Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 2
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751114/chapter/2

Quando Willy Wonka começou a fabricar seus doces, o fazia em uma lojinha de esquina que tinha cores cinzentas, mas foi ganhando cor de acordo com a experiência de Willy e a quantidade de poder que ele ia adquirindo sobre a lojinha.

O dono, que havia contratado Willy, aos poucos foi cedendo seu lugar de dono ao aprendiz e por fim vendeu a lojinha ao menino maluco e genial. Isto fora o primeiro passo para ele crescer, mas já era observado, atentamente, antes de ser dono do estabelecimento.

 

Armadilha.

 

Willy Wonka, comumente, não suava, mas o tanto que já havia corrido lhe fez suar, arfar, cansar. Não era o homem mais atlético do mundo, nem mesmo tinha sapatos para academia e seu macacão, que mais lembrava um collant roxo, estava guardado em algum canto obscuro do guarda-roupa sem caber, quiçá, em suas coxas. Entretanto, o chocolateiro estava, agora, caminhando cansado, amaldiçoando o quão grande a fábrica era e, principalmente, o maldito herdeiro que havia sumido.

O chocolateiro rosnou e respirou profundamente. Tudo bem, então, ele iria começar os novos projetos sem o mais novo. Que Charlie voltasse quando bem desejasse, pois não iria ficar brincando de pega-pega ou esconde-esconde! Não tinha mais idade para isto.

Tais pensamentos sumiram da cabeça do chocolateiro no momento em que mergulhou na ala de criações. Estava sem o herdeiro e criar parecia impossível desde que Charlie se firmou como sucessor. Mas, onde estava Charlie? O chocolateiro parou sob o batente da porta, pensativo.

Willy repassou o dia anterior e o atual duas vezes em sua mente, ligou fatos estranhos com atitudes costumeiras de Charlie, apoiou o queixo sobre a mão de forma pensativa. Charlie não brincava de se esconder, não saía sem avisar e... Ele havia retornado do correio, onde tinha ido mais cedo?

Wonka se esforçou um pouco mais.

Pela manhã tinham recebido um informativo de que algo esperava por Charlie no posto do correio, junto com um pedido de que o herdeiro passasse na secretaria da faculdade. Isto, por si só era bem estranho, afinal, a parceria com o correio local retirava uma pequena fortuna da fábrica para que todas as encomendas e correspondências fossem levadas até lá.

E que faculdade aproveitava que o correio iria enviar uma mensagem para adicionar outra?

Anotando mentalmente a estranheza, o chocolateiro seguiu pensando no dia anterior. Foi então que seu corpo esfriou e o medo tornou-se um monstro irreal: Charlie Bucket não havia retornado há vinte e quatro horas.

— Dóris! - Berrou o chocolateiro que, em seguida, caiu apagado pelo pânico.

W.W.

Dor. Era claramente uma dor aguda, latejante e nauseante que estava no estômago; nos olhos (que não queriam abrir), atrás da cabeça, mais para a nuca do que o cocuruto¹; o joelho esquerdo doía insistentemente e talvez o tornozelo tenha torcido, podia jurar que estava torcido; ah, claro, o pulso direito doeu quando tentou mexer qualquer parte do corpo que estava entre o ombro e os dedos da mão.

Quando Charlie finalmente conseguiu abrir os olhos, tudo estava escuro. O cheiro de mofo clareava algumas informações à mente, uma goteira chata era o maestro de sua dor na cabeça enquanto o ferroso cheiro de sangue ajudava o estômago a ficar embrulhadinho. O cheiro de fumaça, como se alguém estivesse queimando algo por perto, também agravava a situação.

O herdeiro percebeu bem rápido que não estava na fábrica, mas não fazia ideia de onde estava e muito menos do motivo por estar ali. Ele até podia imaginar, mas estava mais focado em aguentar aquela explosão de tortura e descobrir como poderia avisar para Willy que estava vivo, mas não estava bem. Foi no meio desta mistura de sensações e necessidades, que o corpo não resistiu e apagou sem conseguir captar nada sobre o que lhe rodeava.

Se ele tivesse conseguido aguentar mais alguns minutos, então talvez pudesse ter a sorte de conhecer o seu principal carcereiro.

W.W.

Willy terminou de beber todo o líquido da garrafa plástica que Dóris tinha lhe dado. Rodou todas as partes comuns da fábrica e duvidava muito que Charlie tivesse ido para alguma zona secreta, aquelas que não estavam nos mapas e que o tutor se lembrava de nunca ter contado ou deixado acesso fácil para Charlie. Ainda assim, mesmo contra todas as possibilidades dele ter encontrado uma ala secreta, a equipe de socorro Umpa Lumpa estava acessando-as para tentar achar o herdeiro.

A pequena Umpa Lumpa mantinha-se visivelmente controlada, não tinha medo, não tinha curiosidade, nem preocupação, contudo, Willy conhecia aquela pequenina bem o bastante para saber que ela estava pronta para ser seu apoio e para achar uma solução ao problema que tinham a frente. Também não duvidava que ela já estivesse calculando as melhores opções deles.

— Não temos nenhuma pista sobre o paradeiro dele? - Wonka questionou.

Dóris negou.

— Ah, céus. - Ronronou o chocolateiro.

A mulherzinha estralou os dedos como se tivesse acabado de lembrar algo importante e isto fez o coração de Willy disparar desesperado por uma boa notícia. Dóris, então, mexeu os braços e disse que voltava logo. Ela saiu depois de deixar claro, ao chocolateiro, que ele não deveria sair daquela sala.

Pelo que Dóris lembrava, a carta entregue pelos correios estava, ainda, no balcão de entrada. Charlie tinha a mania de deixar as papeladas por ali e alegava sempre que era o melhor lugar para se procurar uma correspondência, principalmente quando ela lhe entrava pela porta da frente.

Quase trotando, afinal a pequenina sabia que correr com seus saltos finos era um pedido para destruir suas costas, a Umpa Lumpa chegou até a ala da recepção. Caçou entre os papeis o recado que Charlie recebera e, quando o achou, soube que empalideceu, pois o mundo ficou um pouco mais escuro e frio.

Estavam no meio de um plano maligno e só tinham caído por terem um líder ingênuo e outro desconfiado. A mistura perfeita para acreditar demais na inocência das pessoas e não contar seus maiores medos aos verdadeiros amigos.

Dóris respirou fundo, arrancou os sapatos e correu até seu salvador. Agora que sabia da armadilha, também sabia que não tinha mais tempo a perder. Precisavam se proteger e criar planos de ação antes que seu inimigo desse o próximo passo.

Se tivessem sorte, tudo acabaria bem.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] O topo da cabeça, onde geralmente se faz cafuné e onde fica sem cabelo quando a pessoa está calva.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Charlie sumiu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.