HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 9
CAPÍTULO 9 - It's a Sin




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Com a testa encostada sobre a borracha dura da porta do carro, Louise abaixou alguns centímetros o vidro utilizando a manivela da porta, permitindo que a brisa gélida da noite de Hawkins adentrasse no veículo bagunçando ainda mais os seus cabelos. Seu olhar estava parado em um ponto fixo no horizonte, assistindo as árvores passarem rapidamente diante dos seus olhos. Não estava disposta a conversar sobre o que haviam presenciado mais cedo, aquele assunto era doloroso e tudo o que vinha evitando era sofrer pelas palavras alheias, principalmente por culpa daquele grupo de idiotas.

Entretanto, ignorar era uma tarefa difícil. As palavras de Nancy ecoavam dentro do seu cérebro como milhões de vozes, servindo para aumentar ainda mais o Cânion invisível que existia entre elas. Mesmo que negasse quando perguntado em voz alta, Lola mantinha a esperança de que Nancy um dia acordaria e voltariam a serem as melhores amigas, caso contrário não teria a defendido para Karen. Porém agora se sentia ainda mais tola do que antes. A Wheeler, definitivamente, havia mudado e Lola precisava aceitar de uma vez por todas que, um dia, foram melhores amigas e jamais voltariam a ser.

― Lola... ― A voz do Jonathan a tirou do seu transe. O adolescente havia ensaiado mentalmente o que dizer para animar a melhor amiga. Chegou a abrir a boca algumas vezes, mas sem proferir som algum, crendo que nenhuma frase encaixava para a ocasião. Sentia-se péssimo em vê-la abatida daquela maneira, por ela se sentir horrível por pessoas que não valiam a pena. ― Você... Você quer conversa?

― Posso dormir na sua casa hoje? ― Perguntou Lola sem hesitar, desviando do assunto naquele instante.

Por mais que tivesse a intenção de proteger a família, ou pelo menos tentar, caso os homens maus invadissem o seu lar durante a madruga ou qualquer outro horário do dia. Louise não sentia o desejo de ficar sozinha. Mesmo sabendo que poderia contar com Dustin para tudo, não queria explicar ao irmão mais novo os motivos que a deixaram abatida e trouxeram todas as suas inseguranças de volta. Surgiriam perguntas demais e, possivelmente, sua mãe acabaria intrometendo no assunto uma hora ou outra, pois Dustin não hesitaria em xingar aqueles que a magoaram em voz alta com todo ódio de seu coração infanto-juvenil.

A casa dos Byers sempre foi o seu porto seguro, o local onde todas as suas dores eram deixadas de lado e conseguia sorrir. Joyce, assim como Jonathan, sabe exatamente o que fazer para anima-la. Ela não precisa dar explicações, as coisas apenas fluem.

― Claro! ― Assentiu o adolescente dando um meio sorriso. Gentilmente, ele esticou a mão e segurou a da amiga, entrelaçando seus dedos aos dela.

― Obrigada ― Agradeceu Louise retribuindo o meio sorriso e o aperto na mão.

[...]

Ao chegar à casa dos Byers, Lola foi logo tomada pela sensação de arrependimento. Apesar de saber que podia contar com Jonathan e Joyce para tudo, ela sentiu um tanto quanto desconfortável por se auto convidar, principalmente com os problemas em relação ao desaparecimento do Will que a família tem passado. Fora egoísta da sua parte, mas agora não dava para recuar.

― Vou tomar um banho, está bem? ― Avisou Jonathan quando adentraram no quarto.

― Está bem ― Assentiu Lola sentando nos pés da cama do menino. ― A tia Joyce...

― Amanhã avisamos que dormiu aqui, ela não vai se importar ― O rapaz não permitiu que Lola terminasse a frase, confortando antes que tivesse mais pensamentos culposos em relação ao convite.

― Eu não quero que ela saiba sobre a Nancy ― Louise abraçou o próprio corpo, acariciando o braço em movimentos rápidos. ― Para ser honesta, prefiro que ninguém saiba. Um segredo nosso.

― Tudo bem ― Com um sorriso gentil, Jonathan aproximou da Lola e depositou um beijo tenro sobre sua testa ― Já volto.

A adolescente esperou Jonathan deixa-la na privacidade do quarto para que pudesse trocar de roupa. Quando se viu sozinha, Lola caminhou silenciosamente pelos aposentos até a cômoda onde Jonathan costumava guardar suas camisetas velhas, procurou em meio à bagunça aquela que julgava ser mais confortável. Por mais que tivesse com pijamas, a parte de cima estava cheia de folhas secas, terra e galhos de árvore, mimos da correria quase desnecessária pelo mato.

Aquela não era a primeira vez que dormiria na casa dos Byers e, com certeza, não seria a última. Desde que Jonathan virou seu melhor amigo, Louise participava de festas dos pijamas oferecidas por Joyce, onde ela e o rapaz montavam uma barraca na sala e passam horas conversando sobre futilidades, Will costumava se juntar a eles às vezes e Joyce levantava durante a madrugada para certificar de que todos estavam aquecidos e confortáveis. Entretanto, aquela seria a primeira vez que dividiria a cama com o melhor amigo para dormirem sozinhos e sem o consentimento de Joyce.

― Essa camiseta sempre ficou melhor em você do que em mim ― disse Jonathan em tom divertido ao entrar no quarto secando os cabelos com a toalha. A jovem virou para ele sorrindo e assentiu com a cabeça, infelizmente não havia humor em seu sorriso. ― Lola, o que houve?

― Sabe quando começou o apelido Aberração Henderson? ― Perguntou Louise com o olhar baixo e batucando os dedos na cômoda de madeira próxima da cama. Ele tinha conhecimento de quando havia começado, mas não o real motivo, Louise não gostava de relatar o assunto e ele não a forçava. Por isso Jonathan apenas negou com a cabeça. ― Baile da primavera, sétimo ano, na Middle-school. Sabe o motivo? ― Ela voltou o olhar para Jonathan, o qual balançou a cabeça em negação pela segunda vez. ― Tommy H me beijou atrás da arquibancada quando eu esperava Steve Harrington aparecer. Meu primeiro beijo era para ser com o Steve, mas Tommy decidiu surgir e estragar o momento. Eu o empurrei quando ele tentou colocar a língua dele na minha boca... ― Ao recordar daquele incidente, lágrimas começaram a escorrer pelos olhos da adolescente. Por sentir-se segura com Jonathan, ela permitiu que elas descessem por suas bochechas e morressem no maxilar ― Tommy acabou batendo a cabeça na parede, chegou a levar alguns pontos. O Steve chegou no momento que Tommy estava me beijando e Carol na hora que Tommy começou a chorar de dor por ter cortado a cabeça. Eu sai correndo, chorando, com nojo. Bem... No dia seguinte todos estavam me chamando de Aberração Henderson, foi o Steve que me deu o apelido, "felizmente" ele não teve coragem de me chamar de vadia Henderson como a Carol e as outras meninas fizeram.

― Lola, eu... ― Jonathan não sabia o que dizer, não esperava por aquela confissão. No fundo ele não fazia ideia de que aquele era o motivo da Lola ser detestada pela maioria do colégio. Um motivo infantil e estúpido.

― Está tudo bem, Jonathan ― Disse Lola limpando as lágrimas no punho ― Isso serviu para ver quem são meus amigos de verdade. Você foi o único que não mudou comigo e a Barb, mas a Barb é mais amiga da Nancy do que minha amiga. Sempre foi. Depois disso você já sabe, Nancy foi se afastando e Steve se aproximou dela, babaca. Agora ela é o que ela é, esse clichê ambulante, igualzinho aos novos amigos.

― Mas a Nancy, ela sabe sobre isso? ― Perguntou Jonathan estupefato.

― Sabe, mas não acreditou na minha versão. Sou apenas uma e eles são três, Tommy, Carol e Steve. Mas se contarmos com Tina, Vicki e Nicole, são seis contra uma ― Louise bufou e balançou a cabeça em negação ― Desde então minha vida virou o que é. Sabe o que é o pior? Tommy foi o único cara que beijei na vida.

― Oh, Lola! ― Jonathan deu uma pequena corrida até a menina e a abraçou com força, mantendo Louise segura em seus braços ― Aposto como você vai achar alguém legal, alguém que te mereça.

― É... ― Louise revirou os olhos levemente frustrada com que Jonathan havia dito. Não conseguia acreditar no quanto o melhor amigo era estúpido, em como não conseguia enxergar que ele era aquela pessoa, pelo menos na mente da menina. Entretanto, ao invés de abrir o coração como desejava, apenas assentiu e aceitou o abraço. ― Quem sabe...

― Assim que se fala ― Sorrindo gentilmente, Jonathan depositou um beijo sútil sobre a testa da menina e segurou suas mãos ao se afastar do abraço, puxando lentamente em direção a cama ― Agora, vamos dormir, te deixo ficar do lado direito...

― Sempre fico do lado direito, boboca. O Will no meio e você do lado esquerdo. ― Lola fingiu resistência, dificultando o trabalho do Jonathan ao leva-la para cama. ― Ah... Queria um chocolate quente antes de dormir...

― Amanhã faço quantos quiser ― Disse o menino rindo divertido enquanto a puxava.

Para o alívio do Jonathan, a melhor amiga estava mais animada após o desabafo. Felizmente aquilo era tudo o que ela precisava para voltar a ser a velha Louise Henderson de sempre, desabafar. E ele estava lá para ela, como sempre estava e como sempre estaria.

O casal de amigos estava quase chegando até a cama, quando Jonathan escorregou um dos pés sobre a parte de cima do pijama que Lola havia largado no chão junto com a arma na hora de se vestir. O rapaz foi o primeiro a cair, tombando de costas no colchão e fazendo com que Louise caísse sobre ele.

― Aí... ― Reclamou a menina aos risos com o tombo, mas sem sair de cima do melhor amigo.

― Shiu! ― Pediu o rapaz olhando para a porta, com o barulho ele temia que sua mãe acordasse. Assim como Louise, ele segurava os risos. ― Acho que a mamãe não acordou.

― Acho que não ― Concordou Lola aos sussurros.

― Lola...

― Sim, Jonathan...

O discurso pronto do Jonathan sobre ela precisar tomar mais cuidado com a arma escapou dos pensamentos quando seu olhar cruzou com o dela. Aquela era a primeira vez que reparava o quanto eram belos os olhos da Louise, não que nunca tivesse notado, ele sempre notava sua beleza. Mas nunca havia reparado no tom profundo de azul que possuíam.

Aquele olhar penetrante de Jonathan fez com que Louise sentisse congelada. Finalmente ele estava começando a vê-la da forma que desejava. Não como uma amiga, mas como alguém com quem pudesse ter um relacionamento. O ar parecia pesado, a atmosfera entre eles também. Algo dentro dela dizia que aquela era a hora, que aquele era o momento de fazer alguma coisa.

Tomada por coragem momentânea, Louise deu o passo a seguir. Inclinou o corpo para frente e tocou os lábios de Jonathan com os seus. Dando início a um beijo temeroso, mas que aos poucos foi correspondido por Jonathan Byers, tornando algo intenso.

Naquele momento nada mais importava além do que estava surgindo entre eles, do que finalmente estava acontecendo. Todos os problemas partiram da mente, existindo apenas ela e Jonathan. Naquela fração de tempo de duração do beijo ambos esqueceram-se do que escutaram na floresta, dos problemas do passado, de que Will estava desaparecido e que Lola poderia ser morta a qualquer instante pelos caras maus. Eles só queriam aproveitar o sabor dos lábios um do outro, da sensação quente dos lábios e o molhado da língua.

Infelizmente, como todo bom momento mágico, esse acabou com o findar do beijo. Fazendo com que ambos voltassem à realidade e o clima que havia surgido dissipasse.

― Jonathan... Eu... ― Louise sentiu as bochechas corarem e ficou em pé, se afastando o mais rápido possível do rapaz.

― Lola, está tudo bem... ― Jonathan começou, estando tão sem graça quanto à menina.

― Eu... Acho melhor irmos dormir ― Mais depressa que pode, Lola recolheu a arma do chão e correu para o outro lado da cama.

― É, é melhor ― Assentiu Jonathan se aprumando na cama ao lado da melhor amiga.

― Jonathan... ― Chamou Louise após se esconder embaixo das cobertas, ficando virada de costas para o melhor amigo.

― Sim... ― Disse Jonathan virando na direção dela, porém ficando de frente para a nuca da adolescente.

― Boa noite. ― Louise sorria, mas não queria demonstrar para o rapaz, portanto permaneceu virada para o outro lado.

― Boa noite ― Despediu Jonathan ficando de costas para ela. Assim como Louise, ele também sorria levemente atordoado com o que acabara de acontecer.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Beijos no coração de vocês, com amor, Lyra ♥



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