Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 15
Capitulo 14




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— Sejam bem vindos à competição que dirá quem será o novo dono da minha criação.

Enquanto Willy Wonka falava, a magia acontecia. Ele sabia como gesticular, sabia como encantar cada um para que ficassem calados ao ponto de sua voz ecoar por cada um deles.

— Os dois competidores são Arthur Slugworth e Charlie Bucket. Cada um prepara uma receita a sua escolha e contam, em suas bancadas, os utensílios e ingredientes necessários para fazerem-na. Poderão utilizar qualquer objeto que tenham consigo e em suas bancadas, mas não poderão pedir nada emprestado e nem mesmo trocar nada.

Charlie mordeu o lábio inferior.

Não era o mais ordeiro ao cozinhar e não costumava fazer coisas bonitas, mas sempre fazia algo gostoso. Enquanto Willy explicava tudo o que ele já sabia, repassava a receita em sua mente. Era simples, não demorava a ser feita, mas só daria certo se fizesse tudo no tempo certo.

— Cinco pessoas serão escolhidas, uma por Arthur, uma por Prodnose e uma por Fickelgruber, que representam os desafiantes.

O herdeiro ergueu a cabeça. A cidade gritava. Ele piscou os olhos e tentou entender o que estava acontecendo.

“É injusto!”

“Marmelada”

“Eles vão vencer assim!”

Willy esperou um pouco, torcendo para que a cidade se calasse e deixasse que ele continuasse, mas quando não ocorreu, ele bradou:

— Caras pessoas do mundo!

Charlie viu a magia voltar. Todos se calaram como se não houvessem escutado nada antes e como se não estivessem bravos com a vantagem dos adversários.

— Eu, Willy Wonka, escolherei um dos jurados e Charlie Bucket o outro. Estas cinco pessoas decidirão quem merece ser o detentor da fábrica ao meu lado.

Os competidores teriam uma hora e vinte minutos para realizar a sobremesa. Dois jornalistas seriam escolhidos para ficarem dentro, acompanhando as receitas e garantindo que nenhum dos dois competidores iriam roubar, mas não poderiam ficar muito perto, pois as receitas não poderiam ser copiadas.

Willy puxou o relógio de bolso.

— Assim que a igreja matriz der sua última badalada das nove horas, começaremos a competição.

Atrás dos dois competidores estava o cronometro. Prodnose deixou seu posto e foi até a grande máquina para inicia-la assim que Wonka lhe desse a permissão.

Willy parecia esconder os olhos sob a cartola, quando girou no eixo ao primeiro badalar. Ele queria correr com Charlie para dentro da fábrica e se trancar lá para sempre, nunca mais sair daquela construção que ele fizera há tanto tempo. Ele queria fugir, parecer um covarde, ser um covarde.

A última badalada ecoou. A cabeça do criador da fábrica Wonka desceu tão sutilmente que quase ninguém percebeu. Mas Prodnose viu. Prodnose viu toda a angústia que aquele chocolateiro carregava em seu peito e apertou o botão que deu a largada. O relógio soou como uma sineta que anuncia a hora de ir para o recreio e então começou a correr.

 

Buzina

 

Willy Wonka lembrava-se do primeiro doce que havia comido, mesmo que nunca fosse revelar para ninguem. Lembrava-se do primeiro doce que fez, do primeiro doce que deu errado, do primeiro doce criado do zero. 

De costas para o público, ele podia sentir a tensão de cada um. Havia quem torcia por Charlie, quem torcia contra e quem não tinha um favorito. Os ouvidos de Willy captavam cada vestigio do que as pessoas falavam e isto lhe estava dando dor de cabeça.

Charlie o olhava. Estava parado, piscando os olhos enquanto o adversário já começava a fazer sua sobremesa. 

"Não vai fazer nada?" Willy questionou ao pupilo.

"Estou fazendo", o Bucket respondeu.

"Não é o que parece".

O indicador esquerdo do pupilo bateu contra o balcão. Aquele sinal era usado por Willy e por Charlie, quando estavam muito quietos e concentrados. Queria dizer: estou vencendo o inacreditável. 

A conversa silenciosa entre pupilo e tutor foi cortada:

— Se você não fizer nada, meu caro, perderá. 

Arthur já tinha derretido o chocolate e agora o temperava. O cheiro ergueu-se e vagou pela multidão e mudou o sussurro que se erguia de lá. Agora não escolhiam para quem torcer, mas questionavam se o herdeiro faria algo. Ele iria ficar quieto, deixando o tempo rolar?

Slugworth odiava quando suas presas deixavam de lutar e se rendiam. Ele, que havia comprado diversos concorrentes, fazia questão de destruir tudo o que o seu adversário havia adquirido quando este deixava de lutar. Afinal, se você não luta, de que vale suas conquistas?

Willy ergueu a sobrancelha direita e Charlie olhou para o grande relógio que estava atrás dele. O tempo havia corrido e sobrara apenas uma hora para que o herdeiro pudesse trabalhar.

Charlie ligou a torneira e lavou as mãos sob a água quente que correu. Secou-as em papeis descartáveis e jogou-os fora. Seus dedos trabalhavam rápidos e os olhos corriam pela bancada buscando qual ingrediente seria usado em seguida. Ele quebrava ovos, peneirava o açúcar, pesava a margarina. Agia no tempo preciso, como se houvesse nascido para cozinhar.

Aqueles que acompanhavam a competição, começaram a mudar suas falas. Era absurdamente belo a forma como aquele garoto mergulhava no que fazia. Ele cortava, separava e se parava quando percebia que estava para fazer algo antes do tempo.

Quando provava o que tinha feito, sorria e ao ver este sorriso, os expectadores sorriam junto. Se algo parecia sair errado, o herdeiro prendia a respiração, mexia os olhos por todo o balcão e então soltava o ar preso no mesmo momento em que seus dedos voltava a se mexer.

Slugworth perdera cinco minutos observando aquele menino e só percebeu isto quando alguém comentou ao seu lado: “veja mamãe, até o outro está entretido”. Era verdade o que tinha escutado, Charlie Bucket era viciante de ser visto e, por este motivo, Arthur não pode deixar de sorrir e se empenhar na batalha.

“O que será que Charlie está fazendo?” Alguns questionavam.

“Slugworth está usando chocolate, obviamente vai ser mais gostoso que o outro”.

Era impossível saber quem tinha a maior torcida e Willy não se sentia bem com isto. Confiava no herdeiro, nos dotes dele e na paixão por doces que agradam os outros, mas não poderia excluir que a ideia de Arthur Slugworth era boa. Só com os ingredientes escolhidos, o chocolateiro sabia o que seria feito pelo rival.

Slugworth voltou a dedicar-se ao doce que fazia. Não importava o que o herdeiro estava preparando, importava vencer aquela competição.

O relógio continuou correndo, as receitas ganhavam forma e cheiro, as pessoas começavam a ficar ansiosas para saber quem venceria aquela competição. O herdeiro mantinha-se mergulhado no que fazia, mostrando um lado que ninguém, além de Willy, tinha visto.

Quando o relógio anunciava que já se tinha passado meia hora de prova, os dois fornos foram abertos. Tanto Charlie quanto Arthur colocaram uma bandeja cheia de forminhas no aparato domestico. Ritmados, fecharam a porta, viraram o timer e seguiram com a outra parte do que preparavam.

A receita de Arthur era completamente marrom, denunciando o uso pesado de chocolate. Charlie, contudo, tinha colocado uma receita branquinha.

Enquanto um usava e abusava do chocolate, o outro quase não tinha tocado no carro chefe da fábrica.

Willy arrumou a cartola na cachola. Antes de ter a fábrica, quando trabalhava em uma lojinha de esquina, o chocolateiro quase não usava chocolates em suas receitas. Era muito fácil perder a mão, deixar algo enjoativo. Ele gostava muito mais de criar doces doidos, que aparentavam ser algo e quando entravam na boca das crianças, mostrava-se ser algo totalmente diferente.

Demorou anos para que o chocolateiro entendesse como se usava o chocolate. Foi preciso provar do doce, entender sua história, saber como se surpreender com o cacau.

“Nossa, está passando muito rápido!” Alguém comentou.

Willy ergueu os olhos. Faltavam vinte minutos para que prova acabasse.

O forno de Slugworth apitou e o rival retirou sua receita do forno. Ainda quente, desenformou algo que parecia uma rosquinha. O cheiro que saiu do doce, fez com que os expectadores próximos a ele suspirassem de prazer.

Dez minutos depois, quando a prova estava pronta para acabar, o timer de Charlie apitou e o garoto retirou o doce. O cheiro que escapou era bem suave e não causou a mesma reação que Arthur conseguira minutos antes.

Com paciência, o herdeiro desenformou cada um dos bolinhos que tinha feito. A massa era em um tom creme claro, não devia ter mais do que cinco centímetros de altura e circunferência. Os doces foram para uma embalagem incolor com o logo da fábrica estampado em dourado. Depois, uma embalagem de papel lilás acomodou o doce por baixo da primeira que havia colocado.

Pacientemente o herdeiro cobriu o doce com uma calda grossa na cor lilás. Depois de colocar a calda em todos os bolinhos, eles foram permeados com o logo da fábrica cortado em chocolate branco.

O relógio marcava 5 minutos para o fim.

O herdeiro mergulhou a mão no bolso.

A buzina que finalizava a competição soou. 


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