Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Eu só não digo que essa é a história que passo mais tempo escrevendo, porque tenho uma que já completou seu quinto aniversário e logo logo colocaremos no primário; mas essa é a fic que mais demorei para concluir (algo que ainda não aconteceu, não é mesmo?).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751114/chapter/9

“Caras pessoas do mundo

Eu, Willy Wonka, decidi permitir cinco crianças a visitarem minha fábrica este ano. Essas cinco, sortudas, crianças serão guiadas por mim e vão aprender todos os segredos e magias da minha fábrica[...]”

Quando Arthur Slugworth leu este anuncio roubado por Prodnose, suas esperanças de ter achado o momento perfeito para ter a fábrica sob seus comandos foram reacendidas. Há anos os doces saíam da Wonka’s Candy Company, mas durante muito mais tempo, ninguém entrava por aqueles portões.

Prodnose aguardou alguma reação de seu chefe. Havia roubado aquele anuncio antes do raiar do dia, quando saiu para comprar o dejejum de Arthur. O frio do dia descolou uma das pontas e arrancar o restante fora fácil. Depois, com os dedos quase congelados, correu até a casa do vilão e entregou-lhe o papel sem lembrar-se de que precisava, antes, ter comprado o alimento matinal.

Arthur, olhou para o capanga. Os olhos brilhantes e pedintes, como um cachorro implorando para que dividisse a comida com ele, lhe irritou. Então, para livrar-se do capanga, a única coisa que Arthur fez, foi questioná-lo sobre o café da manhã.

 

 Compreensão

 

— Devo dizer, William, que eu já não imaginava um dia verdadeiramente conseguir entrar nesta fábrica.

Slugworth comentou enquanto seus pés tilintavam contra o chão da fábrica. Estava bem mais calmo e animado por finalmente conhecer os aposentos pessoais de Willy Wonka sem a companhia irritante de seus capangas.

— Mas, agora que estou podendo andar calmamente por aqui, devo dizer que fico mais curioso em saber como é seu quarto do que o restante da fábrica.

O estômago de Willy estava embrulhado desde o momento em que deixou Charlie. Sua mente caçava toda e qualquer oportunidade de avisar alguém sobre o que estavam passando e assim poder se livrar daquele carrasco, mas quando escutou que Arthur queria conhecer seus aposentos pessoais e quando finalmente percebeu para onde estavam caminhando, o chocolateiro sentiu o estômago congelar e os joelhos fraquejando.

— O que teria de tão interessante em meu quarto?

O novo dono parou em frente à porta que ocultava a ala de descanso, o mesmo lugar onde Willy Wonka e Charlie Bucket dormiam há anos. Ele sabia o que havia ali atrás, pois havia decorado o caminho que levava aos quartos após ler no mapa que ficava na sala dos mapas.

— Você é um gênio, William. – Os dedos de Arthur pousaram sobre a maçaneta. – Eu quero saber o que te faz ser este gênio. Eu quero devorar essa essência, suga-la, torna-la exclusivamente minha.

Se Willy pudesse ver o sorriso que Slugworth deu, talvez ele desistiria naquele momento. A ganancia é um dos sentimentos mais cruéis que existe, pois cega quem o carrega e desanima quem o encontra. É a ganancia que desune, que faz a falta ter presença tão forte na humanidade. 

Mas ele não o viu e por isto, apesar de sentir medo do que estava para lhe acontecer, o chocolateiro conseguiu focar em seu plano principal. Já tinha uma parte pronta, só precisava saber o que fazer em seguida.

Em sua mente, tinha planejado avisar seu pai, aquele que fora fiel a promessas feitas quanto o chocolateiro era um pequeno garoto esquelético e portador de um enorme aparelho ortodôntico. Aquele velho homem que tinha criado Willy longe dos doces, era sábio e astuto e poderia ajudar Willy a ter a fábrica de volta com uma solução adulta. 

Precisava, então, escrever uma carta e faria isso após Arthur dormir ou enquanto estivesse no banheiro, mas a parte de enviar lhe seria necessário um pouco de esperteza e mais sorte do que ele possuía sozinho. 

 

W.W.

 

Todos os Umpa Lumpas estavam reunidos em pequenos grupos dentro daquela gruta. Tinham feito uma fogueira baixa e colhido uma quantidade muito grande de bolotas para caso precisassem. A bolotas não brilhava, pois não foram sacudidas o bastante, estavam empilhadas em algo que lembravam caixotes, colocadas ao fundo da gruta que era bem vasta, mas parecia pequena quando recheada de Umpa Lumpas. 

— Vejo que conseguiu chegar sã e salva, minha cara. 

O casal mesclado que havia acabado de se chegar fora recepcionado por uma criaturinha vestida com algo que se semelhava a um saco de batatas. Sua voz era muito grossa e Charlie sabia que ele era o curandeiro Umpa Lumpa. Dóris deu duas batidas nas costas do herdeiro, que a colocou no chão prontamente; depois ela sacudiu os braços em uma conversa incompreensível para um humano que não fosse estudioso ou Willy Wonka. O Umpa Lumpa que os recebeu também sacudiu seus braços e as duas criaturinhas ficaram nessa comunicação ritmada por quase um minuto inteiro até que parassem; Dóris acenasse para Charlie e saísse em direção aos demais de sua espécie. 

— Bem-vindo herdeiro. - Disse o curandeiro. Charlie respondeu-o com sua velha educação imutável, questionando em seguida se estavam todos sã e salvos.  - Bem, falta apenas um - disse o Umpa Lumpa. - Mas creio de Wonka esteja ocupado com os planos de sua cachola. 

Juntos, Umpa Lumpa e humano caminharam pela gruta parcamente iluminada. Alguns Umpa Lumpas dormiam, outros ficavam olhando para a entrada como se buscassem algo, algum sinal de perigo. O lugar estava aquecido pelo fogo brando que ardia numa pequena fogueira, uma mesinha tinha sobras de comida que eram devorados por Dóris. A pequenina estava cansada, dolorida e faminta; sua cabeça zunia com os pensamentos que a enchiam.

— Temos comida naquela mesa e preparamos uma cama confortável para você, herdeiro. 

— E como ajudaremos Willy? - Charlie questionou. 

— Ajudá-lo? - O curandeiro parou seu caminhar lento. - Como poderíamos ajudá-lo sem sermos visto? Como poderíamos vencer um inimigo que conseguiu deixar nosso salvador encurralado? 

Charlie sentiu na pele a tristeza do curandeiro cujo o nome ele desconhecia. Willy fora o salvador dos Umpa Lumpas, aquele que os tiraram dos predadores e da comida ruim, aquele que os aqueceram, deixaram ser cantores e dançarinos, mas também trabalhadores com algum objetivo para seguirem e era possível sentir como aquelas pequenas criaturinhas estavam tristes e cabisbaixas com a inutilidade que os dominavam. 

— Se os planos de Willy não derem certo, viverão aqui para sempre?

O pequenino olhou nos olhos de Charlie. 

— Sim. 

O herdeiro prendeu a respiração ao sentir o coração falhar uma batida. Seu corpo ficou pesado e as pernas não o sustentaram mais, contudo o impacto de seu corpo contra o chão não foi sentido, afinal, sua consciência se apagou durante o caminho e ele nem notou a multidão de Umpa Lumpas que acudiram seu enorme corpo humano.

 

W.W.

 

Antes de entrar no quarto de Willy Wonka, aquele que possuía as iniciais entalhadas na madeira de carvalho que selava o quarto aconchegante, Arthur foi até o quarto de Charlie Bucket, confirmando que era aquele o aposento através da madeira entalhada com suas iniciais. Era, por fora, tão bem cuidado quanto o do próprio dono da fábrica, passando a sensação que ele só pôde ganhar aquelas marcas no carvalho, após provar que era verdadeiramente o herdeiro daquele mundo.

A mão de Arthur tocou na maçaneta com a inveja correndo pelos dedos. Ele sempre sonhou em estar no lugar daquele menino, uma simples criança tola e sonhadora que ganhou a luta de Arthur devido à sorte de achar um papel dourado e poder passar algumas horas dentro daquela fábrica.

Mesmo com toda sua raiva gerada pela inveja, Arthur lentamente abaixou a maçaneta de metal. Um gemido avisou que o sistema estava acionado e ele poderia empurrar a porta. Arthur o fez, empurrou o carvalho pesado que não se movimentou mesmo quando Arthur usou mais de sua força.

— Me dê a chave. – Ordenou Arthur sem deixar de mostrar as costas para Willy.

O chocolateiro sentia-se aliviado pela porta não ter cedido ou teria cometido um crime absurdo contra aquele invasor malvado. Wonka não sabia que a porta estava trancada, pois Charlie nunca o fazia, nem mesmo quando os pais do garoto passavam horas discursando os motivos de ter que trancar a porta ao sair ou ao entrar no cômodo.

— Eu não tenho a chave deste cômodo. – Disse Willy sem mentir.

— Você realmente daria uma parte da sua fábrica para um pirralho? – Ironizou Slugworth.

—O quarto foi a primeira coisa que dei a ele. – Willy disse com seriedade. – Depois, ele foi conquistando cada parte desta fábrica até ela se tornar tão minha quanto dele.

O vilão observou a inscrição na porta do quarto herdeiro. Ele destruiria tudo o que estava lá dentro, ou melhor, pensou em seguida, faria Willy Wonka destruir tudo aquilo sob os olhos de Charlie Bucket. Queria ver aquele elo de confiança se quebrando de forma a ser impossível os dois restaurarem. Queria que Wonka tomasse ao café da manhã os julgamento do Bucket e que fosse dormir sob os berros de uma consciência pesada.

— Resolveremos isto depois. – Disse Arthur. – Vamos ao que me interessa.

 

W.W.

 

Prodnose correu gemendo e cafungando durante todo o longo espaço que havia entre o corredor em que encontraram Willy Wonka e a enfermaria. Primeiro, teve que correr preocupadíssimo até a sala de mapas, pois já não lembrava mais onde era a enfermaria, com seu grande nariz entupido sangrando bastante e quase sujando o chão da fábrica, o que só não aconteceu por medo da reação que Slugworth teria. Podia até mesmo sentir o gosto do sangue dominar sua boca e garganta, o estomago embrulhar pelo gosto repetitivo e muita raiva de Fickelgruber, que lhe socara tão fortemente assim que Arthur saiu do alcance de seus olhos que sem dúvidas havia quebrado seu nariz.

O capanga entrou na enfermaria arfando como se houvesse fumado seis maços de cigarro em menos de uma hora enquanto estava com pneumonia. A ala estava bem limpa, mas com muitos objetos espalhados pelo ambiente branco, então ele prontamente achou um curativo para seu machucado.

Fickelgruber, por sua vez, já havia decorado o caminho, mas não ousou se apressar para a ala da enfermaria. Ter um momento longe de Prodnose e Slugworth era benéfico para sua saúde mental, afinal, aqueles dois nunca ficavam quietos.

Caminhando pelos corredores vazios e silenciosos da fábrica, Fickelgruber começou a pensar que seria muito bom voltar a ser um chocolateiro, principalmente se fosse em uma fábrica grande e bonita como aquela. Era possível entender o motivo de Willy amar ser o que era e fazer o que fazia, tudo parecia mais fácil e belo quando visto de dentro daquele mundinho particular e exclusivo.

Seus pensamentos mudaram, entretanto, quando chegou a enfermaria e encontrou Prodnose rodeado de alguns curativos já sujos, sentado sobre a maca. O capanga resmungava como queria e iria devolver todos os ataques ao colega, sem perceber que algo, ou melhor, alguém, faltava naquela saleta.

— Já cuidou do seu sangramento? - Fickelgruber questionou ao outro. 

Com um grito assustado, Prodnose saltou da maca e se encolheu. 

— Fique longe de mim! - Ele berrou. 

O primeiro pensamento que Fickelgruber teve, fora de socar o nariz de Prodnose mais uma vez; o segundo, que o capanga era barulhento demais por motivos de menos e que deveria aprender que homens se metem em brigas para gastarem suas energias e depois voltam a ser os melhores amigos. Seu terceiro pensamento fora de que Prodnose era tão esperto quanto uma pomba, pois não deu falta de Charlie Bucket. 

— Você sabe que, enquanto está aqui se fantasiando de cachorrinho assustado, estamos com um problema em mãos, não sabe? 

O capanga rechonchudo gemeu asfixiado e confuso. Ainda apertava um lenço de papel contra o nariz enquanto tentava engolir seu medo e entender o que Fickelgruber estava pensando. Aquele magrelo era muito complexo para a mente de ervilha do rechonchudo. Mudava de humor a cada piscar de olhos, se tornava um lutador violento que quebrava ossos com apenas um golpe, tornava-se nêmeses de seu melhor amigo e era ágil, esperto, ordeiro. 

— Do que está falando? - Prodnose questionou com uma gagueira quase disfarçada. 

— Estou falando daquela maca vazia. - Apontou o mais alto. 

Prodnose olhou do dedo magrelo para a maca manchada de sangue. Depois, circundou a sala buscando alguma dica, voltou a olhar o capanga companheiro, notou o olhar de derrota que ele lançava e de impaciência que se escondia sob a derrota, então, como mágica, ele teve um insight. 

— Droga! 

 

W.W.

 

Charlie acordou menos de cinco minutos depois de ter desmaiado. Seu corpo estava com a velha dor de um resfriado que ainda estava para começar e com aquela dor já acostumada de quem tomou uma surra bem dada. Dóris estava ao seu lado, olhando-o preocupadamente e medindo sua temperatura com a mãozinha. 

— Quanto tempo eu desmaiei? - O herdeiro questionou. 

— Não muito tempo, meu querido. - Respondeu o curandeiro que se aproximava. - Tome um chá. Ele vai te fazer melhorar da febre. 

— Desculpe preocupá-los. - Charlie disse enquanto sentava.

Dóris estava com o rostinho completamente preocupado. Ela sabia que Willy estava em apuros e por não poder ajudá-lo, jurou à si mesma que cuidaria do herdeiro independente do que viesse a ocorrer. Vê-lo desmaiar subitamente, o corpo dele ardendo em uma febre que não o fez ficar com as bochechas vermelhas, a fez sentir que não poderia cumprir tal promessa. 

— Se você não se sente bem, herdeiro, deveria nos avisar. Se ficar acalado achando que é a melhor forma para não nos preocupar ou incomodar, não poderemos fazer nada por você e nem mesmo nos sentiremos bem com isto. 

Os lábios de Charlie se abriram, um pedido de desculpas estava escalando sua língua, dominando sua boca e pronto para conquistar os ouvidos próximos; mas não fora possível ele soltar esta frase, pois o curandeiro dos Umpa Lumpas havia parado apenas um segundo para respirar antes de continuar:

— Já estamos nos corroendo a cada segundo que passamos aqui embaixo e não podemos ajudar Willy. Estamos morrendo lentamente nessa tortura, pois o amamos mais do que nossas vidas, mas recebemos ordens explícitas para que ficássemos aqui embaixo, escondidos e a salvos. - O pequenino fechou os olhos. Pela bochecha marcada com o tempo extenso de vida de um Umpa Lumpa, ele sentiu o calor da lágrima escorrer lentamente, levando tantos sentimentos incoerentes que somente a poesia da vida poderia contar e apenas os ouvidos coração poderiam entender o significado. 

Charlie entendeu absolutamente tudo, pois este era o seu dom. E, assim como ele havia compreendido tudo o que os Umpa Lumpas sentiam, sua mente entendeu a melhor forma de resolver aquela situação.

— Diga-me, quem sabe mais sobre o passado da fábrica? 

Dóris ergueu sua mãozinha. Era a que mais sabia sobre a fábrica se retirassem Willy da história. Era a Umpa Lumpa que mais interagiu com a Wonka's Candy Company. 

 - Me conte tudo o que você sabe sobre Arthur e Willy. - Charlie pediu. 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Charlie sumiu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.