Sintonia escrita por kelzinha


Capítulo 8
Ciúmes


Notas iniciais do capítulo

Sabe aquele capítulo que você acha que será super tranquilo de escrever, mas se lasca? Bem vindos ao capítulo 8 de Sintonia. Nataly Brooken quase me enlouqueceu aqui. Sigam o Instagram da Fic: sintonia_fic



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Sabe aquela a sensação de estar vivendo dentro de um lugar onde as coisas mais surreais acontecem, te fazendo perceber que só pode estar sonhando e que a qualquer momento alguém virá te acordar ? Era assim que eu estava me sentindo quando entrei no camarim para me trocar naquela noite.

Nada daquilo que eu estava vivendo, parecia ser real para mim. Eu ainda podia ouvir os gritos do auditório nos meus ouvidos, os elogios dos jurados, do pessoal da produção, a tela mostrando nota 10 em todas as avaliações…

Meu Deus! Eu ainda podia sentir toda aquela adrenalina e o momento exato da dança. A entrega completa de Luke Stewart, a intensidade na qual eu era, inconscientemente, consumida por tudo que ele fazia. A necessidade que meu corpo sentia de estar perto dele por algum motivo que nem eu mesma sabia explicar. A naturalidade como tudo fluía entre a gente, como se nos conhecêssemos a vida toda… Nada disso deveria ser real.

Coloquei as mãos na cabeça e me sentei no sofá, atordoada. Fazia apenas uma semana que eu, de fato, conhecia Luke Stewart para estar me sentindo tão envolvida desse jeito. Como isso era possível?

Mentalmente, agradeci a Deus que só teríamos ensaios de novo na próxima semana. Nessa primeira fase de competição, fazíamos escalas. Uma semana ocorria o ensaio dos homens e na outra, o das mulheres. Eu teria uma semana inteira em minha casa para colocar a cabeça no lugar novamente. Eu precisava desse tempo longe da presença de Luke Stewart senão acabaria pirando. Um limite precisava ser imposto entre a gente, urgentemente. A cada segundo, eu sentia mais a sensação das coisas querendo fugir do meu controle e isso, não podia acontecer de forma alguma, afinal, era o meu emprego em jogo ali.

 

Caminhei em direção a calçada, onde todos os participantes e os membros da equipe que iriam para o jantar, já se encontravam ali me esperando.

Como se tivesse sido atraído por um imã, Luke Stewart, foi o primeiro a se virar ao perceber minha aproximação. Essa era outra coisa que começou a acontecer com certa frequência com a gente durante essa semana e que me assustava demais. Nossos corpos pareciam sentir a presença um do outro onde quer que estivessem. Assim que os olhos do comediante cruzaram com os meus, instantaneamente, Luke sorriu. Ele sempre me deixava descompassada com aquele jeito de me olhar. Sem graça, acabei retribuindo seu sorriso largo, com um singelo aceno dedos e um risinho de canto de boca. Lembre-se de impor limites Nataly Broken! Travei uma batalha interna entre meu corpo e minha mente. Por mais que meu corpo, insistentemente, tentasse me arrastar em sua direção, com muito esforço, consegui andar até o encontro de May que estava parada do outro lado da van. Luke murchou o sorriso e sua expressão pareceu decepcionada enquanto eu passava reto por ele.

A produção do programa, havia disponibilizado  uma van para que todos fossemos juntos ao local do jantar.

— Está achando que é a Beyoncé, Nataly Brooken? - perguntou Mason, esbanjando seu mau humor assim que me viu. - Não é porque levou a melhor hoje, que tem o direito de fazer a gente de trouxa aqui te esperando enquanto age como uma celebridade. Não se esqueça que o famoso da competição é o Luke, não você. - ela apontou para Luke abrindo um risinho cheio de malícia. Não entendi qual era a dela com esse sorriso, mas o simples fato dela querer mostrar os dentes pra ele, já me deixou incomodada. Lancei um olhar para May que estava com as mãos cerradas em punhos e a cara roxa. Ela não estava brincando, quando disse lá no estúdio que estava prestes a quebrar os dentes da Mason hoje. Como eu não estava afim de confusão, fiz um sinal para que May entrasse logo na van.

— Esse mau humor só pode ser fome, Jennifer. Vamos? - engoli minha vontade de socá-la também e entrei na van logo em seguida, sentando-me no banco da janela ao lado de May. Jennifer permaneceu do lado de fora, para esperar não sei o quê. Eu até achei estranho, já que segundos atrás, a mestiça tinha dado um showzinho com minha demora.

Luke também estava do lado de fora bastante entretido em uma conversa com Zuken, enquanto aguardava as outras pessoas entrarem no veículo. Eu não queria ficar o tempo todo acompanhando os movimentos dele com os olhos, mas era automático. Eu já admirava tanto aquele menino e sentia tanto orgulho dele, que só de estar aqui encostada nessa janela, olhando pra ele, já me fazia sentir vontade de sorrir.

— Aí, você vai me dar seu carro e aquela bolsa da Victor Hugo caríssima que comprou na semana passada, fechou? - ao longe, ouvi o zumbido da voz de May ecoando no meu ouvido.

— Fechou… - respondi dispersa em pensamentos, ainda encarando Luke que sorria para algo que Zuken havia dito. Ele tinha um sorriso tão bonitinho...

— E você vai arrumar minha cama e nosso quarto todos os dias, vai fazer nossa janta e será minha escrava por tempo indeterminado, tá bom?

— Aham… - eu nem estava escutando o que May dizia. Lembrei das palavras de Luke para o Fred dizendo que eu era "a mais bonita do tanto faz" e apesar de quase ter quebrado os dedos dele em minhas mãos por ter me constrangido em rede nacional, eu sorri. Eu gostei de saber que ele me achava bonita. E ainda estava sorrindo enquanto May parecia uma matraca velha do meu lado.

— E também não vai se importar se eu der uns beijos e amassos no gatinho do seu aluno, né?

— Nã.. O QUE? - despertei do meu transe ao assimilar as palavras de May. Todo mundo que estava dentro da van, me lançou olhares incriminadores ao se assustarem com meu grito. May despencou a rir. Brava, cruzei meus braços e fechei a cara para ela, me virando para olhar a rua pela janela.

— Só te digo uma coisa… - ela ainda ria. - GAME OVER pra você, marida… - eu até pensei em retrucar o comentário de May, mas antes que eu pudesse dizer algo, uma coisa chamou minha atenção. Com a cara de pau mais encerada do mundo, Jennifer Mason esperou o momento exato que Luke Stewart entrou na van para entrar logo atrás e sentar-se ao seu lado. O que ela estava fazendo? Zuken entrou primeiro e se sentou ao lado de Anne que estava super animada relembrando algo da apresentação deles. Cristian estava acompanhado da esposa e a Nataly, sua parceira, tinha se sentado ao lado de Carol. Gazon escolheu o banco individual e Luke por ter sido uns dos últimos a entrar, sentou-se no banco da frente sendo acompanhado por Jennifer Mason, em seguida. Passei o caminho todo observando os movimentos dos dois. Mason ria igual uma hiena a cada palavra que Luke dizia e cada vez que isso acontecia, minha vontade era de espancá-la. Cruzei os dedos, com força, na alça da bolsa em meu colo imaginando ser o pescoço da Mason. Luke não era “touch” para ela tocá-lo o tempo inteiro, enquanto cacarejava suas asneiras. May percebendo minha fúria, acompanhou meu olhar. Minha amiga até abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida por mim.

— Agora não, May. - foi a única frase que eu disse. May assentiu e ficou na dela mexendo em seu celular. Essa era uma das qualidades que eu mais amava em May. Apesar do seu jeito autêntico de ser, ela me conhecia bem demais. E sabia exatamente o momento em que eu precisava de um tempo para mim, sem falar com ninguém. Eu estava me sentindo estranha, confusa e muito puta. Esse era um daqueles momentos.

 

Por estarem no banco da frente, Luke e Jennifer foram os primeiros a descer da van. Ambos ficaram aguardando até que todos saíssem para podermos entrar juntos no local.

— Ei, professora. - chamou-me Luke animadamente ao se aproximar com um sorriso. Jennifer Mason havia ficado um pouco para trás. - Estou te achando muito distante desde que saímos do estúdio. O que aconteceu? - Luke demonstrou certo nervosismo ao me fazer essa pergunta.

— Distantes? - fiz a desentendida. - Estávamos a menos de dois metros de distância o tempo todo, não vejo como isso pode ser distante. - não queria ter usado um tom tão ríspido em minha resposta, mas eu ainda estava irritada. Luke ameaçou dizer algo, mas engoliu suas próprias palavras ao assumir uma expressão magoada fazendo um sinal de consentimento com a cabeça e continuou caminhando em silêncio ao meu lado. Instantaneamente, senti uma vontade incontrolável de me desculpar e abraça-lo forte, só para não ter que encarar aqueles olhos tristes novamente. O que esse menino estava fazendo comigo?

— Luke o que acha desse aqui? - Mason se enfiou no meio de nós dois, ignorando completamente minha presença, ao estender seu celular na direção do comediante. - Eu preciso de uma opinião masculina... - Não vou olhar, não vou olhar, não vou olhar… Mas que VACA! Eu não podia acreditar que Jennifer Mason estava descaradamente mostrando uma foto de calcinha e sutiã para o Luke. Alguém pelo amor de Deus, ensina para essa mulher o que é senso do ridículo? Luke ficou sem reação. Sua primeira atitude foi olhar para a minha cara. Mantive a expressão serena no rosto, mas por dentro eu estava uma tempestade de raiva. Sem querer saber a resposta dele para a pergunta de Jennifer, apertei meus passos, os deixando para trás. Não dei muita atenção aos sons das risadas que vieram depois. A gargalhada de May era a mais audível. Conscientemente, eu sabia que não era minha obrigação me preocupar tanto com ele, ou ficar irritada, porque a Mason decidiu virar um vaso de planta ao seu lado a noite toda, ou dar-lhe algum tipo de satisfação sobre o motivo pelo qual eu precisava dessa distância entre nós para entender o que estava acontecendo comigo. Contudo, mesmo não sendo minha obrigação, eu sentia uma necessidade absurda de compartilhar tudo isso com Luke. Como se somente ele pudesse colocar as coisas no lugar. O que era bem contraditório, considerando que era ele quem estava bagunçando tudo aqui dentro.

— Boa noite pessoal, sejam bem vindos ao nosso bar. - falou a recepcionista sorridente. - A mesa 21 já está reservada para a equipe de vocês. Podem me acompanhar por favor? - seguimos atrás da simpática mulher, até a grande mesa retangular de madeira contendo o nome da nossa equipe. - Fiquem à vontade, o garçom já virá atender vocês. - ela se afastou e todos foram se sentando, casualmente, por ordem de chegada.

Eu não queria me sentar muito perto de Luke. Ou melhor, eu queria muito ficar perto dele o tempo todo, por isso mesmo, que eu claramente não podia me sentar próxima a ele. Limites, lembra?

— Luke! - algumas pessoas poderiam ter uma tecla “off” só para podermos desligá-las e não precisarmos mais ouvir o som de suas vozes. - Reservei um lugar aqui do meu ladinho pra você. - Mason definitivamente era uma dessas pessoas. Ela sorriu, dando dois tapinhas na cadeira do seu lado. - Vamos continuar aquele assunto da van… - Luke franziu o cenho e se remexeu desconfortavelmente ao meu lado. Sua expressão ao me olhar foi até engraçada. Era um misto de “Por favor, me ajuda” com uma pitada de desespero.

— Preciso ir ao banheiro. - falei repentinamente, me virando para May que conversava distraidamente com Anne. - Marida, eu preciso de um favor. - sussurrei em seu ouvido antes de sair. - O lugar que você for se sentar, segura uma cadeira pra mim do seu lado, tá bom? - deixei minha blusa e minha bolsa com ela. - Eu já volto. - May assentiu, sem questionar e continuou sua conversa com Anne.

Fiquei uns cinco minutos apenas encarando meu reflexo no espelho do banheiro. Aja como uma adulta Nataly Brooken. Aja como uma adulta.

Respirei fundo e após dar uma conferida na minha make, que ainda era a mesma da apresentação,voltei para a mesa.

Todos já estavam sentados quando cheguei. Alguns conversavam entre si, outros faziam seus pedidos para o garçom. Busquei May com os olhos e travei. Eu não podia acreditar no que estava vendo. A cadeira que aquela cretina havia reservado pra mim, era exatamente de frente para Luke Stewart. Eu juro que iria matar May Anderson hoje. Eu a conhecia como a palma da minha mão e sabia muito bem que May havia feito essa escolha propositalmente. Assim que a bonita olhou pra minha cara, abriu aquele risinho cínico que eu já estava bem familiarizada.

— Ohh… Sente-se aqui, marida linda… - ironizou, apontando a cadeira ao seu lado. - Linda, linda… - frisou rindo em tom de deboche. Luke, que até aquele momento, estava distraído em um papo com Cristian, Jennifer e sua esposa, automaticamente, se virou na minha direção ao ouvir a frase de May. E como estivesse vendo o sol raiar numa linda manhã de domingo, o rosto dele se iluminou com um sorriso.

Por que caramba, Luke tinha que me olhar desse jeito tão intenso? Eu não queria sorrir, definitivamente, NÃO era para eu sorrir. Porém, sem controle algum dos meus próprios movimentos, acabei sorrindo de volta para ele.

Pare de sorrir agora, Nataly Brooken! Dizia minha mente sendo totalmente ignorada pelo meu coração que batia acelerado.

May acompanhou toda essa sequência de fatos com um sorriso estampado no rosto. - Eu tinha certeza que você ia adorar o lugar que escolhi pra você, maridinha... - sussurrou baixinho, apenas para que eu pudesse ouvir. Eu nem respondi. Apenas lancei um olhar fulminante em sua direção.

— Então Lukezinho, me conta… - Lukezinho? Isso só podia ser piada. - O que você pretende fazer nessa semana de folga dos ensaios do “Você pode dançar?” - Mason questionou com uma voz sedutora, enquanto alisava o braço dele. Luke deu uma afastadinha na cadeira e simulou uma espreguiçada com os braços, tentando, sutilmente, se livrar do toque da mestiça. Eu desviei meu olhar da cena, disfarçando um sorriso. A Jennifer era uma morena linda, mestiça, corpo escultural e tinha todos os quesitos que deixavam os homens babando. Desde que mantivesse a boca fechada, obviamente. Quando queria algo, não media esforços para conseguir, mesmo se precisasse passar por cima de alguém para alcançar isso. Hoje ela estava focada em conseguir Luke Stewart.

A situação atual na mesa era essa. Luke estava na cadeira de frente pra mim, ao seu lado direito estava Jennifer Mason e do seu lado esquerdo, Josh. Eu estava sentada entre May e Cristian. Pelo menos, por estar no meio, eu poderia interagir com qualquer das conversas ao meu redor, sem precisar ficar prestando atenção no comediante a minha frente. Esse, que me encarava o tempo todo, enquanto brincava com um pedaço de guardanapo em suas mãos.

— Amanhã cedo pego um vôo e zarpo para a minha Paraíba. Ficarei em Campina até domingo. Na segunda, voltarei para o Rio e para os ensaios do forró. - ele olhou pra mim e sorriu ao dizer isso.

— Aaah que pena… - Mason simulou um bico magoado. - Se você fosse ficar em São Paulo, te faria um convite para uma baladinha. Sabia que aqui em Sampa, nós temos os melhores lugares para curtir uma noitada? - disse se inclinando oferecidamente na direção dele. Mason usava um decote tão cavado que eu quase podia ver o seu umbigo de onde eu estava. Revirei os olhos e peguei um cardápio na mesa, em profundo sinal de irritação.

Na verdade, eu nem sabia o por que de eu estar tão nervosa. A Mason era solteira e o Luke pelo que eu sabia, também. Não que eu tenha pesquisado a respeito desse assunto durante minhas pesquisas sobre ele... Ok, a quem eu quero enganar? Pesquisei. Pesquisei, sim. A verdade, é que passei uma noite inteira pesquisando a vida toda do meu aluno. Por isso, fiquei tão constrangida quando ele tocou nesse assunto em nosso primeiro dia de ensaio. Senti como se tivesse sido pega no flagra, enquanto assaltava a geladeira de madrugada. Enfim, os dois eram livres e desimpedidos para fazer o que quisessem. Eu não tinha nada a ver com isso. Aliás, pensando bem, um relacionamento entre Mason e Luke até facilitaria as coisas pra mim. Eu poderia manter o limite do meu profissionalismo, sem mais me preocupar com a forma com que ele me olhava ou sorria e me fazia querer sorrir. Nem iria mais pensar nas reações do meu corpo quando estava perto dele. Sim, seria ótimo. Eu estava quase me convencendo dessa ideia quando a risada exagerada de Mason invadiu os meus ouvidos.

— Ai Lukezinho, você é ótimo. - falou a lambisgoia oferecida. Juro que se eu ouvisse ela chamar o Luke, de Lukezinho mais uma vez, eu iria ralar a cara dela no asfalto. De novo flagrei o comediante me encarando, mas dessa vez, ele mantinha uma expressão divertida no rosto. Ignorei.

— Já escolheu seu pedido, senhorita? - perguntou o garçom, aproximando-se de mim.

— Já vi que a especialidade da casa é a famosa “Galinhada”... - resmunguei sozinha, enquanto via o cardápio.

— Como disse, senhorita? Nós não temos galinhas em nosso menu…  - disse o garçom, confuso.

— Mas tem muita carne de VACA… - continuei resmungando baixinho.

— Só trabalhamos com carne de boi, não de vaca, senhora. - o garçom respondeu, sem perceber que eu ainda não estava falando com ele.

— Vejo “Naja” ao molho madeira, bem aqui... - sussurrei com o dedo em um ponto aleatório do cardápio.

— Deve haver algum engano. Em nosso estabelecimento não temos autorização para comercializar carne de cobras. Não gostaria de pedir algo menos exótico, senhorita? - falou o garçom impaciente. Olhei para o rapaz que me analisava como se eu fosse louca. Quando eu estava muito puta, só tinha uma coisa na vida capaz de me fazer sentir melhor e eu tinha acabado de encontrar nesse cardápio. Senti meus olhos brilharem.

— Vou querer um duplo cheeseburguer, batatas fritas com muito cheddar e para beber, um milkshake grande com calda extra de chocolate, pode ser? Ah, e se já quiser deixar registrada a sobremesa, vou pedir um Petit Gateau com duas bolas de sorvete. - sorri simpaticamente para o garçom, que anotou todo o meu pedido com uma careta estranha.

— Algo mais, senhorita? - questionou receoso. Ele estava com medo de mim?

— Por enquanto é apenas isso, obrigada! - soltei um longo suspiro de satisfação, me virando para a mesa novamente. Comer era um dos meus grandes prazeres da vida. Olhei para a frente e levei um susto, ao encontrar Luke me encarando, fixamente, com um enorme sorriso no rosto.

— O que foi? - questionei meio sem paciência, ao observar Mason, a continuar esfregando “ocasionalmente” seu braço no do meu aluno. Luke era tão lesado que nem percebia. Qualquer homem no lugar dele, já teria cedido às investidas de Jennifer. Ela estava pegando pesado.

— Você não cansa mesmo de me surpreender, não é Nataly Brooken? - os olhos dele brilhavam genuinamente enquanto sorria para mim.

— Eu? Por quê?

— Não sabia que bailarinas como você, comiam lanches gordurosos com batatas fritas e tomavam milkshakes cheios de calorias. Sempre imaginei vocês com frescuras, consumindo apenas brócolis com salada. - Luke direcionou o olhar para o prato da Jennifer, ao seu lado. A mestiça tinha pedido uma salada de alface com palmito. - Ainda mais depois que vi você toda pagando pau de musa “fitness” no seu Instagram. - brincou, ainda sorrindo.

— Mas, EU SOU fitness. - respondi, automaticamente, roubando uma batata frita com catchup do prato de May. Eu tentava ser, pelo menos.

— É… Estou vendo, Nataly Brooken... Estou vendo… - disse com ironia, enquanto observava o garçom entregar os meus pedidos em cima da mesa.  

 

Eu estava na metade do meu lanche quando Jennifer, para minha infelicidade, começou a falar de novo. Dessa vez, com a esposa de Cristian.

— Affff aquela platéia do programa do Fred é muito sem noção mesmo… - bufou. - Como puderam dar 9,6 para nós? Josh e eu fizemos uma apresentação perfeita… - a esposa de Cristian não disfarçou a expressão de tédio ao encarar a bailarina. - A Nataly que deu sorte por ter um caído com um parceiro tão talentoso feito o Luke. Ele carregou a dança deles nas costas. Só tiraram 10 por causa dele. - falou alisando o braço de Luke pela milionésima oitava vez naquela noite. Sim, eu estava contando. Essa foi a primeira vez que vi Luke ficar zangado com alguma coisa.

— Jennifer você está errada. - afirmou o comediante incisivamente. Luke, com toda educação, retirou a mão dela que estava em seu braço e direcionou até a mesa dando um leve tapinha para sinalizar que a “patinha” de Mason deveria permanecer ali. - Nataly e seu enorme talento foram os grandes responsáveis por tudo que aconteceu naquele palco. O maior sortudo aqui sou eu, por ter caído com a mais linda e competente professora dessa competição. - Após isso, muitas coisas aconteceram simultaneamente. May me deu um cutucão tão forte por debaixo da mesa, que o lanche na minha mão quase voou longe, com o pulo que dei. May Anderson e descrição na mesma frase suas suas coisas fora de cogitação. Mason ficou com a cara no chão e a esposa do Cristian alargou o sorriso.

— Vocês dois formam uma linda dupla. - disse apontando para nós dois. Luke sorriu abertamente.

— Agora, eu concordo. - assentiu para a esposa do nadador. Jennifer, repentinamente, se levantou da mesa como um foguete.

— Vou ao banheiro. - fúria, definia sua expressão.

Sem reação, segui tentando não pensar nas palavras de Luke naquele momento. Banquei a “pêssega” desentendida, como diria May e abri a boca somente para continuar comendo o meu lanche. Ato que parei na metade do caminho, ao avistar aquele par de olhos castanhos na minha frente, encarando-me  intensamente, mais uma vez.

— Oh meu Jesus! O que foi agora, Luke? - revirei os olhos, impaciente. - Se vai querer um pedaço, pede logo. - Luke sorriu com malícia.

— Hm… Se eu pedir, você vai me dar? - indagou alisando o queixo e erguendo uma sobrancelha, sugestivamente. À contragosto, estiquei meu lanche pra ele.

— Toma. Mas não morde tudo, porque ainda estou com fome. - a gula sempre foi um dos meus maiores pecados capitais. Ele riu alto.

— Não estou falando do seu lanche, Nataly... Obrigado. - respondeu sem tirar o sorriso malicioso do rosto.

— Do que então?

— Acho que, por ora, vou deixar essa resposta por conta dos seus pensamentos… - ele deu uma piscadinha sem desviar o olhar de mim. Senti um calor invadir meu corpo, desde o meu dedo mindinho do pé, até concentrar nas minhas bochechas. Mais uma vez Luke Stewart havia me deixado sem graça.

— Não estou te entendendo, Luke.

— Vamos combinar assim? Você só pensa na resposta dessa pergunta. “Se um dia eu te pedir, você vai me dar?”. Não precisa me responder nada agora. No momento certo, eu saberei sua resposta... - ele quebrou nosso contato visual virando-se para Josh que havia lhe perguntado algo. Eu permaneci estática em modo “stand by”.

— Pessoal vamos tirar uma foto? - pediu a Carol Barros. Josh, Zuken, Cristian e Luke se levantaram animados da mesa, fazendo graça. May continuou sentada, comendo ao meu lado e eu me levantei agindo por osmose. Abri um sorriso forçado atrás de Anne, fazendo um sinalzinho com os dedos para avisar ao planeta terra que eu ainda estava aqui. Pelo menos em corpo. Meus pensamentos que se iniciaram confusos desde o momento que entrei em meu camarim para me trocar aquela noite, só estavam ainda piores agora. Eu já não sabia mais o que pensar. Mais do que nunca aquela semana de afastamento da presença de Luke Stewart, seria crucial para mim. Após a foto, Luke deu a volta na mesa para ficar do meu lado, fato que deixou Jennifer Mason ainda mais possessa depois que voltou do banheiro.  

— Sabe uma coisa que reparei em você essa noite e achei a coisa mais linda? - Luke esticou o braço me abraçando pelo ombro, para sussurrar no meu ouvido. Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem com aquele contato repentino, mas disfarcei. - O biquinho que você faz quando está com ciúmes. - O comediante abriu o sorriso mais largo do mundo ao dizer isso e me surpreendeu com um beijo estalado na bochecha. Em seguida, Luke saiu andando tranquilamente para o lado de Gazon, deixando-me com a maior cara de “vaca de presépio”. Como assim, ciúmes?

Não sei o que tinha me deixado mais atordoada naquela noite.

Nossa apresentação histórica e o primeiro lugar no ranking de estréia com nota 10 em todos as avaliações. As sensações esquisitas que eu sentia todas às vezes que estava perto do meu aluno.

O meu aluno ignorando completamente as investidas de Jennifer Mason, agindo como se o mundo dele girasse apenas em torno de mim.

O enorme constrangimento por ele achar que eu estava com ciúmes e mais ainda, o constrangimento, por perceber que ele tinha razão.

Muitas coisas faziam minha mente girar naquele momento, porém, o meu cérebro ficou martelando em cima de uma única questão.

O que será que Luke Stewart estava querendo saber com essa maldita pergunta. “Se um dia eu te pedir, você vai me dar?”


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Notas finais do capítulo

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