31 dias no Inferno escrita por Kaline Bogard


Capítulo 7
Você só pode estar brincando!


Notas iniciais do capítulo

Adorei fazer esse desafio!

Espero que gostem do final xD



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— Quando alguém alimenta um Dragão-de-Komonya ele…

Uma gritaria interrompeu a explicação da funcionária. Por um segundo terrível, pareceu que o mundo estava acabando.

— ISTO SER UMA ABSURDO! MY DIREITOS FORAM TODOS DESRESPEITADOS! WHERE IS NOSSAS MALAS? — a loira escandalosa do dia anterior desceu as escadas como um furacão, enrolada numa toalha, que mal dava conta de cobrir os seios fartos. O marido vinha logo atrás, calado e encurvado, parecendo fora do ar, com uma toalha na cintura.

A recepcionista estufou o peito.

— Absurdo é o caralho, minha senhora. Sua estadia acabou ontem, não pegaram o navio de volta porque não quiseram. Pra continuar na pensão tem que renovar o pacote ou rua. Ah, e é na rua que eu joguei as suas malas.

— Não admito…

— Pois vá “não admitir” lá fora. Dessa ilha eu sou o rei.  Se quiser ficar aqui, desembolsa a grana e paga as taxas.

A hóspede, ou melhor, ex-hóspede deu meia volta e saiu bufando, pisando duro. Naquele momento não tinha como se defender da injustiça, mas resmungou que Sunshine Island ia ter que pagar toda a humilhação em dobro, que esperasse seus advogados. Comeu arroz com curry por um mês, achou baratas na comida, danificou a pele na água quente, aguentou desaforos da única funcionaria… o verdadeiro inferno na Terra.

Claro, resmungou tudo isso em inglês. Nem Kiba nem Shino entenderam nada.

— Eles tinham que ir embora mesmo? — Kiba perguntou preocupado, momentaneamente esquecido da própria situação.

— Compraram pacote de trinta e um dias, como todo mundo. Se perder o barco da volta,tem que pagar. Ou acha que podem ficar aqui de graça? Tomo conta de albergue não, garoto. Já fica esperto pra quando for a sua vez.

— Pelo menos eles podem ficar com os nativos, não? E aprender… sunshineano? — voltou a perguntar incerto, alternando olhares entre a mulher, Shino e o dragão.

A resposta malcriada veio a ponta da língua e ali ficou. A funcionária franziu as sobrancelhas, confusa.

— Que nativos?

Kiba olhou para Shino. Foi o ninja de óculos quem respondeu:

— Aqueles que vivem na aldeia ao redor da pensão.

— Puf! Eles não são nativos! São tudo hóspede que não tem dinheiro pra pagar a pensão, nem o frete do barco de volta — ela enfiou o dedinho na orelha e coçou preguiçosa — Alguns caloteiros conseguem falar com a família e dão um jeito de arrumar dinheiro. Os outros ficam por aí, sobrevivendo.

O queixo de Kiba caiu e quase alcançou o chão. Hóspedes? Hóspedes?!! Talvez os hóspedes desaparecidos, quem sabe? Lançou um olhar incrédulo para Shino e notou que o companheiro pensava a mesma coisa. Ninguém desapareceu, na verdade. Eles estavam ali sem poder voltar para casa!

— O idioma…? — Shino lançou a pergunta no ar.

— Cara, ali tem gente de tudo quanto é canto do mundo… acaba misturando idioma, junta inglês, francês, japonês, espanhol… sai isso aí que você ouviu. Eles se entendem bem.

— Pensei… pensei… que esses dragões comessem gente — Kiba sussurrou, admirando o animal parado na porta.

— Mas comem — a funcionária cruzou os braços sobre o balcão, desistindo de vez das palavras cruzadas — Por isso te cobriram com esse treco nojento aí.

— É veneno? Tem antídoto? — Shino deu um passo a frente, apenas para ser agredido pelo mau cheiro que não amainou em nada. Continuava terrível e o fez recuar dois passos. Resolvido o problema dos (não) desaparecidos, restava o mais urgente. Ajudar seu namorado. Mas como faria isso se não conseguia nem chegar perto dele?

— Não, não é veneno.

— Não to entendendo porra nenhuma! — Kiba cerrou os punhos com força, irritado — Eles não matam pessoas? Não é pra isso o veneno? Pra matar e comer depois?

A funcionária abriu a boca em um “o”, sem emitir nenhum som por dois ou três segundos. Então coçou a nuca, um tanto displicente.

— Ah, não, garoto. Quantos anos você tem, pra não pegar a referência? Não é “comer” no sentido literal, sabe?

Sem poder evitar, Shino engasgou com ar. Kiba ficou cinza.

— Que… caralho…?

— Quando alguém alimenta um Dragão-de-Komonyah, é como se cortejasse ele. Você diz que está a fim, entendeu? Sabe… tipo um ritual de cortejo. Quando o dragão aceita o humano como parceiro, expele hormônio para marcar sua propriedade e afastar outros machos até o acasalamento. Pras pessoas comuns isso não tem cheiro de nada, mas para machos Alpha tem um fedor desgraçado.

Shino teve o único gesto de ajeitar os óculos no rosto, tentando digerir o que acabou de ouvir. Kiba arrepiou-se, furioso.

— Pode não parecer tão satisfeito, maldito?! Ela acabou de dizer que um dragão quer... hum… comigo! Esquece a parte do “macho Alpha” e me ajuda! — virou-se para a funcionária que, pela primeira vez, parecia se divertir com a cena que presenciava — Como eu tiro isso?! Como que eu tiro?!!

— Toma uns banhos que o cheiro vai saindo. Só não saia da pensão, principalmente hoje. Dragões-de-Komonyah acasalam a noite — nesse ponto Kiba corou feito um tomate — E a primeira noite depois da hormonização é a mais importante. Se sair ele fará de tudo pra te pegar. Mas a lagartixa ali sabe que não pode entrar no meu território.

Os três olharam para o animal, que parou de balançar a cauda e virou a cabeça para o lado, como se nem fosse o assunto principal.

Kiba entendeu porque ele estava andando atrás de si. O rosto empalideceu só de pensar no perigo que estava correndo, para em seguida corar o dobro por saber o que tal “perigo” representava.

E isso nem era o pior. Tomar uns banhos, sem sair da pensão? Não podia mergulhar no mar! Teria que usar o chuveiro…

— Quando que o barco volta? — Shino questionou.

— Com sorte, em doze dias, para pegar o pessoal que chegou antes de vocês. Ou em menos tempo, se tiver que trazer novos clientes. Mas… nem se anima. A porra do barco de Escuridown quebrou e o nosso teve que ir ajudar por lá. Da última vez que aconteceu algo assim ficamos mais de dois meses sem a embarcação, claro que cobramos o valor das despesas e dias extra... Provavelmente vocês vão aproveitar os trinta e um dias por aqui.

Shino suspirou. Teriam que dar um jeito em Kiba antes de mais nada, ajudá-lo a se limpar, mesmo que isso significasse tomar infinitos banhos-lava e acabar com queimaduras de quinto grau. Só não podia deixá-lo com o cheiro horrível de “propriedade Komonyah”. Depois teriam que sobreviver o resto dos dias naquele inferno. E tentar ajudar os pobres hóspedes sem família e sem recursos a voltar para casa.

— Eu avisei… não alimente os dragões — a recepcionista retomou o passatempo cultural e voltou ao seu lugar de sempre, resmungando — Mas não. Ele tinha que ser vida louca ele, agora eu que tenho que lidar com o calango ali na porta. Fazer o quê se tem gente que gosta de tomar na raba?

Furioso, Kiba preparou-se para revidar. Não ia engolir mais aquele desaforo! Mas Shino tapou o nariz com uma das mãos e o grudou pela gola da blusa, arrastando um esperneante namorado escada acima. Se era pra começar os banhos, quanto antes melhor.

O Dragão-de-Komonyah deixou o grande e pesado corpo cair, deitando-se na porta da pensão. Paciência, para ele, era uma virtude. Agora que tinha sido cortejado, não ia desistir assim tão fácil!!

— Palavra de três letras, indica término ou encerramento… — a mulher concentrou-se no desafio, conversando sozinha — Tem um “f” e um “m”. É… acho que é aqui que eu marco “fim”.


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Notas finais do capítulo

Deixe seu comentário e concorra a um pacote de férias inesquecivel em Sunshine Island!!

Mas sempre leia as letras pequenas :D não aceitamos reclamação!!

E, pelo amor dos santos: NÃO ALIMENTE OS DRAGÕES!!



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