Vermelho é sangue e preto é luto escrita por Maddu Duarte


Capítulo 1
I - Em meio a rostos brancos, confio em você.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Depois de anos, estamos de volta. Essa é a primeira oneshot que postarei, não tenho uma pretensão de datas, espero que entendam.
A oneshot se passa em um universo alternativo em que Marinette é diagnosticada com prosopagnosia, uma síndrome que danifica a capacidade de reconhecer rostos.
Espero que gostem.



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Marinette salta todos os dias pela cidade.

Ela fala sobre o calor do sol, reconhece o poder da chuva, sente os seus pés derrapando no asfalto molhado a cada gota que se acumula no chão frio, a cada incerta aterrissagem.

Marinette sabe de muitas coisas.

Sabe da forma como seus amigos se portam, se vestem, sabe que Rose adora rosa e que Juleka sempre usa sua franja roxa no rosto, que Ivan é o maior da turma e que Max usa um óculos estranho. Na verdade, ela sabe que Kim e Max costumam usar juntos, então, imagina que sejam os mesmos.

Sabe que Alya tem mechas e que Chloé está sempre com Sabrina e seu penteado tradicional. Todos concordaram que assim seria melhor, todos concordaram que alguns assuntos não devem ser tocados, para que a estilista entenda o que ocorre ao seu redor.

Até mesmo Chloé concordou — talvez não por amizade, mas pelo medo. Medo de ser esquecida.

Marinette sabe de muitas coisas, ela consegue decifrar a palavra prosopagnosia e soletrá-la desde mais nova — quando os sintomas apareceram — quando sua foto parecia apenas uma foto qualquer.

Uma pessoa qualquer.

É por isso que ao mesmo tempo que sente saber de tudo, também sente não saber nada.

Pois não se reconhece ao olhar ao espelho. Sem a máscara, seu rosto é um breu.

E todos sabem disso — menos ele.

Por isso, ela o ama. Apesar de não saber — só sabe quando olha sua mão e encontra o anel prateado, olha os sapatos e vê a marca, olha o acompanhante e vê o boné. Então, ela sabe — apesar de que, às vezes, Alya a conta. Odeia quando conta, ao mesmo tempo, agradece — e o arrumado do cabelo se junta aos olhos verdes, fazendo parecer que aquilo possuí um pouco mais de sentido - embora, ainda não possua. Sabe que não reconhece, mas prefere fingir não saber.

Ele também não sabe dessa dificuldade dela, então, está tudo bem. Se ao menos uma pessoa for capaz de vê-la como normal e amá-la, ela estará feliz.

Porque, pelo menos para uma pessoa, será Marinette.

Apenas Marinette, estilista, 13 anos.

Nada de prosopagnosia.

(..)

Adrien pula todos os dias pelo telhado da cidade.

Ele fala sobre o frio da noite, reconhece o poder da solidão, sente seu coração acelerando em seu peito a cada cantada solta, a cada despedida.

Todavia, Adrien não sabe de muitas coisas.

Ele sabe da forma que os olhos bonitos de seu amor se portam, sabe que resplandece uma dedicação admirável com o seu compromisso e que ela sempre está focada, apesar das vezes o olhar estranho.

Sabe que sua companheira é esperta e espera todos os dias para revê-la. Todos os dias promete a si mesmo que não irá procurá-la, queria ser achado (mas não iria). Todos os dias espera que ela o reconheça na rua (mas ela não vai).

Ambos concordaram que seria melhor se simplesmente se escondessem um do outro, concordo quando entrou na escola e foi dito que deveria utilizar uma roupa específica — não compreendeu, mas estava tudo bem. Alguns assuntos não devem ser tocados, apesar do modelo não entender o que ocorre ao seu redor.

Ele pode saber muitas coisas, porém não pronuncia a palavra prosopagnosia ou entende seu significado. A palavra aparece e é uma palavra desconhecida, é apenas uma palavra qualquer.

É por isso que não sabe, mas apesar der conhecedor de diversos assuntos e piadas, não sabe nada. Não sente isso, mas no fundo não sabe.

Pois se reconhece ao olhar ao espelho e, mesmo sem a máscara, seu rosto é claro.

Como todos que conhece — menos ela.

Por isso, ele não entende o amor dela. Apesar de tudo, ainda não sabe que quando ela olha sua mão e encontra o anel prateado, as coisas ficam mais claras.

Que o seu cabelo, em conjunto com os olhos verdes não faz menor sentido na visão da parceira. Não sabe que o motivo de reconhecer os monstros em suas fantasias, é porque sua dificuldade faz com que aquelas pessoas, disfarçadas ou não, permaneçam iguais. Permaneçam em vultos.

Está tudo bem, diz o rapaz. Se ao menos uma pessoa for capaz de me amar, estarei feliz.

Queria ela que o próprio imaginasse que quando o olha com ternura, é porque o reconhece, o acha parecido com alguma pessoa — acha.

E queria ele que a própria imaginasse que quando ele a olha triste, é porque acha que não a conhece — ainda não entende o que uma certa menina sabe há anos: que todos são mais do que rostos.

 

Quando ela o olha, algo acontece, porque no meio daqueles rostos em branco, sempre sabe em quem confiar. A máscara significa segurança — e ele é seguro.

Quando ele descobrir, talvez a perdoe por nunca o ver como verdadeiramente é. Amar significa acreditar — e ele acredita.

Ele não sabe, mas quando ela o olha, nunca o vê.

Existem dois deles.

Um que carrega o anel prata e o tênis de borboleta.

Um que carrega a máscara preta.

Rostos iguais, diferentes.

Para uma única pessoa.

Sua lady.

 

Ela sabe que quando ele a olha, nunca a vê.

Existem duas dela.

Uma estilista/heroína que carrega brincos e um sorriso.

Uma que não enxerga e não é enxergada.

Pessoas iguais, diferentes.  

Para uma única pessoa.

Seu amigo.

Mas ele não sabe disso.

Adrien sabe de muitas coisas, mas não conhece aquele termo estranho ainda.

(E ela até queria não saber.

Marinette queria não saber de muitas coisas, inclusive, daquele termo estranho).

 

LadyBug passa o dia tentando reconhecer rostos.

Em sua mente, o vazio predomina. Preto e branco. Como magia — como agia.

Chat Noir passa o dia tentando reconhecer um rosto.

Em sua mente, o azul e vermelho predomina. Como se amasse (como ama).

Ambos não sabem, mas se cruzam. Ele não a nota — procura a máscara e não vê. Espera com confiança e não recebe nada. Apenas a solidão. Aceitação.

Ela não o nota — procura a máscara e não vê. Procura a confiança e não encontra nada. Apenas a solidão.

Aceitação.

Sem conhecimento, ambos permanecem sem rostos. Apenas uma máscara.

Ele espera que ela o reconheça um dia — mas ela não irá.  

Ela espera que ele a entenda um dia — mas não contará.

Porque alguns rostos devem permanecer sem identificação.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente,
Espero que a leitura tenha sido do agrado. A repetição de alguns termos (vide sabe, repetido quase 20 vezes) foi feita de propósito.
O capítulo a seguir não foi revisado, agradeceria se perdoassem. Eu realmente o escrevi no celular, durante um apagão qualquer.

A prosopagnosia é um transtorno grave que pode gerar angústias naqueles que a possuem, por favor, por mais que o capítulo tenha sido leve, não a usem de forma romantizada.
As coisas não são "Marinette o viu e o reconheceu".
Obrigada.
Espero que tenham gostado.



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