRA CÁ! VAMOS EMBORA!

VAMOS! VAMOS!

NÃO GENTE, PERAÍ!

EU QUERO LIGAR PRA MINHA MÃE!

VAMOS NA SECRETARIA!

E com um piscar de olhos, vários alunos começaram a sair desenfreadamente da sala de aula, fiquei olhando a confusão enquanto todos saíam chamando uns aos outros pelos nomes. Outras pessoas voltaram a seus lugares e começaram novamente a tentar usar o celular, e outras começaram a se sentar no chão mesmo, próximas as janelas, chorando.

Enquanto as pessoas saíam, uma mulher apareceu a porta e começou a gritar pros alunos que saíam:

— EI! O QUE ESTÃO FAZENDO? VOLTEM JÁ PRA SALA! AGORA! EI! EI!  - a maioria dos alunos continuou a correria em direção a saída, alguns hesitaram por alguns segundos, mas depois resolverem “atropelar” a professora mesmo assim, na intenção de seguir os amigos, o que fez ela se encostar na parede. A mulher, que usava um jaleco branco, olhou na direção na qual eu e meus amigos estávamos e depois voltou a olhar na direção onde um bando de estudantes agora corria.

— Professora Tasha! Você está bem? – Rey disse indo em direção a ela, que estava ainda encostada na parede boquiaberta, olhando para nós como quem se dizia “vocês viram isso?!”

Não demorou mais do que alguns segundos até escutarmos vários estrondos de portas se abrindo com violência vindos do corredor. Fomos todos em direção a professora.

Meu queixo caiu.

E percebi que todos nós, incluindo até mesmo Carley que estava estranha, estávamos chocados.

Milhares de alunos saíam as pressas das salas de aulas que agora estavam todas com as portas escancaradas, algumas salas saíam até mesmo com PROFESSORES junto a eles!

— A gente precisa...a gente... tem que....SAIR?! – Harry perguntava com os olhos vidrados nos milhares de alunos que saíam. Em cima de nossas cabeças, nos andares superiores, também podia-se ouvir grande movimentação.

ESTÃO TODOS SAINDO? DEVEMOS SAIR AGORA?! EU DISSE QUE DEVERÍAMOS SAIR E SOMENTE MARY E ROB ACREDITARAM! VAMOS SAIR!

— VAMOS SAIR! – Disse me virando para todos e dando um passo em direção a multidão. Recebi um olhar de Carley que virou-se lentamente para me encarar, com um olhar de desaprovação.

Gritos vindos da rua ficaram mais fortes...mais próximos.

A professora ignorou totalmente a nossa presença lá e foi correndo em direção a janela. Harry, Rey e Carley a seguiram. Mary, eu e Rob ficamos parados olhando uns aos outros. O corredor se esvaziava aos poucos, todos os últimos alunos do nosso corredor iam saindo. Fiquei encarando o corredor.

— Professora? – Harry disse com receio. – O que aconteceu?

— O que devemos fazer?  - Carley finalmente disse alguma coisa - Onde a senhora estava?

A professora não respondeu. Ela se apoiou na janela, e os que estavam com ela fizeram o mesmo, voltei meu olhar para Mary e Rob.

— Matt... – Rob sussurrou.

Eu não sei o que fazer Rob! Queria dizer isso a ele, mas não falei nada. O corredor que estávamos agora estava completamente vazio, e os sons de correria acima de nossas cabeças tinham cessado.

Todos saíram. Mas porque eu não saí ainda?

Mary olhou para nós dois, e depois para a janela. Os quatro que estavam encostados na janela estavam boquiabertos, e a professora levava as mãos na boca. Harry encarava um ponto fixo, Rey tremia muito e Carley parara de respirar e estava completamente vidrada em alguma coisa, ela também tremia muito as mãos. Os gritos... que vinham da rua estavam perto. MUITO perto. Um som estranho de...grunhidos seja lá o que for estava acompanhando os sons.

Maria nos olhou de volta, franziu a testa e foi em direção a janela. Eu olhei para Rob que ficou me encarando, e pude ver lágrimas enchendo seus olhos, logo senti meus olhos se umedecerem também. Subitamente, a professora começou a chorar. E quando digo “chorar” digo “berrar em desespero”. Olhei para ela em choque, percebi também que lá fora, os gritos estavam na maior altura que eu já tinha escutado até agora. Era ensurdecedor. Mary que chegara a janela, olhou para a mesma por apenas alguns segundos antes de se sentar no chão subitamente como se quisesse se esconder.

Percebi outra coisa também.

Os tiros pararam.

— PROFESSORA- – Carley se virou para a professora, mas não pude escutar o que disse a ela porque um Rob gritava ao meu lado.

— CHEGA DISSO POR FAVOR CHEGA! VAMOS EMBORA RÁPIDO! – Rob chorava desesperadamente agora, e ficava dando leves tapas em sua própria cabeça. – EU NÃO QUERO MORRER! EU NÃO QUERRO MORRER! – ele gritava.

Fechei os olhos e coloquei minhas mãos com força no rosto. Lágrimas começaram a descer desenfreadamente e quando percebi já estava soluçando.

Não conseguia acreditar.

O que devo fazer? Devo ir embora e simplesmente deixa-los aqui? Devo ficar? Minha saída define minha vida ou morte? E se eu ficar e morrer? E se eu sair e morrer? O que devo fazer, Jesus?! Me dê um sinal! Qualquer coisa, por favor! Eu quero viver! Eu quero-

Meus pensamentos foram interrompidos por uma mão que me puxou com toda força pra dentro da sala, me fazendo tirar as mãos do rosto e entrar de bruscamente na sala de aula. Quase caí no chão com a tamanha força do puxão que tinha acabado de levar, só não caí porque me apoiei em uma das carteiras da sala.

Quando me virei pra ver quem tinha o feito, vi que não era só eu que era “arremessado” de volta a sala, Rob também fora, e ele chegou a cair com ambas as mãos no chão mas se levantou rapidamente em choque olhando pra uma Carley desesperada, que logo após nos jogar a força de volta ao recinto, fechou a porta a batendo com força indo com as mãos trêmulas  em direção a fechadura.

Vi um objeto prateado em sua mão.

— Carley...o que você- - disse com todas as energias que me restavam, o que fez minhas palavras saírem fracas e ofegantes.

Carley girou a chave que a pouco tempo atrás estava na sua mão na maçaneta da porta, e pudemos escutar um *click* . Depois foi com as mãos em direção ao trinco que ficava acima d porta e o abaixou. *cleck*

Ela tinha acabado de trancar a porta.

Nos trancou aqui.

Ela se virou para nós, ofegante e respirando com certa dificuldade, com lágrimas presas aos olhos aflitos, mas mesmo do jeito que ela estava, suas palavras foram como se alguém tivesse me dado uma facada bem no meio do estomago.

— Estão mortos. Todos eles. E eles estão aqui dentro. – ela disse, engolindo seco logo em seguida.


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Notas finais do capítulo

WHAAAAAAAAAAAAAT

E agora gente?! Será que eles vão sobreviver?! O QUE ACONTECEU?



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