Kirishima chegou correndo na enfermaria da U.A. Os outros foram ligando para todos os amigos, pedindo que avisassem ao professor Aizawa que Uraraka havia desmaiado e estavam voltando com ela. Receberam a orientação de não ir para o dormitório, mas direto para a enfermaria para que Recovery Girl pudesse dar uma olhada nela.

— Vocês podem me explicar o que houve, afinal? –  Aizawa perguntou, esfregando os olhos irritado.

Yaoyorozu, como vice-representante, sentiu-se no dever de dar explicações. Contou tudo que haviam feito e que pode ver naquela noite: onde haviam ido, a hora que chegaram, como alguns foram dançar e sobre uma movimentação estranha que ela e os outros que estavam na mesa viram um tempo depois. Kirishima pediu licença e disse que estava no momento da confusão, então explicou tudo detalhadamente.

— Pelo menos conseguiram impedir que algo pior acontecesse e conseguiram trazê-la o mais rápido possível – a enfermeira respondeu após ouvir todo o relato e entrou para examinar a garota.

Não puderam ficar todos dentro da enfermaria com Uraraka enquanto a enfermeira a examinava, então ficaram do lado de fora esperando – incluindo o professor. Recovery Girl não demorou muito. Na verdade, não era nada muito grave. Abriu a porta e chamou todos para entrar.

— Parece que a tal bebida que vocês viram o rapaz obrigando a Uraraka a beber estava com algum remédio forte para dormir. O efeito da bebida foi forte na garota, talvez por ela ter baixa tolerância. Isso somado com o remédio fizeram com que ela desmaiasse. Mas ela está bem, está em sono profundo. A manterei aqui até ela acordar, para averiguar se não há mesmo mais nada.

Todos suspiraram aliviados. Os alunos foram saindo aos poucos e voltando aos seus dormitórios, acompanhados do professor, mas Bakugou ficou mais um pouco ao lado da cama onde Uraraka estava deitada, observando enquanto ela estava nesse sono profundo. Sua expressão demonstrava tranquilidade, como se estivesse tendo um sonho bom. Apertou a grade ao lado da cama com força, deixando os nós dos dedos brancos. Estava muito irritado com a garota. Por que não fez o desgraçado flutuar? Por que não gritou? Sua irritação aumentava e com ela vinha uma vontade absurda de explodir alguém.

— Não se preocupe – Recovery Girl disse se aproximando dos dois. – Sua namorada deve ter alta amanhã pela manhã.

Sabia que Ashido Mina tinha a capacidade de espalhar as fofocas rapidamente, mas não achava que seria tão rápido e abrangente. No dia seguinte do início do plano, todos professores já estavam sabendo que os dois estavam “namorando” e os apoiavam, por achar que ela poderia fazê-lo melhorar seu temperamento explosivo. Bakugou olhou torto para a enfermeira, mas não podia acabar com o plano da cara redonda. Não concordava muito com essa estupidez, mas seria homem de cumprir com sua palavra e continuar com essa loucura.

O loiro apenas acenou com cabeça e voltou para seu quarto, se trancando lá.

Gostaria de ter dormido e acordado tranquilamente para as aulas do dia seguinte, mas não conseguiu pregar os olhos durante a noite. Ficava levantando e andando pelo quarto para ver se o sono chegava, mas não adiantava.

Não conseguia deixar de pensar em Uraraka e se sentir... Preocupado. Seus pensamentos o perturbavam, dizendo que poderia ter sido diferente se tivesse ido junto. Não que fosse dançar, mas com certeza ficaria um pouco de olho na garota. Não que gostasse dela, como Kirishima vivia dizendo. Ele só gostaria de garantir sua segurança... Como um herói faria. Como parte do plano, para fingir melhor para os amigos que eram namorados... Certo?

— Que porra eu tô pensando agora? Como assim ficar de olho? Argh, mas que cacete! – resmungou dando um soco na parede. Ainda bem que aquele era o quarto vazio, ou Kirishima iria até lá ver o que estava acontecendo.

xxx

Uraraka abriu os olhos com dificuldade, pois a luz a incomodava. Demorou para reconhecer onde estava e se levantou depressa quando percebeu que era a enfermaria da U.A. O movimento brusco a fez sentir-se tonta.

— Deite-se novamente, querida – Recovery Girl disse enquanto se aproximava. – Sente-se bem? Algo está doendo?

— Eu estou bem, só me senti tonta... Acho que levantei rápido demais – deu um sorriso um pouco sem graça. – O que aconteceu?

— Acho que ele pode lhe explicar melhor.

Só então Ochako percebeu que havia uma pessoa em pé no canto da sala, parecendo distraída com seus próprios pensamentos.

— D-deku-kun? Há quanto tempo está aí?

— Uraraka! – ele sorriu para a amiga e correu para sua cama, sentando-se no banco ao lado. – Cheguei faz uns 10 minutos só. Recovery Girl disse que eu poderia te esperar acordar, já que ainda não começaram as aulas. Você está bem?

— Estou me sentindo ótima – sorriu de volta, um pouco corada. – Pode me explicar o que aconteceu?

— Bom, pelo que me contaram, um estranho a abordou ontem e te fez engolir a bebida dele, certo? – a garota apenas assentiu com a cabeça e o olhava, encorajando que continuasse. – Além da bebida forte havia remédio para dormir... Não sabemos o que ele queria com você, mas o professor Aizawa estava contatando a polícia para que eles possam investigar se era um vilão ou não.

Uraraka não conseguia responder. Além de estar envergonhada por Midoriya estar ali esperando ela acordar, se sentia uma inútil. Não conseguiu nem mesmo se proteger de um estranho, o que a garantiria que seria uma boa heroína?

— Mas... F-fico feliz que esteja bem, Uraraka-chan! – o garoto disse sorrindo, suas bochechas um pouco coradas.

— Ah, o-obrigada! Foi muita gentileza sua vir aqui – respondeu corando também.

Bakugou havia acordado destruído. Não fazia nem 3 horas que tinha dormido e já estava tendo que acordar. Se trocou rapidamente e saiu da Heights Alliance sem comer, estava sem fome. Andou diretamente para a enfermaria, para ver se Uraraka havia acordado. Ao chegar na porta, viu a garota sentada conversando com Midoriya, que falava em tom preocupado com ela. Sentiu seu sangue ferver de raiva, mas atribuiu isso ao desafeto que tinha para com o colega de classe. Andou devagar até a cama, a carranca parecendo ainda pior.

— Ah, Bakugou! – Uraraka sorriu para ele.

O loiro colocou-se de pé do outro lado da cama da garota e ficou encarando Midoriya. Seus olhos demonstravam uma irritação que nem o garoto de cabelo verde tinha visto ainda.

— E-eu vou indo, Uraraka... Melhoras! Espero que volte logo para as aulas! – disse corando mais que antes e saiu apressado do quarto.

— Que porra o idiota fazia aqui? – Bakugou perguntou antes que percebesse.

 Uraraka o olhou com uma sobrancelha erguida e ele disfarçou, se jogando na cadeira ao lado da cama. O tom de voz do loiro estava diferente, apesar de ainda ser irritado. Era quase como um tom... Enciumado? Não! Não achava que Bakugou era capaz de sentir ciúmes de alguém, muito menos dela. Talvez fosse só sua rivalidade com Midoriya falando mais alto.

— Deku veio me visitar! – respondeu mudando para uma expressão sonhadora. – Eu estava tão nervosa, acho que fiquei vermelha mais vezes do que deveria.

— Seu plano de bosta parece estar começando a funcionar. Como você está? – perguntou novamente antes que pudesse perceber. O que estava acontecendo com ele hoje?

— Estou bem – respondeu desconfiada. – E você? Estranhei ter vindo, não é muito sua cara visitar quem não está bem.

— Não me olhe assim, cara redonda. Só achei que ajudaria a manter as aparências desse plano fodido – respondeu e a garota começou a sorrir. Antes que ele dissesse algo mais sobre a visita, mudou de assunto. – Agora pode me explicar que porra foi aquela ontem? A velha disse que havia remédio para dormir na bebida que um fodido te fez beber... Como caralho isso aconteceu? Por que caralhos não usou essa porra de gravidade zero? – seu tom parecia preocupado, apesar de estar muito bravo.

— Desculpe, eu... Eu não consegui reagir, eu... Fiquei muito assustada – a garota disse a última parte quase como um sussurro, mas o loiro a ouviu.

Bakugou sentiu uma sensação estranha no estômago – talvez fosse porque não comeu de manhã. Estava sentindo uma fúria crescer dentro de si. Desgraçado, tinha vontade de explodir em mil pedacinhos o sujeito que assustou Uraraka. Se descobrisse quem era, seria bem capaz de...

— Que tipo de herói não consegue nem resolver uma situação simples? – ela cortou seus pensamentos. Seu semblante havia mudado drasticamente e algumas lágrimas começavam a se formar. – Eu sou uma inútil.

— Ok, pode parar com essa porra! Eu não vou secar a porra das lágrimas de ninguém! – a garota o olhou assustada. – E não me olha desse jeito, Uraraka! Pare de ser fodida e volte a ser aquela pessoa que lutou comigo – o loiro pegou as suas coisas e saiu do quarto praticamente batendo os pés de raiva.

Ochako ficou estática olhando para a porta por alguns minutos. As palavras dele foram rudes, mas a garota havia entendido que era o jeito dele de tentar animá-la. No dia da luta, havia dado o seu melhor, tentou superar seus próprios limites e quase ganhou. Havia conseguido pensar em planos sozinha. Ao invés de ficar assustada quando as coisas não davam certo, se esforçava mais e pensava em outras formas de ganhar. Algo dentro dela dizia que Bakugou estava tentando fazer com que ela visse que não era uma inútil e outro algo dentro dela pareceu dar cambalhotas.

Mas mais importante do que isso... Era impressão sua ou ele tinha a chamado de Uraraka sem que ela precisasse pedir?