The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 1
Eu Já Volto.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal. Essa é minha primeira história, espero muito o feedback de vocês. Aproveitem!



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Certo.

Deixa eu checar tudo de novo.

Carteira....tá aqui. Dinheiro...tá aqui também. Bolsa... tá aqu- não espera, falta os salgadinhos.... da última vez que saí pra ficar muito tempo em um lugar só, passei fome, melhor se prevenir né....

Ok, eu já estava pronta para ir naquela reunião na escola. Até agora não entendi a crise de nostalgia que bateu no pessoal que levou eles ao ponto de querer marcar um encontrinho na própria escola... e com TODOS os alunos da nossa turma antiga. Não podia ser só os meus amigos? Não podia ser em um restaurante? Barzinho? Casa de alguém? Apesar que... se for parar pra pensar, até que vai ser legal reencontrar os professores...pelo menos alguns deles.... e não posso dizer que o pessoal da minha antiga turma era um problema para mim....

Já faz 4 anos que a escola terminou pra mim, mas mesmo assim, tem dias que eu ainda sinto falta das manhãs com meus amigos. Aquelas piadas, aquela rotina, e é claro, o contato diário. Agora, pra nós sairmos juntos temos que fazer esquemas com semanas de antecedência.... mas eu entendo, a vida segue para todos afinal.

Mais ou menos 3 semanas atrás, o meu grupo de amigos de sempre quis marcar um encontrinho nosso, para a gente se reunir e colocar o papo em dia e quem sabe tomar alguns drinks depois. Mas aí, alguém surgiu com a seguinte ideia: “Porque a gente não reúne todo mundo que era da nossa sala?”

Ai que ótimo— pensei sarcasticamente

— “Mas onde vai caber tudo isso de gente ?” eu disse por fim.

Então, como se tivesse brotado da terra, surgiu a ideia de se reunir na nossa antiga escola, na nossa antiga sala de aula. Os professores iriam estar lá, e o objetivo era marcar um dia em que nós pudéssemos ficar a tarde no colégio, não atrapalhando as aulas e nem o cronograma da escola.

Tudo foi agendado e organizado e o dia era hoje. Eu acordei hoje e fui direto para o banho, eu tinha que sair as 11h e já era 10h quando acordei.

Tive que enfrentar muitas perguntas de  “tem certeza? Eu acho melhor não ir hoje e remarcar pra quando ficar mais tranquilo” graças a onda de noticias que estava tendo a já algumas semanas.

Aparentemente, a três semanas atrás, começou uma espécie de gripe que começou a deixar as pessoas aparentemente mais agressivas e menos sãos. Os noticiários estavam dizendo que ainda não se sabe direito o que está causando tudo isso, mas a notícia era que uma vacina definitiva estava sendo colocada em desenvolvimento, mas já havia uma outra vacina que aumentaria a quantidade de anticorpos do sistema humano, aumentando assim a defesa do corpo. Os cuidados eram para não ter contato com as pessoas infectadas com o vírus e, se tiver algum dos sintomas da gripe tais como: cansaço, febre alta, tosse acompanhada de sangue ou desmaios era pra ir pro hospital de imediato com alguma espécie de máscara para não contaminar os demais. Caso fosse confirmado o vírus no hospital, era melhor prevenir no caminho todo.

   Eu achei toda essa história um exagero, sempre tem certas crises de doença você querendo ou não. Foi assim com a Hepatite...foi assim com a Dengue... e agora está sendo assim novamente com esse “vírus novo”. Eles mandam você tomar cuidado e falam pra ir tomar a vacina assim que estiver tudo pronto. Coisa normal.

Como eu não sabia a hora que voltaria hoje, pedi para minha Tia Milly comprar alguns salgadinhos caso a fome batesse. Antes dela sair, fiz as mesmas piadas que estava fazendo a um tempo:

— Cuidado com os doidos da rua, Tia! Vão te atacar se você não voltar com meu Doritos! – disse aos risos.

— Que isso! Vira essa boca pra lá! Não sei da onde tá aparecendo essas pessoas, você viu na TV a policia metendo bala neles?! – Disse minha tia.

— Eu vi no Facebook! Os cara estavam indo desarmado mesmo pra cima da policia! Só dava pra escutar os tiro, a policia tá fazendo a limpa neles né? – respondi

— Deus me livre! Tem que contratar mais policia, porque não tá dando não... – ela me respondeu enquanto ia em direção a porta – Pegou tudo? Carteira,documento?

— Não. Eu vou deixar tudo aqui mesmo, pra que documento né? – tenho que parar de responder assim, mas o que posso fazer? Sarcasmo é minha única defesa.

Depois que minha Tia saiu, fui para dentro de casa terminar de me arrumar e de ajeitar as minhas coisas. Enquanto guardava tudo, tirei meu celular que até o momento estava carregando da tomada e fui checar as mensagens pra ver se alguém tinha comentado alguma coisa sobre o encontro de hoje.

                                                                                                            

Eu:

Eai gente tão prontos?

 

Erica:

Eu vo atrasar um pouco, fui dormir tarde.

 

Rob:

Eeeeeh maldita, que horas foi dormir ontem?!

 

Rey:

Até as 3h tava acordada, a danada

 

Julia:

Gente, eu não vou. Minha vó não deixou eu sair e tá insistindo pra eu ficar em casa. Ela ta com medo da gripe lá e eu não tomei a vacina que tão liberando ainda =/

 

Derek:

Gripe? Amo.

 

Matthew:

Aaaahh mentiraaa Julia =(

 

 

Eu:

Aaaah eu também não tomei ainda! Falaram aqui em casa também mas eu vo tomar a vacina essa semana por mais que não queira.

 

Maddie:

Eu também não vou, não deixaram aqui também e já tá tensa a situação com meu pai por conta da última festa, afffff

 

Ray:

Aaaaaaaaa

 

Eu:

Vai tipo 3 pessoas é isso mesmo? Haha

 

Tess:

Eu to me arrumando ainda, mas minha mãe falou pra eu levar uma máscara haha

 

Chad:

HAHAHAHHAHAHAHAHHAHA

 

Brittany:

Eu vo sair daqui a pouco do curso

 

Harry:

Eu to a caminho já.

 

Eu:

Quando vocês chegarem lá, avisem que a gente espera lá no portão mesmo.

 

Poxa, marcou o negocio a semanas e tem gente que não vai?! Tá de sacanagem né! Me falaram um monte aqui em casa também, mas não to entendendo o porquê do pânico.

   Quer dizer, não que os vídeos que saíram na Internet não fossem assustadores. Parecia coisa de filme! Agora eu entendo do porquê não passou na TV isso.

    Pessoas aparentemente feridas se levantando da maca da ambulância e simplesmente MORDENDO os socorristas nas mãos e braços, e quando digo morder, é aquelas mordidas que deixam marca! Chegando até a sangrar!

Teve um desses vídeos que vi, que precisou de 3 socorristas para imobilizar uma mulher em uma maca. Ela estava tentando sair a qualquer custo e não estava respondendo a nenhuma pergunta, estava apenas lá, rosnando para as pessoas e tentando se livrar das amarras de qualquer jeito. Não vi o que aconteceu depois porque o vídeo tinha apenas 50 segundos. Mas foi o suficiente para me deixar assustada.

 

Mas isso era uma espécie de “gripe nova” na minha opinião. Era algo que estava crescendo, mas aparentemente eles estavam trabalhando em um vírus, eu vi no noticiário que eles iam chamar até alguns médicos do exército para ajudar a resolver as coisas mais rápido. Enquanto esses caras estivessem se fazendo presentes, não havia nada pra se preocupar.

Peguei o meu celular e coloquei no bolso, fechei a mochila que estava entreaberta, coloquei meu relógio, e saí fechando a porta que dava pro meu quarto. Caminhei no corredor em direção a cozinha e trombei com meu irmão Adam que estava saindo de um dos quartos que davam pro corredor:

— Ai! – disse ele me segurando pelos braços – Cadê o óculos, ceguinha?

— Tá aonde você deixou o seu né – respondi apontando em direção aos olhos dele

Ambos demos risada e fomos juntos pra cozinha:

— Aonde vai? – ele me perguntou enquanto pegava um copo no armário.

— Encontrar os amigos, na verdade, é mais um encontrão da escola.

— Ah! Vai na escola então? Se ver a professora Rose, manda um beijo pra ela – disse ele depois de encher o copo com água.

— Mando sim. E o Ross? – perguntei sobre o meu outro irmão, o mais velho.

— Foi pra faculdade, daqui a pouco tá chegando em casa eu acho. Ele falou que tinha um trânsito enorme na rodovia.

— Tá trânsito mesmo! – uma voz que pareceu vir do além apareceu na cozinha. Minha mãe chegava do trabalho levemente molhada graças a garoa que acontecia lá fora.

— Gente do céu, tinha até Jipe Militar na rodovia! Estava parecendo uma checagem sabe? Como se você tivesse bêbado e eles estivessem parando pra checar? Só que não era a policia, era soldado mesmo. – continuou

— Vixe, então o mundo tá acabando justo hoje? – perguntei aos risos

— Tá tenso lá fora Carlie, tem certeza que vai hoje? Tá chovendo também, vai sair na chuva mesmo? – perguntou minha mãe

— Tenho que ir, marcamos isso a muito tempo e eu não gosto de furar as coisas assim em cima da hora. E outra, não é a primeira vez que tem militar na avenida mãe.

— Não sei não, estava cada um com uma arma deste tamanho – respondeu ela gesticulando com as mãos uma distancia de mais ou menos uns 50cm. – Metralhadora mesmo.

— Ah tem que andar com essas arma agora mesmo, os doidão tão tudo na rua né. – disse meu irmão virando para minha mãe.

Tia Milly entrava agora na cozinha, com as mãos cheias de pratos prontos para serem guardados em um dos armários próximos a porta que dava pra área externa. Ela se virou pra mim e perguntou:

— Volta pro almoço?

— Acho que não – respondi – já são quase 11h, volto umas 15h ou 16h. Tá mais pra jantar certo?

— Só pra saber se devo fritar mais bife – ela disse já se virando em direção ao armário.

Peguei um copo do armário e fui beber um pouco d’agua enquanto minha mãe e meu irmão conversavam.

— Precisava sair tão tarde? Ele vai chegar aqui só 13h desse jeito! – reclamava minha mãe

— Você acabou de sair do transito também Mãe, o Ross vai chegar daqui a pouco, ele mandou mensagem uns 15 minutos atrás. – disse meu irmão, pacientemente.

Depois que bebi a água, coloquei o copo na pia, ajeitei minha mochila, e virei para todos da cozinha:

— Vou indo então, tchau!

Todos disseram tchau.

— Tchau filha! Vai e volta com Deus! – minha mãe gritou atrás de mim enquanto eu me virava para a porta

— Amém. – respondi

— Não esquece de mandar mensagem! – gritou minha tia enquanto eu já chegava nas escadas que davam para o longo quintal que minha casa possuía.

— Pode deixaaaaar – respondi com desdém.

Antes de descer as escadas, peguei o guarda-chuva que estava em cima do balcão e fui em direção aos degraus.

Desci as escadas e fui “atacada” pelos dois habitantes de quatro patas da casa. Meu cachorros Thor e Nina.

— Tchaau gordinhos! – disse para eles acariciando o enorme Pastor Alemão Thor(que pra mim, era na verdade um bebezinho) e a pequena Nina(que eu chamava carinhosamente de “vaca” por conta da pelagem malhada que ela tinha)

Percorri o enorme quintal e destranquei o portão duplo. Do lado esquerdo do quintal, na casa de minha tia, uma senhora colocava a cabeça para fora da janela e me perguntava com seu tom preocupado de sempre:

— Onde cê vai fia?

— Vou naquele encontro com os amigos na escola, Vó. Já já eu to de volta. – respondi tirando o cadeado que envolvia o portão.

— Aaah mas não para em casa, hein?! Pra que sair com a doença lá fora?! Sua mãe te dá muita liberdade!

Encostei o cadeado nas barras do portão e virei minha cabeça em direção a pequena janela distante:

— Para com isso vó, já já eu volto!

Escutei ela resmungar alguma coisa, mas não foi alto o suficiente para que eu pudesse ouvir.

Abri o portão duplo, e fui em direção a um dos carros presentes na garagem e entrei nele. Virei para a janela onde minha Vó me encarava e perguntei:

— A senhora pode fechar o portão quando eu sair?

Ela me olhava com a expressão preocupada, depois de alguns segundos, finalmente assentiu.

    Saí com de ré com o carro, e observei pelo retrovisor minha vó fechando o portão enquanto eu estava a alguns centímetros a frente. Antes de fechar por completo, ela foi em direção a janela do carro, e me falou:

— Cê não vai demorar não né? Tá complicado aí fora hein... – depois que ela disse isso, ela colocou a mão no meu ombro e me olhou com a expressão mais preocupada que eu já tinha visto na vida.

— Por favor, volta logo. – concluiu ela, ainda com a mão no meu ombro.

Segurei na mão dela com a mão direita, e olhei para os olhos dela:

— Vó, calma tá? Eu já volto! A senhora nem vai perceber que eu fui tá – disse sorrindo

Ela assentiu lentamente, e tirou a mão do meu ombro. Enquanto eu andava lentamente com o carro, vi pelo retrovisor que ela estava do lado de dentro da casa agora, mas ainda acompanhava o meu carro em movimento. E foi nesse instante que eu senti...sem motivo aparente, um arrepio na nuca.

A escola não era distante de minha casa, era uns 25 minutos de carro. No caminho, eu fiquei pensando na minha avó...ela parecia tão preocupada. Não que isso fosse algo incomum da parte dela, na verdade era bem comum. Ela ficava preocupada com absolutamente tudo, principalmente quando se tratava dos netos.

   Sempre que eu ou meus irmãos não estavam em casa, ela ficava acordada a noite toda esperando nós chegarmos em casa. Só ia dormir quando chegávamos, e ainda por cima, brigava com a gente no meio da madrugada, acordando todo mundo e nos xingando de “irresponsáveis” por termos chegado muito tarde.

Mas eu não reclamava.

    Na verdade, entendia perfeitamente. Minha vó tem 84 anos, idosos geralmente são mais preocupados mesmo, então não faz sentido discutir numa situação dessas. Além do mais, não era como se ela se preocupasse somente com os netos. Em dias de chuva pesada, ela ficava muito assustada, achando que a chuva ia fazer algum mal a estrutura da casa.

Eh....acho que puxei a parte paranoica da minha personalidade dela.

    Minha mãe e tia eram as segundas mais preocupadas da casa e também ambas faziam o papel de “mães” da casa. Mas a diferença entre elas e minha avó era que elas dormiam quando estávamos fora, mas sempre queriam ficar completamente informadas do que estava acontecendo. Era mais tranquilo lidar com elas, de certa forma.

   Meus irmãos Ross e Adam eram completamente tranquilos em relação a tudo, era raro ver eles preocupados com alguma coisa, eu frequentemente chamava ambos de “hippies” por serem tão tranquilos sobre tudo. A única coisa que eles não eram tranquilos sobre e que fazia eles xingarem muito na frente da televisão era futebol. Meu deus, como eu odeio dia de jogo....eles simplesmente gritam demais nesses dias! Xingando o time, xingando o juiz, xingando até o narrador! Jesus!

     Meu pai não é uma pessoa muito presente, na verdade eu só o vejo por alguns momentos do dia. Ele tem....certos problemas, por assim dizer. Problemas envolvendo álcool...

Ele não machuca uma mosca, mas graças a esse problema, o vemos quase sempre na frente da televisão, até ele achar que está na hora dele sair novamente. Tentamos ajudar da maneira que podemos, as vezes dá certo, as vezes não. Mas eu não gosto de pensar sobre isso.

      Há essa altura, eu já estava quase na escola, a chuva aumentava aos poucos e eu já podia ver o edifício ao longe. No rádio, o radialista dizia o que estava sendo dito há algum tempo no noticiário. Uma noticia de morte:

Aconteceu hoje uma confusão no meio da Av. San’t John, o que ocasionou a morte de duas pessoas que estavam no local. Lionel Hofferson e Antony Ford foram atacados e mortos por um homem até o momento não identificado. De acordo com testemunhas, o assassino andava na rua cambaleando, parecendo estar embriagado. Até o momento que desmaiou, e Antony, que estava próximo, foi ajuda-lo. Depois de alguns momentos tentando acordar o assassino, Antony foi surpreendido pelo ataque inesperado do homem que até aquele momento estava desmaiado. As pessoas presentes no local e os médicos que posteriormente apareceram disseram que o braço de Antony estava com uma grande marca, como se uma parte de seu antebraço estivesse faltando. Vendo o ataque, Lionel apareceu e empurrou o assassino, livrando Antony das mãos do homem, mas ao apoiar aos mãos no peito do mesmo, o assassino desconhecido foi com suas mãos em direção a garganta de Lionel, provocando um corte tão grande e profundo que o fez desmaiar na hora. Mais pessoas se aproximaram e tentaram imobilizar o assassino enquanto chamavam a policia e a ambulância. Lionel e Antony não sobreviveram. A seguir, acontece-

   Troquei de estação. Chega de desgraça, já basta as da TV. Dessa vez, uma música que eu não conhecia que dizia “World on fire with a smoking sun, stops everything and everyone,brace yourself for all will pay, help is on the way…” ao menos foi isso que entendi da letra.

 

     A escola ficava entre duas avenidas. Uma do lado esquerdo e outra do lado direito. Os carros andavam devagar um atrás do outro, por conta de algo que estava acontecendo lá na frente. Do lado do meu carro, vi um Celta com as malas amarradas no teto do carro, dentro do veiculo podia se ver um homem, uma mulher e duas crianças. A mulher ao volante, estava batendo impacientemente no volante, buzinando para que os carros a frente dela pudessem andar.

Jesus amado, você não tá vendo que tá andando devagar essa bosta? Tá com pressa pra sair de férias? pensei revirando os olhos e soltando levemente o freio para que lentamente o carro pudesse andar.

“Let the bed sheet,soak up my tears and watch the only way out disappear. Don't tell me why,kiss me goodbye”..... ah de novo essa música, já tocou umas 500 vezes— pensei tentando me distrair da mulher desesperada.

    Levou uns 10 minutos naquela lentidão para que eu finalmente pudesse ver o que estava acontecendo.

Tinha nada mais nada menos que 5 carros militares enfileirados uns atrás dos outros, e a policia também estava se fazendo presente com carros blindados.

Ok. Agora eu tô assustada.

    Um policial com uma escopeta chegou e deu duas batidinhas no vidro da janela do meu carro, indicando que era para eu abrir. Abaixei o vidro e ele me perguntou:

— Documento do carro, senhora?

— Ah...peraí. – respondi, já abrindo o porta-luvas do carro e retirando todos os documentos de lá. Entreguei ao homem.

   Ele pegou o documento com uma das mãos livres e analisou. Enquanto olhava para os documentos, ele disse:

— Estamos checando em busca de carros roubados. Tem muita gente roubando carro e saindo da cidade.

— Por conta de que? Do vírus? – perguntei, curiosa.

— Acho que sim né. Tem doido pra tudo.  – respondeu ele ainda sem olhar para mim e checando os documentos ainda.

 Dei um leve riso e olhei para frente...nossa... nunca vi tanto policial e tanto militar em um mesmo lugar... acho que preciso comprar uma máscara na volta pra casa.

Meus pensamentos foram cortados pelo policial, que me entregava os documentos de volta:

— Tudo certinho. Cuidado ao dirigir, moça.

— Obrigada. Ah e... como está a situação? digo, da infecção? – perguntei lentamente. Ué, o que eu podia fazer? Toda essa história já estava começando a me assustar a essa altura, e eu sou paranoica mesmo idaí?

 

— Estamos controlando, não se preocupe. Hoje mesmo, falaram pra mim que estavam indo em direção aos hospitais do centro da cidade pra dar uma verificada. A intenção é verificar todas as unidades de saúde pra garantir que os infectados sejam... observados. Vai ficar tudo bem, nada que seja alarmante, fique tranquila. – ele me respondeu.

De repente, o pequeno dispositivo alojado no peitoral do soldado emitiu uma voz cansada e ofegante: “Situação 2319 na Av.Hillary McJohnson, unidades próximas estejam avisadas. Repetindo, 2319!”

 

O guarda apenas apertou o dispositivo, e olhou rapidamente para mim e depois para a fileira enorme de carros que estavam atrás de mim. Parecia estar procurando alguma coisa ou alguém.

 

— Obrigada. – respondi mudando a marcha do carro para seguir em frente, acho que ele nem me ouviu. A escola não estava longe agora, era na próxima quadra, a esquerda. O que seria 2319?

   Verificando unidades de saúde? Militares? Isso não devia ser coisa pro governo fazer? Médicos, Biomédicos e etc? O que que eles vão garantir lá? Que estranho não sabia que eles podiam fazer isso, mas o que eu sei dessa vida também né? Sou meio burra pras coisas. Finalmente virei a esquerda e estacionei no final da rua, geralmente, quando se trata da “rua da escola” quando mais pra cima você sobe, mais chances de você não encontrar um bom lugar pra parar. Então , por via das dúvidas, vou parar aqui mesmo.

    Quando cheguei ao portão, o porteiro acenou pra mim e cumprimentou:

— Carley! Quanto tempo! Que loucura lá atrás né? – disse apontando em direção ao final da rua, por onde eu tinha vindo.

— Oi tio! Sim, tem muito policial e militar lá atrás. Tá uma loucura. Posso entrar? – respondi apontando para o portão.

   Ele abriu o portão e liberou o acesso.

— Ah é mesmo! A diretora veio me falar sobre. É hoje a reunião certo? A partir do 12h? – ele disse

— É, é hoje. Marquei com o pessoal aqui as 11h, até todo mundo chegar, vai ser umas 12h! – disse rindo.

— Fica a vontade! Só não entra lá dentro ainda até as turmas saírem tá bom? Vou estar na guarita qualquer coisa. – disse o porteiro, já se encaminhando pra guarita que ele mesmo tinha mencionado.

   Aproveitando a deixa, aproveitei pra checar o celular. Primeiro, mandei uma mensagem para minha mãe e minha tia, avisando que já tinha chegado e que estava tudo bem. Não havia sentido em mencionar os Militares e Policiais. Depois, fui para o grupo onde meus amigos se encontravam, tinha apenas 3 mensagens que eu não tinha lido:

Harry:

To chegando. Tava um pouco de transito mas já desci do ônibus, to indo pra aí

 

Rob:

To indo também

Com o Matt

 

Matthew:

Medo dos doido hahaha

 

    Fiquei lá sentada na escada por uns cinco minutos, vendo Facebook como sempre. Até que escutei alguém falando “Oiê”

   Levantei a cabeça.

— Oi maldita – disse sorrindo.

— Chama o tio pra abrir pra mim, maldita – disse Rey, gesticulando as mãos como quem se diz “levanta logo”

  Fui pra guarita e chamei o porteiro, ele foi em direção ao portão e o abriu. Rey e o “tio” se cumprimentaram e não demorou muito até o porteiro se virar novamente para sua guarita, “qualquer coisa me chama”, ele disse novamente.

   Eu e o Rey nos sentamos onde eu estava minutos atrás, e começamos a conversar.

— Mano, você faz ideia de como tá a situação lá? – comecei apontando pra onde eu tinha vindo de carro – Tá uma loucura, parece que o mundo tá acabando cara – finalizei aos risos

— Cê é louco! Na outra avenida também tá assim! Eu vim a pé, então não me pararam. Mas dava pra ver os carros de lá sendo parados também – disse ele apontando pra direção oposta a que eu tinha apontado anteriormente.

— É... medão disso. – disse agora encarando o chão

— medão mesmo. – ele disse acompanhando meu olhar e fitando o chão também.

    Ficamos alguns segundos em silêncio até que ele deu dois toques de leve no meu braço e me perguntou:

— Ah! Eu trouxe o refrigerante que falaram pra eu trazer, será que já pode entrar? Pra eu colocar na geladeira da cantina?

— O tio falou que era pra entrar quando os estudantes estivessem saindo, então acho que agora não pode.

— Que horas são agora?

— 11h30 – disse depois de olhar pro meu relógio. - Meia hora ainda até essa criançada sair.

— Idosa você. Anciã. – Rey disse em tom sarcástico

— Eu sou um Oráculo. – respondi no mesmo tom.

Rimos muito com a brincadeira, direto a gente fazia esse tipo de brincadeira na verdade. Rey é o amigo que mais vejo e falo, de todos, desde o tempo da escola. Na escola sempre fomos assim também, fazendo piadas idiotas e refletindo sobre a vida o tempo inteiro.

   Não demorou muito até o resto começar a aparecer, depois de Rey, a próxima a chegar foi Mary. Rey estava me mostrando uma música quando ela chegou, estávamos no meio de uma brincadeira comentando que a tal musica era um tanto quanto dramática e pesada. “We all need a big reduction in amounts of Tears, but all the people that you made in your image,see them fighting in the street'. Cause they can't make opinions meet. ’Cause they don’t get enough to eat.”. Realmente, pesadíssima.

O porteiro abriu o portão, como fez comigo e com Rey, e ela se sentou próxima a nós. Falamos novamente sobre a loucura que estava se passando com a avenida e tudo que envolvia o vírus desconhecido.

    Enquanto falávamos, mais pessoas da nossa antiga turma chegavam, mas como era uma reunião da turma toda, nós não necessariamente éramos próximos desses que chegavam agora. Nós três os cumprimentamos com um sinal envolvendo a cabeça e um aceno. Estávamos esperando o nosso grupo, e eles, o deles.

— Mas gente, falando sério agora. Fiquei assustada de verdade ontem. – Mary começou a nos contar. – Eu simplesmente estou perplexa com tudo isso que eu to ouvindo no rádio e na TV. O negocio tá sério mesmo! Eu vi uma mulher no Twitter falando que não aguentava mais ver a filha dela infectada, e falando que os médicos não estavam resolvendo nada....não sei se é verdade, mas isso não me impediu de ficar assustada.

— Eu não consigo acreditar que não sabem ainda o que causa isso, tipo, porquê seria tão difícil assim? Eu achava que as únicas coisas que eram realmente difíceis de tratar no mundo eram AIDS e Câncer! – falou Rey

— E olha que essas duas doenças são tratáveis ainda! Essa nova de agora ninguém sabe nem ao menos DA ONDE ela está vindo! Se você não sabe da onde vem, como é que você trata? Como você sequer contrai isso? A gente não sabe de nada. – dei de ombros.

— Minha tia disse que no centro da cidade tá mais perigoso. Porquê tem mais gente e tudo mais... – comentou Rey

— Faz sentido. – disse Mary agora fitando o chão

   Logo em seguida, Rob e Matthew chegaram ao portão acompanhados de Harry, percebi que eles trocavam olhares sérios um pro outro, não conseguia ouvir o que falavam mas eles gesticulavam muito um para o outro. Quando finalmente perceberam que estavam de frente com o portão, olharam para as barras e encontraram nossos olhares curiosos.

    A expressão séria se disfarçou em um leve sorriso e alguns acenos. Rey foi chamar o porteiro.

— Acho que vou deixar vocês por aí mesmo – brinquei aos sorrisos

Harry e Matthew riram de minha pequena brincadeira, mas Rob disse:

— Você não é nem loca de deixar a gente com os doidos, abre isso aqui logo! – disse em tom preocupado.

— Calma velho, tá acontecendo isso em todo lugar agora – disse Harry virando-se agora para Rob – Ele tá se cagando de medo por que a gente viu uma ambulância passando e estava uma barulheira dentro dela, digo , parecia que estava acontecendo alguma coisa dentro da ambulância, as laterais estavam se mexendo – terminou ele, agora já virado pra mim.

— O que aconteceu? – perguntou Mary, que tinha aparecido do meu lado e aparentemente tinha pego a conversa pela metade.

Antes que pudéssemos recontar a história pra Mary, Rey apareceu junto com o porteiro, que abriu o portão e assim que Matthew passou por último, o trancou e nos disse:

— A diretora me avisou que não é pra ficar ninguém aqui fora. – disse ele olhando para cada um de nós.

— Anh...mas não era pra esperar até 12h? – perguntei

— Era, mas eu estava falando com ela agora pouco, e ela disse que vai atrasar um pouco a liberação de alunos por conta das avenidas que estão paradas. Aí, ela disse que não era pra ninguém ficar aqui fora, por medida de segurança.

    Todos nós assentimos com a cabeça enquanto o porteiro ia rapidamente para dentro da escola, dessa vez, ele não se direcionava a guarita, e sim a secretaria.            Cumprimentei os recém chegados e fui em direção a minha mochila que repousava sobre o lugar que eu estava sentada com Mary e Rey há alguns minutos atrás enquanto o pessoal papeava.

— Gente do céu que tenso – disse Matthew

— Eu tô falando que tá acontecendo alguma coisa! Eu disse isso desde que a gente se encontrou no ponto de ônibus! – Rob apontava e chacoalhava o indicador próximo ao rosto de Matthew – A gente não devia ter vindo, devia ter remarcado.

— Para de ser paranoico. Jesus. – disse Harry revirando os olhos. – Tem que avisar a Erica que a gente vai entrar, só falta ela né? Ela disse que vinha.

— Sim ela vem, eu mando pra ela. – e Rey começou a colocar a mão no bolso até o momento que tirou o celular e começou a digitar.

— Gente, eu não falei nada pro Tio porque não queria contrariar ele, mas eu acho que tão exagerando. Tem uma penca de militar nos dois lados da rua, não faz sentido isso tudo.  – disse com as mochilas já nas costas – Dá medo? Dá. Mas não vai acontecer nada, fica tranquilo tá? – agora eu estava virada pra Rob – Estamos dentro da escola, olha o tamanho disso, tem grade e tudo mais, você sabe que a Marsha sempre foi a favor de um milhão de regras né?

— Diretora tem que ser mesmo. – falou Mary.

— Vamos entrar logo, que aí a gente pode até comer alguma coisa lá dentro – disse Matt apontando pro longo corredor que dava para a escadaria que consequentemente daria pro enorme pátio da escola

— Vamos. – eu disse já me direcionando pro corredor.

   A pequena caminhada foi interrompida quando escutamos Rey falando em um tom mais alto atrás de nós:

— Gente? Alguém pode mandar uma mensagem pra Erica?

— Ué, você não ia mandar? – indagou Mary.

— É ,mas eu tô sem sinal. – respondeu Rey

— Peraí que eu mando então. – disse já colocando a mão dentro do bolso da calça.

   Quando olhei para a tela do celular, percebi que também estava sem sinal. Antes que pudesse comunicar a noticia, ouvi Harry dizer:

— Vixe, também estou.

— Eu também. – disse for fim levantando apenas meus olhos em direção ao pequeno círculo de amigos.

    Ficamos um tempo em silencio, apenas encarando um ao outro. Não sabendo direito como receber a noticia. Seria uma coisa quase normal de se acontecer se não fosse as atuais circunstancias.

— Ahn..... e agora? Como a gente faz? – disse Matthew quebrando o silencio.

— Acho que é melhor.. – e de repente, fui interrompida por uma sequencia enorme de estrondo vindos da rua o que fez todos nós pularmos de susto como se tivéssemos algum tipo de espasmo. Nada que eu tivesse escutado antes, uma sequencia de quatro ou cinco estrondos que eram ouvidos com segundos de atraso um dos outros. Nunca escutei nada como isso antes.....um som alto, e sem eco....algo que eu só tinha escutado em filmes até o presente momento. E foi isso que me fez saber exatamente do que se tratava.

Tiros.


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