Tributo escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Nós vivemos enquanto alguém se lembrar de nós


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Como já deixei avisos de spoilers no começo e nas notas iniciais, cá estou eu com um projetinho oneshot que nasceu exatamente desta art da capa, que eu não sei a quem pertence, mas a quem adoraria dar os créditos se alguém souber!

Espero que vocês gostem desta singela homenagem ao Neji, que tem mais de família do que qualquer outra coisa, retratando um momento de Hinata com os filhos.

Não li Boruto ou vi o anime, portanto peço perdão se pequei na personalidade de Boruto e de Himawari. Tentei manter o mais fiel possível de acordo com a Narutopedia.

A frase do título do capítulo foi tirada de um dos meus livros favoritos de Zafón, A sombra do vento. Indico muito!

Espero que gostem e nos vemos nos comentários e nas notas finais!



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Tem dias que a tristeza simplesmente bate na gente. Chega de mansinho, se infiltra pelos poros da pele e nos envolve como se roubasse todo o ar. Como se sufocasse. Às vezes, essa tristeza permeava Hinata sempre que ela se lembrava do primo, de seus momentos finais e da dor. Inevitavelmente da dor. Ela gostaria de ter dito a ele muitas coisas. Gostaria de ter demonstrado a Neji tudo o que havia conquistado. Era uma pena que os mortos não estavam presentes entre os vivos para ver o que lhes havia sido deixado de herança. Mas era assim todos os anos, quando o aniversário de sua morte se aproximava. E em todos eles, Hinata gostava de acompanhar os filhos até o túmulo de Neji.

A bem da verdade, no ano anterior, levara Himawari sozinha consigo. Era, afinal, o primeiro ano de Boruto como genin. E encher sua cabeça com conversas como aquela simplesmente não parecera saudável. No entanto, naquele ano, sua irmãzinha insistira tanto que o jovem Uzumaki resolveu acompanhá-las.

Boruto permaneceu calado durante o caminho todo, enquanto Himawari insistia em falar a respeito das flores que levavam consigo o significado de seu nome. A princípio, Boruto questionou sobre sua escolha, sabendo da seriedade do tio que nunca conhecera. Como Neji, um jounin tão sério, poderia gostar de flores tão vivas que apontavam para a direção do sol? Simplesmente não fazia sentido para ele.

Mas ao receber o olhar assustador da mãe (seu pai sempre dizia que significava a hora de reconhecer o seu erro e ficar calado. Mas Boruto nem sabia o que havia feito! Só havia dito a verdade, oras! E se Neji preferisse lírios ou gardênias?), resolveu ficar quieto. Embora aquilo tudo lhe incomodasse em algum grau.

Resolveram passar na floricultura dos Yamanaka, onde Boruto poderia fazer sua própria escolha de flores para presentear o tio—o que ele ainda achava uma bobagem. O que os mortos poderiam fazer com flores?!

− Procurando flores para uma garota especial, Boruto-kun? – O garoto provocou, um sorriso matreiro brincando em seus lábios enquanto acenava para Himawari.

− Não. E pare de acenar para minha irmã, Inojin-baka! – ralhou de maneira energética. – É para o meu tio e toda aquela bobagem de ir até o túmulo.

A expressão de Inojin fechou-se naquele momento, mas quando Hinata olhou em sua direção, sorriu gentilmente.

− Não chame de bobagem, Boruto-teme. – Devolveu o insulto. – Se é importante para sua mãe e sua irmã, considere importante para você também. É o que eu faço quando visitamos o túmulo de ojii-sama.

Boruto viu a ruga que se formava entre os olhos de Inojin, que naquele dia não usava o protetor de testa.

− Isso te incomoda? – perguntou baixinho, enquanto Inojin escolhia as flores que ele deveria levar.

− Um pouco, suponho. – Ele encolheu os ombros. – Mas parece ser mais importante para a mamãe. Então faço isso. Papai nem se importa. Ele diz que não se lembra dos próprios pais, mas não tenho certeza.

Boruto acenou positivamente com a cabeça, notando como a mãe e a irmã interagiam animadamente em algum tipo de conversa da qual ele não fazia parte. Então decidiu, ao lembrar-se de uma conversa com a mãe certa vez, que o que queria levar não eram flores.

− Oe, Inojin-kun, pode fazer um favor para mim? – Foi a seriedade no olhar de Boruto naquela frase que o fez não brincar ali.

− Claro.

Boruto cochichou seu plano a Inojin e o garoto apenas sorriu em resposta, acatando suas ordens.

X

− Não encontrou nada do seu agrado, querido? – Hinata perguntou, inclinando-se para ajeitar a franja rebelde do filho.

− Matte, okaa-sama, ‘te basa! – O garoto exclamou, claramente incomodado com a demonstração de afeto diante de Inojin que se aproximava das duas garotas.

− O que foi, Borutinho? Está incomodado com o afeto da mamãe? – provocou. – Sra Uzumaki, linda como sempre. Himawari-san.

Era incrível como ele sorria gentilmente para elas! Boruto queria matá-lo!

− Um presente das floricultura Yamanaka. Uma iniciativa para flores que merecem outras flores.

− Ah, Inojin-kun, isso é muito gentil. – Hinata repousou os lábios sobre a testa do garoto, o sangue se concentrando em suas bochechas ao entregar um ramo de lírios¹ para Hinata e outro de girassóis² para Himawari.

− Foram colhidas hoje. Espero que façam uma boa visita e mandem os meus sinceros cumprimentos a Neji-sama. – acenou com a cabeça.

− Yare, yare, ‘kaasama! Vamos logo! – Boruto a apressou, ao que Hinata lançou-lhe um olhar de cautela.

− Despeça-se adequadamente do seu amigo, Boruto-kun!

− M-mas...!

− Boruto-kun. – Não havia reticências naquela frase, o que foi o suficiente para que Boruto acenasse vigorosamente para um Inojin risonho que já havia voltado para trás do balcão da floricultura.

X

Ainda estava incomodado quando chegaram até o local onde Neji estava enterrado. O túmulo marmóreo era pouco decorado, simples e taciturno, com a marca registrada dos Hyuugas. Hinata abriu um pequeno sorriso. Saudoso, triste, pesaroso. Boruto ficou empertigado.

− Ne, okaa-sama, podemos deixar nossas flores aqui? – Himawari questionou. Hinata limpou rapidamente os cantos dos olhos e sorriu.

− Hai, hai. – Encorajou a filha e então olhou de canto para Boruto. – O que te incomoda, pequenino? É o fato de seu pai não ter vindo?

Boruto sequer tocara no nome do pai naquele dia. Um biquinho cresceu em seu rosto ao ouvi-lo ser citado, e encolheu os ombros um pouco. Mas não, não era isso que o incomodava naquele dia.

− Ele está incomodado por estar aqui, okaa-sama. – Himawari dedurou. Quando Boruto a olhou indignado, deu a língua para o irmão. – Não acredita em nada disso. Não acredita que tio Neji está olhando por nós.

− Oe, oe! Eu não disse nada disso! – Boruto temia pela reação da mãe. Aquela reação que a deixava perigosa e que indubitavelmente culminava com seu castigo.

Mas ao invés de parecer brava com isso, Hinata agachou-se para ficar na altura do filho e passou uma das mãos por seu rosto, abrindo um sorriso gentil.

− É isso mesmo o que pensa, Boruto-kun? – questionou ela. Boruto tinha receio de que por trás da superfície daquele olhar calmo, se escondesse um tsunami. E pensou nas palavras de Inojin, de que deveria fazer aquilo porque era importante para elas, mas...

− Ele está morto. – sentenciou. – Se está morto, não há significado algum nisso, há? É apenas um túmulo vazio. Não tem nada aí. – Chutou de leve a pedra marmórea. Himawari gritou de indignação, mas Hinata não fez nada.

− Okaa-chan! Ele está sendo desrespeitoso com tio Neji! – Suas bochechas inflaram. Hinata apenas olhou para a filha, acenando com a cabeça, e então se sentou no gramado, puxando Boruto e ela para o seu colo.

− Oe, ‘kaasama! Eu não tenho mais cinco anos! Para de me tratar como criança, ‘te basa! – Tentou livrar-se do abraço da mãe, mas ela sabia usar bem a força a seu favor quando queria.

− Vamos conversar um pouco, querido. Não me importo que ache isso tudo uma perda de tempo, mas nunca conversamos muito sobre o seu tio, não é? – A voz dela continuava gentil, conquanto o aperto em sua cintura parecia mais forte. Apenas por precaução para que ele não fugisse. Todavia, Boruto respirou fundo, o que o incomodava latejando no peito.

− Ouvimos muitas coisas sobre ele nas aulas de história sobre a Quarta Guerra. – Boruto finalmente falou. – Que ele foi um grande herói, que serviu de inspiração para muitas pessoas durante a guerra... que mudou o conceito de todo o clã. Mas... mas ninguém nos falou como ele era.

− Mamãe disse que ele era gentil. – Himawari fez um muxoxo. Boruto apenas arqueou as sobrancelhas, o olhar desviando-se da mãe para a irmã.

Então era isso, Hinata ponderou. O que incomodava seu filho. Não o fato de estarem ali naquele dia, prestando uma homenagem. Mas o fato de que não o conheciam realmente. Ela pareceu pensativa sobre isso. Talvez devesse ter dado mais atenção ao fato ao invés de se perder nas próprias tristezas daquele dia. Fechou os olhos por um momento, desenhando a imagem mental de Neji. Em como ele adoraria estar ali na presença dos dois sobrinhos e como estaria orgulhoso ao saber que Himawari já havia despertado o Byakugan em tão tenra idade, mesmo com seu sangue diluído. Ele certamente teria aprovado sua união com Naruto também.

− Neji-nii era...

− Por que você o chama assim, para começar? – Boruto cortou a mãe. – Quer dizer, sei que ele era seu primo e tal. Mas vocês não eram irmãos. E tinha todo aquele lance de família primária e secundária, não é?

Hinata lançou a ele seu segundo olhar de advertência naquele dia. Boruto sabia que no terceiro, a mãe tiraria seu videogame e seus privilégios, então ficou caladinho.

− Fomos criados juntos. – prosseguiu ela. – Muito antes de o clã definir que o selo seria colocado em sua testa, nós dois fomos criados juntos e ele era como um irmão pra mim. Naquela época, Neji-nii-san jurou me proteger a despeito de sermos de segmentos diferentes da família. E quando... quando o selo foi colocado na testa dele, nos afastamos um pouco. – Hinata engoliu em seco.

− Foi quando aconteceu o caso Hyuuga, ‘kaachan? – Himawari apertou os dedinhos contra o tecido do kimono da mãe. Hinata acenou com a cabeça, em concordância.

Tanto ela quanto Boruto haviam escutado sobre isso, embora não fosse comentado na Academia. Mas como membros da família Hyuuga, aquilo circundava entre as paredes do clã. E a própria Hanabi contara aos dois a respeito do ocorrido. E de como o pai de Neji havia sido um herói para a vila e para o clã.

− Mas eu nunca deixei de admirá-lo e de acreditar que um dia nós poderíamos nos aproximar novamente. – Hinata suspirou baixinho. Conseguia ver os olhos do primo, o formato de seu rosto e o sorriso nos últimos momentos. O sangue havia banhado suas mãos. O sangue dele. Para protegê-la. Para proteger Naruto. E tudo aquilo em que ele acreditava.

“Eventualmente, isso acabou acontecendo e descobri em Neji-nii-san uma vontade de ferro para alcançar os próprios objetivos. Ele queria que o clã fosse mais justo, que as coisas não funcionassem com uma hierarquia que trazia divisões injustas. Foi o seu pai que fez essa promessa a ele, que disse que mudaria as coisas. Ele fez essa promessa para mim também. De que acabaríamos com essa divisão ridícula que existia no clã. E Neji-nii lutou por isso enquanto pôde, mas sem nunca deixar de respeitar o que o clã significava para ele. Treinamos juntos. Arduamente. Muitas vezes. Ele sempre foi um gênio. Poderoso. Imbatível. O primeiro da nossa geração a se tornar um jounin e sair em missões de rank S. Vocês nem fazem ideia do alcance do byakugan do tio de vocês. Ele era realmente incrível. E morreu por aquilo que ele acreditava. Mas acima de tudo, Neji-nii era gentil, doce e um sonhador. Tenho certeza de que se estivesse aqui, ele estaria orgulhoso de vocês dois. E adoraria acompanhar os seus progressos.”

− Mas eu nem mesmo despertei o Byakugan. – Boruto fez um muxoxo, ajeitando-se nos braços da mãe.

− Mas vai. – Hinata garantiu, tocando o rosto do filho com as duas mãos e repousando a testa sobre a dele. – Meu menininho de ouro. E não há problema algum em não despertar também. Tenho certeza de que buscará a força em outras fontes, como faz constantemente.

Boruto concordou fracamente com a cabeça ao que Himawari abraçou-se ao irmão.

− Você é muito forte, nii-sama! – Himawari abriu um sorriso largo, luminescente. Ela realmente acreditava na força do irmão.

Finalmente, Boruto lembrou-se do próprio presente. As flores de Hinata e Himawari já dispostas no local. Com o sinal combinado para Inojin que esperava nas sombras, ele assoviou alto.

Naquele momento, desprenderam-se do papel, aves coloridas, aves cheias de vida que só podiam ser uma obra de arte. Elas rodopiaram ao redor do trio, e ganharam o céu. Himawari deu um gritinho alegre, soltando-se dos braços da mãe para correr atrás delas até que desapareceram no horizonte.

− Isso foi obra sua, Boruto-kun? – Hinata questionou, ajeitando o filho mais velho em seu colo e apoiou o queixo sobre o topo de sua cabeça.

− Hai. Com uma pequena ajuda de Inojin-kun. – Ele abriu um sorriso satisfeito ao observar a alegria da irmã. – Acha que o tio Neji ia gostar?

Hinata abriu um pequeno sorriso, a imagem de Neji brincando com seus filhos ainda pequeninos permeando sua mente. Como em um sonho que tivera certa vez. Talvez devesse pedir para Sai pintar um quadro daquilo.

− Tenho certeza que sim, meu pequenino. Tenho certeza que sim.

Por um momento, Boruto achou ter visto o tio acompanhando os passos de Himawari e sorrindo para si.

− Algum problema, querido? – Hinata questionou, notando o olhar perdido do filho na direção da irmã.

− Não. Nenhum. – Soltou-se dos braços da mãe e correu naquela direção. Hinata podia não vê-lo, mas sentia que o primo—o irmão—olhava pelos filhos mesmo quando seus olhos estavam próximos deles. E seria eternamente grata por isso, pois finalmente podia permitir que sua tristeza fosse embora e desse lugar àquele sentimento tão belo que a conectava a Neji e aos filhos.

 


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Notas finais do capítulo

¹² - O nome de Hinata pode ser escrito como lírio, ao passo que Himawari significa girassol.

Antes de qualquer coisa, gostaria de falar sobre o final da história, onde Boruto vê Neji. Eu me baseei na ideia de que ele é capaz de ver o espírito de Momoshiki na história, e coloquei como se o dojutsu em seu olho direito lhe permitisse vislumbrar o tio por alguns instantes.

Falando da história em si, ela é realmente isso: um momento de família onde Hinata resolve falar um pouco de Neji para os filhos, e do quanto ele teria sido um tio maravilhoso se os tivesse conhecido. Porque tenho certeza de que teria sim.

Enfim, falando também sobre Inojin, é outro personagem que eu não conheço, nem nunca vi em ação. Então se descaracterizei qualquer um deles, eu peço perdão. Mas queria muito escrever uma história nessa pegada depois de ver essa art! E bem, o Inojin era meio necessário para o final fofinho.

E então, gostaram desse presente de ano novo pro Neji? Espero que o ano novo de vocês seja maravilhoso, repleto de coisas boas e conquistas!

Deixa aí um comentário pra dizer o que achou da história! O feedback de vocês é bem legal.

Até o ano que vem, pessoal!