Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 3
Capítulo 2




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Logo que inaugurou a nova fábrica, a maior e mais fantástica fábrica de chocolates de todo o mundo, Willy foi acordado com uma carta escrita à mão que um menino entregou ainda pela madrugada, tocando insistentemente a campainha até que a porta fosse aberta.

A carta vinha com letra rebuscada, papel pólen e envelope ornamentado. As iniciais "A.S." lhe fizeram pensar, subitamente, no que fora, há pouco tempo, o maior chocolateiro do mundo – mesmo que ele quase não vendesse chocolates e sim fosse focado em barras de cerais e goma de mascar.

A carta felicitava a nova construção e convidava Willy Wonka a ser seu sócio. Os dois, juntos, tomariam as rédeas do universo dos doces e nunca seriam parados.

Willy respondeu a carta em papel simples, letra corrida – mas ainda assim bonita – e palavras um tanto duras. Ele agradeceu as felicitações, recusou o convite e lembrou Slugwotrh de que, naquele momento, a Wonka’s Candy Company era a marca dominante no universo dos doces e isto fazia de Slugworth uma marca passada.

Ele ainda adicionou uma observação final:

P.S. O senhor deveria me escutar de uma vez por todas e largar o cigarro. Sua carta veio exalando o cheiro do fumo e , convenhamos, isto vai te fazer usar dentaduras e perder o paladar.

 

Mantenha-se forte.

 

Já não sentia mais o corpo tão dolorido, contudo, estava pesado. Apesar de acordado, Charlie,  a principio, não conseguiu abrir os olhos. Precisou de alguns minutos longos para despertar por completo e quando o fez, quando a mente pareceu completamente desperta, abriu os olhos rápido e firmemente. Como previu, enquanto ainda estava de olhos fechados, estava sob supervisão, mas ao contrário do que pensou, seu observador não fugira de seus olhos claros.

Um homem baixinho, gorducho e que respirava pela boca, como se fosse impossível respirar pelo nariz, cafungou quando percebeu que o herdeiro estava desperto. “Eh” o observador gemeu.

— Tá vivinho. – Comentou o cara.

E depois, em tom de resmungo disse algo que Charlie Bucket não conseguiu distinguir, pois um zumbido esquisito, forte e agudo tomou conta de seu ouvido esquerdo.

— Se estiver com fome, moleque, tem água e comida ali no canto. – Rosnou o baixinho.

Charlie olhou para o lado que o carcereiro estava olhando. Tinha um balde de madeira com um pouco de musgo e muita ferrugem nas partes de ferro. Ao lado do balde, um prato de alumínio tinha alguma coisa cinza que, talvez, fora um purê de batatas. Aquilo que o homem tinha chamado de comida estava ali há um bom tempo e agora tinha uma aparência ressecada, dura e murcha. Não havia como comer aquilo e não morrer em seguida.

Charlie fechou os olhos e suspirou silenciosamente. Havia se metido em alguma encrenca gritante e Willy não gostaria, nada, daquilo.

A falta de atitude de Charlie enfureceu o baixinho de pele enrugada que rosnava ao falar.

— Não vai comer, moleque?

Charlie negou com um leve sacudir de cabeça.

— Ah, não está do seu agrado, não é – O velhote cafungou. Seu nariz entupido estralou estranhamente e explicou o motivo dele respirar pela boca e ter voz esquisita. Ele precisava, urgentemente, ir ao médico! – Não se preocupe pirralho, não serviremos nada que não seja à sua altura.

O riso mergulhado em escárnio fez o corpo de Charlie se arrepiar. Mesmo que não tivesse soltado um ruído, sabia que tinha feito alguma coisa muito irritante para o carcereiro, que abriu a cela e meio caminhou meio trotou até o prato e o balde. Ele gemia a cada passo e a cada cinco fungava seu nariz entupido.

O herdeiro não se mexeu muito, apenas acompanhou, com os olhos, o caminhar do homem, que pegou o prato do chão e olhou para o balde.

Os olhos do velhote brilharam com a ideia que lhe surgiu. O mimadinho não queria comer, mas ninguém recusaria um pouco de água, não é mesmo? Principalmente após dois dias sem bebê-la.

— Comer tu não quer. – Disse o velhote. – Mas água você aceitaria?

Charlie pensou um pouco. O peso de seus pulsos anunciava que estava preso por correntes, um método um tanto arcaico de sequestrar alguém, mas ainda muito válido. A cela era toda em madeira e cheirava a madeira úmida envelhecida e podre. Havia um pano dobrado sob o herdeiro, talvez fosse o colchão que lhe deram.

Timidamente, ainda muito relutante, o herdeiro confirmou com a cabeça que aceitava a água. Sua garganta estava doendo e seu corpo gritava por algum líquido.

O velho sorriu com os dentes amarelados, deixou o prato no chão e pegou o balde.

Charlie soube, só pelo sorriso, que algo muito ruim iria acontecer. Segundo o próprio Willy Wonka, nenhum vilão sorri por alegria, mas sim por crueldade. Ao herdeiro só restou esperar que seu medo se concretizasse.

O carcereiro pegou o balde com um gemido alto, trotou alguns passos cambaleantes derramando água por cada tropeção. Quando o herdeiro estava perto, sua mão direita escorregou para o fundo do balde e o ergueu até que a boca estivesse virada para baixo. Sob a boca do objeto, a cabeça de Charlie recebeu todos os litros de água que ainda sobrara no recipiente velho e enferrujado.

Charlie suspirou pesadamente. Rezava para que tudo se resolvesse logo.

 

W.W.

 

Willy Wonka sempre fora aventureiro e um pouco louco. Sádico, daqueles que ri da desgraça alheia, mas bondoso, daqueles que não conseguem não ajudar quem lhe pede ou precisa, de verdade, de ajuda. Mas Willy Wonka também era um adulto, daqueles que cuidam de grandes problemas e só chora quando percebe que tudo está resolvido e agora poderá mostrar-se fraco.

Então, quando Dóris voltou à ala de criação e mostrou-lhe a carta escrita a mão, não chorou desesperado ao reconhecer, de imediato, quem havia lhe escrito.

A letra de Arthur Slugworth era clara e cheia de vícios, como se ele tivesse treinado sua caligrafia por anos. Outro vício que Willy reconhecia, era a mania de escrever a mão. Nada, nunca, era digitado ou datilografado, nem mesmo enviado por fax, e-mail, ou áudio. Slugworth sempre escrevia manualmente.

A carta tinha o pedido para que Charlie Bucket passasse nos correios ainda pela manhã, pois precisava pegar um documento que ele mesmo teria que assinar; após isto, teria que levar o documento até a faculdade ou não poderia concluir a formação do curso superior naquele dia.

Por si só, a carta era uma grande falácia, mas Charlie estava maluco com a possibilidade de se formar e não estava pensando direito. A única exceção era quando estavam na ala de criação. Ai sim o garoto mostrava os motivos por ter herdado a fábrica e feito ela crescer um pouco mais no mercado, mesmo que isto parecesse impossível.

Era Charlie, também, que cuidava da imagem da fábrica. Como Willy não gostava de aparecer em público, – e nem era bom nisto – Charlie assumiu a responsabilidade de dar notícias e anúncios, assim como fazer algumas reuniões com a imprensa e responder perguntas que eles tinham sem revelar nenhum segredo.

O chocolateiro terminou de ler a carta e suspirou. Arthur sempre quis ter acesso a fábrica e conseguira uma vez, mas não pessoalmente e sim um de seus capangas: Fickelgruber.

Fickelgruber também tinha sido dono de uma fábrica de doces. Pequena, singela e herdada dos pais. Depois da fábrica invadida, o que faria com que Willy Wonka fechasse os portões para sempre, Willy soube que o homem que tinha lhe roubado algumas receitas mais ousadas tinha vendido sua fábrica à Arthur e então passado a trabalhar como seu funcionário mais leal.

Agora, entretanto, Arthur tinha um dos donos da fábrica Wonka e sabia bem como Willy seria atingido por não ter seu herdeiro por perto. Se Willy conhecia os vícios de Arthur, então Slugworth também conhecia os vícios de Wonka.

Se havia algo que Arthur Slugworth sabia, era como estudar seus concorrentes e rivais. E desde que Willy havia negado seu segundo pedido de parceria, a guerra entre estes dois estava declarada e iniciada. Mesmo que apenas Arthur atacasse e mesmo que seus ataques demorassem anos para acontecerem.

Wonka olhou para sua Umpa Lumpa favorita.

— O que eu vou fazer – Ele ronronou.

A mulher sacudiu os braços em um dizer:

“Mantenha-se forte. Estou contigo e não vão fazer nada com Charlie até que mostrem o que realmente querem com ele”.


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