The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 36
E Se Forem?


Notas iniciais do capítulo

Capitulo longo com muita coisa nova! Peguem uma bombinha de ar! Vejo vocês nos comentários!



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

(11 dias desde a infecção.)

 

— Ninguém me segura agora! – eu digo muito animada com a espada em mãos.

Tá de zoeira!

— Ela tem bainha? É de verdade mesmo?! – Harry pergunta incrédulo.

— É de verdade! – digo balançando a espada de leve nas mãos. Ela é razoavelmente pesada...vou ter que me acostumar a isso. Me viro para o chão, próximo da cadeira do chefe, abaixo do suporte onde eu havia retirado a espada, peguei a bainha – Aqui a bainha!

— Puta merda! – Glenn diz sorrindo, todos estamos empolgados e isso chega a ser engraçado.

— Deixa eu segurar! – Harry diz e estende uma das mãos, eu aponto a lamina pra baixo e passo o cabo a ele, que segura firmemente.

— Caralho! Que demais! – ele diz.

— Deixa eu ver! – Glenn diz animado.

— Eu vi primeiro, hein! – digo e Harry ri.

Vai ser minha mesmo, tá achando o que?

Termino de olhar em volta enquanto os dois bobões elogiam a espada. Esse cara lia muitos livros de fantasia...vejo Silmarillion, A Dança dos Dragões, O Nome do Vento, O Rei do Inverno...

Acho que teríamos muito com o que conversar, cara.

Me lembro de meus livros que estavam na minha estante. Coloquei todos eles na estante da sala, onde ficava os DVD’s. Nunca conseguiria me livrar deles, e uma distração sempre era bem vinda. Todos esses livros de fantasia...eu tenho.

Inclusive “A Dança dos Dragões” é ótimo...

Mas não vamos perder o foco aqui

— Ok, já chega. – digo me virando pra eles. A espada estava na mão de Glenn, ele a entrega pra mim, que guardo na bainha – Acharam tudo que precisa? Tem mais coisas úteis lá?

— Tem. Estávamos conferindo as listas quando você chamou, ainda temos que dar uma olhada. – Glenn diz me mostrando um pedaço amassado de papel. Harry assente.

— Certo. Então vamos todos pra lá pra pegar o necessário. - digo, e dessa vez, sou eu quem tira um papelzinho do bolso.

Todos nos direcionamos para o lado de fora da sala Fantasiosa e começamos a pegar algumas coisas, cada um responsável por uma listinha. Sempre que iriamos sair, eu falava pra cada um anotar pedidos, coisas que quem ficaria pra trás no Forte gostaria que pegássemos caso achássemos. Abro e passo meus olhos sobre a lista em minhas mãos.

Absorvente

CD de música

Chocolate

Reviro os olhos pensando nas coisas que Mary e Rey me pediram.

Viro em uma estante próxima e pego os absorventes, passo meus olhos pelos produtos ali e pego um sabonete líquido também. Vejo os meninos pegando algumas coisas como algumas bolachas, pão puma, um engradado de energético. A minha esquerda há um refrigerador desligado, vou até ele e o abro, conseguindo retirar cinco garrafas d’agua de dentro. Depois, pego o chocolate que Rey pedira.

Progresso

Harry passa perto de mim e vai até o balcão, lá tem alguns colares expostos em um suporte branco, com uma etiqueta de U$ 20,00 presa em cada um dos cordões. Cada um deles tem uma letra do alfabeto. Harry gira o suporte e fica olhando os colares, fico curiosa com aquilo, mas acabo trocando meu foco para algumas maças ali próximas.

— Peguei tudo da lista! – Glenn diz vindo até mim – Molho, macarrão, alguns enlatados e um Doritos.

Ergo a sobrancelha pra ele.

— Matt que pediu. – ele justifica o Doritos. E eu concordo com a cabeça. Já esperava aquilo.

— Faltou o CD que Mary pediu. Pra que caralhas ela quer um CD sendo que aquele rádio que ela achou vai acabar a bateria logo logo? – eu pergunto confusa.

— Dá pra por CD em algum carro...as vezes ela só quer se distrair um pouco... – Glenn diz, tentando ser compreensivo. Eu balanço a cabeça.

— Enfim...eu não vi remédios. – Glenn dá de ombros. E eu mordo o lábio em decepção.

Droga.

— Vamos? – ouço Harry atrás de mim, sua mochila já está mais estufada graças aos possíveis produtos que ele pegou.

— O que achou? – Glenn pergunta.

— Hã...uns enlatados, um caderno pro Rob, energético, pão puma e um Dorflex.

— Pelo menos um remédio... – digo aos suspiros – Acho que se checamos tudo, podemos ir embora e Mary e Rey no ponto de encontro.

Os dois assentem e começamos a nos organizar para ir embora daquele lugar.

 

PONTO DE VISTA – MARY

 

— ESPERA! – eu e Rey gritamos e corremos até o velho que saía as pressas pela porta da loja de conveniência.

Porque SEMPRE tem que acontecer alguma coisa?! Não dava pra entrar na loja, pegar as coisas e sair?! Nããããããoo até o Papai Noel a gente encontra!

— Hershel, espera! – Rey o alcança primeiro, o velho se vira bruscamente para nós, a preocupação evidente em seu rosto.

— Me solte! São as minhas filhas! – ele se desvencilha e ameaça se virar de costas para nós de novo. Agora estamos do lado de fora da loja, eu fico olhando para os lados atenta. Com medo de algum perigo que pode surgir.

— Eu entendo, ok! Entendi! Fala pra gente onde elas estão, aí quem sabe podemos te ajudar? – Rey dispara como se fosse a coisa mais fácil do mundo e eu fico boquiaberta.

O QUE?!

— QUÊ?! – digo indignada.

Como assim “PODEMOS TE AJUDAR?” Nós temos que encontrar eles daqui a pouco! E nem sequer entramos na loja direito! Não vimos nada! Carley não vai gostar...

Rey ignora minha exclamação , Hershel também.

— Na última vez que eu as vi, elas estavam a quatro quadras daqui! Só que como os tiros vieram dali... – ele aponta para uma direção no horizonte - elas devem ter corrido!

— Caham! – eu pigarreio tentando chamar atenção.

— Certo. Podemos ir por ali! – Rey me ignora e aponta pra uma rua próxima a nós – Assim a gente pode ter uma visão do perigo antes de qualquer coisa e aí...

— REY! – eu grito pra ele, que se vira impaciente pra mim – Podemos conversar?!

— Mary. – ele diz sério, Hershel nos olha impaciente.

— Rey. – digo no mesmo tom, o encarando bem. Ele revira os olhos e se volta pro velho.

— Espera um pouco tá, acalme-se. – ele dá dois tapinhas no ombro de Hershel e se vira bruscamente pra mim, eu o puxo pelo braço pra longe de Hershel. Quando finalmente estamos sozinhos eu lhe dou um tapa forte no ombro.

— AI! – ele põe a mão no braço – QUE ISSO, GAROTA?!

— Você sabe o que é isso! – aponto pra onde eu bati – Você tá louco?!

— Ele tá desesperado Mary! São as filhas dele! – ele rebate tirando a mão do próprio braço.

— As filhas que você não conhece! Tá arriscando o plano Rey! – eu digo a ele como se fosse a coisa mais obvia do planeta.

— Não estou arriscando nada! Se a gente salvar essas meninas ele pode nos dar alguma coisa em troca! Além do fato da gente salvar vidas— ele diz quase atropelando as palavras.

— Não vai dar tempo Rey! Precisamos encontrar os outros! Daqui a pouco fica tarde e a gente nem sequer pegou as coisas que precisávamos! – eu gesticulo para a loja de conveniência. Será que ele não entende?!

— Então vai você avisar a Carley! Eu vou com ele! – Rey diz esbaforido. Eu cruzo os braços depois de uma risada sarcástica.

— E eu digo o que pra ela? “Oi Carley, linda, deixa eu te contar: eu deixei o Rey com o Papai Noel e as duas filhas dele que nem sequer conhecemos. Oh! Eu falei que tá todo mundo ARMADO?!” – eu digo irritada abrindo os braços depois de afinar minha voz tentando imitar como seria meu diálogo com Carley. Ele passa as mãos nervosamente na testa.

— Eu não sairia VIVA se Carley soubesse que te deixei pra trás! Nem fodendo! – cruzo meus braços negando com a cabeça fortemente.

— Olha, vamos ver onde elas estão pelo menos?! Depois voltamos com ele até a Carley e tiramos elas de lá! – ele diz e eu bufo.

— Mary você não vai deixar gente inocente morrer, vai? – ele diz com um tom mais calmo e quase suplicante. Nos encaramos.

Ele não vai desistir. Filho da puta!

— Mary...por favor. Vamos ajudar esse cara...ele quer a família dele. Como você se sentiria se precisasse de ajuda pra salvar a sua? – Rey diz e eu sinto uma facada no peito. Mordo meu lábio, controlando a emoção ao lembrar da minha família.

Desgraçado.

— Vamos até lá... – começo a dizer abaixando a cabeça em desistência, Rey sorri e eu continuo – Vemos a situação e aí vamos chamar os outros.

— Certo! – Ele diz sorrindo e se virando de costas pra mim.

Eu balanço a cabeça negativamente enquanto ele corre em direção a Hershel. Eu olho pro rádio preso a minha roupa.

Não custa tentar.

Aperto o botão de comunicação.

— Carley? Harry? Glenn? – digo. Silêncio.

— Porra de rádio. – Nós ainda não estávamos sabendo controlar a distancia que esses rádios percorriam. Sabíamos que nessa distancia que estamos nesse momento, poderia haver comunicação, mas como não sabemos direito como configurar essas coisas, ainda estamos descobrindo suas funções.

Do que adianta usar essas coisas sendo que só pega no Forte? Precisamos resolver essa frequência de rádio URGENTE.

— Mary! Vamos! – Rey me chama, me tirando do meu transe. Eu bufo e me arrasto em sua direção.

— Os disparos vieram daquela direção! Vamos! – Hershel diz e todos nós começamos a andar apressadamente pela rua.

Após cinco minutos correndo, eu vejo uma coisa que faz meu coração parar na hora, e como eu estava na frente de Rey e Hershel, eu abro meus braços impedindo eles de prosseguirem e falo quase como num sussurro nervoso:

— Para! Para! Para! – digo nervosamente. Eles brecam e observam o perigo a frente.

Havia um bar a nossa frente, mas as portas estavam cercadas de zumbis, que batiam na madeira desesperadamente. Duas dezenas no mínimo, muito para nós.

— Devem ser elas lá dentro! – Hershel diz preocupado se apoiando a mim enquanto Rey o puxa para trás para não sermos notados pelos zumbis.

— Calma, temos que pensar! – Rey diz enquanto puxava o velho.

— Não tem como fazer barulho pra eles, não assim do nada. Eles nos pegariam, ou pior, acabaríamos direcionando eles pro nosso grupo. – digo virando para Rey.

Ficamos em silencio analisando tudo, e a cada segundo que passo aqui fora, sinto que é errado. Quero sair correndo.

— Podemos entrar pelos dutos! Conheço o bar, sei onde as entradas de ar ficam! – Hershel diz e sua expressão se ilumina. Eu faço uma careta.

— Wow wow, calma lá! – eu ergo um dedo a ele. Ele me ignora e se vira pra Rey.

— Mary não começa. Só foi uma ideia. – Rey se vira pra mim, Hershel revira os olhos.

— Eu não me importo com as discussões de vocês, estou perdendo tempo! – Hershel encara os zumbis a alguns metros a frente, respira fundo e se vira pra Rey – Não grite.

Eu e Rey o olhamos confuso, mas ele simplesmente sai correndo numa velocidade impressionante para um senhor de idade. Eu abro a boca por instinto para chamar pelo velho, mas as mãos de Rey me cobrem.

— SHH!! Não grita! Não chama a atenção!— ele sussurra fortemente e eu afirmo com a cabeça para que ele me solte. Foi apenas um reflexo que tive. Ele me solta e parece que acabara de ter uma ideia.

— Mary vem comigo! – Rey começa a tirar sua pistola da cintura e eu me assusto.

— O que vai fazer?! – digo tentando entender tudo aquilo. Ele corre para uma rua lateral, eu abro a boca pra gritar novamente, mas lembro que não devo chamar a atenção. Simplesmente corro atrás de Rey.

Rey corre na minha frente, com a pistola em mãos. Eu tiro a minha arma da cintura também. Rey começa a dar a volta no bar, mesmo a distancia, nossos passos chamam a atenção aos poucos. Hershel não está mais visível, ele provavelmente deu a volta no bar.

Porra, porra, porra!

Rey para ficando na diagonal do bar, ele aponta a arma pra cima.

— Quando eu falar já, você vai correr JUNTO comigo e vamos entrar lá dentro.

— Entrar?! Tá louco?! – eu digo completamente confusa.

— Vou atirar pra cima, os zumbis vão vir até nós e Hershel vai conseguir entrar. Mas depois temos que nos esconder pra viver, vamos entrar pelo duto igual a ele! – ele diz intercalando seu olhar entre mim e os zumbis a nossa frente.

— Rey! – eu falo segurando um grito.

— Três... – ele diz.

— Não faz isso! Quando entrarmos vamos ficar presos também, porque eles vão seguir a gente! – imploro a ele. Isso vai dar merda!

— Dois... – o nervosismo começa a ficar presente em sua voz.

— Você tá me ouvindo?! – pergunto me desesperando aos poucos.

— Um... – ele fala um pouco mais alto.

— PORRA! – eu grito.

Ele não vai desistir!

Ele aperta o gatilho.

 

PONTO DE VISTA – CARLEY

 

 

— MERDA! – escuto Harry exclamar enquanto eu dou um mini-pulo de susto. Mais um disparo é ouvido.

— O que está acontecendo?! – Glenn pergunta enquanto coçava a cabeça, aparentemente preocupado.

Eu fico em silencio olhando o horizonte. Estávamos a talvez vinte minutos do ponto de encontro. Tateio a alça do fuzil preso as minhas costas, ansiosa.

Não são eles.

— Carley? – Glenn chama, mas não dou atenção.

Não são.

— Carley! – sinto uma mão encostar no meu ombro e eu me viro pra Glenn, o dono da mão.

E se forem?

— O que fazemos? – ele pergunta e eu fico pensativa, piscando com maior frequência e fitando o chão.

— Nós... – começo a dizer, Harry e Glenn atentos a mim. Eu olho novamente para o horizonte, depois olho para o meu relógio.

16h48

— Vamos para o ponto de encontro. Seguiremos o plano. – me forço a andar na direção do ponto. Eles demoram a me acompanhar, mas acabam fazendo.

E se forem?

E se forem?

Não são.

E se forem?

Não.

Chacoalho a cabeça, tentando afastar os pensamentos.

Não pare. Não pare.

*POW*

— Não parem! Não parem. – instruo eles.

 

PONTO DE VISTA – MARY

 

— NÃO PARA! NÃO PARA! – Rey começa a gritar enquanto corre, dando a volta no bar. Ele dispara novamente. Há um mar de mortos atrás de nós e eu estou completamente apavorada. Parece que tudo está em câmera lenta.

— VEM MARY! VEM! – Rey grita me olhando sobre o ombro e depois ele finalmente vê uma entrada para um duto alguns metros acima dele, grudado a parede.

— VEM! VEM! – ele gesticula pra mim e já faz uma posição firme enquanto guarda a arma na cintura novamente. Ele abre bem as pernas e juntas as mãos em uma concha. – RÁPIDO!

Coloco minha arma na cintura e corro sem pensar , pisando em suas mãos. Ele me dá um impulso pra cima e eu alcanço a entrada na parede. Caio com tanta força dentro do duto que acabo cortando meu antebraço ao raspar ele na lateral, viro novamente para a entrada e estendo a mão para Rey.

— VEM REY! – digo tentando pegar ar. Ele segura na minha mão, eu o puxo um pouco, mas ele se solta. Os zumbis estão se aproximando cada vez mais, vejo o medo em seu rosto e tenho certeza que o medo também é presente no meu.

Num ato de desespero, apoio cada uma de minhas pernas em uma extremidade do duto, ficando quase em uma posição ginecológica, me inclino com as costas para frente e estendo ambas as mãos.

— SEGURA REY! – ele dá um impulso e segura meu antebraço, eu uso meu outro braço pra segura-lo melhor. E com toda a força que tenho, como se tivesse tendo um filho, o puxo para cima com força e desesperadamente. Os zumbis chegam e tentam pegar seu pé, ele começa a se chacoalhar para se desvencilhar deles e eu sinto que vou perder as forças.

Então como um ultimo esforço eu grito e uso meus pés para me empurrar para mais para dentro do duto, Rey cai por cima de mim e ficamos ambos ofegantes. Minhas mãos tremem enquanto eu o abraço, nos afastamos lentamente, ambos trêmulos e desesperados, nosso corações acelerados pelo medo. Os grunhidos lá fora continuam.

— P-p-pensei que...- ele tenta começar a dizer, mas perde o ar no meio. Eu só balanço a cabeça positivamente. Não quero nem pensar no que QUASE aconteceu.

Uma voz feminina ecoa pelo duto:

— Olá?!

Eu e Rey nos olhamos, ambos suspiramos e sacamos nossas pistolas novamente.

Esse dia não vai acabar?!

— Oi. – eu respondo pro duto, minha voz ecoa lá dentro.

Começamos a nos arrastar pelo duto, indo em direção ao bar de fato.

— Rey? Mary? – reconheço a voz de Hershel ecoando pelo duto, continuamos a nos arrastar até finalmente chegar do outro lado. Eu sou a primeira a colocar a cabeça pra fora do duto, estamos logo acima da prateleira de bebidas, daqui de cima, vejo Hershel e duas mulheres me encararem enquanto estão sentadas nos bancos do outro lado do balcão a alguns metros a minha frente.

Uma das mulheres é loira, parece jovem, uns 17 ou 18 anos talvez. Tem baixa estatura e profundos olhos azuis, iguais aos de Hershel, parece assustada enquanto me olha. Há outra mulher do lado desta, com cabelos castanhos claros e profundos olhos verdes que me lembraram uma floresta viva. Ela é definitivamente mais velha que a loira, parece até mais velha que eu...eu daria uns vinte e quatro anos pra ela.

— Olá. – eu digo e Hershel ergue a palma da mão em comprimento. A filha morena me cumprimenta com a cabeça.

— Oh, Oi. – Rey aparece do meu lado ofegante.

— Me ajudem a tirar eles. – Hershel deposita sua pistola no balcão e vai até nós, erguendo as mãos pro alto. Eu desço cuidadosamente enquanto ele apoia seus braços no meus ombros me ajudando a descer como uma criança num parquinho. Suas filhas nos ajudam. Depois é a vez de Rey.

Assim que descemos, todos nós nos olhamos.

— Não deviam ter entrado. – a morena nos diz e eu estou prestes a querer dar um tapa nela até que ela suaviza sua expressão – Correram um perigo danado lá fora...não queria que ficassem presos também.

Sorrio fraco pra ela.

— Culpa dele. – aponto pra Rey, a loirinha próxima ri fraco. Rey cora.

— Tentei ajudar você a entrar, pensei que se entrássemos podia ser mais fácil de sair juntos. Seu pai deve ter mencionado que temos mais gente no nosso grupo não é? – Rey diz para eles, as meninas assentem.

— Ele disse. – a loira fala alguma coisa pela primeira vez.

— Temos que dar um jeito de avisar eles, certo? – Rey diz e se vira pra mim. Eu assinto.

— E vocês? Como se chamam? – pergunto pras garotas. Já que quase morri por elas acho que mereço pelo menos saber o nome delas.

— Maggie. E essa é minha irmã mais nova, Beth. – a mulher de olhos verdes me cumprimenta com um aperto de mão e depois aponta para a loira para ali, que me cumprimenta também.

— Mary. Esse é o Rey. – me apresento e indico Rey com a cabeça. Ele cumprimenta as garotas também.

— Vocês tem rádios. Não conseguem contatar seus amigos? – Beth pergunta, e eu e Rey negamos com a cabeça ao mesmo tempo.

— Infelizmente não. Não sabemos configurar direito essa coisa, ainda estamos aprendendo então não exploramos o real potencial do alcance do aparelho... – Rey explica e os três a minha frente assentem. Hershel passa o olhar por mim e franze o cenho.

— Você se machucou. Posso dar uma olhada? – ele pergunta e aponta para o corte em meu antebraço.

— Er...claro. Eu cortei no duto. Não foi nenhum deles, fique tranquilo. – estendo meu braço pra ele, que segura delicadamente.

— Maggie pega agua oxigenada. Beth, pega o esparadrapo, por favor. – ele diz enquanto avalia.

— Não precisa. Sério. – eu digo sem graça pelo cuidado que ele está tendo comigo.

— Se não cuidar, pode infeccionar. Deixe-me retribuir o favor de vocês terem vindo aqui pelo menos. – Hershel me dá um sorriso acolhedor. Eu sorrio de volta.

Logo suas filhas voltam com o que ele pediu, e ele começa a me tratar. Vejo que ele tem certa habilidade. Rey fica andando de um lado para o outro no bar, pensativo.

— Se me permite, o que você fazia antes de ter mortos andando por aí? – pergunto a Hershel que enrola o esparadrapo no meu braço.

— Sou veterinário. – ele responde e eu me surpreendo.

Médico. De animais, mais ainda sim um médico.

— Caramba...er..legal. – digo sem saber exatamente o que falar. Rey vem para perto de mim enquanto Hershel despeja agua oxigenada no meu braço, eu seguro fortemente no balcão da mesa e mordo meu lábio por conta da dor aguda.

— Tudo certo? – Rey pergunta pra mim e para Hershel.

— Oh, sim. Ela vai ficar bem. Foi só uma precaução contra infecção, nada demais. – Hershel responde com um sorriso enquanto passa a faixa de esparadrapo em volta do meu braço.

— Certo... – Rey diz e ficamos um pouco em silencio, até que ele abre a boca de novo – Precisamos chamar ajuda, tipo literalmente trazer a Carley e os outros aqui.

— Temos que pensar bem o que fazer, se não vai todo mundo ficar preso aqui dentro, igual nós. – eu digo enquanto Hershel finaliza a bandagem.

— O carro da minha filha está próximo daqui. Viemos até aqui com ele, você pode trazer seu grupo pra cá com ele. – Hershel diz.

— Como ela é? – uma voz surge atrás de nós, nos viramos e vemos que a tal Maggie foi a dona da pergunta – Essa Carley? Ela é a líder?

— Nós todos nos cuidamos...mas eu diria que ela é a responsável pelas decisões... – digo pensativa.

Eu tenho certeza que Carley é a líder. Mas eu já sinto que dei muitas informações pra esse grupo...por mais que eles pareçam decentes, cuidado nunca é demais. Além de que Carley não ficaria feliz em saber que eu e Rey falamos sobre o grupo e sobre ela por aí para estranhos...ela vai surtar.

— Eu posso busca-la. – Maggie diz firme.

— Não. – Hershel diz e ela revira os olhos.

— Alguém vai ter que ir! Eles acabaram de chegar com você e ela até se machucou vindo pra cá! – ela gesticula pra mim e se volta novamente para o pai - Eles podiam ter te matado, mas ao invés disso se colocaram em risco só pra garantir que você passasse em segurança pelo duto. Beth é muito nova pra essas coisas, tem que ser eu!

Hershel põe a mão na testa e Beth fica apreensiva transitando o olhar entre a irmã mais velha e o pai que suspira. Eu e Rey trocamos um olhar.

— Façam bastante barulho aqui dentro pra atrair eles pra porta de novo, os zumbis não vai sair todos de uma vez, mas acho que é suficiente pra eu conseguir passar pelo duto e correr até essa mulher que vocês falaram. – Maggie continua.

— Não dá pra sair todo mundo? – Beth pergunta – Não gosto da ideia de você sair sozinha.

Maggie abraça a irmã de lado e afaga de leve seu cabelo. Isso me faz lembrar a minha irmã. Abaixo a cabeça lentamente com a lembrança.

— É arriscado sair todo mundo. Alguém tem que passar rápido pelo duto e já correr logo em seguida. Até passar um por um... – Maggie suspira – pode acontecer um acidente. Alguém pode ser infectado.

Beth assente lentamente.

Realmente, se todos nós passássemos pelo duto agora poderia ser arriscado. Ela provavelmente vai ter que passar pelo meio de alguns zumbis, e fazer isso em grupo pode por todos em risco, principalmente numa situação dessas.

— Podemos bater na porta... – Beth diz.

Maggie assente e solta a irmã e se vira novamente para nós.

— Como ela é? Onde posso acha-la? – ela pergunta.

 

PONTO DE VISTA – CARLEY

 

— São quase 17h30! Acho que aconteceu alguma coisa! – Harry me diz e eu o ignoro. Já estamos esperando encostados em umas muretas que estão alguns metros da ponte que precisamos atravessar pra estar na Rua Pevensie. Pra estar em casa. Até consigo ver um semblante no horizonte, Matt provavelmente, na guarita quase pronta em cima dos telhados do horizonte.

Estamos tão perto...onde estão eles?!

— Carley! – Harry me chama enquanto eu começo a andar de lá pra cá.

— Estou pensando! – eu falo sem olhar pra ele, começo a roer minha unha com ansiedade.

— Vamos manter a calma agora! – Glenn diz, mas percebo que seu tom tem certa preocupação.

E agora? E agora? E agora?

Não são eles. Não são.

E se forem?

Respiro profundamente.

— Não acredito! – Harry abre os braços pra mim – Você não sabe o que fazer! Fica aí pensando e fica sem resposta!

Me viro pra ele agressivamente.

— E você quer simplesmente bancar o herói e nos arriscar lá?! Eu estou pensando se devemos voltar e avisar os outros! Estou pensando se devemos esperar! Estou pensando se devemos voltar correndo pra onde ACHAMOS que eles estão! ESTOU PENSANDO SE SEQUER SÃO ELES! – eu digo aumentando meu tom. Harry e Glenn ficam em silencio.

— Po-podemos esperar mais um pouco! Hein? – Glenn fica entre eu e Harry – Que tal? Mais cinco minutos?

Não posso sair daqui. E se eles voltarem? E nós não estivermos aqui?

Mas...e se não voltarem?

— Dez. – fico de costas para Harry, sem olhar pra nenhum dos dois.

Dez minutos. Se em dez minutos não voltarem...

— Tenho medo de sairmos daqui e ir atrás de desconhecidos enquanto Rey e Mary chegam e ficam igual a gente agora. – digo, depois me viro pra Harry novamente.

— Já pensou se eles dois escutaram os tiros e acharam que éramos nós? Aí eles chegam aqui e não nos encontram porque fomos atrás de “deles”! E aí? Ficaria os dois grupos, perdidos igual cego em tiroteio, imaginando o pior!

Harry passa a mão pelo cabelo, respirando profundamente. Glenn transita seu olhar entre nós.

— Vamos esperar dez minutos e... – eu mesma decido me interromper ao ouvir um barulho diferente. Um barulho de...

— CARRO! – Harry aponta para o horizonte boquiaberto. E todos nós encaramos o veiculo vindo em nossa direção. O carro está manchado de sangue em alguns pontos, tem o vidro fosco então não consigo ver quem dirige. Ele breca subitamente com um barulho forte próximo a nós, subindo levemente na calçada. Quem dirigia provavelmente estava querendo ser rápido.

Não hesito e saco minha arma, Harry saca a dele e Glenn tira e engatilha a escopeta que levava nas costas, mas percebo que ele não a aponta, só a segura um pouco mais firmemente.

O vidro do passageiro desce e vejo uma mulher desconhecida dentro do carro, tem olhos verdes e cabelo castanho claro. Está ofegante e pisca freneticamente, treme os lábios.

— Ca-Carley?! – ela me chama e eu arregalo os olhos.

COMO ELA SABE MEU NOME? EU NEM CONHEÇO ESSA MULHER!

Harry troca olhares nervosos comigo. Glenn continua encarando a mulher, estático e  impressionado.

— Você precisa vir comigo! – ela diz alto.


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