Acordei no dia seguinte me sentindo melhor. Arrumei minhas coisas na mala e desci até a recepção do hotel para fazer o checkout. Eu precisava ir embora. Enviei uma mensagem no celular da May me desculpando pelo meu piti da noite passada e disse que estava muito feliz em viver essa nova e incrível experiência ao lado dela.

Confesso que a TPM fazia eu ter algumas reações exageradas em determinados momentos. Não que eu ainda não estivesse preocupada com o comportamento de Luke Stewart durante os ensaios mas, decidi deixar as coisas acontecerem naturalmente. Vou colocar tudo de mim nesse concurso. Quero que as pessoas reconheçam o meu trabalho e percebam que eu sou muito mais do que aquela bailarina que sorri e bate palmas para as câmeras aos domingos no programa do Fred. Quero divulgar meu trabalho, meu estúdio de dança e mostrar o talento dos meus alunos para o mundo. Se o Luke realmente for chato, não me importo, serei profissional como sempre fui. Afinal, não fui escolhida a participar desse concurso para arranjar um amigo, mas sim, para ensinar uma pessoa a dançar. Eu posso fazer isso.

Cheguei em casa exausta por conta da demorada viagem de carro. Entrei no meu quarto, larguei minhas coisas de qualquer jeito em cima da poltrona e me atirei na cama para descansar um pouco antes de ir para o meu centro de dança. Eu teria que dar aula ainda hoje. Peguei o celular e enviei uma mensagem para o Erick marcando de nos encontrarmos lá para conversar.

Como de costume, aproveitei que estava com o celular na mão e abri o Instagram. Notei que eu tinha ainda mais seguidores do que ontem. Nossa! As pessoas gostavam mesmo daquele menino. Até o meu fã clube já estava seguindo Luke Stewart. A grande maioria dos comentários em nossa foto eram bem carinhosos, alguns nos desejando sorte e outros demonstrando sua torcida por nós.

Agora, com a cabeça mais fresca, decidi conhecer melhor o meu futuro aluno.

Entrei no perfil do Luke e fui rolando a tela para as postagens anteriores. Olhei suas fotos pessoais, projetos, trabalhos… Estava tão entretida no assunto, que nem percebi o sorriso no meu rosto, enquanto assistia a um de seus vídeos. No vídeo Luke vestia uma camisa xadrez na cor gelo mesclada com tons de azul e uma jaqueta de couro preta. Ele dizia que a vida consistia em duas versões de se mostrar pra sociedade, uma era na versão “blogueirinha de internet” e a outra na versão “real”, e então, ele fez as imitações dos dois estilos de forma muito engraçada. Tive que dar o braço a torcer e assumir, o cara era bom mesmo.

Luke tinha uma espontaneidade nata e as coisas saiam de sua boca naturalmente. Não era forçado. Sua veia artística era muito forte. Comecei a entender melhor seu comportamento ontem.

Continuei pesquisando sobre ele no google, nas redes sociais, no YouTube e a cada descoberta que eu fazia, me deixava ainda mais interessada nas façanhas do meu futuro aluno. Luke além de ator e comediante, era também um ótimo músico, ele tocava alguns instrumentos como guitarra, bateria, violão, entre outros. Porém, foi quando vi um vídeo dele vestido de Michael Jackson que o meu queixo caiu. Luke foi filmado em um de seus shows, no momento em que fazia perfeitamente os passos de Moonwalker do rei do pop. Eu estava impressionada. Ele levava jeito para a coisa. Esse menino tinha somente 21 anos mesmo? Existia algo que não era capaz de fazer?

Eu estava tão envolvida em minhas pesquisas que perdi a noção do tempo. Quanto mais eu via, mais eu queria pesquisar. Só dei uma pausa, quando o meu celular começou a vibrar na minha mão. Era o Erick. Olhei para o aparelho com uma expressão confusa. Quem era Erick? Levei um segundo até a consciência me atingir em cheio e eu dar um salto da cama. Ai, caceta! O Erick! Eu havia esquecido completamente que tinha marcado de encontrá-lo no meu estúdio a noite. Na verdade, eu havia esquecido completamente que tinha aula para dar e por um momento, eu esqueci completamente que tinha detestado conhecer Luke Stewart ontem. Atendi o telefone no quarto toque. Erick nem esperou eu dizer “Alô”.

— Já não basta me fazer de trouxa em rede nacional, vai me fazer de trouxa aqui também? Faz mais de uma hora que estou plantado aqui nesse estúdio te esperando Nataly! Onde você está?

— Boa noite pra você também, Erick. Eu estou bem sim e você? - falei em tom de ironia.

— Nataly, não estou para gracinhas, ok? Precisamos conversar sério sobre essa palhaçada de ontem. Você já falou com seu chefe que não vai participar daquele concurso ridículo? - ele só podia estar brincando. Comecei a rir.

— Erick você está se ouvindo? Você que está sendo ridículo!

— EU ESTOU SENDO RIDÍCULO? EU, NATALY? - disse aos berros. - ONDE VOCÊ ESTÁ, PORRA! - nesse momento, eu não aguentei.

— Primeiramente, abaixa esse tom de voz para falar comigo que eu não sou suas quengas, ok? Se nem meu pai que é o meu PAI, nunca levantou a voz pra mim, você acha que vou tolerar isso de algum outro homem? Segundo, quem você pensa que é pra achar que pode mandar na minha profissão? E mais, quem é você na fila do pão para dizer que o MEU TRABALHO é ridículo? Erick sinceramente, eu já cansei disso tudo. - Erick ficou mudo por um momento, achei até que tinha desligado.

— O que você quer dizer com isso Nataly? Estou no seu portão. Abre aqui. - revirei os olhos e olhei pela janela do meu quarto. Erick estava mesmo plantado no meu portão. Minha casa era bem perto do meu estúdio.

Eu não estava nem um pouco afim de continuar essa discussão, mas já estava mais do que na hora de botar um ponto final nisso tudo de uma vez por todas. May tinha razão. Se a pessoa que estivesse comigo não entendesse minha profissão e confiasse em mim, isso nunca daria certo.

Sem pressa, caminhei até o portão. Erick vestia uma camiseta preta justa destacando seus bíceps malhados e uma calça jeans. O cabelo estava pra cima num topete um pouco alto demais. Imediatamente, quis matar a May por compará-lo ao personagem Johnny Bravo, porque olhando para ele agora, a semelhança estava gritante e eu tive que segurar o riso.

Erick estava encostado na porta do passageiro de sua pickup, com os braços cruzados. No rosto mantinha um semblante sério, um olhar furioso, quase que mortal.

— Oi… - falei ao me aproximar mantendo uma distância segura de dois passos. Não rolou nenhum tipo de contato fisico entre nós. Não sei dizer o motivo mas, de repente, eu tive a sensação de que aquele cara que estava parado na minha frente e que eu namorei por 4 anos, era um completo estranho pra mim.

— Nataly você não pode participar desse concurso. - começou de novo.

— Erick você ouviu alguma coisa do que eu te falei no telefone?

— Você mal entrou nessa porcaria e aquele moleque já estava te agarrando e…

— Erick, chega! Não vamos começar com isso de novo, por favor? Vamos facilitar as coisas para nós dois. - Não adiantava nada estender essa conversa.

— Concordo. Você liga amanhã para a produção do programa do Frederick, diz que não vai poder participar do concurso por questões pessoais, nós esquecemos esse assunto e seguimos nossas vidas. - ele era inacreditável.

— Ou você cai na real que estou terminando com você e segue sua vida que eu sigo a minha. Que tal? - Erick me olhou em choque.

— Você o que?

— Erick isso aqui já deu. Nós tivemos nossos momentos e fomos muito felizes juntos, só que o nosso ciclo acabou. Não adianta mais seguir com isso, se brigamos o tempo todo. Coloca uma coisa na sua cabeça, eu não vou desistir dos meus sonhos por você.

— E aquele amor que você jurou sentir por mim?

— Erick fui sincera em cada palavra quando eu te disso isso mas, sentimentos se transformam e as coisas mudam. Eu realmente amei você, só que está mais do que óbvio que não estamos na mesma sintonia. Hoje percebo que estamos ligados em estações diferentes e as nossas ideias e propósitos, já não batem mais. Você não me apoia, não acredita nos meus sonhos e já não é capaz nem de sorrir com as minhas conquistas. Então, o quanto antes a gente aceitar isso, será mais fácil para nós dois. Guarde na memória nossos bons momentos e busque o que realmente te faz feliz que eu vou fazer o mesmo. No meu caso, é a dança e é nisso que vou focar agora em tempo integral. - Erick ficou sem reação.

— Você vai se arrepender de terminar comigo, Nataly. Escuta bem o que estou te dizendo. Não adianta vir rastejando atrás de mim depois, porque eu não vou te aceitar de volta.  Sabe quantas garotas desejariam estar no seu lugar e namorar comigo? - disse presunçoso. - Você não vai encontrar outro cara como eu, Nataly. - Erick não conseguia deixar de ser egocêntrico nem nessas horas.

— Erick já parou pra pensar que talvez eu não queira outro cara como você? Se eu quisesse não teria sentido abrir mão dessa relação, concorda? Na verdade, nesse momento, eu não quero cara nenhum. Eu só quero paz e tranquilidade para focar nessa oportunidade que surgiu na minha vida e não é isso que você está trazendo pra mim. - senti que descarreguei o peso de uma tonelada das minhas costas. Há tempos não me sentia tão leve. Talvez eu só estivesse acomodada mesmo nesse relacionamento. - Preciso entrar agora, porque amanhã tenho muitas coisas pra fazer. Boa sorte Erick e seja feliz. - Como um furacão, Erick virou as costas dando a volta no seu carro. Ele entrou no veículo, deu partida e saiu cantando pneu sem nem olhar na minha cara. Respirei fundo limpando a única lágrima que escorreu dos meus olhos.

Voltei para o meu quarto ainda sem acreditar no que tinha acontecido. Eu terminei mesmo meu namoro com o Erick? Caramba! Eu achava que quando esse dia chegasse eu me sentiria triste, vazia, quase depressiva. Afinal, eram quatro anos da minha vida que estavam ficando para trás. Porém, tudo que eu conseguia sentir era um grande alívio. Agora eu poderia entrar de cabeça nesse concurso do programa do Fred e me dedicar única e exclusivamente ao meu trabalho. Eu faria Luke Stewart dançar.

Depois de tudo que eu tinha pesquisado sobre ele hoje a tarde, eu já não sentia mais aquele medo bobo de que talvez Luke não levasse a sério o concurso por ser brincalhão e imaturo. Apesar da pouca idade, Luke já demonstrava bastante responsabilidade e o melhor, um incrível talento.

Toda aquela empolgação que eu não consegui sentir ontem ao ser escolhida para dançar com Luke Stewart, hoje havia me atingido como um raio. Eu estava tão animada e, verdadeiramente, feliz. Eu já fazia até idéia dos passos que colocaria na coreografia, agora eu só precisava saber se o Luke toparia. Tinha alguns famosos mais estrelinhas que limitavam a coreografia ou por medo de se machucar, ou por pura frescura mesmo. Era muito mais fácil para o professor quando o aluno comprava nossas ideias e mergulhava de cabeça, junto com a gente, nas nossas loucuras.

Quando entrei no Instagram, vi que havia uma nova atualização de postagem do Luke com outra foto nossa. A foto que o Alan tirou da gente no painel para o site ontem. Aquela foto que não fiz a mínima questão em ver naquele momento, mas que agora eu estava em êxtase, por ter ficado tão legal. Luke escreveu na legenda, “E vamo que vamo!!” com a hashtag do programa. O que me deixou mais feliz foi perceber que ele também estava animado com a participação no quadro “Você pode dançar?”.

Já estava mais do que na hora de eu entrar em cena e agradecer aos meus fãs e aos fãs do Luke por todo carinho, apoio e torcida. Eu queria que todos, inclusive Luke Stewart, soubessem o quanto estava emocionada em fazer parte disso tudo. Aproveitando aquela mesma foto, fiz um post no meu Instagram.

“Que emoção fazer parte desse quadro incrível e vem ai o “Você pode dançar?” com meu parceiro @lukestewart vamos com tudoooooo!!!!” Muito obrigada pelo carinho de todos vocês.”

Luke foi o primeiro a curtir a postagem. Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. Decidi excluir algumas fotos do Erick do meu Instagram, pois, não queria nenhum tipo de exposição em cima desse assunto. Esse ciclo estava encerrado na minha vida, para dar início a outro. O foco agora era minha carreira profissional.

Aquela semana passou voando. Adiantei tudo o que eu precisava no Centro de dança e deixei algumas papeladas em ordem. David, meu melhor amigo, juntamente com minha mãe ficariam responsáveis pela administração do meu estúdio nesse período em que eu ficaria fora.

A produção do programa do Fred alugou um quarto que eu dividiria com a May no Rio de Janeiro, pelo tempo em que estivéssemos participando do concurso.

Eu não sei o que estava deixando May mais empolgada. O fato de morarmos juntas, o concurso ou eu ter terminado com o Erick.

Eu só tive notícias do Luke durante a semana através das redes sociais. Acompanhei suas postagens no Instagram, seus “stories”, suas fotos e por uma delas, fiquei muito feliz em saber que estava na academia com o seu personal se preparando para o quadro “Você pode dançar?”.

Luke passou a curtir todas as minhas fotos depois da postagem de agradecimento que fiz na segunda com a nossa foto. Eu estava ansiosa para o início dos ensaios amanhã. Decidi fazer uma postagem sobre isso. Baixei o vídeo do momento em que Fred anunciou meu nome para o “Você pode dançar?” e escrevi na legenda:

“A amanhã começa uma nova experiência na minha vida. Só tenho palavras para agradecer toda equipe do “Você pode dançar?”, todas as minhas amigas companheiras de trabalho por esse momento lindo e a todas as pessoas que sempre acreditaram nos meus sonhos e me apoiaram. Que Deus continue sempre comigo”

Mais uma vez, Luke foi o primeiro a curtir a postagem.

Desembarquei no aeroporto do Rio e fui direto para o centro de ensaios do programa do Fred. Eu teria que me trocar, me preparar e a produção precisava me passar algumas instruções antes de começarmos as gravações.  Os ensaios seriam filmados e editados para mostrar ao público um pouco do que tinha acontecido durante a semana antes da nossa dança. O grupo das mulheres tinham arrasado na estreia ontem e nós teríamos que superar.

Jones, um dos produtores, disse que Luke já tinha chegado e estava em uma sessão de fotos com os demais famosos participantes. Fiquei aliviada. Ele era pontual.

— Nataly, assim que o Stewart entrar você o recepciona com um cumprimento. Nós vamos mostrar essa parte do encontro de vocês no primeiro vídeo e depois a condução do ensaio fica por sua conta. Teremos as câmeras ligadas naqueles quatro pontos o tempo todo.Só tomem cuidado com o microfone que ficará preso no corpo de vocês durante o ensaio. Quanto menos vocês quebrarem, melhor. - brincou. - Boa sorte, garota! - Jones era um fofo. As salas de ensaio eram discriminadas por cores e seriam distribuídas entre as duplas, Luke e eu faríamos nosso primeiro ensaio na sala laranja. Após tudo definido, fui para o camarim me trocar. Nós teríamos que usar o figurino já selecionado pela produção. Coloquei uma calça legging preta vazada em tule e uma camiseta bordô com o logo do programa. Prendi apenas a parte de cima do cabelo em um rabo solto, passei meu perfume e um leve gloss nos lábios. Estava pronta. Voltei para a sala laranja e esperei Luke Stewart entrar. Por algum motivo meu coração batia acelerado. Eu estava nervosa. Luke atravessou aquela porta despretensiosamente e o meu sorriso se iluminou.

— Olááááá, tudo beeemmm? - falei animadamente, caminhando em sua direção. Luke retribuiu meu “Olá” de forma calorosa ao me dar um abraço apertado e um beijo estalado na bochecha. Tudo desapareceu naquele momento. Meus medos, minhas preocupações e minhas inseguranças. Tudo evaporou como se nunca tivesse existido. E foi então que eu percebi que todas as minhas preocupações a respeito dele não tinham o menor fundamento. A partir de agora eram apenas Luke e eu ali. E agora, chegou o momento de botar Luke Stewart para dançar.