The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 20
Eu Tenho As Rédeas.


Notas iniciais do capítulo

Capitulo tenso a frente! Tomem um suco enquanto leem! HAHAHAH



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

— Não. Passa. Perto do olho ou do nariz – digo pausadamente.

Não vai paralisar agora. Não.

— Sim... – Rey disse, fitando algum ponto cego atrás de mim.

Não pense. Não pense. Isso não é ela...não é a professora.

Cada vez que minhas mãos tocavam no sangue e nas tripas que saiam do estômago da professora, eu me controlava para minhas lágrimas não saírem de meus olhos sem minha devida permissão.

Toquei em algo consistente e enchi minhas bochechas de ar. Era só o que faltava, eu vomitar no corpo e estragar o plano inteiro. Fechei os olhos e levei minhas mãos encharcadas em direção a minha camiseta, a sujando muito, mas não por completo.

Voltei minhas mãos ao corpo no chão sem fita-lo.

— Cara...Cara.... – Harry dizia enquanto balançava a cabeça negativamente.

— Acho que não consigo ver isso por muito tempo mais... – Mary disse atrás de Rey e eu vi que ela estava pálida.

— Não olhem agora, então. Mas vocês sabem que são os próximos não é? Assim que trouxermos a comida. – eu disse a todos, não ia deixar eles se esquecerem que logo seriam eles os que estariam passando sangue no corpo.

— Quanto mais? – Rey disse baixo, acho que só eu o escutei. O fitei e vi que sua camiseta estava encharcada, e sua calça também. Ele tinha pequenos pedacinhos que lembravam carne desfiada misturado no sangue em sua camiseta. Sua calça estava encharcada juntamente com sua camiseta e antebraços.

Não vai vomitar agora.

Respira.

Respirei fundo e senti o cheio invadir minhas narinas.

Não respire tanto.

— Passa no pescoço. Acho que precisamos passar nas costas também, só pra garantir. Só espera eu acabar, eu passo em você e você faz o mesmo por mim. – eu digo pra ele. Era melhor se prevenir, já que era gente se disfarçar, façamos direito.

Continuei passando o sangue em minha calça, no meu tênis, nos meus braços descobertos, e passei também no pescoço.

Eu devo estar quase parecida com a Carrie, a Estranha agora.

Me levanto e vejo que Rey está quase verde. Eu devo estar com a mesma aparência, pois ele me olha preocupado. Mary balança a cabeça negativamente enquanto olha para nós:

— Isso é surreal. – ela diz.

— Vamos logo com isso. – Ouço Matt dizer atrás de mim.

— Deus... – Ouço também Rob, com sua voz fraca.

Olho pra Rey que me encara. Consigo identificar aquele olhar que dizia “o que estamos fazendo?”.

Não posso parar. Não pare.

— Deixa eu passar nas suas costas... – eu digo e gesticulo com meus dedos para que ele se vire.

Ele se vira, e seu movimento faz um barulho nojento graças ao sangue que o envolve. Eu me agacho e fazendo minhas mãos de concha, eu as encho de sangue e espalho pelos seus ombros. Posso ver os pelos de sua nuca se arrepiarem quando deixo um pouco de sangue escapar pra dentro de sua blusa sem querer, atingindo sua pele.

— Cuidado, pelo amor de deus. – ele diz atropelando suas palavras.

— Foi mal. – me desculpo.

Eu me agacho mais algumas vezes até conseguir deixar suas costas tão nojentas quanto sua frente. Ele está quase uma Carrie, com exceção do rosto.

— Sua vez. – ele diz e eu me viro de costas pra ele. Escuto o barulho de suas mãos entrando em contato com o sangue e fecho meus olhos sem pensar. Sinto o sangue escorrer nas minhas costas, sinto também um pouco de sangue na minha nuca o que me faz jogar a cabeça pra trás.

— Para quieta – Rey fala enquanto se agacha novamente.

— Encostou na minha nuca! – eu digo.

— Nem vi, desculpa. – Rey diz e eu bufo. Vingança do destino.

Depois de alguns minutos, eu e Rey nos parecemos como personagens que saíram diretamente de um livro do Stephen King. Todos os nossos amigos nos encaravam, alguns boquiabertos e outros com uma expressão parecida como a que fazemos quando chupamos um limão.

Hora do Show.

— Beleza. Não vou pedir a atenção de todos, porque já temos, não é mesmo? – Começo a falar e vou andando até uma mesa próxima onde eu tinha deixado o suporte que eu tinha usado pra “abrir” a professora. Todos me acompanham com o olhar, eu olho pra Rey e aponto na direção do suporte de Harry.

— Pega a arma do Harry. Vocês todos, vamos rápido com isso, peguem armas também. – digo e aponto pra mesa. Eles demoram um pouco pra se mover, mas acabaram indo todos em direção a mesa onde canos e mais suportes aguardavam.

— Tem duas coisas que podem acontecer, e vamos torcer para que o Plano A aconteça. – eu digo enquanto eles pegam os suportes. Rey já se encontra do meu lado, segurando o suporte que Harry usara com Tasha.

— Tem mais de um plano? – Rob pergunta enquanto segura um cano na mão. Percebo que Matt pegou o mesmo cano que usara pra “matar” Tasha. Suas mãos tremem. Rey me olha surpreso.

Eu volto a me concentrar neles.

— Tem. A diferença entre eles é que podemos sair ainda melhores dessa situação. Mas isso depende... – eu respondo. Eles todos estão me olhando com atenção.

— Vamos começar com o Plano A. – eu digo e vou pulando o sangue que está no chão e vou indo em direção a porta, até parar na frente da mesma.

— A diferença dos planos também está na função de vocês nele – eu digo e aponto na direção onde Harry,Matt,Rob e Mary estão. Rey havia me seguido.

— Se tudo der certo, eu e Rey vamos sair por essa porta e vamos ver quantos deles tem aqui no nosso corredor. Se tiver até três ou quatro, seguiremos com esse plano. Se tiver mais, passaremos pro plano B e... – começo a tentar me explicar, mas paro depois de ouvir Matt abrir a boca.

— Calma ai! Não estou entendendo nada! – Matt diz com ambas as mãos na testa.

— Fala dos planos separadamente antes de misturar eles. – Rob diz com calma.

— Se vocês deixarem eu terminar, ficarei feliz em fazer isso. – eu digo e eles voltam a prestar atenção em mim.

— No Plano A, Rey e eu saímos, assim que vermos quando deles tem no corredor, daremos o numero de batidas que corresponder aos zumbis. Batidas mais fortes que as que eles estão dando agora. Se tiver três zumbis, daremos três batidas, quatro, quatro batidas. Estão me acompanhando? – eu pauso minha explicação. Eles assentem.

— Certo. Assim que terminarmos as batidas, contem até 10 e abram a porta. Vamos eliminar os zumbis do corredor. SEM BARULHO.— eu digo e posso ver medo na expressão deles, eu continuo – Vamos elimina-los sem fazer barulho. Assim que limparmos esse corredor, eu e Rey ficaremos na escadaria, disfarçando o cheiro para que mais zumbis não subam. Vocês vão entrar nas outras salas, e pegar tudo que acharem de útil nas mochilas que ficaram pra trás, vão pegar tudo e levar para a NOSSA sala. Depois disso, vão se fechar lá dentro de novo, dar três batidas na porta e Rey e eu vamos atrás da comida e da agua. Saindo do caminho dos zumbis. – Termino de explicar o plano A.

Eles todos ficam em silencio por um tempo. Espero pacientemente.

— Como vamos trazer a agua? – Rey pergunta.

— Encheremos as garrafas com muito cuidado no bebedouro. – eu respondo.

— Com cuidado pra agua não misturar com sangue né? – ele diz e eu afirmo com a cabeça – Três garrafas, é o que temos. – ele complementa.

— Se tudo der certo, eles vão achar mais garrafas com agua. – eu digo e aponto para o grupo silencioso dos nossos amigos que nos observam.

— Então, é deixar vocês saírem, esperar pelas batidas, esperar alguns segundos, sair matando eles, entrar nas salas, pegar o necessário, voltar pra dentro e dar três batidas? – Matt diz com ambas as mãos esticadas na frente do corpo. Ele parecia estar resolvendo algum problema de matemática.

— Sim. – eu digo por fim.

— E se tiver mais que quatro? E se não dermos conta de quatro? – Rob começa a dizer, e sinto pânico em sua voz.

— Somos em seis, acho que dá pra dar conta de quatro. – Mary diz coçando a cabeça.

— Quero dizer, qual é o segundo plano caso esse não dê certo? – Rob pergunta.

— O Plano B é mais fácil pra vocês. Quando eu e Rey sairmos, se vermos que tem mais de quatro zumbis no corredor, vocês não ouvirão batida alguma, nós simplesmente vamos fazer nossa parte e vamos ter que nos virar com 3 garrafas d’agua até aviso prévio. Vocês vão esperar aqui até avisarmos pra abrirem a porta pra entrarmos com a comida. – eu explico.

— Desculpa mas estou torcendo pro Plano B. – Rob diz e alguns soltam uns risos frouxos. Eu me mantenho séria.

É sério que querem brincar uma hora dessas?

— Eu estou torcendo pro Plano A mesmo. A gente vai ter mais coisas e não ia ficar sofrendo por conta de água. – Mary diz depois de rir um pouco.

— Exato. – eu digo ainda meio incrédula com a capacidade deles de rirem em uma situação que estamos prestes a passar.

— Eu sei. Só tô brincando, tentando distrair porque não tenho certeza se consigo fazer isso agora. – Rob diz, agora um pouco mais sério.

— Ah consegue sim... – Matt diz, e vejo que sua expressão está fechada. Ela soa frio e pensativo. O frio em minha barriga começa a subir e eu começo a suar.

Deus, o que estou fazendo?

Espere.

— Vamos logo com isso, sim? – eu digo. – Todo mundo entendeu? – todos fecham a cara e assentem lentamente.

Não pense. Está muito parada. Não fique parada, abra a porta, saia, proteja seus amigos, traga a comida, e vamos todos embora.

Embora pra sua família.

Embora pra casa.

Você precisa chegar lá.

— Pronto? – me viro pra Rey e ele respira profundamente e fecha os olhos.

— Pronto. – ele abre os olhos e engole seco.

Eu me posiciono com Rey próxima a porta, Mary, Harry, Rob e Matt se posicionam um pouco atrás de nós.

— E se-se eles entrarem? – Rob pergunta já com sua arma branca levantada.

— Não vão, eu e Rey que vamos abrir a porta, eles vão nos ver enquanto fechamos a porta. – eu digo – As mesas, Rey. – aponto para as mesas que bloqueiam a porta e Rey assente. Começamos a tirar uma mesa de cada vez, cada um segurando uma ponta com a mão livre. São três no todo que estão empilhadas uma em cima da outra.

Vou mentir se eu pensar por um segundo que não estou com medo. Estou aterrorizada.

Não. Pare já com isso. Não seja fraca.

Passamos para a próxima mesa.

O medo não me faz fraca. O medo. Não. Me. Faz. Fraca.

Ah, faz sim. Lógico que faz, se você ficar com medo lá fora, vai arriscar o Rey. Vai arriscar todos os seus amigos. Nunca chegará em casa se você paralisar...

Começo a sentir minhas mãos suarem, e começo a respirar mais ofegantemente, Rey me olha de canto, mas mantem sua atenção no que está fazendo. Finalmente passamos para a terceira e última mesa.

Não vou arriscar ninguém. Vou sair daqui. Vamos todos sair daqui. Eu não posso paralisar.

Eles estão contando com você! Só tem você segurando as rédeas nessa sala e você sabe disso! Não deixe os mortos te controlarem! Você vai controlar eles! As rédeas, Carley! Você está segurando elas!

— Vamos? – Escuto Rey me dizer. Eu o olho, e não sei como ele me interpretou, mas sua mão livre foi direto na minha e a apertou com firmeza. Seus olhos ainda aguardam uma resposta minha.

Eu tenho as rédeas.

— Vamos. – eu digo, pego minha mochila, coloco nas costas e me viro na frente da porta. Escuto alguns grunhidos através dela, eles ainda batem na porta, mas não com tanta força como antes. Sinto minha mochila sendo mexida, e vejo que Harry colocou as garrafas nos bolsos externos da mochila.

Quando for a nossa hora de bater na porta, temos que bater um pouco mais forte que eles, pro nossos amigos não confundirem.

— Um...dois... – coloco minha mão na maçaneta.

— Três. – Rey diz e eu abro a porta e já dou um passo pra frente contra a minha vontade. Percebi que fechei os olhos nesse processo, escuto a madeira ranger e os grunhidos ficarem mais altos, mas não solto a maçaneta, ficando apenas com meu braço dentro da sala.

Abro meus olhos depois de uma grande ansiedade me alastrar. Vejo quatro zumbis próximos uns aos outros. Dois deles estão a centímetros do meu rosto, vejo com o canto do olho que Rey está com os olhos arregalados, segurando com ambas as mãos seu suporte. Ele não está respirando, se está, não consigo ver.

Os zumbis começam a fazer alguns grunhidos mais agitados graças a porta que se abriu repentinamente e graças também a visão inesperada que eles podem ter tido ao verem dois humanos ensanguentados saírem da porta. Quando percebo essa agitação, começo a puxar a maçaneta até finalmente fechar a porta. Rey e eu ficamos ali, apenas encarando eles.

Não consigo me mexer. Rey também não.

Já sabe o que vai acontecer não é?

Você vai parali-

Me forço a segurar a mão de Rey e dar um passo para o lado. Não os encaro e só fico fitando o chão, eles me acompanham no olhar, mas voltam sua atenção para a porta. Rey aperta minha mão tão fortemente que eu chego a pensar que meus dedos vão se quebrar.

Assim que damos alguns passos, eu vejo o cenário a minha frente.

Não pare muito tempo. Só olhe.

Tem quatro deles. Dois na porta, e dois parados um pouco mais próximo a escada.

Puxo Rey em direção a porta, passando próximos dos zumbis novamente. Encosto minhas costas na porta e vou dando batidas.

*toc

*toc

*toc

*toc

Quatro batidas. Quatro zumbis. Dez segundos.

Me afasto dos zumbis e da porta, dando três passos com Rey para a minha direita. Mas vejo que os zumbis não se afastam da porta.

Droga! Porque eles continuam na porta? Eles precisam seguir a gente.

Fico fitando confusa os zumbis que não saem da porta.

6 segundos.

Como meus amigos vão abrir a porta e mata-los sendo que eles estarão muito perto para isso? Vão ser pegos de surpresa. Os zumbis precisam seguir a gente, pra podermos fazer isso com mais confiança. Olho em volta e vejo que há alguns livros no chão, apostilas usadas na escola. Acho que devem ter caído das mãos dos alunos na correria...mas não vejo como isso pode ser útil.

PENSE! PENSE!

O desespero toma conta de mim. Meus amigos iriam abrir a porta e iriam dar de cara com os zumbis. Não tendo nem uma vantagem de reação.

Dou um passo pra frente sem pensar, querendo apenas começar a matança antes mesmo deles abrirem a porta para lhes dar uma vantagem.

Foda-se. Melhor eu do que eles. O plano foi meu...

O PLANO FOI MEU!

Quando eu menos espero, vejo Rey jogar uma das apostilas disfarçadamente para mais perto de nós. Os zumbis grunhem e olham não para nós, mas sim para o livro no chão. Eles começam a se afastar da porta.

Mas o que...? Barulho! É claro!

Quando os zumbis dão 3 passos para longe da porta, ela se escancara e vejo Matt sair da sala com Mary ao lado, ambos com suas armas levantadas sobre a cabeça. Quando os zumbis se viram para ver o barulho, já é tarde. As armas de meus amigos se enterram na cabeça deles, o impacto é tanto que Mary cai junto com o zumbi que ela tinha atacado, pois sua arma ficara presa.

Vejo os dois outros zumbis grunhindo ferozmente em direção aos meus amigos que agora estavam TODOS fora da sala. Eu corro com o suporte em mãos e vejo Rey ao meu lado com sua arma também levantada. Enquanto eu bato no mais próximo horizontalmente, próximo a sua orelha. Rey enterra o seu suporte na cabeça do outro zumbi que estava mais atrás. Ele também cai, pelo mesmo motivo de Mary.

Lágrimas se formam nos meus olhos pelo que eu acabara de fazer. Eu bati com uma força que eu nem sequer suspeitava que tinha, o zumbi foi pressionado na parede com a força do meu suporte, fazendo sangue se espirrar e marcar a parede da escola. Escuto grunhidos ecoando nas escadarias, vou andando rápido até o primeiro degrau que avisto enquanto dou duas batidinhas nas costas de um Rey que estava se levantando e piscando muito freneticamente.

Paro no primeiro degrau do topo da escada com ambos os suportes em mãos, Rey leva alguns segundos, mas se posiciona ao meu lado. Escuto um “Vai! Vai! Vai!” e viro para ver meus amigos. Harry entrou de sopetão na sala em frente a nossa, Mary foi com ele. Rob entrou na sala a esquerda da que Harry e Mary estavam, um pouco mais próximo de onde eu estava agora e Matt entrou na sala a direita a onde nós dormimos na noite anterior.

Me viro pra frente e vejo que sombras se aproximam. Eu não sabia bem descrever o que eu estava sentindo. Era uma mistura de terror com adrenalina. Mas acima de tudo, eu estava estranhando a mim mesma.

Eu não tinha medo. Eu estava parada agora, e eu sabia exatamente que papel eu deveria interpretar.

Escuto portas se fecharem atrás de mim e eu dou um passo a frente, descendo um degrau, Rey me olha confuso, mas me acompanha. Eu desço mais um degrau e Rey hesita.

— Temos....tampar...a visão... – eu digo em meias palavras, o mais baixo que pude. Rey desce o degrau sem dizer nada.

Nesse degrau, tem menos chances de os zumbis verem o que está acontecendo aqui em cima. Caso eles se aproximem, sei o que fazer, e acho que Rey vai entender também.

Finalmente chegou o momento de por o plano em prova. Uma das sombras que eu avistei anteriormente na parede se aproxima, um zumbi finalmente é revelado, e pelo jeito que ele olha pra cima, ele quer subir.

Mas eu não vou deixar.

Eu entro na frente dele, atrapalhando sua caminhada, ele se esbarra em mim e tenta dar um passo pro lado afim de me contornar. Mas vejo que Rey também o bloqueia.

Sabia que Rey ia sacar.

Devo admitir que aquilo estava se parecendo com uma cena cômica, se não estivéssemos com perigo de morte, eu definitivamente daria risada. O zumbi andava para os lados, procurando brechas para passar e subir os degraus, mas eu e Rey nos inclinávamos e ficávamos em seu caminho. Logo vi que outro zumbi chegava atrás dele.

Alguns minutos se passaram, e comecei a ficar preocupada. Tinha mais ou menos uns cinco zumbis na nossa frente, e havia mais sombras aparecendo. Eu esperava ansiosamente as três batidas serem ouvidas, mas meus amigos estavam demorando mais do que eu achava.

Será que dentro de alguma sala tinha algum zumbi?

E se aconteceu alguma coisa?

Eu não tinha coragem de desvencilhar meus olhos dos zumbis para olhar para trás. Tinha que confiar neles.

Mais alguns minutos se passarem e eu finalmente ouvi passos atrás de mim, o que deixaram os zumbis a minha frente um pouco mais agitados, tive que me apoiar no corrimão da escada para fazer uma força maior contra eles.

Ah essa altura eu tenho certeza absoluta que o disfarce funciona. Eles estão a centímetros de mim.

Eles estão a centímetros de mim.

O medo começa a subir novamente, mas finalmente consigo escutar as três batidas na porta de madeira, logo depois de ouvi-la se fechar.

Assim que os zumbis ficam mais agitados, eu dou passos forçados para frente, os deixando subir. Rey está um pouco pra trás, o que me faz ficar sempre de olho nele, segurando fortemente o suporte em minha mão, mas ele consegue, assim como eu, se desvencilhar dos zumbis apressados.

Começamos a andar pelo corredor, e vejo que a escola foi dominada por eles. Há zumbis em toda parte, espalhados, dentro de salas de aula, sentados no chão mexendo apenas as mãos.

Em tudo.

Mas eu e Rey conseguimos chegar até o pátio da escola, passando por eles. Quando atingimos as portas do pátio, fico boquiaberta. Se eu achava que os corredores estavam lotados deles, não havia palavras pra descrever as DEZENAS de zumbis que haviam no pátio. Simplesmente esperando algo acontecer. Andamos devagar pelo meio dos zumbis até ficarmos no meio do pátio.

Não pare. Não pare.

Enquanto caminho, olho para Rey que me olha de volta. Eu aponto com os olhos em direção ao bebedouro. Ele ergue as sobrancelhas e arregala os olhos.

Eu entendi. Vou diminuindo o passo, e Rey pega lentamente três garrafas. Suas mãos tremiam, o que fez ele derrubar uma das garrafas de plástico no chão, fazendo um barulho que me fez parar imóvel e prender minha respiração. Os grunhidos aumentam e Rey não se move.

O desespero cresce em mim e eu fecho os meus olhos. Mas percebo que isso só aumenta minha ansiedade e eu volto a me concentrar em deixar meus olhos bem abertos. Foram os segundos mais aterrorizantes de minha vida com certeza. Rey se abaixa lentamente e pega a terceira garrafa. Ele me olha e vejo que possui lágrimas presas em seus olhos. Eu balanço afirmativamente minha cabeça, indicando que era pra ele seguir em frente e pegar agua. Eu gesticulo minha cabeça para a cantina que não estava muito distante. Ele assente e eu me viro de costas pra ele.

Devemos ficar juntos. Isso é arriscado. Se pegarem ele...você vai ser a culpada.

Você. O plano é seu.

Chacoalho minha cabeça rapidamente tentando afastar o pensamento.

Cale a boca. Faça seu trabalho. Já chegou até aqui, matou um deles agora pouco. Você consegue. Rey consegue. Vamos sair.

Vou andando até chegar finalmente a cantina. Os zumbis estavam um pouco mais distanciados uns dos outros aqui. Olho para os lados, e lentamente me apoio no banco em frente a cantina e passo uma perna pelo balcão. Vejo que esse movimento atrai certa atenção então eu espero um pouco antes de passar a outra perna.

Procuro Rey com os olhos enquanto faço isso, mas não o encontro devido as milhares de cabeças na minha frente.

Continue. Não pare.

Adentro a cantina e vou direto até onde os salgados estão guardados, ali bem próximo ao balcão. Felizmente, não há nenhum zumbi do lado de dentro da cantina. O que me faz pensar na “tia” que nos servia. Será que ela foi embora com os outros? Espero que sim.

Deposito minha mochila lentamente no chão e abro lentamente a proteção de metal que guarda os salgados. Eu ia com minha mão diretamente no Croassaint a minha frente, mas lembro que minha mão está ensanguentada e decido pega-los com alguns guardanapos para não suja-los. Vou simplesmente jogando todos eles dentro da mochila. Havia muitos, não contei porque quero terminar rápido com isso mas havia pelo menos dez.

Depois de pegar os salgados, vou lentamente até a despesa que ficava nos fundos. Vejo que não há muito o que pegar porquê lá só havia ingredientes não comestíveis. Consigo enxergar um saco de pão de forma nos fundos e o pego. Vejo latas de refrigerante e penso “porque não?”. Pego elas também.

Depois de pegar tudo que podia, fecho minha bolsa e a coloco novamente por cima do ombro. Repito o processo que fiz para entrar no balcão e finalmente vou me afastando aos poucos da cantina.

Consegui. Consegui! Tenho a comida!

Começo a procurar Rey com os olhos, e o vejo imóvel próximo ao bebedouro. Ele tem as garrafas de agua próximas ao pé, todas cheias.

Esperto. Ele confiou que eu voltaria e não me seguiu..

Ele confiou em mim.

Consigo chegar a ele depois de alguns minutos. Ele põe sua arma entre as pernas e se abaixa pra pegar a agua, as colocando no bolso externo da onde estavam antes. E juntos, voltamos ao corredor.

Andamos lentamente, sem pressa alguma, até chegarmos a escada. Mas antes que eu pudesse subir, Rey aperta minha mão e eu o olho. Ele se vira na direção oposta, e pega uma mochila que estava jogada no chão sem ao menos olha-la direito.

Mais chances de ter coisas?

Ele ergue as sobrancelhas, quer que eu siga em frente.

Eu não entendo muito bem o que ele planeja, mas eu subo as escadas, e vejo que os zumbis que estávamos atrapalhando anteriormente ainda estavam ali, dispersados no corredor no qual nossa sala se encontrava. Rey passa a minha frente, gesticulando algo com sua mão, eu entendi que era pra eu diminuir meu passo, mas antes que eu possa fazer isso ele arremessa a mochila escada abaixo, atraindo os zumbis para nós novamente.

Os zumbis passam por nós e vão atrás do barulho que a mochila causou.

Caralho Rey! Puta merda! Da onde você tirou esse cérebro?!

BRILHANTE! AGORA PODEMOS ENTRAR SEM TERMOS CHANCES DE TUDO DAR MERDA!

Não consigo evitar de sorrir levemente.

Eu estou sorrindo? No meio disso? Quão doente eu sou?!

Meu sorriso morre com o pensamento. Sigo Rey até a porta da nossa sala. Ele dá 3 batidas e logo a porta é escancarada. Rey e Eu corremos para dentro e a porta é fechada. Tenho vontade de gritar.

Plano A. Sucesso.

Agora, vamos sair daqui.


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Notas finais do capítulo

Finalmente vamos começar a sair dessa escola maldita!



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