Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Olá sociedade!
A criatividade voltou pra dizer: Vai lá menina, faz o Charlie brilhar!
E cá estamos nós!

Ps: Novamente estou publicando do celular e não sei como a diagramação ficará.



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"Caro Charlie Bucket,

Creio que não fomos apresentados anteriormente, assim como creio que o senhor William Wonka não deve ter lhe falado muito sobre mim, então irei me apresentar.

Me chamo Arthur Slugworth e..."

A carta chegou a fábrica Wonka em um dia chuvoso, quando Charlie estava na escola. Assim que um dos Umpa Lumpas entregou o maço de envelopes para Willy, ele prontamente enxergou os resquícios de Arthur em meio a tantos outros e abriu o envelope de seu inimigo sem notar à quem estava endereçado.

 A carta nunca chegou ao conhecimento de nenhum Bucket, pois fora beijada pelas línguas de fogo do incinerador minutos depois de ser entregue.

 

Conquista

 

Charlie engoliu suas palavras pela terceira vez. Sua falta de coragem nascia do olhar penetrante que Arthur Slugworth lhe dava, a sensação de ser devorado e odiado por um cara que era capaz de fazer qualquer coisa sem pensar nas taxas que a vida e a sociedade cobrariam era bem assustador. O fogo que mantinha o receio aceso e lhe alertava para ter cuidado com as palavras que usaria nos próximos minutos.

— O que você está fazendo aqui?!

Willy não só estava rendido e imobilizado no chão, com a mão nua e machucada, como conseguia gritar com o herdeiro que, antes em segurança, se colocara em risco. 

— É muito bom que o senhor tenha resolvido participar de nosso encontro, herdeiro. -Slugworth soltou.

— Desculpe o atraso. - Charlie disse. 

— Podemos desculpar, claro, desde que nos conte onde estava. 

O herdeiro sabia que a pergunta viria e já tinha pensado em várias respostas, mas quando verdadeiramente a escutou, somado com a situação em que estavam, a resposta que saiu por seus lábios fora totalmente diferente do que havia ensaiado.

— Por aí. 

— Esta fábrica não é mais de seu... - Slugworth pensou em qual termo usar - Amigo. - A palavra escapou como o sibilar de uma cobra peçonhenta.

— Mas ainda é minha.

De certo, Arthur Slugworth pensou, Charlie Bucket não tinha noção do que estava falando e não tinha medo de brincar com o perigo, contudo, seu ágil cérebro logo notou que o herdeiro não estaria colocando tanta coisa em risco se não tivesse uma base para se manter tão firme no que estava falando. 

— Por gentileza, caro Bucket, me explique seu ponto de vista, pois me parece equivocado. 

— Afinal, o senhor assinou um contrato, não é verdade? - Charlie concluiu. 

— Exatamente. - Confirmou Arthur. Sua fala assoviando ao final. 

— O contrato que Willy assinou é válido, pelo que eu entendo, da venda da Wonka's Candy Company que pertence a ele. 

Arthur confirmou com a cabeça. A mente captando todas as possibilidades, interligando pontas soltas e chegando no mesmo resultado que Charlie Bucket falaria em seguida. O que fizera Slugworth crescer fora, sem dúvidas alguma, sua mente ágil e analítica. Ele sabia os resultados pouco antes deles acontecerem e conseguia prever os perigos inevitáveis. 

— Obviamente o senhor deve saber que sou o herdeiro legal de Willy e, também, sócio. 

— Minoritário. - Sussurrou Arthur. 

— Em igual escala. - Pontuou o mais novo da sala. 

Arthur não havia, antes, imaginado que Willy Wonka um dia teria capacidade de entregar metade de sua criação para alguém. Era uma pessoa que teria tanto poder de discordar de Willy, quanto de criar algo que ele nunca aceitaria. Uma pessoa que poderia fazer as mesmas coisas sem barreiras. 

Quem era aquele garoto mirrado que transformou medo em confiança? Quem era ele, que passou na frente de todo mundo que queria participar do mundo de Willy Wonka e havia trespassado o muro que protegia o chocolateiro?

As mãos de Arthur abraçaram o topo da bengala que fora de Willy. 

— Obviamente você teria o contrato, não é?

— Uma das cópias. 

O maxilar de Arthur estava endurecido e Charlie percebeu isto. Se seria algo bom ou não, ele não tinha certeza. 

— Prodnose. - Chamou Arhtur. 

— Sim! Sim! Sim! Sim! - O nervosismo do narigudo o fez gaguejar a resposta entre gemidos de seu nariz entupido. Ele estava com medo e ansioso. 

— Vá buscar o contrato que William assinou, por gentileza. 

— Claro, vou sim. - Ele roncou ao respirar pela boca. - Já estou indo. 

Enquanto Prodnose corria porta a fora sussurrando o que faria, Arthur disse ao herdeiro. 

— Por gentileza, busque a cópia de seu contrato. 

— E ele irá comigo, não é mesmo? - Charlie comentou enquanto apontava para Fickelgruber. 

— Não creio que seja seguro você andando sozinho. - A voz mansa de Arthur não escondia os perigos. - Pode ser que algum mal súbito lhe ocorra, não é?

— Não tardarei a voltar. - Charlie anunciou. 

Charlie olhou para Willy, ele queria dizer que tudo ficaria bem, mas o chocolateiro carregava, pela primeira vez para Charlie, raiva. Ele estava irritado com o herdeiro ter voltado, em não ter cumprido a ordem do tutor. 

O herdeiro partiu sem dizer mais nada, mas confiante de que estava indo pelo caminho certo e de que os Umpa Lumpas o ajudariam. Tudo daria certo, tudo ficaria bem. Ele só precisava manter-se crente nisto. 

Fora do quarto de Willy, a fábrica estava fria. Charlie virou à esquerda, saindo por um corredor fino, permeado por pequenas janelas cuja a vista dava para a rua. Estavam no alto da fábrica e desceram uma escada em caracol construída em madeira firme ao final do corredor. A escada dava para um hall amplo onde cinco portas estavam fechadas e a que dava para frente da escadaria não passava de um portal. À esquerda, estavam as portas e o herdeiro caminhou até aquela que tinha a imagem de um livro esculpido na porta. 

— Espero que não se importe de caminhar. - Disse Charlie. 

— Tenho pernas longas, então me canso menos. 

Passando pela porta, o caminho era estreito e descia quase como um escorregador. O tubo de ventilação mantinha o lugar aerado e a iluminação tentava não causar claustrofobia. 

— Não podia fazer um corredor mais amplo? - Resmungou Fickelgruber. 

Seu corpo alto quase tocava o teto. 

— É só um caminho mais rápido. - Charlie comentou. - Willy sempre trabalhou até muito tarde então construiu um jeito rápido de chegar ao quarto. 

Claro que depois que o projeto ficou pronto e os Umpa Lumpas desenvolveram o elevador de vidro, aquele caminho quase não se foi usado pelo chocolateiro ou seu herdeiro, mas os Umpa Lumpas que cuidavam da faxina amavam aquele caminho pelas facilidades que ele trazia. 

Depois de quase dois minutos de caminhada, a dupla passou por uma porta e saíram em uma sala escura. Fickelgruber teve o impulso de se proteger, acreditando veementemente que estava em uma armadilha, mas logo percebeu que o herdeiro não tinha os trejeitos de quem armaria uma cilada e colocaria os amigos em risco. 

Segundos depois de tomar a decisão de não atacar para se defender, o negrume a frente escorregou para o lado e a luz surgiu. Estantes enormes estavam recheando a sala. Luzes deixavam todos os pontos acesos, um par de mesas estavam em um canto, ao lado, almofadas foram deixadas no chão, em frente a um sofá gigantesco.

— Uma passagem secreta? - Murmurou Fickelgruber. Ele não conseguira conter seus pensamentos.

— É mais como uma passagem para camareiras do século 20. - Disse Charlie. - Eu acho que não há problema em dizer que estão por todos os cantos, afinal você já esteve aqui dentro antes.

— Fora diferente, herdeiro. E não nunca vi estas passagens.

Virando à esquerda, o herdeiro se aproximou de uma estante, subiu alguns degraus de uma escada corrediça que havia naquele ponto. As estantes eram altas demais e as escadas, espalhadas e grudadas nas madeiras dos móveis, eram a única forma de acessar os picos.

— Desculpe. - Ele soltou. Havia parado de subir e observava os livros que tinham lá. - Willy nunca aprofundou na história da invasão.

— Naquela época se tinha muitos funcionários na fábrica e aumentava todos os meses.

Charlie retirou dois livros, um fino e um grosso.

— Segure para mim, por favor. – Pediu o herdeiro.

— Um dia eu entrei. - Fickelgruber recebeu mais três livros. - Me perguntaram quem eu era e respondi ser o novato. - Charlie bateu o nó do dedo do meio no fundo da estante. Era oco. - Depois, só precisei descobrir como fugir.

— E como fez? - O herdeiro gemeu no meio da pergunta. Estava mexendo no fundo falso e parecia emperrado.

— Ninguém lembra de um novato quieto quando se tem dezenas de novatos gritando por ajuda.

Charlie desceu da escada. Nas mãos estava uma pasta de couro rígida.

— Fácil assim. - Disse o herdeiro notando a falha do passado.

Willy fora um garoto sonhador e cresceu rápido demais. Seu sucesso viera rápido demais e a confiança que tinha nas pessoas era inenarravelmente maior do que a que possuía atualmente. 

—Simples assim. - Confirmou Fickelgruber.

 

W.W.

 

Quando Fickelgruber passou pela porta do quarto, seguindo o herdeiro na busca pelo contrato citado, não fechou a porta. Arthur observou o vazio do hall dos quartos por alguns instantes. Estava pensando, não no que deveria fazer, mas em quais seriam os planos do herdeiro. Mesmo que houvesse o contrato, ele não estava pensando que poderia sair e dar com as línguas nos dentes, estava?

— Um garoto formidável, eu confesso. – Sussurrou Arthur.

As costas ainda viradas ao criador da fábrica.

A lareira esquentava o quarto e estralava quando rompia alguma madeira mais fina. O cheiro da lenha começava a tomar conta do ambiente e aquela familiaridade impedia que Willy se levantasse. 

— Diga-me William – Arthur virou no próprio eixo e bateu a bengala no chão. – Onde seu herdeiro estava?

— Há muitas partes da fábrica que as câmeras não pegam ou ficam desligadas. – Willy mentiu. – Eu o deixei na enfermaria – Era quase verdade e por isto ergueu o rosto.

Sabia que não sabia mentir quando estava com medo e por isto precisava escolher os momentos certos para encarar seu algoz.

Slugworth ficou de cócoras. Sua mão estava gelada quando segurou o queixo de Wonka e analisou o rosto daquele cara que ele tanto perseguiu. Quais seriam as possibilidades de um garoto inocente e um pouco tolo conquistar aquele chocolateiro? Tantos outros passaram anos tentando ultrapassar os muros de Wonka, tentando destruí-lo, escalá-lo e um dia, depois de uma visita, um garotinho pobre que morava no ponto mais afastado da cidade surge, corta a fila e adquire passagem pelos muros.

As pupilas castanhas de Willy estavam comprimidas e brilhavam contra o fogo da lareira à direita. Não fora Charlie quem achou uma brecha no muro, mas o muro que se abrira para ele.

— Por que ele? – Sussurrou Arthur.

Seus olhos claros deixando toda a sua confusão a solta, clara. A inveja estava em cada canto daqueles olhos, um prenuncio de que Slugworth sentia algo tão mísero em todo o seu ser.

— Justamente porque ele não se importou em estar onde está. – Respondeu Willy.

Aquele garoto mirrado que era zombado pelas outras crianças, aquele menino quieto que admirava tudo e não destruía nada, aquela criança que chegou até o fim e negou a fábrica¹, deixou muito claro que abdicaria de tudo o que fosse se fosse para proteger quem amava. Ele quis viver na pobreza e perder sua infância trabalhando apenas para que pudesse viver com os pais; ele acompanhou Willy para que pudesse se reencontrar como pai orgulhoso que o abandonara no passado, mesmo que não tivesse chances de ter a fábrica, ele simplesmente fora Charlie Bucket. Sem ganância, sem padrões.

E sem nada de especial, conquistou todo aquele mundo.

— Isto não faz sentido. – Rosnou Slughworth, que soltou o rosto de Willy. – E eu não vou perder para um garoto!

Prodnose vinha correndo, gemia tão alto que os corredores conseguiam anunciar sua chegada metros antes. Ele arfava altíssimo quando passou pela porta aberta e entregou a pasta de couro com as documentações assinadas anteriormente. Tudo o que era de Willy estava nas mãos de Arthur e a assinatura estava comprovando isto.

Minutos depois, Charlie entrou no quarto com Fickelgruber ao seu lado. Ele dizia algo como “usamos sempre os mesmos caminhos, então sabemos onde temos que limpar” quando chegaram.

— Seu contrato. – Disse Charlie com um tom de voz muito diferente do que usava com Fickelgruber.

O capanga entregou uma pasta de couro para seu chefe e depois enfiou as mãos nos bolsos da calça. Ele queria continuar conversando com aquele garoto, saber mais sobre como eles mantinham a fábrica, mas Arthur não deixaria.  Ficar quieto em seu canto, pela primeira vez, foi irritante.

Arthur abriu a pasta sem cerimônias, puxou o contrato que estava carimbado como “cópia” e passou a lê-lo. Demorou dez minutos em um silêncio mortal, quebrado pelo sussurro de uma folha virando ou pela lareira que ainda crepitava. A bengala foi entregue a Prodnose e Arthur não mexeu seu corpo. Ficou parado dez minutos em pé, os olhos correndo rapidamente pelas letras, as vezes voltando para ter certeza do que tinha lido.

“Fica, assim, sendo dividida em duas partes iguais…” e “Até que o falecimento do criador seja confirmado, serão vistos como sócios no ofício...” foram os dois pontos que Arthur parou para ter certeza de que lera corretamente.

— Então, este é o contrato atual? – Questionou Arthur.

— O terceiro que fizemos. – Revelou Willy. – O primeiro, Charlie seria meu herdeiro após a morte e, para isto acontecer, viveria comigo sendo seu tutor.

— Mas eu recusei viver sem meus familiares. – Charlie explicou. – O que era exigido em contrato.

— Então eu refiz a proposta. – Willy lembrava-se daquele dia. Do abraço quente que recebera do pai e de como passou a entender os sentimentos de Charlie. – Charlie poderia viver comido e com sua família aqui dentro, eu o ensinaria o oficio e após a minha morte ele seria responsável pela fábrica.

Arthur olhou de Wonka para o contrato.

— E o terceiro?

— Foi recentemente. – Disse Charlie.

— Charlie tem uma mente incrível, mais fascinante que a minha. – Willy se levantou do chão. As pernas doeram em protesto, mas ele não fez careta e nem mesmo vacilou. – Um dia serei caduco e poderei ficar ranzinza, o medo de impedir que a fábrica cresça por eu ser orgulhoso se tornou real.

Arthur olhou o mais profundo que conseguiu nos olhos de Willy. Ele era outra pessoa quando o assunto era o herdeiro. Ele era forte e apaixonado, tinha uma crença e orgulho do menino que nunca vira o chocolateiro ter, nem mesmo quando ele falava do castelo que havia construído da noite para o dia em um deserto escaldante.

— Eu não posso impedir que Charlie e a Fábrica cresçam e não há ninguém neste mundo em que eu confie mais do que ele. Se um dia meu orgulho se tornar inveja, estamos protegidos.

— Então, herdeiro, temos um impasse. – Disse Arthur com raiva. – Pois segundo este contrato, a morte de Willy passa todo o poder a você, mesmo que ele venda.

— E obviamente o senhor não irá permitir isto, não é? – Charlie não se empertigou.

— Exatamente. – Slugworth franziu os olhos.

Charlie sentiu o coração esmurrando o peito e jurou que alguém poderia escutá-lo. Seu plano estava correndo corretamente até o momento, mas ainda tinha muita coisa para dar errado.

— Proponho uma competição. – Charlie disse.

E o quarteto restante o olhou como se um alienígena estivesse devorando sua cabeça.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Notas:
1. Baseado no filme de 2005
 



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