Londres, 1863

Os preparativos para jantar que minha família iria oferecer aos Davies corria de vento em popa. A confusão de toalhas, castiçais, flores, talheres e aparelho de jantar ocupavam toda a sala de jantar, minha mãe orientava Caetana para que ela instruísse os demais empregados enquanto eu e minha família esperávamos por nossos convidados.

Meus pais fizeram questão de convidar toda a burguesia industrial assim como toda a nata londrina, para que toda a cidade soubesse da união de uma Davies com um Redford.

Não demorou muito para que Bernadette, a ajudante de Caetana viesse nos avisar que a carruagem havia chegado.

Era até engraçado ver como meu pai estava nervoso, muito mais que eu.

Logo quatro pessoas entraram em nossa sala, pode reconhecer o conde Davies e a condessa, afinal os dois vieram pessoalmente tratar do casamento, mas as outras duas jovens eram desconhecidas.

—Sejam bem vindos meu senhor e minha senhora. - cumprimentamos nossos visitantes que sorriram.

—Obrigada senhores. - o conde respondeu educadamente.

—Como foi à viagem?- meu pai questionou sorrindo.

—Tranquila apesar de cansativa. - o conde respondeu antes de me olhar seriamente.

—Sr. Redford é um prazer revê-lo. - ele disse sorrindo e sorri. – Gostaria de lhe apresentar minha filha, Lady Teodora.

Assim que o conde indicou sua filha, meus olhos foram em direção a uma linda moça que usava um vestido rosa claro, dona de longos cabelos pretos e olhos cor de mel. Eram os olhos mais verdadeiros e doces que já vi.

—É um prazer conhecê-lo Sr. Redford. - ela disse suave enquanto ainda a olhava.

Meu pai pigarreou de leve, me fazendo acordar e perceber que Lady Davies estava com a mão esticada em minha direção. Automaticamente segurei sua mão com delicadeza antes de beijá-la.

—E está, é minha grande amiga e dama de companhia, senhorita Julia.- Lady Davies me apresentou e Julia sorriu amável.

Após todas as apresentações, minha mãe sugeriu que nossos convidados descansassem, afinal a noite aconteceria o jantar de noivado.

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— E então, como está se sentindo estando noivo?- Virginia questionou assim que autorizei sua entrada em meu quarto.

—Cheio de responsabilidades. Mamãe lhe entregou a caixa?- questionei enquanto finalizava o laço da minha gravata.

—Está aqui.- ela disse me entregando uma caixa quadrada azul claro.

—Sabe James, pensei que Lady Davies fosse deformada ou feia demais.- ela falou enquanto alisava um vinco inexistente de sua saia.

—Por que pensou isso Virginia?- questionei olhando para minha irmã.

Olhar para Virginia era como ver uma versão mais jovem da minha mãe, uma versão que possuía o temperamento do meu pai. Já eu, segundo meu pai, me parecia muito com o seu pai.

Ás vezes surpreendia meu pai sorrindo suave enquanto me olhava, sabia que naquele momento ele se lembrava do meu avô que morreu muito cedo, deixando meu pai órfão aos sete anos.

—Afinal, quem é que esconde uma filha por tantos anos em um convento?! Isso só acontece se ela não for apresentável para a sociedade. - ela explicou e sorri de sua idéia sem nexo.

—Mas você mesma pode ver que Lady Davies é uma senhorita perfeitamente normal. Então, por favor, guarde essas idéias apenas para si.- pedi e ela concordou.

—Podemos descer senhorita?- questionei lhe oferecendo o braço.

—Claro cavalheiro. - Virginia disse segurando meu braço antes de sairmos do meu quarto.

Assim que descemos as escadas pode reconhecer varias pessoas na sala, algumas das quais vi apenas de vista, meus pais realmente haviam convidado toda Londres.

—Sorria James.- Virginia sussurrou para mim e tentei fazer o que ela me pedia.

Cumprimentei a todos do salão até que vi Lady Davies ir em direção ao jardim, curioso fui atrás dela.

Assim que me aproximei, vi que ela havia se sentado em uma das cadeiras do jardim antes de começar a chorar, o que me deixou confuso.

—Lady Davies, está tudo bem?- questionei preocupado enquanto me aproximava dela que se assustou.

—Que susto. - ela sussurrou enxugando suas lagrimas enquanto se recuperava do susto.

—Me desculpe, não quis assustá-la.- pedi sem jeito enquanto lhe oferecia meu lenço e ela sorriu agradecida antes de aceitá-lo.

—Tudo bem, sente-se.- ela pediu suave.

—Por que estava chorando? Por acaso a senhorita não deseja se casar?- questionei tentando entende-la.

—Meu desejo não está sendo considerado Sr. Redford. Não é uma questão de desejar e sim de precisar. - ela disse triste enquanto me olhava.- Eu fiz uma escolha, e ela me levou até aqui. E preciso continuar seguindo minha escolha. Mas e o senhor, deseja se casar?

Sua pergunta me pegou de surpresa, afinal jamais havia parado para pensar sobre o assunto. Tudo que fiz desde que meu pai anunciou meu noivado foi acatar sua ordem, como um bom filho.

—Eu realmente não sei.- disse perdido em pensamentos.- Tudo que sei é que não quero desapontar meus pais.

—Somos capazes de tudo pela família. Somos capazes dos maiores sacrifícios apenas para que estejam seguros e felizes.- Lady Davies acrescentou de repente.

—Prometo ser um bom marido para você.- jurei e ela sorriu suave.

—Eu também prometo ser uma boa esposa para você.- ela jurou suave enquanto me olhava nos olhos.