A casa era confortável em todos os sentidos. A sala e a cozinha eram juntas, em conceito aberto. O sofá ficava enfrente a janela que tinha visão para a cachoeira e ao seu lado direto possuía uma lareira que não parecia servir para transporte, apenas para aquecer uma noite fria. O que separava a cozinha da sala, era um balcão com bancos dispostos enfrente do mesmo.

Tentou disfarçar a curiosidade com o resto da pequena casa e sentou-se no sofá, aguardando a menina fazer o mesmo. Mas essa, resolveu sentar-se na mesinha central, em sua frente e para seu desconforto próxima demais de si, com suas pernas quase tocando-se uma na outra.

— Um motivo. — Ressaltou Severus, acomodando-se no sofá.

— Eu estou quase completando maioridade já e não suporto mais nenhum ano dentro de Hogwarts, professor. — Explicou, parecendo chateada mirando as próprias mãos.

— O que aconteceu com suas colegas de dormitório, senhorita Lovegood? — Questionou, querendo realmente saber o que havia ocorrido.

— Elas zombaram de mim, apenas isso. — Respondeu, expondo visivelmente que estava mentindo. Severus permaneceu em silêncio encarando a garota, aguardando que ela contasse de fato o que ocorrera. E sem aguardar muito, ela o fez. — Ela disseram que minha mãe se explodiu, pois não suportava ter uma filha como eu.

Obedecendo apenas a um instinto dentro de si, Snape tomou as pequenas mãos de Luna entre as suas, recebendo como resposta um olhar curioso e um sorriso singelo de agradecimento, mesmo que aquilo não fosse nada, apenas um gesto.

— Eu sempre sonhei com esse lugar e em me ver livre de Hogwarts. — Assumiu de modo vergonhoso, como se fosse um tipo de pecado não desejar permanecer em Hogwarts. Abaixou a mirada para as mãos novamente e apreciando o calor aconchegante das mãos do professor, mesmo que isso fosse extremamente estranho. — Harry acha Hogwarts o melhor lugar do mundo e sempre murmura que é exagero meu querer sair logo.

— Luna, Hogwarts é cruel, mas você precisa retornar e se formar. — Murmurou, soltando a mão da menina. — Você está no ultimo ano, não vai demorar muito para estar livre de todos.

— Você não entende, professor. — Comentou, levantando-se da mesinha e indo em direção a janela com a vista para a cachoeira. — Eu não sei como, mas eu criei esse lugar e eu sempre sonhei com o dia de poder me afastar de todos que me fazem mal. — Severus levantou-se e foi em direção a menina, parando ao seu lado, observando a paisagem bela, mesmo na escuridão da noite. — Ele existia só na minha mente, mas quando as meninas zombaram da minha mãe, eu sai correndo sem rumo e quando percebi estava na floresta. O portal parecia com o do conto que minha mãe me contava quando crianças e eu o achei e dentro dele tinha esse bosque que sempre esteve em minha cabeça.

Severus permaneceu em silêncio ouvindo-a, lembrando-se das diversas vezes que corria na floresta sem rumo ou trancava-se no banheiro, chorando por todas as brincadeiras de mal gosto. Naquele momento, tudo aquilo parecia tão distante de si. James, Lily, os Marotos, suas escolhas erradas para provar seu valor.

— Eu não vou voltar, professor. — Informou. — Tenho tudo que preciso aqui. Livros para estudar, um laboratório, uma coruja para me comunicar com meu pai. Nada mais que isso.

Seria cruel da parte de Snape a levar contra sua vontade, quando ele na idade dela teria agradecido por ter um lugar daquele.

— Se cuida então, garota. Espero que tenha certeza da sua decisão. — Murmurou, caminhando em direção a porta.

Luna mirou o professor, lembrando-se que Harry havia contado-lhe a história que Severus Snape também sofria com brincadeiras de mal gosto.

— Se você quiser ficar aqui, professor. — Convidou, vendo-o parar enfrente a porta. — Posso modificar a casa rapidamente e fazer um local só para o senhor.

Ela não soube ao certo o motivo de fazer tal convite, devia ser os Zonzóbulos definitivamente...

... Ou apenas receio de ficar sozinha.