31 dias no Inferno escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
O chuveiro é lava


Notas iniciais do capítulo

Huahsauhsauhsa

Boa leitura!



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O quarto não era ruim. Pelo contrário, era simples e agradável. Havia um pequeno guarda-roupa, duas camas de solteiro com lençóis limpos e uma janela que proporcionava algum refresco no ar, fato que aliviava do calor sufocante. Entre as camas, um criado-mudo sustentava um abajur.

— Que coisa bizarra, não acha? — Kiba perguntou enquanto colocava a mala dentro do guarda-roupa, sem sequer a desfazer.

— Sim, não esperava uma recepção assim.

— O que a gente vai fazer agora?

Shino olhou para o relógio na parede. Cinco e quarenta da tarde. Não dava tempo de tomar banho antes do jantar. Muito menos sair para investigar. Além disso, sair a noite em um lugar desconhecido não era a melhor da ideias, quando se tinha a opção de explorar a luz do dia. E, conhecendo bem seu companheiro, sabia que ele deveria estar faminto. Não podiam perder a refeição.

— Vamos jantar. Depois tomamos banho e descansamos.

— Tudo bem — Kiba soou aliviado — Amanhã de manhã a gente sai e investiga, não é?

— Hn.

Dito isso, também foi guardar a mala no guarda-roupa, imitando Kiba ao não tirar as peças de roupa. Queria poder tomar um banho ou se refrescar antes de jantar, mas, com um banheiro comunitário era pedir demais. E, sendo o ninja experiente que era, podia sobreviver a isso. Não seria a primeira vez em que se alimentariam antes do banho.

Desceram juntos. A recepção estava vazia, mas não foi difícil encontrar o refeitório, local onde meia dúzia, talvez oito hóspedes estavam espalhados pelas mesas. As aparências mais diversas indicavam turistas de várias partes do mundo.

Logo sentaram-se e aguardaram, assim como os outros pareciam fazer.

— Oh, my Gosh, Robert. You're an idiot! — uma mulher de longos cabelos loiros e exuberante decote entrou falando alto pelo refeitório, quebrando o silêncio e roubando toda a atenção. Atrás dela, um homem franzino e recurvado vinha todo lamentoso.

— I'm so, so sorry, sweetheart. I saw the ship, but I did not make it! — choramingou.

— Of course, dumb ass! And we'll be stuck in this hell forever! — e o tom de reclamação prosseguiu até que os dois se acomodaram em uma mesa.

— Reconheceu o idioma? — Kiba perguntou meio impressionado, observando o casal de forma indiscreta. Abanou-se com a mão, o calor ali era igualmente insuportável.

— Parece inglês, mas não tenho certeza — Shino respondeu.

— Não entendi porra nenhuma, mas a senhora parece zangada. Será por causa dos dragões? — a pergunta final veio num tom ansioso que fez Shino erguer a sobrancelha.

— Está interessado nos dragões?

— Claro! Acho que parte do mistério do desaparecimento de pessoas é culpa deles.

— Também pensei em algo assim — Shino concordou. Precisavam investigar melhor.

Nesse ponto uma pequena sineta tocou. A recepcionista entrou no refeitório empurrando um carrinho que trazia duas grandes panelas e as colocou na bancada dos fundos, junto a uns pratos limpos e talheres.  Shino e Kiba repararam naquilo pela primeira vez.

— Está servido. Serve yourself. Hora de la comida. ランチタイム — foi dizendo em vários idiomas.

Os poucos hóspedes se levantaram e foram se servir. Os dois ninjas viram a movimentação e logo entenderam o esquema da coisa. Kiba ergueu-se primeiro e foi imitado por Shino. Eles entraram na fila, e esperaram a vez deles, impressionados pela quantidade de idomas que detectaram no curto percurso! Eram mesmo pessoas de todas as partes do mundo!

Logo descobriram a refeição: uma das panelas estava cheia de arroz branco. Na outra encontraram curry. Kiba, esfomeado como sempre, serviu-se de porções generosas. Shino foi mais constrito.

— Itadakimasu — o garoto falou antes de atacar a comida. Sentia fome, o estomago parecia um buraco cheio de vários nada.

— Itadakimasu — Shino respondeu e deu inicio a própria refeição. Quase se arrependeu. O arroz estava duro e sem sabor. O curry, em contrapartida, apimentado demais! Era quase intragável.

Kiba devorou a refeição e repetiu, enquanto Shino se obrigou a comer a gororoba em lentas colheradas, sem se surpreender quando o parceiro ponderou repetir a terceira vez, afinal, era comida de graça; mas Kiba mudou de ideia. O refeitório estava quase vazio aquela altura, Shino já tinha terminado e apenas esperava. Também sentiu cansaço da viagem, agora que a barriga estava alimentada.

— Hora do banho? — indagou colocando o prato de lado.

— Pode ir na frente — Shino anuiu.

— Obrigado.

Voltaram para o quarto. Kiba pegou a toalha e o pequeno sabonete brinde que encontrou na gaveta do criado-mudo.

— Já volto! Mas se tiver fila eu demoro um pouco — o garoto anunciou de ótimo humor. Tudo mudava quando a fome se saciava.

Shino apenas observou. Quando ficou sozinho no quarto, pegou um mapa da mala e o abriu sobre a cama. Era antigo, provavelmente defasado. Porém era algo do qual se fazer ponto de partida. O mapa de Sunshine Island.

Foi assinalando informações pertinentes que descobriu naquele curto período de tempo. Kiba estava coberto de razão: os dragões eram uma pista promissora. Conhecia os Dragões-de-Komodo, sabia que eram predadores fortes e peçonhentos, cujo veneno causava paralisia e impedia as vitimas de escapar. Eram rápidos e podiam predar humanos como caça favorita. Mas não conhecia aquela espécie de Komonyah. Seriam muito piores e mortais?

Ainda fazia as anotações no mapa, quando Kiba entrou no quarto, mais cedo do que o esperado.

— Shino… — o garoto choramingou.

O outro ninja virou-se para ele e se surpreendeu em ver a face do companheiro em um tom assustador de vermelho.

— O que foi?

— O chuveiro é lava! — ele respondeu ao sentar-se na cama — A água esquenta demais! Eu não sabia… descobri quando abri…

Shino ficou sem saber o que dizer. Então Kiba tirou a camisa e mostrou os ombros avermelhados.

— Vai preparado, pra não se queimar como aconteceu comigo.

A frase lamentosa fez Shino se lembrar da pomada contra queimadura.  Fez todo o sentido do mundo.

— Espere — foi pegar o medicamente e o usou para aliviar a ardência do corpo de Kiba, que gemeu e reclamou o tempo todo, mesmo sendo o toque alheio gentil e leve. Gemidinhos particularmente doloridos escaparam quando Shino cuidou-lhe da pele sensível da face. O pobre garoto acreditou que receberia um jato de água refrescante e foi pego de surpresa pelo contrário.

— Obrigado.

— Hn — Shino respondeu e pegou suas coisas para também ir se lavar. Estando avisado, não seria cometeria o mesmo erro.

Kiba não recolocou a camisa. A pele sensível ainda ardia, mesmo com a aplicação do remédio. Ao invés disso foi acomodar-se em uma das camas. Deitou-se com cuidado. Estava calor demais para usar os lençóis ou fechar as janelas. Estava tão quente que nem pernilongos ou outros insetos voavam por ali, incapazes de sobreviver ao calor.

Quando Shino voltou do curto banho, encontrou o outro adormecido. Terminou de se ajeitar em silêncio e ocupou a cama livre. Kiba tinha sido modesto: dizer que o chuveiro era lava não representava a verdade. Aquilo parecia uma fonte minando direto de algum inferno. Era muito, muito quente.

Aplicou pomada na própria pele avermelhada. Mesmo com precauções sofreu um pouco com a água.

E deu o dia por encerrado. As viagens até ali, toda a espera, o começo da missão… o preço era alto. Precisavam descansar.

Adormeceu em segundos. Seus insetos sofreram com o clima, mas os colocou de vigia na janela. Precaução nunca seria demais. Embora a única coisa diferente que aconteceu não teve a ver com inimigos desconhecidos. De madrugada, quando o calor amainou e o ar ficou quase agradável, Shino sentiu o colchão de sua cama afundar com peso extra. Kiba escapou e veio acomodar-se com o namorado e companheiro de missões, saudoso dos braços que não hesitaram em abraçá-lo e acolhê-lo.


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Notas finais do capítulo

Dragões de Komodo: https://www.youtube.com/watch?v=HeeXbDnHUMc



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