The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 24
O Centro da Cidade


Notas iniciais do capítulo

Antes tarde do que nunca! Hoje teremos mais daqueles "Pontos de Vista Misteriosos" de personagens que estão separados no núcleo principal...em breve tudo vai fazer sentido, prometo! Eu sempre acho legal quando finalmente posso ter a oportunidade de mostrar outros angulos da história.



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PONTO DE VISTA – ????

 

— Então, se algum deles vier pra cima de você, pelo amor de deus não hesite. Não importa o que pense, eles não são mais seres humanos tá? É só apontar e apertar o gatilho. – ele me olhava nos olhos, mas eu o conhecia bem demais para saber quando ele estava com medo e quando não estava.

E ele estava com medo agora.

Igual a mim.

— Não sei se consigo fazer isso, Robin... – eu o respondia com a voz embargada. Eu chorei o dia e a noite toda ontem. Robin me manteve em seus braços o tempo todo, me senti segura com ele ali, mas sabia que se aquelas coisas nos escutassem ou nos visse ali, meu marido não seria capaz de segura-los. E eu também não seria capaz de ajuda-lo.

— Consegue sim. Vai conseguir. Tome, pegue. – Ele passou cuidadosamente o revólver calibre .38 para as minhas mãos, eu tremi ao segurar a arma preta. Ele se virou para trás e pegou a escopeta preta com dificuldade e a engatilhou, tive um espasmo ao ouvir o barulho da telha indo para trás e para frente.

*click click*

Aconteceu tudo tão rápido...ontem de manhã eu estava em casa, comendo minhas torradas enquanto Robin fazia o café, eu havia relembrado ele que não trabalharia naquele dia porque tinha tirado folga nos próximos dias para fazermos a viagem ao interior como queríamos, ele ficou feliz ao se lembrar de nossos planos e me deu meu sorriso favorito, dizendo que estava ansioso. Ele me convidou para se encontrar com ele no trabalho, alegando que queria almoçar comigo e eu aceitei.

Estávamos combinados.

Quando estava perto das 9h, eu saí de carro a caminho do centro da cidade, mas não fui encontra-lo diretamente. Precisava de uma mala nova pra viagem e podia aproveitar a ida ao centro para compra-la, de qualquer forma eu sabia que a fornecedora “Green Hoodie” ficava nos arredores, então eu podia encontra-lo em cerca de minutos depois.

Me lembro do dia, a três meses atrás, que Robin me disse que havia sido promovido na fornecedora, ele chegou todo orgulhoso dizendo que agora era Gerente de produção e que agora teríamos condições melhores para fazer a nossa tão esperada viagem pelas cidades do interior, conhecendo os campos, fazendas e bosques...

Falamos de filhos novamente naquela noite. E diferente das outras vezes que tocamos no assunto, ele não veio com o papo de “querida, se juntarmos a sua renda e a minha não teríamos o suficiente para dar uma boa vida a criança”.

Em vez disso, ele sorriu, me deu um beijo na testa e disse que poderíamos tentar. Eu queria muito ter filhos e sei que Robin também queria, mas era inseguro em relação ao nosso dinheiro. Eu estava feliz que finalmente havíamos chegado a um consenso.

Mas agora, nunca agradeci tanto por não estar grávida, acho que nessa altura, já teria tido algum problema com a gravidez devido ao dia de ontem...

Eu estava no caixa quando tudo aconteceu. A cidade começou a entrar em um caos enorme, foi coisa de cinema! Eu havia sido parada umas três vezes na estrada a caminho para a cidade desde que havia saído de casa por militares. Eu sabia que era por conta dessa doença nova que explodiu, até falei sobre isso com minha mãe, ela me disse para usar máscaras e todo o tipo de coisa que o governo estava dizendo pelos noticiários. Robin riu e disse que isso era exagero, falou que sempre havia doenças se espalhando por aí e que isso tudo iria passar. Eu concordei com ele, afinal minha mãe sempre exagerava.

Quando chegamos em casa naquele dia, ele me falou que apesar de tudo, estava preocupado, pois uma colega de trabalho dele havia surtado no dia anterior e havia feito uns arranhões bem feios em outro colega. Mas o mais estranho foi que ela tinha passado mal no banheiro, perdeu a pulsação e tudo...quando a ambulância chegou, ela foi dada como morta.

Mas depois, foi preciso três pessoas para imobiliza-la. E quando a policia chegou também, eles a algemaram e colocaram uma mordaça em sua boca. Ele disse que ela parecia um animal e foi a cena mais chocante que ele havia visto.

Mas quando eles me pararam na estrada, não sabia que estava naquele nível...

Não sabia que tudo estava se acabando...

Me perguntava porque os militares não avisaram a população que as coisas estavam saindo do controle. Porque eles não disseram nada? Esconderam tudo de nós como se não fosse importante! Nenhum deles fez um comunicado, e nem ao menos um dos milhares de soldados, cabos, sargentos, tenentes se deram o trabalho de chegar até a mim e dizer “Ei senhora, melhor não ir pro centro, vamos fazer uma operação lá.”

Porque foi exatamente isso que aconteceu.

Enquanto eu procurava meu cartão de crédito em frente ao caixa, comecei a escutar tiros e mais tiros que não cessavam. Me virei assustada junto com todos os outros clientes da loja e os operadores de caixa para a entrada da loja, e o que vi foi DEZENAS de jipes e carros militares passando as pressas pelo asfalto. O homem que me atendia saiu do balcão e começou a se direcionar para fora da loja, para ver o que acontecia. Eu hesitei, mas o segui, junto a várias outras pessoas.

Quando coloquei meus pés na calçada, vi que todas as ruas e avenidas estavam completamente paradas para dar passagem aos veículos militares, os tiros não cessavam mas eu via que não vinha de nenhum dos soldados que estavam no carro, estava acontecendo em algum outro lugar.

E aqueles soldados estavam indo dar reforço.

Fui até a esquina da rua abaixada, com medo de alguma bala perdida, o que era ridículo já que já havia identificado que as balas estavam distantes, mas eu estava com tanto medo que fiz tudo por impulso.

Foi aí que eu havia percebido que tudo estava se acabando.

Escutei atrás de mim vários sons de surpresa. Pessoas começavam a esbugalhar os olhos e apontar para as minhas costas, mais precisamente para a rua que estava próxima a mim. Escutei barulhos altíssimos de engrenagens e sons de passos acelerados. Quando me virei para ver o motivo de tanta curiosidade, vi vários soldados caminhando com escopetas e fuzis eles andavam ao lado de um veiculo que eu achava que nunca veria na minha vida.

Nunca achei que veria um tanque de guerra na minha vida.

O tanque andava prepotente pela rua, fazendo um barulho estrondoso que se misturava as centenas de soldados que corriam ritmicamente ao lado do mesmo. Eles usavam máscaras de gás e roupas camufladas enquanto seguravam suas armas.

Achei que eu estava participando de algum filme ou algo do gênero quando vi essa cena...

Todos olharam aquilo com as bocas abertas. Os carros, jipes e soldados começaram a se dispersar, e alguns até chegaram a passar próximo a mim na calçada. Eles começaram a sinalizar para entrarmos dentro dos estabelecimentos e ficarem lá até aviso prévio. Percebi que alguns caminhões miliares haviam chegado e parado a alguns metros a frente de um cruzamento, e o tanque também estava diminuindo a velocidade, parando por fim no MEIO do cruzamento.

Imagine você está dirigindo seu carro, e agora simplesmente está parado no transito porque tem um TANQUE DE GUERRA no meio da rua!

Alguns militares se dirigiram até os carros normais parados no transito, não ouvi o que disseram, mas percebi que todos começaram a fechar as janelas de seus próprios veículos. Eu estava lá parada, vendo tudo, enquanto as pessoas começavam a se dispersar entrando nos estabelecimentos próximos. Eu estava muito impressionada com tudo aquilo.

Vi que os caminhões que haviam parado após o cruzamento começaram a tirar estacas de madeira, arames farpados e sacos de areia de suas traseiras. Homens que estavam dentro do caminhão começaram a colocar tudo ali mesmo.

Estavam montando uma barricada. Fazendo um enorme quadrado tampando as entradas do cruzamento, deixando o tanque de guerra no centro.

Uma pequena base.

Vale lembrar que os tiros não paravam. Vi um helicóptero no céu, ele passou alto no céu, mas não estava tão alto. Pude ler as laterais e vi que eram das forças armadas.

Forças. Armadas.

Agentes especiais.

Senti uma mão no meu ombro e desviei minha atenção do helicóptero.

— Senhora, preciso que saia daqui imediatamente! – Ouvi uma voz grossa e rouca sair de dentro da máscara do militar a minha frente. Usava uma roupa diferente da dos demais, em vez de uma máscara de gás cobrindo o rosto inteiro, ele usava uma espécie de “semi máscara” que cobria só do seu nariz para baixo, usava um óculos RayBan aviador prateado e uma boina preta na cabeça, segurava nas mãos um fuzil.

Eu via armas como aquela a minha frente em alguns jogos que Robin jogava as vezes, ele havia me dito o nome da arma uma vez...M...M26? 16? 36? Não? Dane-se!

— O que está acontecendo?! – perguntei a ele enquanto ele me empurrava lentamente para trás. Eu não iria sair dali sem respostas.

— Estamos em uma operação, por favor, entre em um dos estabelecimentos e fique lá até aviso prévio. – ele ergueu as sobrancelhas que se mostraram quase invisíveis por serem ruivas.

— Eu percebi que estão em uma operação! – eu disse sem alterar meu tom de voz para que ele não visse aquilo como um desacato ou algo do tipo – Só quero saber pra onde estão indo! Meu marido está nessa região e eu preci... - recomecei a dizer, mas ele bufou e me interrompeu.

— Escute aqui, estou tentando salvar sua vida senhora! Houve um problema no hospital e preciso insistir que a senhora entre já pr... – ele foi interrompido por um enorme estrondo que eu jurava que me deixaria surda. O impacto foi tão grande que ele se desiquilibrou e só não caiu porque segurou no poste que estava ao lado com a mão livre da arma. Eu caí com um dos joelhos no chão. Houve um conjunto de gritos, e uma bola vermelha de fogo subia no céu. Eu julgava que havia sido na esquina seguinte a que eu estava agora, a alguns metros de mim.

A esquina seguinte.

Foi aí que eu me levantei e corri o mais rápido que pude com lágrimas nos olhos. Senti o braço do militar tentar me segurar mas me desvencilhei dele.

— SENHORA! NÃO! – ouvi o soldado gritar, mas eu nem sequer me virei para ele.

Meu coração acelerava com todas as possibilidades ruins se passando em minha cabeça agora.

NÃO, NÃO, NÃO PELO AMOR DE DEUS NÃO!

Cheguei até a esquina e já olhei para o lado oposto.

O lado onde ficava a fornecedora.

A fornecedora que agora estava em chamas

A fornecedora que Robin trabalhava.

Corpos saiam de dentro da empresa, pessoas em chamas e pessoas sem partes do corpo. Senti como se eu tivesse tomado uma facada no estomago e deixei minha bolsa cair, levei ambas as mãos na boca e minhas pernas cederam. Fui parar no chão de joelhos pela segunda vez no dia.

As lagrimas começaram a rolar pelos meus olhos, pessoas corriam desesperadamente ao meu lado, gritando, ouvi tiros mais próximos de mim agora, sabia que os militares estavam vindo até o local. Senti uma mão novamente no meu ombro e já estava preparada pra gritar contra ela, até que o dono da mão se ajoelhou a minha frente me segurando pelos ombros.

— REGINA! – meus olhos encontraram aquele par de olhos azuis em minha frente. Me joguei abraçando o seu pescoço aos prantos. Ele estava bem.

Robin está bem.

— Achei que tinha te perdido! – eu havia dito a ele. Ele se levantou, me trazendo junto consigo sem quebrar o nosso abraço.

— Eu estou bem! Mas escuta, temos que sair daqui. JÁ! – começamos a nos desvencilhar do abraço e ela passa o polegar abaixo dos meus olhos, limpando minhas lágrimas.

— Está tendo uma operação – digo a ele enquanto passo a mão no rosto, ainda estou me recuperando do susto. Minha cabeça estava a milhão – os militares estão indo pro hospital.

Uma leva de tiros começa e eu e Robin tapamos os ouvidos, eu sentia que estava vindo praticamente do nosso lado, me viro e confirmo o fato. Os militares estavam gritando pra nós nos afastarmos e assim fomos indo para trás, correndo em meio a multidão de mãos dadas para que não nos perdêssemos.

— Onde você deixou o carro? – ele grita pra mim enquanto força passagem contra a multidão.

— No estacionamento da Monroe! – grito de volta. E começamos a nos direcionar para lá.

— Vamos pra lá pela McKlein! Não podemos passar pelo hospital! – ele grita e eu assinto as pressas.

No meio do caminho, enquanto corríamos, escutei gritos e grunhidos aumentando. Enquanto corríamos, vi várias outras pessoas atacando umas as outras. Militares estavam sendo atacados, disparando contra as pessoas, que pareciam não se ferir com os tiros! Eu corria mais do que achava possível com Robin segurando minha mão.

Teve um homem que foi atacado a METROS de nós, Robin parou de andar brutamente quando viu acontecer, o que me fez parar também. Um outro rapaz tentou ajudar e acabou sendo atacado também, olhei para uma das entradas que daria em uma outra rua próxima a mim e puxei Robin para lá que me seguiu aos tropeços.

— Tá acontecendo! O surto do meu colega! – ele diz pra mim enquanto corre.

— Eles tão atirando nas pessoas! – eu grito pra ele.

— Mas eles não morrem! Nem se ferem! Não são mais pessoas, Regina! – ele diz pra mim e me puxa pra próxima rua. Estávamos perto agora.

Quando entramos na pequena rua seguinte, havia pessoas jogadas nas ruas, e uma delas era um senhor de idade, que estava no chão da esquina. Ele estava com uma enorme ferida no braço, Robin me forçou a andar a sua frente enquanto corria logo atrás de mim. Pulei o senhor idoso jogado ao chão e continuei correndo, mas quando olhei para trás para ver se Robin me acompanhava, vi que quando ele havia passado um dos pés por cima do senhor idoso, o velho agarrou seu outro pé, o que o fez cair no chão. Parei de correr e me voltei até ele.

Robin chacoalhava o pé incansavelmente na tentativa do senhor o largar. Eu percebi que o homem tentava a todo custo trazer o tornozelo do meu marido até sua boca, tentando...

Devora-lo?!

Consegui chegar antes que isso acontecesse, e sem ao menos pensar, dei um chute com toda a minha força no rosto do senhor, e isso deu brecha para que Robin soltasse o pé e continuasse a correr comigo.

Eu nem pensei na hora. Eu agredi um senhor de idade, mas ele não parecia ao menos humano mais...esses animais estavam matando várias pessoas ao redor e...eu fiz o que tinha que fazer e...

Ah foda-se. Ele estava tentando matar meu marido sendo que só eu podia fazer isso!

Continuamos a correr, estávamos quase no estacionamento no qual eu havia deixado meu carro mais cedo. Tiros, gritos, grunhidos, sirenes e explosões eram a trilha sonora daquele cenário horrível que acontecia na nossa frente. Pessoas correndo desesperadas formavam um grande formigueiro, enquanto soldados pareciam aos poucos perder a esperança a cada tiro fracassado. No fim das contas, eu só via uma coisa enquanto corria pelo centro da cidade:

Morte.

Finalmente chegamos ao estacionamento, e havia civis e militares correndo para fora e para dentro do estabelecimento, deixando difícil prever se deveríamos ou não de fato entrar.

Entramos.

Mas não conseguimos chegar ao carro, pois havia muitos deles.

Deles...

Basicamente, havia tantos doentes ontem de manhã que Robin me puxou para uma cabine que provavelmente pertencia ao porteiro do estacionamento. Um lugar apertado, no qual havia um pequeno frigobar, uma cadeira, uma mesa com dois monitores que mostravam as câmeras de segurança e um telefone. Em um instinto de sobrevivência maior, depois de ver todo o caos acontecendo ali, me vi impedindo Robin de fechar a porta para pegar um revólver caído no chão a alguns metros dali.

Quando saí da porta ele gritou por mim e me seguiu, foi aí que vimos outro daqueles animais se aproximar, mas eu estava mais a frente, enquanto ele ficou para trás pela minha corrida repentina. Quando cheguei no revolver, vi com o canto do olho que Robin estava andando rapidamente para trás, e não me seguindo como eu pensava que faria. O vi virar a cabeça em direção a um soldado morto no chão, ele se agachou ali e tirou com brutalidade a escopeta das mãos do homem morto. Depois que percebi que Robin havia corrido para o lado oposto procurando algo para se defender do doente que se aproximava rapidamente dele.

Gritei por Robin enquanto o animal se aproximava, olhei em completo estado de confusão para o revólver em minhas mãos e puxei para baixo a trava de segurança, fazendo a arma estar preparada para atirar. Apontei a arma para o animal que corria, mas minhas mãos tremiam muito. Eu não tinha estabilidade e definitivamente não queria atirar.

Me pergunto do porque eu estava hesitando tanto...talvez seria porque eu nunca tinha pego uma arma na vida? Seria porque, independente de ser uma pessoa doente ou não, eu jamais conseguiria tirar a vida de alguém? Porque eu tinha medo de errar o tiro e isso ser o fim de Robin? Ou medo de até mesmo eu ser aquela que mataria meu marido?

Mas no final das contas. Eu não tive nem tempo. Enquanto eu tremia e hesitava, Robin pegava a escopeta e ia caminhando para trás, as mãos tão trêmulas quanto as minhas que seguravam aquele revólver. Ele tentou apertar o gatilho uma vez, mas nada saiu, depois ele olhou para a arma, e eu pude ver desespero no seu olhar. Até que ele finalmente levou as mãos na telha da escopeta, a puxou para trás e pra frente e disparou. Vi que ele sentiu fortemente o impacto da escopeta, que fez seus braços sofrerem um tranco.

O tiro pegou certeiro no pescoço e no maxilar do infectado. Robin e eu gritamos quando tiro acertou o doente. Meu marido se virou para mim e viu que eu ainda apontava minha arma, imóvel, para onde o homem estava anteriormente. Lágrimas desceram pelo meu rosto, Robin começou a gesticular para entrarmos na cabine e eu forcei meus pés a andar.

Passamos a noite lá dentro.

Eu me lembrava de tudo que aconteceu enquanto estava aqui agora, com aquele mesmo revólver em mãos. De minhas crises de choro, das orações que Robin fazia enquanto me tinha nos braços, das nossas tentativas frustadas de usar o telefone, do nosso pânico quando as luzes todas se apagaram e ficamos totalmente no escuro com apenas a lanterna de nossos celulares iluminando a sala, da nossa fome, de dividirmos o pensamento que os militares chegariam a qualquer momento...

Mas o pior de tudo foi quando aceitamos o fato de que ninguém viria nos ajudar. O que nos restava fazer, era ir pra casa e sair do centro da cidade que havia sido dominado.

De qualquer jeito.

— Você já conferiu se tem bala o suficiente nessa coisa? – pergunto para Robin enquanto ele segura a escopeta.

— Já. Tem mais quatro apenas, mas vai dar certo. Tem que dar. – Ele me diz, e sinto confiança nele.

— Mas e se eles não quiserem nós por perto? Como vamos saber se essa gente é boa? – eu pergunto.

— Amor, eles querem sair daqui do centro também, você viu como eles estavam ontem... – Robin me diz.

“Eu acredito em você” queria dizer a ele. Mas eu sempre tinha um pé atrás com qualquer coisa.

Quando vimos aquele grupo ontem a noite, pensamos em sair imediatamente dessa cabine para pedir alguma informação ou simplesmente se juntar a eles. Durante a manhã e a tarde anterior ficamos nessa cabine escutando os tiros e gritos se cessarem aos poucos até tudo ficar em um silencio absoluto pela noite.

A partir daí, nós não escutávamos mais nada além de grunhidos e barulhos estranhos que saiam das bocas desses...desses....

Mortos-vivos.

É isso que são. Porque não estão mais vivos...Não é possível que estejam, eu vi eles andando no meio do fogo com partes faltando, jogados no chão...e Robin disse que a amiga de trabalho dele foi encontrada morta e depois voltou a vida.

Robin tinha razão. Eles não estão mais vivos.

O grupo que vimos apareceu a noite. Estávamos dentro da cabine, comendo os poucos sanduiches etiquetados com nomes que haviam lá sem nenhum tipo de remorso pois estávamos famintos depois de ficar praticamente o dia inteiro sem comer. Escutamos uma movimentação dos mortos, e havíamos pensado que eles tinham nos escutado. Mas acontece que na verdade eles estavam com a atenção voltada a outra coisa.

Estavam olhando para um grupo de oito ou nove pessoas que estava do lado oposto da rua, dentro de uma loja de acessórios para celular. Primeiro eu achei que eram apenas três, mas depois a porta metálica da loja se abriu e vi que na verdade os três que eu havia visto primeiro estavam correndo de volta para a loja. Todos armados.

Entrem rápido!” um homem loiro disse a eles.

“Acharam alguma coisa?! Estão bem?!” uma mulher baixa perguntou aos três que acabam de chegar.

“Vamos ter que ir a pé!” o homem respondeu a mulher.

Eles entraram lá dentro e não abriram mais a porta.

Não até agora.

— Sei como estavam ontem, mas eles estão se preparando pra ir a algum lugar, Robin. – eu digo para meu marido.

— Nada os impede de nos deixar no caminho, além do mais podemos pegar mais informações com eles. Ficamos aqui a noite toda, não sabemos de nada. Eles podem saber! – Robin rebate calmamente.

— Eles trouxeram um dos mortos pra dentro! Você acabou de ver! – eu digo gesticulando pelo vidro da sala em direção a saída do estacionamento – Essa gente não deve bater bem!

Hoje de manhã, acordamos assustados com a porta metálica se abrindo do outro lado da rua, quando Robin e eu fomos ver pelo vidro, vimos o loiro de ontem a noite atacar um dos mortos que estavam ali próximo a eles com um machado enquanto um outro rapaz de cabelos negros e olhos azuis trazia o cadáver para dentro enquanto fazia uma careta. Eu e Robin olhamos a cena quase vomitando, porém acho que o choque foi maior.

— Não sei se são loucos ou não, mas é melhor do que ficar aqui em perigo! – Ele rebate. Eu bufo com a teimosia dele. Que saco! Ele não vê que estamos prestes a nos envolver com pessoas que tem machados e armas?!

— Regina, você sabe que é o certo a se fazer, para de ser orgulhosa! – Ele diz sem alterar o tom de voz e eu o olho surpresa.

— Você acabou de me chamar de orgulhosa, seu teimoso?! – eu respondo e ele suspira e coloca a uma das mãos na testa.

— Chega de discutir, é agora ou nunca. Duas opções! Uma: a gente sai e pede informações pra essas pessoas que não parecem perigosas enquanto ainda temos tempo. Eles tem armas? Nós também! – ele aponta pro revólver em minha mão – Dois: Ficamos aqui passando fome porque comemos todos os sanduiches e perdemos a chance de saber o que DE FATO esta acontecendo. – ele diz com dois dedos estendidos na minha frente.

Escutamos alguns barulhos vindo do outro lado da rua, Robin se vira de frente pra mim e estende a mão. Ele me olha esperançoso, e olho sua mão e entendo que ele procura uma resposta para o que acabara de propor.

Que droga, Robin!

Eu bufo e seguro sua mão estendida.

— Você é um pé no saco, sabia? – eu digo a ele. Ele ri fraco.

— Eu sei. – ele diz com aquele meio sorriso no rosto – quando a porta se abrir, corremos.

Eu assinto com a cabeça e ele dá um beijo em minha mão. Depois de alguns minutos, a porta metálica começa a abrir.

— Vamos! – ele vai até a porta da sala que estamos e segura na maçaneta.

— 1,2,3... – ele abre a porta e corre na minha frente. Eu o sigo. Os mortos no estacionamento começam a nos ver e começam a andar rapidamente para perto de nós, conseguimos sair do estacionamento, afinal de contas não estávamos tão longe da saída. Começo a suar quando chegamos na rua por fim. O grupo estranho nos olha boquiaberto, e eu olho pra eles da mesma forma. Não posso ver o rosto de Robin mas acredito que ele esteja assim também.

ELES SÃO LOUCOS?! O QUE ESTÃO FAZENDO?! ELES ESTÃO CHEIOS DE SANGUE?!

O grupo a minha frente estava com sangue dos pés a cabeça, com exceção do rosto. O moreno de olhos azuis sai do transe que estava e começa a gritar em nossa direção:

— AQUI! PRA DENTRO! – ele diz e começa a chacoalhar os colegas que estavam atônitos olhando eu e Robin correr pela rua. Vejo um morto próximo a mim, ele vai me pegar.

Ele vai me pegar!

Não sei da onde que tirei a coragem, mas quando percebi eu já tinha mirado meu revólver e atirado nele. E isso tudo enquanto estava correndo.

— VEM REGINA! – Robin gritava em minha direção gesticulando loucamente com a mão, os outros membros do grupo saíram de dentro e começaram a disparar em alguns mortos por perto. Eu finalmente chego até a loja de acessórios e pulo para dentro enquanto alguns outros membros daquele grupo fecham a porta metálica.

— Idiotas! – escuto o loiro falar para nós. Robin tapa o nariz e eu reviro os olhos, o cheiro ali dentro estava insuportável. Quando olho pro chão, me reclino para o lado e quase vomito, sinto meu estomago revirar com a imagem de um dos mortos no chão, totalmente dilacerado.

O sangue é dele!

— Calma, Theo! – a garota baixinha de ontem a noite fala pra ele.

— Calma?! Eles estragaram o plano! – ele responde furiosamente pra ela.

— Wow, wow! Calma lá! Estragaram nada! O plano não foi estragado! – o moreno entra na discussão. Todos os outros membros do grupo ficam observando, seus olhos transitam entre a briga e entre mim e Robin cansados e enjoados.

— Isso mesmo! A gente vai mais tarde! Damos um tempo e vamos! Eles são burros lembra?! – um outro rapaz surge na conversa.

O loiro olha para nós, morde o lábio inferior e depois suspira frustado.

— Que seja! – ele sai batendo o pé e vai para os fundos da sala. Todos ficam em silencio. A baixinha se aproxima de nós.

— Quem são vocês? – ela olha para nós, e quando ela se aproxima vejo que não deve chegar a 1.60, mas claramente é uma mulher adulta. Tem cabelos castanhos e olhos esverdeados vivos.

Respiro profundamente e respondo:

— Meu nome é Regina, este é Robin, meu marido. – Robin afirma lentamente com a cabeça enquanto respira fundo. Ele deve estar tonto, seus olhos transitam pelo lugar todo em confusão. Eu não sei se tenho estomago mais, sinto um gosto ruim na garganta e sinto que foi o vômito mal sucedido de agora pouco.

— Oi, sou Aria. – ela acena na nossa frente, e nós reviramos os olhos, pois ela ainda está coberta de sangue, ela nota e se afasta sorrindo sem graça – não é uma boa impressão, certo?

— Queremos ajuda. Precisamos sair daqui, vimos vocês ontem a noite. – Robin diz a eles.

— Acho que ajuda nunca é demais. – o moreno de olhos azuis de ontem a noite diz. O loiro bufa lá trás.

Porque eles estão assim afinal de contas?! Eles de fato parecem boas pessoas.

— Desculpe, mas porque estão... – começo a gesticular com o sangue e sinto minha cabeça girar.

— Faz parte do plano. Fingir ser como eles lá fora, assim eles confundem os sentidos e podemos todos sair daqui e ir pro Centro de Sobrevivência. – o moreno responde.

— Centro de Sobrevivência? – eu pergunto.

— Fingir? Como assim? – Robin pergunta. Eu também estou confusa.

O moreno sorri fraco para nós e começa a fitar o chão enquanto respira fundo. Depois ele ergue os olhos pra nós enquanto franze o maxilar.

— Temos muitas coisas pra explicar pra vocês.


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