Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 13
Capítulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751114/chapter/13

— Diga-me, herdeiro, qual competição?

— Um doce. – Disse Charlie. – Faremos um doce.

Arthur Slugworth quase deixou seus pensamentos escaparem por sua boca, mas os prendeu entre os dentes.

— Um doce. – Repetiu ele. – Faremos um doce.

— Faremos uma competição nos portões da fábrica. – Disse Charlie. – Teremos o tempo de uma hora e meia para preparar uma receita sob os olhos da cidade e depois, cinco jurados provarão dos doces e dirão qual é o melhor.

O herdeiro estava com medo de deixar seu nervosismo a solta. Medo de que estivesse engasgando com as palavras, que Arthur não aceitasse o desafio.

Arthur pensou.

— Sem ajuda. Sem receita. – Disse ele.

Charlie engoliu em seco.

— Com receita.

— Sem. – Afirmou o vilão. – E só usaremos ingredientes que estão na fábrica.

— Certo. – O coração de Charlie iria explodir em qualquer segundo.

Havia dado certo. Pensou Charlie. Tinha conseguido colocar seu único plano em ação. 

 

W.W.

 

O quarto do herdeiro permanecia trancado e ninguém sabia onde estavam as chaves daquele cômodo, logo, Arthur deixou o herdeiro trancafiado na sala das vassouras. Com a competição marcada de supetão e com o anuncio para ser feito em minutos, dando tempo de a mídia ficar ciente, Arthur nem mesmo percebeu que quase todas as vassouras tinham cabos pequenos.

— Quero ter certeza de que você não está tramando algo, Bucket. - Arthur disse após fechar a porta da saleta. - Nos vemos amanhã, na hora da competição. 

— Como escolherei meus ingredientes? - O herdeiro gritou contra a porta. 

— Te daremos alguns minutos para escolher, meu caro rival. 

Era uma armadilha, percebeu o herdeiro, mas não tinha muito que fazer naquele momento além de esperar. Charlie, então, olhou em volta de seu cárcere, das vezes que tinha estado lá, não reparou em como a saleta fora feita. A parede oposta à porta tinha uma janelinha que mal deixava a luz passar. Não havia ventilação além daquele buraco na parede. Esperançoso, Charlie escolheu acreditar que Dóris conseguiria acha-lo. 

E a pequenina realmente era esforçada, palavra que era muito boa para descrever os Umpa Lumpas. Em três horas eles acharam a receita perfeita, com o toque especial perfeito. Precisaram de mais uma hora para transformar o ingrediente especial em algo controlável e seguro. 

Falando na língua natal, Dóris dividiu alguns Umpa Lumpas em duplas e assim eles começaram a caçada ao herdeiro. Aos que ficaram nas profundezas da fábrica, restou esperar ansiosos e, com uma pontada de esperança, criar a canção da vitória. 

Enquanto o grupo de Umpa Lumpas saía da proteção que o subsolo da fábrica ofertava, Dóris pensava em todos os problemas que poderiam aparecer pelo caminho. As criaturinhas conheciam todos os cantos secretos daquela fábrica, haviam, até mesmo, corredores que somente um Umpa Lumpa passava, entretanto, qualquer barulho poderia denuncia-los e isto seria o fim para todos. 

Dois Umpa Lumpas esticaram as mãos direitas pedindo para que o grupo parasse. Eles escalaram a parede usando cordas de apoio que conseguiram colocar enquanto os demais buscavam uma receita perfeita. Andaram sobre o duto de ar e o barulho feito era altíssimo lá dentro, mas relativamente a abafado do lado de fora. 

Pensando um pouco, Dóris fez com que todos os Umpa Lumpas tirassem os sapatos e ficassem de meia. O tecido deveria ajudar a ter uma pisada mais suave. 

A pequenina fechou os olhos e, assim como Willy, torceu para que o herdeiro estivesse bem. 

— Arght! 

Rosnou Willy. Ele achava que em qualquer segundo poderia arrancar os próprios cabelos e não só ficar na ameaça como fazia naquele momento. Parecia que Arthur tinha saído com Charlie há horas! 

Ao pensar em Charlie, Wonka chiou de novo. O que aquele menino idiota estava pensando? Entregar-se assim? Claro que Willy poderia dar um jeito naquela situação, mas não agora, que tinha certeza de que seu pupilo estava sob as garras de seu inimigo mor. 

Willy sentou-se no tapete perto da lareira. Era a primeira vez que se sentava no chão com tamanho conforto. Dali de baixo, ele conseguia pensar, mas sabia que não poderia tomar nenhuma atitude de verdade. Tudo estava nas mãos de Charlie. 

O herdeiro sempre sentava no chão para pensar, mas naquele momento ele apenas olhava para a porta. Os olhos enxergando a madeira e a mente processando um plano B, a mão esquerda girando a gargantilha que estava em seu bolso. Aquele era o toque de Willy. O chocolateiro sempre cutucava sua gargantilha dourada quando precisava pensar e, por mais que não estivesse ajudando o herdeiro a pensar, lhe trazia paz. 

Ambos estavam, pela primeira vez, em papéis invertidos. Era Charlie quem deveria salvar a fábrica e era Willy quem deveria ser resgatado. 

Um ruído se fez por trás da placa de madeira que prendiam as vassouras e rodos. Charlie olhou para a peça e jurou que ela se mexeu.

— Herdeiro! 

O garoto se assustou e olhou para a porta. Estaria vendo coisas? Pensou um segundo antes de passar a ter toda atenção em Fickelgruber, que se escorou no batente da porta. 

— Pensando? - O vilão disse.

— Em qual receita seria melhor para enfrentar vocês. – Mentiu Charlie.

O vilão correu os olhos pela saleta. Não tinha nada fora do lugar, nem mesmo no ponto onde Charlie olhava antes de notar o recém-chegado. 

— Sei. - Sussurrou Fickelgruber. - Te trouxe uma cama e uma coberta. 

O herdeiro observou o objeto enrolado sob o braço de Fickelgruber. A “cama” era tão fina quanto o colchão de um bebê e o infeliz deveria ter tirado isto da antiga cama do herdeiro. O lençol era fino, mas aquele quarto era abafado e não traria problemas à Charlie. 

— Venho amanhã às 7 para que você possa se arrumar antes da competição, que acontecerá as 8.

— E quando escolherei os ingredientes?

— Depende de quanto tempo você precisará para se arrumar. 

Charlie aceitou o colchão e o lençol. 

— Obrigado. - Disse, apenas.

 

W.W.

 

À noite, quando a temperatura da fábrica ficava muito diferente do que estava lá fora, era comum, quando se ficava em silêncio, escutar os gemidos da Wonka's Candy. Aproveitando-se disto, os Umpa Lumpas criaram uma rede de informações através de toques tão leves que nenhum leigo acreditaria ser uma comunicação robusta. Correndo pelos túneis de ventilação em duplas, um Umpa Lumpa sempre ficava para comunicar se encontraram ou não o herdeiro quando o outro descia em um cômodo na caça ao herdeiro.

Mas, ao fim de duas horas, haviam rondado todos os cômodos que possuíam tubos de ventilação e não encontraram o herdeiro. Dóris soube, então, que teriam que arriscar um pouco mais e seguir pelos corredores secundários, onde dificilmente alguém passaria, mas não era algo impossível de acontecer.

Ela sinalizou suas preocupações para o Umpa Lumpa que a acompanhava e então o pequenino batucou na parede da tubulação. Um ruído baixo chegou de volta alguns minutos depois e assim começou o plano B dos pequeninos.

O grupo que seguiu pelos corredores era ainda menor do que o que se aventurou pela tubulação. Não havia muito meio de comunicação e como os Umpa Lumpas podem ser um pouco desastrados, apenas Dóris e mais dois outros seguiram viagem. Eles seguiram pelos caminhos mais próximos dos quartos, pensando que provavelmente os vilões iam querer ficar perto de Charlie. Depois de horas, seguiram pelas saletas mais afastadas e improváveis.

O último canto que foram olhar, fora a sala das vassouras que estava ligada aos corredores exclusivos dos Umpa Lumpas. Era perto o bastante dos quartos e da biblioteca, onde estavam os livros de receitas de Willy.

Ela e seus companheiros caminharam pelos corredores secundários da fábrica até encontrar a entrada mais próxima do túnel Umpa Lumpiano. Ficaram expostos ao perigo de encontrar alguém ali. As luzes acesas e a pintura clara em um lugar sem móveis não dava nem mesmo uma rota alternativa de fuga. Mas ela seguiu ainda assim.

Chegaram à entrada do túnel sem problemas e os três pequeninos suspiraram aliviados. Caminharam por quase vinte minutos até se depararem com a parede de madeira que dava acesso à ala das vassouras.

 Dóris, já exausta de percorrer uma fábrica tão grande, empurrou uma plaquinha para a esquerda, tendo acesso á um buraco que permitiu ela enxergar todo o ambiente. Tinham feito aquele buraco quando dois Umpa Lumpas brincaram de serem esgrimistas e a parede quebrou com o cabo da vassoura. Agora ele se fazia mais útil do que qualquer outro cômodo da fábrica. Quando os olhinhos da pequenina mergulharam no buraco, o alívio correu em seu corpo. Tinham encontrado o herdeiro.

Os olhos claros de Charlie correram ao buraco e pareceram confusos por um segundo, como se quisesse acreditar que algo tinha se mexido na parede de vassouras, mas Dóris viu Fickelgruber se aproximando e devolveu o pino ao lugar. Colando o ouvido na parede e pedindo para os companheiros ficarem em silêncio, ela esperou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Charlie sumiu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.