The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 27
O Colapso


Notas iniciais do capítulo

Capitulo longo a frente! Boa leitura!



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

Nos deixaram.

Eles realmente me deixaram pra trás...

Tudo acontecia em câmera lenta em minha cabeça, parece um pesadelo no qual eu nunca acordo. Ross está nele. Meus amigos estão nele.

Mas acima de tudo, há morte em todos os lugares e eu estava realmente acreditando que tudo iria se ajeitar, que os militares iriam chegar e os policiais iam tomar conta da situação...

Mas não.

Acabou. Ninguém vai vir.

“O que faz acordada a essa hora?” ele havia me perguntado...

Eu não acreditava em nada disso mais. Não com Ross ali no chão...uma pessoa que amo simplesmente irreconhecível para mim.

“Sabe que sou uma coruja quando se trata de horas de sono” eu respondi...

O modo como ele olhou pra mim...não era ele.

Não chegava nem perto de ser ele.

“Mas o que VOCÊ está fazendo acordado? Você não tem que trabalhar daqui a algumas horas?” lhe perguntei...

— Carley. – uma mão tocou o meu ombro e me tirou do meu transe, me fazendo abrir os olhos. Virei e vi que era Rey.

— O que quis dizer? – ele perguntou. Vi que os outros estavam atrás dele, com os olhos vermelhos cheios de expectativa.

“Tenho, mas acho que estou ansioso...não sei.” Ele me respondeu colocando as mãos no bolso da calça moletom.

— O que quer dizer com o que? – perguntei confusa. Eu havia dito alguma coisa?

“Relaxa. Você vai bem naquela reunião, eu vi você com a cara naqueles gráficos dia após dia estudando eles, não tem como você se ferrar nessa!” tentei acalma-lo.

— Sobre ter sido deixada pra trás. – Rey disse sem tirar os olhos dos meus. Eu ainda o olhava confusa. Eu jurava ter pensado nisso...mas não me toquei que tinha dito em voz alta.

— Deixada... – disse baixo, desviando meu olhar dele, mas acredito que Rey me ouviu. Eu não entendo...será que estou ficando louca? Eu estou confundindo o que penso com o meu presente?

— Isso...deixada. Você e...o Ross. – Rey engoliu seco antes de citar o nome de meu irmão.

— Ross... – fitei naquele que antes era conhecido como meu irmão mais velho, de barriga para cima, ensanguentado e com os olhos fechados.

“Estou tentando o meu máximo, se for pra ser, será.” Ele disse agora virando para olhar para o céu. Eu estava sentada em cima da mesa, o vendo fitar as estrelas em silencio.

— Carley. – Mary me chamou agora, cortando meu transe novamente. Ela me olhava preocupada. Todos olhavam.

Porquê?

— Sim...Ross. – tentei voltar pro meu raciocínio, ou que tinha sobrado dele – Ele...minha família...eles... – eu não sabia por onde começar.

— Você dizia que sua família deixou você e o Ross. Como tem tanta certeza disso? – Mary perguntou e Rey balançou a cabeça como se pudesse dizer que concordava com a pergunta.

“Amanhã você vai encontrar seus amigos?” ele virou a cabeça, com apenas metade de seu rosto em evidencia pela fraca luz que ficava na área externa da casa.

— Eu...eu...eles... – me levantei, trêmula como uma vara de bambu, afastando minha mão daquela coisa monstruosa no chão. Tinha que provar o que tinha dito, se escutaram de alguma forma eu falando que me deixaram pra trás, não iriam me deixar em paz até eu explicar.

E é isso que farei.

— Vocês...vocês veem... – comecei a apontar com minhas mãos trêmulas em direção a estante branca cheia de DVDs que tinha ali na sala e fui apontando até chegar no rack – fotos?! Onde estão?! As fotos?! – os olhei com expectativa, mas o olhar deles denunciava dúvida.

“Vou. Teve uma galera que deu pra trás, mas ainda tem alguns que vão...” eu havia começado a explicar a ele.

Eles me olhavam assustados. E eu não estava entendendo nada, eu tinha a impressão que minha cabeça era o local mais barulhento do mundo. Chacoalhei ela de leve, tentando tirar os ecos de uma memória de dois dias atrás.

Eles me olharam mais atentamente.

— Carlie...porque não se senta? – Rey começou a se aproximar lentamente em passos meticulosos. O que há de errado com eles?! Eles não veem?!

— Isso, senta aqui Carlie. – Rob deu um passo a frente, mas eu recuei dois passos pra trás e o interrompi.

Eles acham que eu estou louca! Olha como eles estão olhando pra mim!

“...vamos nos reunir lá e depois sairemos pra tomar alguma coisa. Não vou demorar muito.” Terminei de explicar o que ia fazer no dia seguinte para ele.

— Não! Não! Vocês não tão entendendo! – eu olho incrédula para meus amigos a minha frente, eles todos estão ali com aquelas caras preocupadas e assustadas em minha direção. O que tem de errado com eles?! Eu estou bem! Aquele não era meu irmão! Não tem porque chorar por um monstro!

— Hey, hey! Calma! – Rey as mãos mostrando as palmas para mim – Não vamos fazer nada, relaxa.

— Vocês veem fotos?! Vocês me perguntaram o que eu queria dizer e agora eu estou perguntando pra vocês se vocês veem fotos nessa sala! – eu digo e volto a apontar para o rack e para a estante de DVDs da sala.

Eles olham em volta e é Harry que responde:

— Não...? – ele diz inseguro, mas sua voz se mistura na minha cabeça.

“Não vai demorar! Hunf, dúvido!” ele desdenhava com um sorriso no rosto

— Exatamente! – aponto para ele – Não ia demorar mesmo!

Harry e os outros se entreolham, parecem esquecer que estou aqui. Eu fico tão confusa quanto eles até que minha mente processa que eu acabara de dizer “que não ia demorar”. Mas não era com Harry que eu estava falando quando disse isso.

Eu me confundi de novo. Chacoalho a cabeça e passo as mãos no rosto rapidamente.

Me deixaram.

— Carlie...por favor, você precisa se sen- – Matt diz e dá um passo pra frente, eu recuo novamente de seu toque.

— Não ia demorar...pra eu perceber que iam me deixar pra trás caso realmente deixassem! – digo atropelando minhas palavras, o interrompendo. Começo a piscar freneticamente.

— Levaram remédios, comida, trancaram as portas e levaram até os cachorros! – começo a erguer meus dedos em contagem, para cada coisa que eu citava, eu levantava um dedo.

— Vocês... – tento falar, mas sinto que preciso de ar, fecho meus olhos e respiro ofegantemente.

— Hey... – Rey começa a dizer e dá a entender que vai avançar um passo, eu ergo um dedo em sua direção e ele para.

“Sabe que eu não gosto de sair de casa. Não gosto de encarar ‘o mundo lá fora’ heh” eu rio enquanto fazia aspas com as mãos, ele balança a cabeça negativamente, mas também ri.

— Vocês viram algum corpo de cachorro?! Hãn? Viram?! – eu começo a falar pra eles, e eles se olham mais uma vez com seus olhares preocupados antes de se virarem pra mim e balançarem a cabeça negativamente.

— Não né?! Eu também não vi! – começo a andar em direção ao rack e dou um tapa forte ali – Cadê as fotos da família que deveriam estar aqui?! HEIN?!

Ninguém me responde.

“Somos obrigados a encarar o mundo quer gostemos ou não, nem sempre dá pra ser um bicho do mato igual você” ele brinca.

Chacoalho a cabeça de leve. Mary troca olhares com Rey, mas eu os ignoro.

— Não tem ladrão no mundo que levaria fotos! Eu digo o porquê elas não estão aqui! – começo a andar em direção ao quarto a minha esquerda, o quarto dos meus pais. – Me sigam! Venham!

Não paro pra ver se eles me seguem ou não, mas depois de alguns passos que dou, finalmente escuto movimentação atrás de mim.

Entro no quarto, passo pela área da cama e perto de uma pequena estante ali, depois passo pelo pequeno banheiro que tem ali a esquerda e entro no closet, a direita. Abro os armários violentamente.

— O que está fazendo? – Rey pergunta, enquanto eu me estico para tatear o topo do closet.

— Provando o que digo! – e como eu suspeitava, não havia nada ali.

“Para de me chamar assim. Eu só...gosto do meu espaço próprio...eu chamei eles pra vir aqui mas acharam melhor lá” Respondi ele agora mais seriamente e revirando meus olhos, mas ainda havia vestígios de risada em meu rosto.

— Viram?! Não há nada! – dei tapas onde eu estava tateando anteriormente – NADA!

— E-e-eu não entendo, Carlie. – Mary fala.

— É simples! Os álbuns da família sumiram todos! Eles ficavam aqui! Exatamente aqui!— eu digo e dou mais dois tapas onde eu havia batido antes.

— Que pessoa que rouba álbuns da família?! Hãn?! – eu abro espaço entre eles para sair do closet, vou até a cômoda ao lado da cama, abro as gavetas e acabo rindo nasalmente.

— Olha aí! Onde estão os remédios do meu pai?! – fecho a primeira gaveta com tudo, e abro a segunda – Cadê?! – fecho a segunda gaveta e abro a terceira e última.

— A carteira sumiu também! – fecho a última gaveta e me viro para encarar a todos, que olhavam perplexos agora.

“As vezes temos que fazer coisas que não estamos confortáveis. Você acha que eu quero fazer essa maldita reunião? Lógico que não!” ele se vira pra mim agora, e fala olhando pra mim.

Eu chacoalho a cabeça novamente e saio do quarto, volto para a sala e fico olhando o corpo no chão que se parecia tanto com um certo alguém. Escuto passos atrás de mim, meus amigos que me seguem.

— Eles devem ter ido para o Centro de Sobrevivência, Carlie. – Mary disse.

“Mas eu faço. Faço porque isso vai ajudar a família e vai me ajudar também, posso ser promovido se tudo der certo e posso ajudar a mãe com as contas...” ele continua.

— Ele nunca ia deixar nenhum deles pra trás. – digo.

“Tem razão...sempre pensar nos outros primeiro é o que a mãe sempre diz.” Respondo a ele.

EU nunca ia deixar nenhum deles pra trás! Mas eles não pensaram duas vezes antes de sair daqui carregando os cachorros e os álbuns de família! FOI SÓ UM DIA FORA! – eu grito na direção deles, nenhum deles fala nada.

— Nós podemos procurar em volta...as vezes ficaram alojados em algum lugar, igual a nós na escola. – Harry diz.

— Não. Eu não vou ficar igual cego em tiroteio andando por aí a toa. Eu disse que não ia deixar ninguém pra trás e vou cumprir minha promessa. Vamos todos descansar e depois vamos na casa de cada um de vocês pra trazer a família de vocês pra cá. – eu digo me virando novamente para o corpo no chão.

Eles me deixaram primeiro. Me largaram em minha própria sorte sem nem ao menos cogitar em esperar mais um pouco...eles estavam seguros aqui! Dentro de casa, numa casa alta com portões de ferro. Não era necessário sair e eles saíram mesmo assim!

Ross pagou o preço...

Sinto lágrimas se formarem em meu rosto enquanto todos estão em silêncio, e por um momento, achei que ia começar a chorar, até que sinto uma mão encostar em meu ombro me fazendo me recolher e segurar minhas lágrimas.

— Onde deixamos essas coisas? – Rey me pergunta e aponta para a mochila.

— Podemos quem sabe tirar a comida e deixar em cima do balcão? – Harry pergunta para todos e me olha aguardando resposta. Eu assinto, e tiro minha mochila e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Rey a tira da minha mão.

— A gente vai estar na cozinha. – e ele se vira em direção ao corredor com meus amigos, empurrando Rob levemente para que ele os acompanhasse também.

— De-deixem as armas em cima da minha cama até arrumarmos lugar pra elas. – falo pra eles, Matt e Rob erguem o dedão para mim e os outros assentem até eles sumirem de vista, me deixando sozinha na sala com apenas os passos deles ecoando pelo corredor.

— Vamos guardar as coisas na cozinha primeiro, depois a gente arruma as armas. – escuto Mary dizer no corredor.

Fico encarando um ponto aleatório até conseguir ouvir as mochilas batendo contra o balcão da cozinha, ouço que eles estão conversando sobre algo mas devido a distancia sou incapaz de distinguir as palavras.

Encaro tudo ao meu redor tentando assimilar tudo que havia acontecido.

Eu tinha certeza que tudo ia ficar bem, que isso era passageiro e que os responsáveis pela segurança pública do país iriam nos defender e nos dizer o que fazer...mas ao chegar na Denbrough....

Fui até o blazer jogado no sofá e o peguei nas mãos, fiquei passando os dedos no blazer, e acabo o sujando o pouco sem querer com minhas mãos ensanguentadas.

Ah eh. Eu ainda pareço um cadáver...mal acreditei quando me vi no espelho....

Coloco o blazer onde o tinha encontrado e olho novamente para o corpo no chão, a vontade de chorar bate novamente e quando menos percebo, uma lágrima escorre pelo canto do meu olho.

Uma única lágrima.

Escuto barulho de passos nos corredores novamente e olho pra trás limpando meu rosto, meus amigos não estavam entrando na sala, e sim, no meu quarto. Via a suas sombras de onde eu estava.

Olho pela janela e vejo os telhados vizinhos a minha frente. Cuidadosamente abro a janela e coloco uma perna pra fora, a apoiando em algumas telhas que ficavam abaixo do parapeito.

Parece firme. Daria pra ligar essas telhas com o telhado vizinho para podermos fazer o perímetro por cima...preciso dizer essa ideia para Harry, ele entende mais de física do que eu de qualquer forma...

Volto com minha perna pra dentro da casa, vejo que os zumbis estão no portão lá em baixo, com as mãos passando pelos vãos das grades. Me viro pela milésima vez para encarar o corpo no chão novamente.

— Como isso aconteceu com você? – pergunto sabendo que não terei resposta.

— Ah, é...foi no braço, não foi? – foda-se, irei falar.

Pego no braço dele para avaliar o corte, vejo a bandagem frouxa pendurada e a retiro para ver melhor. Havia três arranhões enormes, como se ele tivesse tomado uma garrada de algum animal, assim que o vejo, solto seu braço.

— Como chegou até aqui, hein? Quando você chegou estava vazio já? Ou será que você foi tratado e quando virou essa coisa não conseguiram te derrubar e correram? – pergunto minhas mil perguntas em deboche, por ter certeza que nunca ouvirei as respostas. Me levanto e caminho pela sala em círculos.

— É...eu já não sei dizer o que nossa família é capaz. Não depois que me deixaram aqui, sabe? Que nos deixaram aqui. – eu digo de costas para o corpo.

Rio fraco ao escutar alguns ecos em minha mente.

— Heh... pois é. Achei que estariam aqui também. Achei que nunca iriam embora sem todo mundo. – respiro fundo, me virando agora para a janela, a abrindo novamente e olhando tudo lá fora.

— Eu estava errada. Mamãe estava errada, sabe? – viro minha cabeça na direção de Ross e depois volto a encarar a paisagem, luto com as lágrimas, mas não posso evitar minha voz sair um pouco embargada.

— Eu vi uma mulher morrer no meio da rua tentando fugir dos zumbis e...eu não a ajudei. – me lembrava da mulher sendo puxada pelos cabelos até sumir de vista.

— Acho que não dá simplesmente pra você ajudar todo mundo... É mais fácil deixar a maioria vivo do que se arriscar por um ou dois, não é mesmo? – eu digo para Ross e acredito em minhas palavras.

Fico em silencio escutando os grunhidos do lado de fora e o barulho de armas sendo postas e conversas baixas no quarto.

— Tá escutando? – digo e encosto meu indicador no lóbulo da orelha enquanto viro para falar com Ross. Os murmúrios no outro quarto continuam, eu rio nasalmente.

— Eles acham que vou enlouquecer! – rio fraco e me deixo sentar no chão apoiada no sofá, ao lado do corpo de Ross – Se bobear acho que eles pensam que já estou louca! – continuo os risos fracos e balanço minha cabeça.

Isso é ridículo.

— Eles não perceberam que você já pagou o preço por aqui, mano. – paro de rir e engulo seco ainda com um meio sorriso no rosto, passando meu suporte de uma mão para a outra.

Tenho que confessar que acho essas reações engraçadas! Eles realmente acham que eu vou ficar louca?! Que vou começar a chorar feito uma criança desamparada?! Tenho coisas maiores para me preocupar!

— Foram contra os próprios valores ao nos deixar pra trás...eles nem ao menos deixaram um BILHETE ou alguma coisa explicando pra onde iriam...eles simplesmente desapareceram. Minha própria família. – aperto o suporte em minhas mãos.

“Não é bem sobre pensar nos outros...acho que tá pra mais AJUDAR os outros. É por isso que você é obrigado a sair e enfrentar o mundo e seguir com a vida, porque devemos ajudar a família. Sempre em frente sabe?” ele havia me dito naquela noite...eu sorri para ele, que me desejou Boa Noite.

— Tem razão! – levanto minha cabeça e olho pro corpo.

— Eles podem até ter nos abandonado aqui, mas diferente deles, eu não vou abandonar ninguém! O preço já foi pago por você e ninguém vai pagar mais nada! – eu falo rispidamente e arremesso meu suporte na parede, que faz um forte estrondo ao acerta-la, a manchando um pouco de sangue e derrubando um relógio que ali estava, o fazendo cair como um baque no chão.

— O QUE FOI ISSO? – Mary surge e os outros surgem logo atrás, enquanto eu me levanto furiosamente.

— ME DEIXARAM PRA TRÁS PRA MORRER?! ÓTIMO! POIS SÓ DE PIRRAÇA, EU VOU FICAR VIVA! – passo furiosamente por eles e entro no corredor indo em direção a cozinha.

— Carley! Espera! – Ouço Harry atrás de mim, e vejo que eles estão apertando o passo para me acompanhar, passo pela cozinha e vou até a área externa. Abro a primeira gaveta e pego o mapa que tem ali.

FODA-SE!

A raiva me consumia por completo agora.

Me deixaram pra trás. Deixaram Ross pra trás e ele acabou morrendo por isso.

“Família sempre ajuda um ao outro!”...

DEU PRA VER QUE SEGUIRAM BEM O CONSELHO, HEIN?!

— Que porra é essa?! – Rob franze o cenho.

— Estou ajudando minha família. – falo com toda a confiança que me cabe enquanto vou desdobrando o mapa.

— O QUÊ?! – Rey exclama confuso.

— Pegue um canetão no porta-lápis da cozinha, Mary. – digo sem olhar para o rosto confuso de Mary, ela não vai de imediato, mas acaba entrando e pegando o que pedi.

— Você achou alguma pista de onde sua família pode estar? – Rob pergunta.

Não respondo a pergunta e pego o canetão que Mary acabara de me trazer. Agora o mapa já estendido na mesa, mostrando toda a cidade. Começo a circular com o canetão preto.

— Espera, que pontos são esses? – Harry olha pro mapa curioso.

— “Rua Mayfield”?! É a minha rua! – Rey diz.

— Você tá circulando as NOSSAS ruas Carley! É onde moramos! – Harry diz depois de fazer uma expressão que parecia uma epifania.

— Eu sei. – continuo a circular.

— Mas você disse que- - Matt começa, mas eu o interrompo.

— Uma família nunca deixa de ajudar um ao outro. Estou ajudando quem realmente importa. – Matt abre a boca pra falar, Rey também o faz, mas eu não deixo eles falarem nada.

— Acho que podemos nos dividir em grupos de 3. Sabemos como funciona o disfarce de sangue então não vai ser problema chegarmos até essas ruas evitando a Denbrough. As casas mais próximas daqui são a de Matt e a de Rob, descansamos um pouco, comemos, nos hidratamos e vamos. Tem colchões que vocês podem usar pra descansar na salinha lá em baixo, descendo a escadaria, tragam eles pra cima. Podem pegar o meu colchão também depois que tirarmos as armas de cima dele, dormirei na sala. Peguem toalhas pra deitarem em cima pra vocês não cagarem o colchão. Perguntas?

“Sempre em frente”...

Silencio. Eles olhavam para meu rosto, depois se olharam. Eu estava cansada daquilo.

— Perguntas?! – digo novamente. Alguns dizem “não” e outros somente balançam a cabeça.

— Acho que alguém deve ficar aqui. Vai que alguém aparece e entra aqui dentro nos fazendo perder o lugar? – Rey sugere olhando pra mim.

— O portão tá trancado. – eu respondo.

— Por favor! É um portão de grade! Qualquer um escala. – ele rebate.

Mordo o lábio.

Não posso perder o lugar.

— Certo. Então vamos sortear quem... – começo a dizer, mas Rey me interrompe.

— Você fica. – ele diz. E sinto meus olhos se esbugalharem.

— O QUE?! – não é possível que ele tenha sugerido isso.

— Isso mesmo. Você fica. Eu, Rob e Mary vamos até a casa de Rob, Matt e Mary vão até a casa de Matt, voltaremos o mais rápido possível. – ele diz e eu fico chocada, principalmente porque os outros concordam com a cabeça, como se já soubesse disso.

Filhos da puta!

— Eu não vou ficar de braços cruzados aqui enquanto vocês se arriscam lá fora! – eu digo e gesticulo pra janela.

— Quem falou que você vai ficar de braços cruzados?! Você disse que poderíamos trabalhar no perímetro, pois bem, você pode ir bolando isso melhor. Todo aquele esquema dos telhados que você disse no colégio, coloque ele em prática e veja se funciona! – Rey cruza os braços, decidido.

— Você tá brincando com a minha cara?! – Eu sentia o sangue ferver em minha cabeça.

Não era possível que queriam me deixar pra trás de novo...

— Vai ser isso que vai acontecer. Certo? – Rey vira para os outros que afirmam com a cabeça.

— Exato. – Matt responde. Eles todos olham pra mim, eu saio de trás da mesa para olha-los melhor.

— Vocês tão achando que isso é algum tipo de jogo?! Entendo a preocupação com a casa, mas não acho que eu deveria ser aquela que é deixada para trás! – digo a eles. O rosto de Rey murcha e vejo que Rob teve a mesma reação, já os outros só deram um suspiro.

Me expus demais. Porra!

— Ninguém tá deixando você pra trás! Você vai defender aqui. Íamos sortear alguém mesmo! – Rob diz estendendo os braços.

— Exatamente! Sortear! SOR-TE-AR! – eu digo dando ênfase no sorteio.

— Vai ser desse jeito. Ou você quer perder tempo discutindo em vez de salvarmos nossas famílias?! – Rey diz e me olha nos olhos. Eu encaro de volta e vejo que ele não vai mudar de ideia, e além disso, ele tem os outros o apoiando.

Vai ser inútil.

Eu entro na cozinha sem falar nada, e vou até o porta-chaves. Tiro uma chave que tem a letra “E” pendurada, a chave que destranca o cadeado, e a coloco na mão de Rey.

— Divirtam-se. – digo e entro dentro da casa batendo o pé. Nenhum deles me segue.

Volto para a sala me jogo no chão, de frente para o corpo de Ross.

Preciso tira-lo daqui...enterra-lo.

Pego meu celular no bolso, tento liga-lo, mas assim que eu aperto o botão de desbloqueio, ele se desliga na minha mão.

— Merda. – coloco ele ao meu lado no chão, e fecho os olhos momentaneamente.

“Espere! Ross?” digo e ele para na porta antes de entrar para dentro de casa para finalmente dormir.

“Obrigada” eu digo.

“Por nada. Torce pra eu ser promovido hein!” ele fala.

Abro os olhos, e vou até Ross, mexo em seus bolsos e não encontro seu celular, somente sua carteira.

“Vou torcer só pra gente poder ir pra Disney” digo e Ross dá risada. Ele aponta pra mim em um gesto de brincadeira e eu aponto de volta pra ele.

“Boa noite, Hobbit.” Ele diz rindo já com a mão na maçaneta da porta da área externa, pronto para entrar pra dentro.

“Boa noite, Avatar.” Rio de volta, ele fecha a porta e eu fico sozinha na área.

Coço a cabeça pensativa e me lembro de seu paletó, escuto uma porta se abrir e fico alarmada, até que lembro que o “Quinteto Idiota” deve estar lá em baixo pegando os colchões e relaxo frustada.

Vou até o paletó jogado no sofá e checo nos bolsos. Bingo.

Tiro o celular e aperto o botão de desbloqueio rezando para ter bateria.

27% de Bateria

Digito o código PIN mais previsível do mundo, o aniversário dele. Desbloqueio o telefone que se encontra completamente sem sinal. Abro o aplicativo de mensagens e lá estava o que eu procurava: A mensagem que não foi enviada por falta de sinal.

Aperto o telefone com força, cheia de ódio, com lágrimas formadas nos olhos e com os lábios trêmulos.

Para: Os Evans

Fui promovido! Disney aí vamos nós! HAHA!


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Notas finais do capítulo

Galera fiquei muito empolgada de finalmente chegar nesse ponto da história da Carley! Vai ser fundamental!

E aí? Como descrever esse colapso mental? hahahaha



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