The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 26
Minha Vez De Salva-la


Notas iniciais do capítulo

Postando cedo hoje! Aproveitem o capítulo!



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PONTO DE VISTA – REY

 

Meu Deus...

Tínhamos chegado lá...aqui estávamos!

Não...

Estávamos lá, todos na frente de um portão duplo de ferro semi-aberto, com o cadeado jogado no chão da parte de dentro, sem nenhum carro dentro da casa e com alguns zumbis perambulando pelo quintal...havia sangue nas paredes, e tudo estava em silêncio lá dentro.

Um, dois, três zumbis a vista dentro da casa...

Se ao menos eu conseguisse ver o rosto dos zumbis...

Eles estavam lá de costas para nós, nem sequer notaram nossa presença. Eu estava temendo pelo pior naquele momento, eu conhecia muito bem a família de Carley graças aos anos de amizade e de minha proximidade com ela...

Aqueles zumbis...dois homens e uma mulher aparentemente.

Vejamos: Carley tem dois irmãos, a mãe, o pai, a tia e a avó morando aqui com ela. Sem contar os cachorros, é claro. Dois deles.

Nem ao menos os cães estão a vista!

O que aconteceu aqui?!

Me virei para olhar Carley, e a minha vontade foi de abraça-la e falar que tudo ia ficar bem, que aqueles ali não são a família dela, mas nem mesmo eu tinha essa certeza já que não vi o rosto dos zumbis. Mas tenho certeza que Carley está pensando no pior neste momento...

E é por isso que agora ela está imóvel.

Ela paralisou.

Vejo que não sou o único a olhar Carley com atenção, todos os nossos amigos fazem o mesmo. Rob está boquiaberto, igual minha amiga. Matt parece transitar entre Carley e a casa a nossa frente, talvez tentando entender o que aconteceu. Harry e Mary estão ofegantes e estão olhando para os zumbis a nossa frente confusos.

Tenho certeza que todos estamos pensando na mesma coisa: E agora?

Fito o grande quintal a minha frente, a procura de algum detalhe que provavelmente deixei passar.

O local onde Carley morava era enorme: Havia esse grande quintal, em formato de “L”. A alguns metros atrás de nós, ficava um portão menor, que passava uma pessoa por vez, era ali que o “L” começava. Em uma parte do quintal, no lado esquerdo, você podia ver duas portas, uma que era usada para guardar algumas ferramentas e outra alguns metros a frente, bem visível para nós aqui do portão. Essa porta visível dava para uma pequena casa, que era onde a tia e a avó de Carley moravam. No meio do quintal podíamos ver três colunas, que sustentavam a casa que ficava acima da casa inferior. Já no final do quintal, havia um corredor, e depois dele outra área, bem menor que esta que estamos vendo agora. Neste pequeno quintal era onde as roupas eram estendidas depois de lavadas. Havia também, neste mesmo pequeno quintal, uma entrada a direita, que era onde ficava a máquina de lavar e mais alguns varais, um local grande.

E era ali que havia também uma escada, que levava para a casa do piso superior, que era onde de fato Carley e o resto de sua família moravam.

Não consigo ver além do quintal grande, a partir do corredor, não é possível ver se há ou não alguma coisa no Pequeno Quintal/Lavanderia.

E é por isso que tínhamos que entrar, não temos certeza de nada ainda.

Me viro novamente pra olhar Carley e ela permanece paralisada, não posso chama-la ou fazer movimentos muito bruscos, porque afinal de contas ainda estamos na rua e ainda há zumbis aqui fora por mais que hajam poucos agora.

Decido dar alguns toquinhos de leve em seu cotovelo. Dou dois toques e ela não se mexe. Os outros me olham esperançosos, Harry que estava próximo a mim também dá um toque nela, ela acaba piscando repedidas vezes enquanto balança lentamente a cabeça depois de seu toque, mas mesmo assim não se mexe ou dá a entender que fará isso.

Eu a toco mais uma vez e ela me surpreende me olhando bruscamente como se tivesse acabado de tomar um choque, seus olhos se encontram com os meus e vejo que estão levemente marejados, me emociono com isso, mas luto para não chorar junto com ela ali mesmo. Gesticulo com a cabeça em direção ao portão, tentando dizer para ela seguir em frente e abrir o portão para seguirmos com o plano. Ela piscava rapidamente, como se quisesse assimilar tudo que estava acontecendo e estava ofegante.

Carley abaixa a cabeça lentamente e fecha os olhos, vejo suas mãos tremendo. Eu olho para meus amigos procurando suporte, mas eles também não entendem como devemos lidar com ela naquele momento.

É sempre ela que lida com nossos colapsos, como vamos lidar com o dela?!

Ela não pode perder a cabeça agora! Precisamos dela!

O fato de não podermos fazer barulhos ou conversar com ela naquele momento piora a situação, ela fica ali de olhos fechados, cabeça baixa e com talvez uma dificuldade na respiração, sinto a mesma falhar algumas vezes o que me deixa atento com a possibilidade dela desmaiar ou algo do tipo.

Então é aí que ela nos surpreende. Ela olha pra mim subitamente, e depois olha para nossos amigos, olhando todos nós nos olhos e depois engole seco, ela se vira para o portão a nossa frente e engole seco.

Até que ela ergue a mão esquerda, esticando os cinco dedos enquanto encara os zumbis do outro lado do portão e aperta o suporte que ela segura com a mão direita. Ela recolhe o dedão, fazendo o numero quatro agora. Ela recolhe o dedo mendinho, restando apenas três dedos. Eu finalmente entendo.

É uma contagem regressiva. Vamos entrar!

Dois dedos...

Um dedo...

Ela fecha o punho.

Carley empurra uma das partes do portão e o abre definitivamente, o portão range e isso faz os zumbis de lá de dentro virarem para nos olhar. Todos corremos para dentro em questão de segundos e Carley fecha o portão, até que ela finalmente diz alguma coisa:

— PEGA O CADEADO! – ela grita e os zumbis na rua começam a caminhar em direção ao portão – RÁPIDO!

Quando me viro para procurar o cadeado, Mary já havia sido mais rápida e já estava com ele em mãos, ela deu duas passadas largas e entregou o mesmo para Carley que o segurou tão rápido que quase o derrubou. O cadeado era enorme, era retangular e amarelado, tinha um fecho enorme. Carley abriu o fecho, e colocou o cadeado de forma que ele “agarrasse” as duas hastes que compunham o portão duplo, depois, juntou o fecho novamente e apertou a parte de baixo do cadeado. Um “click” foi ouvido.

Escuto grunhidos próximos e me viro me lembrando dos zumbis, um deles está vindo em minha direção, não deixo de notar que aquele zumbi não me lembra ninguém da família de Carley, e quando me dou por mim, estou jogando meu braço com toda força em sua direção, esmagando o cano em minhas mãos em sua cabeça. Me desiquilibro após isso, porque o cano ficou preso na cabeça do morto.

Mas para a minha despreocupação, vejo que os outros dois zumbis estão ocupados sendo abatidos pelos meus amigos. Matt foi em um, e Carley caminhava até a mulher que estava mais distante, próxima a uma das três colunas. Escuto barulhos no portão próximo a mim e me levanto no susto, puxando o cano preso com força e o trazendo comigo.

Havia alguns zumbis batendo do lado de fora do portão, tentando esticar as mãos pelos espaços das hastes tentando nos alcançar, felizmente estávamos intocáveis aqui dentro.

Escuto um grito vindo de Carley, e quando me viro ela está acertando seu suporte pontiagudo na cabeça da mulher a frente dela. Todos nós corremos em sua direção enquanto ela puxa fortemente o suporte para fora da cabeça da zumbi quando a mesma se encontra no chão.

— Caralho! Tá tudo bem?! – Rob pergunta apoiando a mão no ombro de Carley – Tá todo mundo bem?! – ele vira a cabeça para nos olhar.

— Sim... – Matt assente apoia as mãos nos joelhos abaixando a cabeça ofegante.

— Nem acredito que conseguimos! – Harry diz depois de um suspiro.

— Parece que ficamos horas na estrada. Quanto tempo demoramos?! – Mary pergunta

— Sei lá, pareceu dias pra mim. – respondo ela olhando em volta e depois volto meu olhar para a zumbi morta no chão.

Graças a deus!

— Carlie, não é ninguém que conhecemos. – Sorrio de canto e olho pra ela esperando uma reação positiva, que está encarando a porta que leva pra casa inferior, onde sua tia e avó vivem.

— Carlie? – Matt tenta chama-la gentilmente, mas ela não responde. Carley começa a caminhar rapidamente em direção a porta, segurando o suporte com ambas as mãos. Ela parece determinada.

— ESPERA CARLEY! – começo a correr atrás dela e logo sinto meus amigos atrás de mim. Carley está na frente da porta da casa, ela gira a maçaneta mas a porta não se abre.

— O que você tá fazendo?! – Rob pergunta afobado

— Trancada... – Carley diz baixo e sinto que ela falava consigo mesma. Segundos depois ela começa a dar tapas na porta.

— HEY! HEY! TIA MILLY! VÓ! – ela bate desenfreadamente, escuto passos em cima de nossas cabeças e meu coração gela.

Passos vindos da casa de cima!

Isso é um bom ou mal sinal.

Carley parece escutar também, ela para e corre até o meio do quintal, eu e Mary a acompanhamos e corremos atrás dela. Harry, Matt e Rob ficam na frente da porta, sem entender nada.

— Para de gritar mulher! Vai atrair mais atenção do que precisamos agora! – Mary fala assim que alcança Carley, mas ela não dá atenção para Mary. Ela ergue sua cabeça para cima, em direção as altas janelas fechadas de madeira que ficam na casa superior, ela começa a caminhar rapidamente pelo quintal, olhando para cada uma das quatro janelas ali postas.

— HEY! – ela grita em direção a uma das janelas, a única diferente das outras pelo fato desta janela ser daquelas que deslizam lateralmente para se abrir, ela era toda de madeira e possuía vidro no centro.

— Carley! – tento chamar sua atenção, mas sou ignorado também. Ela bufa e volta sua atenção até onde Harry, Matt e Rob estão e vai até a porta da casa de baixo novamente, Matt estava na frente de uma das duas janelas da casa de baixo, uma próxima a porta, ela o empurra Matt para o lado.

— Saia! – ela diz agressivamente, mas ninguém diz nada. Carley coloca o suporte em suas mãos apoiado na parede e tenta abrir a janela de vidro fosco.

— HEY! TIA! – ela grita pra janela enquanto força o vidro para os lados na esperança de abrir a janela, mas ela falha miseravelmente pois o vidro nem sequer se moveu. Era possível ouvir o cadeado que trancava a janela batendo contra o vidro.

— Para Carley! Não vai abrir! – Matt diz pra ela, mas ela insiste mais um pouco na janela, fazendo sons que indicavam que ela estava aplicando muita força ali.

— Eu escutei passos lá em cima. Podem estar lá em cima! – Harry diz

— Eu também escutei, é melhor subir e...o que vai fazer?! – começo a tentar ajudar a convencer Carley junto com Harry mas interrompo minha própria fala ao ver que ela segura o suporte com ambas as mãos e toma um certo espaço entre ela e a janela.

— CUIDADO! – Rob grita e estica os braços para os lados tentando tirar os que estavam próximos dele de perto de Carley. Ela acerta com força o suporte no vidro, que racha mas não se quebra.

— Porra! – Harry dá um passo pra trás com os olhos arregalados.

— CARLEY! – Mary tenta chama-la, mas Carley já está jogando seu braço para trás e acertando o vidro novamente que por sua vez se quebra em vários pedaços, deixando apenas algumas pontas presas na janela. Escuto um gemido vindo de Carley e vejo que agora ela tem um corte abaixo do olho que vai até a maça do rosto, uma linha de sangue aparece no rosto dela.

— Carley, seu rosto... – começo a dizer, mas ela me ignora e coloca o braço pra dentro da casa e vai até o vão da lateral da janela, na parte de dentro. Vejo que o braço dela está pressionado contra um pedaço de vidro preso a janela e aquilo me deixa com agonia.

— Cuidado com o braço! – eu aviso ela, mas ela força o braço um pouco mais, o que me faz fazer uma careta de agonia, mas antes que o braço de Carley possa de fato furar, ela o sobe um pouco e eu vejo que ela está com uma pequena chave em mãos, destrancando o cadeado da janela.

*click*

Carley tira o braço de dentro da casa e finalmente escancara a janela, ela coloca a cabeça pra dentro e olha ao redor. A janela dava pra uma cozinha, eu e meus amigos nos aproximamos pisando em cacos de vidros ao redor. Foi aí que Carley, segurando um suporte, deu um impulso no chão e entrou pela janela aos tropeços.

— Volta aqui! – Matt disse entredentes pra Carley enquanto colocava a cabeça pra dentro da janela – Pode ser perigoso! Volta!

Eu coloquei minha cabeça pra dentro da janela também, a casa era pequena, pelo que eu me lembrava, possuía 2 quartos, uma cozinha e sala pequena e um banheiro. Carley deu alguns passos para a esquerda e já estava na sala, ela olhou em volta afobada e ofegante, depois parou e fitou a estante por alguns segundos, reclinou a cabeça um pouco para o lado como se tivesse achado algo confuso. Depois ela voltou a olhar por alguns segundos nossas cabeças flutuantes na janela e passou reto por nós, atravessando a cozinha em direção aos dois quartos que ficavam logo a frente de um minúsculo hall de entrada. Entrou no quarto a esquerda abrindo subitamente a porta, a perdemos de vista por alguns segundos e depois a vimos prosseguir para o próximo quarto, ela saiu dele depois de alguns segundos e foi para o banheiro.

Carley olhou em volta o banheiro até que ficou se encarando um tempo no espelho que também era um armário, ela se olhava com uma expressão que pela primeira vez em muito tempo eu não conseguia identificar...era uma mistura de surpresa, curiosidade e...

Medo?

Ela desvia a atenção do espelho, vai até um porta-chaves pendurado entre as portas dos quartos e tira do gancho uma chave que possuí a “Torre de Pisa” como chaveiro, ela volta até a janela colocando a chave no bolso de trás da calça.

— Vamos subir. Pra minha casa – ela diz e começa a gesticular com as mãos para abrirmos espaço pra ela pular de volta pro nosso lado. Tiramos nossas cabeças da frente.

— Deixa eu segurar isso. – Rob fala e aponta para o suporte na mão de Carley. Ela o entrega a ele e pula a janela. Quando coloca os pés no chão, Rob o devolve.

— Ninguém lá dentro? – Rob pergunta ao devolver. Carley começa a andar em direção ao corredor que irá nos levar até um quintal menor.

— Ninguém. – ela diz enquanto caminha, eu troco olhares com Rob e a seguimos.

Abrimos uma portinhola de ferro no final do corredor e chegamos no pequeno quintal em questão de segundos, não há roupas nos varais, e a nossa direita, há um degrau  e uma mureta, consigo ver a máquina de lavar ali dentro e duas casas de cachorro vazias mais afastadas no canto. Sem sinal de vida ali.

Carley começa a andar em direção a escada que finalmente nos levará até a casa superior, onde minha amiga mora. Subimos as escadas num ritmo lento, porque Carley nos guiava desse jeito agora. Ao chegarmos ao topo, havia um portãozinho cobreado que ia até a cintura separando a escada da área externa da casa superior. Um zumbi é visto próximo a uma grande mesa. Carley puxa o trinco lentamente e abre o portão, todos nós passamos para a área externa.

Quantas festas já tivemos nesta mesma área...olhe pra ela agora

Estava tudo revirado. As gavetas no final da área externa estavam todas abertas e os armários também. Havia uma churrasqueira de tijolos no final da área externa, próxima a uma pequena janela que você precisa empurrar para frente para abri-la.

A longa mesa próxima a nós tinha manchas de sangue, o zumbi começa a caminhar em nossa direção. Carley o olha com cuidado, mas depois gira seu suporte contra ele o acertando na barriga e o derruba, Rob finaliza o serviço descendo o seu cano vindo de uma cadeira escolar na cabeça do morto-vivo.

— Não....é ninguém... – Carley diz e mais uma vez sinto que ela está falando sozinha. Ela começa a caminhar em direção a porta e tira o chaveiro do bolso enquanto murmura coisas que não consegui escutar. Mary me olha aflita e eu sei o que ela está pensando.

Ela está em transe. Está desesperada com tudo isso que está vendo na própria casa.

Não a culpo. Depois será a vez de todos nós irmos na casa de nossas famílias...

Nos aproximamos de Carley e ela treme enquanto tenta colocar a chave na maçaneta, eu coloco minha mão na sua na tentativa de pegar a chave:

— Deixa que eu abro. – eu digo.

— Não. Eu...vou abrir. – ela diz com a voz trêmula e levemente embargada. Ver ela assim está me deixando mais desesperado do que eu já estava.

Ela foi a única que manteve a mente no lugar...ela vai desabar a qualquer momento, não é possível! Preciso estar atento. Preciso estar próximo dela caso ela paralise com alguma coisa que ela possa ver dentro dessa casa...

Esta casa está um inferno. Pensar no que ela pode encontrar aí dentro... ou pior, QUEM ela pode encontrar aí dentro...

Me viro para meus amigos enquanto Carley tenta abrir a porta, e levo dois dedos nos meus olhos e depois aponto discretamente para ela, gesticulando para meus amigos ficarem de olho nela. Eles assentem rapidamente.

Não há duvidas entre nós.

Todos dividem o mesmo pensamento que eu...não podemos deixar ela desabar aqui.

A porta finalmente se abre, vemos uma grande cozinha em nossa frente, mas parece que um furacão passou por aqui.

Havia gavetas e armários abertos por toda parte, andamos devagar enquanto observamos os detalhes da cozinha bagunçada. Vejo um armário, abaixo do micro-ondas e percebo que ali é onde guardavam remédios, havia alguns frascos no chão e algumas bandagens sujas de sangue em cima do balcão. Carley as encara e dá um passo pra trás, ela olha para uma porta a sua esquerda, que leva para um corredor e a um banheiro, depois ela volta a olhar o armário de remédios. Ela se abaixa e revira algumas coisas ali.

— O que houve? – pergunto a ela. Que olha e mexe as mãos afoitamente dentro do armário, ela se vira para o lado e encontra Harry do lado oposto da cozinha, próximo a um gavetão verde.

— Harry, veja se tem comida dentro dessa gaveta grande. – ela diz e Harry abre a gaveta.

— Hãn... tá meio vazia, mas tem ainda algumas coisas aqui. – ele responde. Carley se levanta e vai até a gaveta.

— Sumiu muita coisa daqui. – ela diz e já se direciona a um armário superior a direita dela, ela o abre.

— Daqui também sumiu muito... – ela fala e começa a fitar o chão.

— O que está havendo? – repito a pergunta que ficou sem resposta a ela. Ela fica em silencio andando de lá pra cá e não me dá uma resposta. Aquilo me deixa sem paciência.

— Carley! – eu a chamo um pouco mais alto e ela me olha – O quê. Está. Havendo?! – pergunto pausadamente.

— Te digo em alguns minutos, e começa a andar em direção ao corredor. Eu bufo, mas a sigo mesmo assim, exatamente como os outros.

Vejo um banheiro a minha direita, mas Carley vira a esquerda e nos vemos em um grande corredor com uma porta no final dele e uma entrada a esquerda, que dava pra sala. Bem no início, a nossa esquerda, há uma porta fechada. Carley a abre e vemos que ali é um quarto com duas camas de solteiro em cada canto da parede, uma bandeira de um time de futebol está pendurada em cima de uma das camas e há estantes com livros em cima das camas também.

— Ross? Adam? – Carley chama ao entrar no quarto, ela olha em volta e puxa as gavetas de uma escrivaninha ali perto. Ela revira as três gavetas e depois as fecha se levantando subitamente e volta a caminhar para nós.

— Carteira... – ela murmura tão baixo que eu acho que só eu consegui escuta-la por ser o mais próximo dela.

Voltamos ao corredor, e após alguns passos há outra porta a nossa esquerda, conseguimos ouvir um grunhido, mas tenho certeza que não vem do quarto, e sim da entrada próxima a nós, que daria na sala. Eu estico minha cabeça para ver a sala e vejo um zumbi ali parado de roupa social, um homem. Logo os outros também olham para a sala e esquecem do quarto que estávamos prestes a entrar.

Adentramos na sala e a zumbi nos olha, vejo o rosto de Carley se desmanchar de curiosidade para um rosto de completa derrota e descrença. Lágrimas começam a se formar nos olhos dela, mas as mesmas não caem pelo seu rosto. O zumbi dá um passo desajeitado para frente, e Carley dá dois passos para trás, vejo que suas pernas estão bambas e que ela segura o choro, pois sua respiração está entrepassada.

O zumbi tem um grande arranhão no braço e tem metade de uma bandagem amarrada ali desajeitadamente. Era um homem alto, com barba preta porém manchada de sangue vindo da boca, e pouco cabelo. Usava uma camiseta social branca que se encontrava ensanguentada, usava calça e sapatos sociais e havia um blazer jogado no sofá.

Ao olha-lo no rosto, tive certeza de quem era.

Ross Evans, irmão mais velho de Carley.

Todos nós o conhecíamos. Já o havíamos visto várias vezes, a cada passo que Ross dava em nossa direção, Carley recuava.

— Ro-Ross? – ela disse fraco. Ele estava se aproximando de nós, grunhindo com os olhos brilhando. Os joelhos de Carley estavam bambos enquanto ela balançava negativamente a cabeça e dava passos para trás.

Foi aí que resolvi fazer algo.

— Não olhe. – segurei o cano fortemente em minha mão e dei um passo a frente respirando profundamente.

— Carley, não é mais ele...se lembra do que me disse? Não é mais! – Matt havia ficado na frente de Carley para tapar sua visão, ela tentava desviar a cabeça para os lados para me olhar caminhando na direção do zumbi que era no mínimo uns 10 centímetros maior que eu.

— Olha pra mim! Pra mim e não pra ele! – Matt tentava segurar o rosto de Carley, mas ela continuava a se desvencilhar dele para encarar o que eu estava prestes a fazer.

E o que eu fiz.

O que era anteriormente a perna metálica de uma mesa estudantil estava agora na cabeça do que costumava ser Ross Evans, dessa vez eu não caí junto dele, eu puxei de volta o cano e tudo que ouvimos foi o baque do corpo se chocando com no chão.

Me virei para Carley e ela estava boquiaberta, todos olhavam pra mim. Eu caminhei sem pensar duas vezes até ela, que ainda não tinha derrubado as lágrimas presas em seus olhos.

— Eu escolhi nós. – eu disse olhando em seus olhos sentindo meus próprios olhos se encherem d’agua. Ela me olhou de volta e fechou os olhos com força. Rob a abraçou por trás, e quando percebemos estávamos todos em um abraço conjunto. Deixei minhas lágrimas rolarem.

Eu tive que fazer isso. Tive que ajuda-la.

Não iria deixa-la ter que fazer isso...

Sei que ela não falharia caso ele chegasse mais perto apesar de parecer provável que ela falhasse...

Mas ela não merecia ter que fazer isso.

Não depois de tudo que ela fez...foi minha vez de salva-la.

Quando nos desvencilhamos dela, ela estava completamente petrificada.

Paralisada.

Ela vai enlouquecer. Se ela guardar essa tristeza pra ela e não deixar essas lágrimas saírem ela vai ficar louca.

Depois de alguns minutos encarando o chão e ao redor, ela deu uns passos pra frente e foi até o irmão. Ela se agachou até ele e colocou sua mão em seu tórax, ela apoiou o suporte no chão, e com a mão livre, fechou os olhos dele.

Depois, ela fechou os próprios olhos e falou algo que me deixou mais confuso do que cego em tiroteio:

— Ross e eu fomos deixados para trás.


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