The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 34
Continue Lutando


Notas iniciais do capítulo

Eu estava muito ansiosa pra por esse POV aqui porque foi um dos primeiros que escrevi quando comecei a planejar a história! Espero que gostem.

Bom capitulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751509/chapter/34

PONTO DE VISTA – ????

 

— Assuma que estamos perdidos! – mamãe disse para meu pai, que agora estava virando o mapa de ponta cabeça rapidamente.

— Não estamos! Sei muito bem onde a gente tá, calma! – meu pai disse.

Já havia passado quase 11 dias desde que o mundo acabou e os mortos voltaram a vida. Eu ainda mal podia acreditar, mas estava feliz que eu estava com meus pais...vi muitos na rua perdidos e desolados, muitos pediram carona pra gente e nós simplesmente ignoramos porque não podíamos parar no meio da estrada.

Está sendo difícil ter um mantimento constante de comida, mas até agora estamos nos virando. Ontem saímos da loja de conveniência que ficava dentro daquele posto de gasolina após passarmos 1 semana dentro dele.

“Muitos mortos” papai disse, então foi aí que ele e mamãe disseram que o melhor a se fazer era pegar a rodovia e ir até o estado vizinho, onde meu tio, irmão de minha mãe morava. Passaríamos pela Central de Sobrevivência no caminho, e poderíamos pegar suplementos lá ou até mesmo descansar por uns dias antes de seguir viagem.

É um bom plano.

Mamãe me ensinou a atirar com uma arma. Meu pai não gostou disso, mas entendeu a necessidade. No começo foi estranho, mas agora, por mais estranho que pareça, virou algo cotidiano em nossas vidas.

Nunca achei que fosse pensar nisso.

Quando tudo começou eu surtei completamente. Acho que se eu não estivesse com minha mãe na hora eu provavelmente estaria morta...nunca agradeci tanto por uma consulta no hospital. Eu havia faltado na escola naquele dia, por conta de alguns exames de rotina que faria.

Foi uma manhã comum. Eu, toda descabelada tomando café na mesa, mamãe colocando os documentos necessários pra consulta na bolsa enquanto meu pai estava sentado a mesa junto a mim, de terno e gravata, tomando seu café. Geralmente eu pego o ônibus para ir para a escola, mas como o hospital era próximo da onde ficava a firma de advocacia de papai, iriamos sair todos juntos de casa.

Meu pai estacionou na rua mesmo, próximo ao trabalho. Eu e minha mãe andamos uns dois quarteirões e lá estava o hospital...foi aí que ficou estranho. Havia policiais e militares por toda parte, eles perguntaram que tipo de exame que eu iria fazer e até pediram permissão para medir minha temperatura ali mesmo. Minha mãe achou estranhíssimo, nos entreolhamos mas não seriamos doidas de contrariar militares armados até os dentes. Só quando fiz o teste que me deixaram entrar.

É obvio que me deixaram entrar. Eu estava com 35 graus...sem indicio nenhum de febre. Agora eu sei disso. Agora eu sei que eles estavam TENTANDO ser precavidos.

Mas eles perderam.

Esperei por meia hora junto com a minha mãe. Foi quando vimos uma movimentação por parte dos médios e enfermeiras, todos começaram a andar de lá pra cá parecendo estar muito preocupados e pedindo calma para alguns pacientes que aguardavam nas salas vizinhas. Escutamos um disparo vindo de dentro do hospital depois de alguns minutos, o pânico se instalou, mais disparos foram escutados enquanto eu e minha mãe corríamos nos afastando ao máximo da multidão. Minha mãe viu uma sala entreaberta e me puxou para dentro fechando a porta logo em seguida, a essa altura eu já estava em prantos. Foi aí que ouvimos os militares entrarem no edifício, e depois, ouvimos mais disparos ainda. Eu me senti no meio de um campo de guerra.

Eu estava tão assustada...

Estávamos ambas no chão ajoelhadas próxima a cama vazia do quarto, com somente nossas cabeças a mostra, vendo o grosso vidro que ficava ao lado da porta e nos permitia ver a movimentação nos corredores. Eu nunca vou me esquecer do que vi...

Eu vi um PACIENTE claramente debilitado balançando a cabeça negativamente para um militar que segurava uma escopeta, este que simplesmente deu um tiro com a arma no homem, o matando friamente. Quando estava prestes a gritar por aquilo, minha mãe puxou minha cabeça até seu peito e abaixou minha cabeça enquanto fazia “SHH” pra mim, ela também tinha lágrimas nos olhos. Continuamos a ouvir os disparos por alguns minutos até minha mãe segurar meu rosto desesperado com ambas as mãos e me falar:

— Enid, você precisa me ouvir! Me ouça! – ele dizia com a voz firme, mas eu podia ver em seu rosto que ela estava tão aterrorizada quanto eu – Precisamos sair daqui. Está me ouvindo?!

Ela chacoalhava levemente minha cabeça para me trazer pra realidade. Depois de alguns segundos, assenti para ela, que me puxou para cima e me segurou pela mão.

— Vamos até o seu pai! Vamos sair daqui agora! – ela me disse, colocando a mão na maçaneta – Não solta a minha mão. – ela disse como se eu fosse uma criança de 5 anos de idade, mas eu assenti limpando uma lágrima que caia no meu rosto vermelho.

Assim que ela abriu a porta, os barulhos ficaram ainda mais evidentes do que já estavam, minha mãe me puxava pelos corredores, tentamos virar no primeiro que vimos, mas ao chegar lá vimos outra imagem assustadora: um paredão de pacientes pálidos, todos encostados com as costas na parede, e na frente deles, uma dezena de militares.

“3! 2! 1!”

Minha mãe me puxou, mas eu escutei os milhares de tiros que se seguiram depois.

Eles estavam executando pacientes...todos aqueles que estavam infectados.

Entraram em desespero.

Enquanto corríamos procurando um corredor que dava em alguma saída de emergência, vimos de tudo: Mais execuções, pacientes e famílias correndo...e mortos voltando a vida.

Eu achei que estava sonhando quando vi diante dos meus olhos uma mulher que grunhia feito um animal enquanto se arrastava no chão, completamente ensanguentada. Lembrei na hora de todo aquele vírus que havia visto pela TV e pela Internet nos últimos meses, mas é aquele ditado: é preciso ver para crer.

E mais uma vez enfatizo, se minha mãe não estivesse comigo eu teria morrido ali mesmo.

Havia outras pessoas que estavam tentando fugir, até mesmo membros da policia aparentemente. Teve um momento que cruzamos um corredor completamente bagunçado e vimos um policial tentando falar com uma enfermeira, ele tentou chama-la enquanto ela corria, mas ela simplesmente desvencilhou de seus braços. Ele correu até uma maca que estava no corredor e a pegou, ali próximo ocorreu uma outra execução composta por pacientes no paredão. Eu não vi, mas observei a reação do policial que era de completo choque.

Ele era alto, tinha cabelo preto e maxilar marcado. Estava fardado e podia-se ler o nome “Shane W.” no crachá de visitante. Enquanto minha mãe corria me puxando pelo braço, olhei por cima do ombro e vi que o policial havia posto a maca do corredor na frente da porta na qual ele havia saído, depois, pois uma toalha no nariz e saiu em disparada com uma pistola em mãos na direção oposta que eu minha mãe corríamos.

Finalmente achamos uma saída, descemos milhares de escadas até chegarmos a rua, que também estava um COMPLETO caos. Havia pessoas correndo desesperadas, e eu me perguntava como isso havia acontecido em questão de minutos, todo mundo estava fugindo da mesma direção que ficava o centro da cidade. Mamãe me puxou pela rua, correndo pelos quarteirões indo até o carro.

Pra nossa sorte, papai estava lá, ele tinha um corte acima da sobrancelha. Todos nos abraçamos desesperadamente, meu pai me deu um beijo desesperado no topo da cabeça e deu um beijo em minha mãe. Ele nos disse que estava sem sinal de telefone e estava temendo pelo pior. Também disse que no escritório mencionaram que o centro da cidade está repleto de militares e que havia um tanque de guerra lá. Entramos no carro enquanto ele explicava pra minha mãe que havia ganhado o corte depois de cair na firma, os advogados corriam desesperadamente e um deles trombou fortemente nele, o fazendo cair alguns degraus abaixo.

Meu pai ligou o carro e disse que não iria por onde tinha vindo, pegaria um caminho diferente, achando que haveria engarrafamento. E no final, meu pai estava certo, se houvéssemos seguido o caminho de sempre, estaríamos sabe Deus como. Fugimos dali enquanto ouvíamos o rádio, que falou sobre um Centro de Sobrevivência.

Mas obviamente as coisas não foram simples. Ficamos presos em um engarrafamento ao tentar sair da cidade, houve explosões durante a noite quando estávamos presos no transito. Na manhã seguinte, alguns estavam abandonando seus carros para prosseguir numa jornada a pé. Meus pais não acharam isso seguro e acharam um outro caminho para seguir, o rádio parou. Inevitavelmente, o carro precisou de gasolina e paramos num posto mais próximo da estrada na esperança de conseguir abastecer, mas tudo já estava abandonado. Foi aí, junto com a parada de funcionamento da radio, que nos demos conta com toda a certeza do mundo que os militares haviam perdido a guerra.

Ao menos foi o que ouvi meus pais falarem um para o outro enquanto eles achavam que o melhor a se fazer era fingir que tudo estava na minha frente.

Eu não sou mais criança.

Ficamos na loja de conveniência, e aquela foi a primeira vez que tivemos contato com os mortos, no inicio achávamos que eles eram pessoas doentes, mas era impossível que uma ser humano sobrevivesse sem o braço ou a perna enquanto sangrava e grunhia em nossa direção de forma medonha. Meu pai foi o primeiro que matou um deles, ele chorou e minha mãe o abraçou.

Eu me “acalmei” somente depois de três dias, quando percebemos que os doentes estavam mortos...quando enfiar uma faca na cabeça de alguém morto virou necessário pra sobrevivência, como já dizia minha mãe. Mais pra frente achamos armas graças a algumas voltas que demos a pé pelo perímetro e foi aí que aprendi a atirar. Isso chamou a atenção de alguns zumbis, que apareciam com mais frequência agora. Foi quando decidimos partir.

Achamos gasolina e agora aqui estamos...parados depois de alguns km rodados. Procurando uma maneira de chegar até o meu tio após meus pais combinarem isso no carro sem nem ao menos pedir uma opnião minha no caso.

Foda-se isso.

— Acho melhor darmos a volta e pegarmos o retorno. Essa área aqui pode estar cheia deles, o melhor a se fazer é ir pelo outro lado agora. – mamãe apontava no mapa. Ela vestia uma calça jeans surrada, com uma camiseta bege tinha uma arma na cintura.

— Dar a volta?! A gente só vai perder gasolina com isso! Tenho certeza que chegaremos bem ao passar por aqui, é só seguir a nossa regra: ficar juntos. – papai disse. Ele usava a calça social do trabalho, uma camiseta preta de botões suja de terra com as mangas puxadas para cima até os cotovelos.

— Não seja teimoso, Killian! Você sabe que é perigoso! – minha mãe diz e cruza os braços.

— O que NÃO é perigoso agora? Estamos mais perto de chegar por aqui! – ele aponta novamente pro mapa.

— Gente! – eu falo alto na direção deles. Será que eles sabem que eu estou aqui? Eles me olham – Posso ter uma opnião também?! Ou nem isso mais?

— Enid, agora não é uma boa hora. – mamãe diz pra mim.

— Eu só estou querendo ajudar aqui! Vocês tão me tratando como se eu não estivesse aqui e pudesse ajudar nessas coisas! – eu digo irritada.

— Sua mãe está certa filha, não é o momento. Sabemos que você está aqui, e você é muito útil e é uma sobrevivente agora. Mas quanto menos discussão, melhor! – meu pai me encara com seus profundos olhos azuis, eles sempre me davam arrepios quando ele brigava comigo. Me sentia ameaçada e prestes a levar uma chinelada ou algo do tipo.

— Exatamente, por isso estou dizendo que é melhor voltarmos! – minha mãe diz e depois se vira para meu pai que revira os olhos.

— Não vamos! – ele diz

— Vamos! – ela se posiciona para vê-lo melhor. Os dois se encarando esperando algum deles ganhar naquela discussão telepática.

Já sei!

— Cara ou Coroa? – digo dando um meio sorriso e metendo minha mão no bolso de trás da calça. Os dois viram a cabeça na minha direção.

— O que?! – eles dizem em uníssono.

— Cara ou coroa! Cara é um destino e coroa é outro já que os teimosos não se decidem. – falo e estendo a moeda até eles, que a olham confusos.

— Isso é ridículo. – minha mãe revira os olhos e ignora a moeda.

— Está com medo de perder, Marian?! – meu pai pega a moeda da minha mão e eu solto um riso nasal.

— Só nos seus sonhos, Killian! Se der cara, vamos voltar! – ela desiste e se vira de volta para meu pai.

— Feito! – Meu pai estende a mão e minha mãe aperta. Eu rio da cena.

São dois palhaços.

Meu pai joga a moeda pra cima e...

— HÁ! – meu pai estica um sorriso no rosto e aponta o dedo indicador em direção a minha mãe enquanto minha mãe soltava um “merda!”

— EM FRENTE! – ele ergue o punho pra frente e começa a correr até o banco do motorista, eu rio da situação enquanto minha mãe revira os olhos e abre a porta do passageiro.

Dirigimos por mais algumas horas até a tarde começar a surgir. Tiro um saco de pão puma da mochila que carrego e começo a comer alguns pães, passo alguns deles para minha mãe e meu pai que também comem.

— Temos que tomar cuidado com nosso racionamento. Tem esses pães, algumas maçãs e algumas bolachas certo? – meu pai diz e eu concordo após checar em minha mochila.

— Querida, checou sua munição hoje? – minha mãe diz virando-se pra trás e eu também confirmo com a cabeça.

— Sim mãe. O mesmo de ontem... – eu não entendia o porque minha mãe contava as munições diariamente. Era raro usarmos as armas, sempre usávamos as machetes ou armas brancas que achávamos. Eu tinha um facão grande de cabo branco que havia achado em baixo de um balcão, minha mãe tinha uma chave de fenda e meu pai um canivete. Havia também um martelo na bolsa que minha mãe usou uma vez pra matar um zumbi rapidamente, foi nojento.

Depois de mais meia hora decidimos parar para descansar. Era perigoso seguir no meio da noite enquanto estávamos em área perigosa. Então, achamos um celeiro na estrada. Meu pai parou o carro e todos descemos. Não havia mais nada a vista, onde estávamos estava repleto de gravetos e pedras apenas.

— Vou dar uma volta, ver se está tudo bem. – meu pai disse colocando a mão no meu ombro, eu a apertei. Sempre sentia medo quando precisávamos dar a volta no perímetro...como éramos poucas pessoas, alguém sempre ficava sozinho.

— Eu posso ir... – minha mãe começou a dizer, mas meu pai interrompeu.

— Não, está tudo bem amor. Volto rápido. – ele disse e depois deu um sorriso fraco, minha mãe correspondeu e levou ambas as mãos no rosto de meu pai e o beijou delicadamente.

— Não morra, Killian. – ela disse e eu me arrepiei com o pensamento. Ele tirou uma mecha de seu longo cabelo castanho da frente do rosto dela.

— Pode deixar. – ele respondeu e saiu, piscando pra mim antes.

Vi meu pai se afastar, e ficamos eu e minha mãe encostadas no carro, observando o celeiro. A noite estava boa, não havia zumbis na estrada. Tudo parecia muito calmo.

— Mãe? – chamei.

— Sim? – ela virou a cabeça pra mim.

— Acha que o tio estará lá? – pergunto. Tinha minhas dúvidas quanto a isso. Eu torcia para que sim, mas ao mesmo tempo pensava que se nós tínhamos fugido talvez ele também tenha. Minha mãe respirou fundo, fitou o chão por um momento. Parecia pensar se respondia ou não a pergunta e isso me irritou na hora.

— Mãe, você e o papai precisam parar de me querer tirar das coisas. Eu não entendo vocês! Uma hora querem que eu aprenda a atirar pra me defender, mas não pedem minha opinião quando vão fazer as coisas ou medem as palavras quando vão falar comigo! Eu já tenho 15 anos! Não sou uma criança mais e não é como se eu não soubesse o que está acontecendo! Eu tô vendo tudo! – decido por tudo pra fora naquele exato momento. Minha mãe me ouve atenta.

— Eu não... – tento continuar, mas me atrapalho nas palavras, minha mãe pacientemente espera enquanto eu desvio meu olhar para o chão – Só...não gosto que me deixem de fora.

Logo eu sinto uma mão no meu rosto, e não sei porque mas sinto meus olhos encherem de agua, mas apenas uma lagrima se solta. Ela é rapidamente limpada pelo polegar de minha mãe.

— Venha aqui, amor. – ela me puxa pela nuca até eu me encaixar em seus braços, ela é apenas alguns centímetros maior que eu. Sempre disseram que éramos parecidas, nossos olhos eram iguais, “olhos de mato” papai costumava dizer satirizando o verde da nossa íris. Me aninhei em seu pescoço, me sentia segura.

— Me desculpe. E desculpe seu pai também...sabe que não fazermos por mal não é? – ela fala devagar, sinto sua voz fraquejar aos poucos e percebo que ela está a ponto de chorar – É que...

Ela me abraça mais forte enquanto dá um suspiro pesado.

— Não sei o que faria se algo acontecesse com você. Simplesmente não consigo pensar nisso, querida! – ela dá um beijo no topo da minha cabeça e aperta os olhos enquanto suas palavras saem fracas graças ao choro.

Eu não digo nada, só continuo a abraçando.

Eu a amo tanto.

Nos separamos depois de alguns segundos e ela segura meu rosto com as mãos e sorri:

— Minha garota. Minha FORTE garota. – ela diz e eu abaixo a cabeça meio embaraçada – Vamos vencer o mundo todo, você vai vencer o mundo todo. É só continuar lutando.

Ela sorri mais uma vez e me dá um beijo na testa, passando novamente o polegar nos meus olhos para tirar as lágrimas que caiam ali.

— Tudo limpo – escutamos uma voz atrás de nós e ambas nos viramos para ver meu pai se aproximar, seu sorriso vai morrendo aos poucos – O que aconteceu?

— Nada. – Minha mãe responde sorrindo – Não foi nada amor, só estávamos falando sobre como as coisas eram e acabamos ficando emocionadas. Está tudo bem.

— Sim, pai. Vamos ficar bem. – eu digo e recebo um sorriso de minha mãe. Meu pai levanta uma sobrancelha, mas acaba assentindo lentamente.

— Bom...acho melhor irmos tirando as coisas do carro. – meu pai diz coçando a barba e andando em direção ao carro. Tínhamos algumas mochilas, ferramentas, kit de primeiros socorros e alguns cobertores no porta malas.

— Eu ajudo! – eu digo e vou até o meu pai.

— Ok, eu vou abrindo o celeiro! – minha mãe diz enquanto acena pra mim e para meu pai.

Meu pai abre o porta malas e começamos a tirar as coisas.

— Pode ficar com o cobertor maior hoje, acho que pode esfriar já que vamos dormir no chão frio. – ele diz pra mim enquanto pega a caixa de ferramentas.

— Vocês são dois. Acho que o maior tem que ficar com vocês mesmo, pai. – eu respondo.

Escuto alguns grunhidos no horizonte, eu e meu pai levantamos a cabeça e começamos a olhar em volta, mas não havia nada a vista.

— Ouviu isso? – pergunto a ele.

— Ouvi... – ele diz ainda mantendo seus olhos no horizonte, depois vira com a cabeça em direção ao celeiro – Ei! Marian!

Minha mãe parou com a mão a centímetros das portas duplas do grande celeiro. Ela estava de costas para nós, parecia concentrada.

— Marian?! – meu pai gritou novamente e minha mãe ergueu uma mão pra cima. Meu pai ainda tinha a caixa de ferramentas em mãos, deu dois passos a frente da onde estava com uma expressão confusa, idêntica a minha.

Minha mãe dá um passo para frente e encosta a mão no suporte preso a porta do celeiro. Ela fica alguns segundos naquela posição, parecia ouvir alguma coisa atentamente. Nada acontece.

Ela vira a cabeça e nos olha por cima do ombro

— Acho que tem mor- – ela começa a dizer, porém ambas as portas se abrem subitamente o que faz nós três pularmos de susto. Eu grito, meu pai joga a caixa de ferramentas no chão e minha mãe dá três passos para trás e acaba caindo no chão. Meia dúzia de zumbis saem do celeiro e agora estão a centímetros dela.

— MARIAN! – meu pai começa a correr enquanto tira a sua arma do coldre, eu faço o mesmo em completa adrenalina e falta de ar. Minhas mãos tremem enquanto eu engatilho meu revolver.

Minha mãe tenta se arrastar para trás aos gritos, mas um deles a agarra pelo pé e começa a puxa-la, os outros zumbis chegam e tudo ocorre como se fosse em câmera lenta.

Eu dou um disparo segundos depois de meu pai, que no final, acaba chegando até os zumbis para empurra-los na tentativa de tira-los de cima dela. Eu atiro nos zumbis que estão atrás com as mãos tremulas e com medo de acertar meu pai ou minha mãe.

Meu pai guarda a arma na cintura e segura minha mãe pelos braços, mas os zumbis estão perto de mais.

— ENID! – ele grita, e sei que ele quer que eu ajude.

ESTOU TENTANDO!

— KILLIAN! – minha mãe grita.

— NÃO! NÃO! NÃO! – ele grita de volta com força.

Zumbis se aproximam de meu pai, eu disparo e tiro um de seu caminho, mas há outro próximo a ele, que avança em direção a seu ombro. Meu pai solta uma das mãos de minha mãe para segurar o zumbi pelo colarinho, eu corro me aproximando mais, disparo e acabo errando. Meu pai grita enquanto o zumbi tenta agarra-lo.

Logo o pior acontece. Meu pai não é forte o suficiente e os zumbis acabam puxando minha mãe, um deles vai direto em seu estomago enquanto outros vão próximos ao seu pescoço. Os meus gritos se misturam com os dela e os de meu pai, que assim que teve minha mãe puxada dele, levou a mão livre no zumbi próximo e o jogou no chão, pisando em sua cabeça logo em seguida. Os gritos de minha mãe cessam após uma série de tossidas.

Com lágrimas nos olhos, ele atira nos dois zumbis que estavam em cima de minha mãe, deixando três cadáveres no chão. Eu corro em sua direção e o abraço, ele me abraça de volta muito forte enquanto ambos nos aproximamos dos corpos.

— Marian...marian... – ele se abaixa e tira o braço de um zumbi de cima da minha mãe, revelando seus olhos vidrados. Meu pai cai de joelhos no chão e eu sinto meu mundo desabar.

Isso não está acontecendo!

Quando percebo também estou no chão, me negando a acreditar no que vejo. Seguro o rosto de minha mãe nas mãos.

— MAMAE! MAMAE POR FAVOR! – começo a gritar desesperadamente.

— ENID! ELA... – meu pai estica o braço em minha direção e logo em seguida geme e coloca a mão esquerda sobre o pulso direito.

— Pai?! – eu digo enquanto ele dolorosamente tira a mão esquerda de cima do pulso, revelando marcas de unhas ali. Ele me olha assustado, com os olhos completamente vermelhos. Eu o olho da mesma forma.

NÃO!

— Não... – eu digo e ele abaixa a cabeça pro pulso novamente, começa a piscar freneticamente tentando processar o que havia acontecido.

— Não, não, não, NÃO! NÃO! NÃO! – eu começo a me descontrolar, isso não estava acontecendo!

NÃO ESTAVA!

— ENID! – ele grita pra mim, e depois sinto sua mão ir até a minha cintura. Ele puxa o facão que eu carregava ali.

— ENID! ENID! ME ESCUTA! ME ESCUTA POR FAVOR! – ele começa a gritar em meio ao meu surto, ele segura meus dois ombros e me chacoalha – VOCÊ VAI TER QUE FAZER!

— O QUÊ?! – eu digo aos berros.

— ME ESCUTA! – ele me chacoalha mais uma vez – Você vai ter que cortar a minha mão! VOCE VAI CORTAR!

Eu abro minha boca desesperadamente, mais lagrimas descem e eu começo a soluçar.

— Co-co-como? e-e-e-eu nã-não con-consigo! – digo atropeladamente.

— RAPIDO! EU NÃO POSSO TE DEIXAR! ESTÁ ME OUVINDO?! – ele segura meu rosto, e sinto-o ser manchado de sangue – Temos que viver querida! Vamos!

Ele diz entregando o facão em minhas mãos e começando a tirar o cinto. Minhas mãos tremiam como vara torta.

E-eu não consigo! Não consigo!

Escuto um grunhido e vejo que vem da minha mãe, eu e meu pai vemos. Ele retira completamente o cinto e levanta trêmulo. Tira a arma do coldre e aponta rapidamente para a cabeça de minha mãe, e quando ela abre os olhos...Não reconheço nada naquela criatura.

Aqueles olhos não são dela.

Não são dela.

— Vire-se. – ele diz, mas eu não me viro.

— Enid! NÃO TEMOS TEMPO! – ele grita

— ATIRA PAI! – grito de volta, e ele fecha os olhos antes de apertar o gatilho. Os grunhidos se cessam e ele cai de joelhos novamente, chorando. Continuo a encarar o morto que a poucos segundos atrás era minha mãe.

Isso não era minha mãe. Não se parecia com ela.

— Enid... – escuto meu pai chamar e vejo seu pulso novamente – amarra o cinto em volta do meu braço, vai fazer um torniquete.

Eu olho o cinto por alguns segundos e o pego, minhas mãos tremem e as lagrimas não param de cair apesar de eu não estar soluçando mais.

“É só continuar lutando.”

Amarro o cinto e me pai se deita com a barriga para cima, eu começo a me desesperar mais ainda.

Não posso perde-lo. Não posso perde-lo.

Me lembro de algo. Tiro minha jaqueta jeans surrada e estendo pra ele dobrando as duas mangas em uma, ele a pega.

— O quê...? – começa a perguntar enquanto respirava ofegantemente.

— Poe na boca. – eu digo e vou correndo até o carro, pego o kit de primeiros socorros e o deposito ao lado do meu pai.

— Quando cortar, você passa isso aqui. Pra não infeccionar. - ele diz e percebo claramente o medo em sua voz.

Pego a faca, e no momento que a pego em minhas mãos, começo a tremer bruscamente.

Não posso perde-lo. Não posso perde-lo.

Ele apoia a mão sobre a minha mão trêmula e me olha nos olhos. Ele engole seco e assente.

Eu encosto a faca acima de seu pulso, para mirar bem e sua pele treme.

— Vamos lá querida... - ele diz com a voz trêmula.

— 3.............2........ - ele começa, mas eu me vejo obrigada a terminar a contagem.

“Continuar lutando.”

Meu braço desce e eu escuto meu pai gritar.

“Não morra, Killian...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me segue no Twitter pra batermos um papo!

@xmisswalker



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The New World" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.