Capítulo 04 – Primeira experiência

Qualquer um que visse os gêmeos encostados na parede daquela sala pensaria que estavam apenas descansando, mas aqueles que os conhecem muito bem saberiam que estavam tensos. Fred observou a castanha entrar lentamente no pequeno lago até que a água atingisse seus joelhos e segurou um grito quando viu a luz lunar iluminar Hermione que arfou e se ajoelhou curvando suas costas. Sua primeira reação foi de tentar se aproximar da castanha, mas parou ao receber um olhar significativo de seu gêmeo: por mais que cada grito dela partisse seus corações, permaneceriam ali, assim como haviam prometido. George deu um soco frustrado na parede enquanto ouvia os gritos de dores da castanha que se contorcia sob a água. Aquilo era uma tortura para os três presentes na sala.

Hermione sentia seu sangue ferver e queimar sua pele. Seu coração batia em um ritmo louco e sua pele parecia rasgar lentamente. Xingou alto ao sentir a dor aumentar e usou toda sua concentração para se manter acordada. Pensou em sua família e seus amigos, buscava dentro de si cada memória e momentos vividos para que desse força a castanha. Não sabia quanto tempo havia passado: uma... duas... talvez três horas. Hermione Granger soltou um suspiro de alívio ao sentir a dor ir embora e ver através de seu reflexo, que suas asas estavam ali.

Fred e George estavam quase enlouquecendo por não poderem fazer nada para ajudar a mais nova. O ciclo de gritos de Hermione durou cerca de meia hora. Fred estavam agachado com suas mãos na cabeça e seus olhos fixos no chão. Já George, por mais torturante que seja, não tirava os olhos da castanha.

— Fred, acho que acabou. – a voz de George era baixa e o outro gêmeo levantou a cabeça lentamente até se deparar com uma Hermione trêmula, de olhos fechados e um par pequeno de asas douradas na suas costas. Um pouco mais calmo ao vê-la de pé, os gêmeos se aproximaram um pouco mais da castanha que permanecia quieta e de olhos fechados.

Fred observou cada detalhe possível da morena: suas roupas rasgadas e manchadas de sangue, seus cabelos volumosos bagunçados, seu corpo trêmulo e também, o par de asas que estava ali. “Um anjo.” Pensou e admirou a beleza genuína da castanha, mesmo naquele estado. Uma voz doce o tirou do transe.

— Quanto tempo durou? – a voz da castanha saíra mais doce e baixa que o normal.

— Acho que meia hora, mais ou menos. – um dos gêmeos respondeu.

— Ainda está com dor? Precisa de algo? – o outro perguntou.

— Ainda dói, mas posso aguentar. – a castanha sorriu de leve, sorriso que os gêmeos não podiam ver já que ela estava de costas. – Tudo que eu preciso é de um bom banho e cama, mas não posso sair daqui desse jeito.

— De fato, não podemos deixar que você saia por aí com suas asas...

—... e se torne mais popular que os gêmeos Weasley. – o outro completou e Hermione se permitiu rir um pouco.

Com seus olhos ainda fechados, a respiração de Hermione começou a acelerar, assim como as batidas de seu coração, seus joelhos fraquejaram ao sentir a dor voltar com mais intensidade, fazendo a mesma cair sob a água.

— Hermione! – eles gritaram em conjunto e a castanha sentiu um arrepio ao sentir um par de mãos fortes a segurarem.

— Não!- Hermione se livrou do par de mãos e virou na direção dos ruivos. – Vocês prometeram ficar longe!

— Não podemos te deixar assim nesse estado! – um dos ruivos falou e Hermione o reconheceu como sendo George. (Mesmo ela não sabia como conseguiu diferenciar um do outro somente pela voz)

— Estamos enlouquecendo por não podermos fazer nada! – Fred falou e a castanha percebeu pela voz que foi ele quem a segurou antes.

— Não. Não. Não!— Hermione se afastou e abriu seus olhos pela primeira vez e encarou os gêmeos que se assustaram. – Fiquem longe de mim! – ela botou força nessa última frase e os gêmeos voaram para longe. Literalmente, voaram. A dor voltou com tudo e Hermione foi levada pela escuridão.

*****

Fred levantou-se lentamente da queda (ou seria voo?) sentindo dor em cada articulação de seu corpo. Olhou na direção de George e o viu sentado tentando se levantar.

— Puta merda, que dor. – o gêmeo exclamou quando finalmente ficou em pé. – Que força, por Merlin.

— Realmente. – Fred soltou e a memória dos olhos dourados de Hermione vieram a sua mente. Lembrou-se também que algumas faixas brancas, tipo marcas ou runas, apareceram no corpo da castanha quando os mandou para longe. – Hermione! – ele exclamou ao ver a castanha, já sem asas, inconsciente na água. Mesmo quebrando a promessa feita antes, ele se aproximou dela e a pegou com cuidado no colo. Depois de trocar olhares com seu irmão, ele saiu da sala precisa e foi em direção à sala do diretor com Hermione em seus braços.

*****

—“Você quer respostas, certo? Não posso dar todas, mas posso te guiar durante seu caminho. ” Leo falou enquanto brincava com a ponta de seus dedos. O menino estava sentado ao lado de Hermione em um banco no parque onde estavam.

— “Meu último sonho me mostrou um anjo aprisionado por Voldemort e eu tenho quase certeza de que era real. Os anjos caídos têm o poder de ter esses tipos de visões? ” – Hermione perguntou olhando para a criança ao seu lado.

— “Não todos, são raras essas ligações. ” – respondeu sem parecer surpreso pela pergunta.

— “Ele é o anjo que me deu sua marca, não é? Por isso eu consigo sentir suas emoções e seu chamado.” – concluiu sozinha.

— “Você é, sem dúvidas, a bruxa mais inteligente de sua idade, Mione.” – o pequeno anjo sorriu e ela corou. “Você vai ter todas as respostas assim que a encontrar.” – falou misterioso – “Às vezes, precisamos voltar as nossas origens para salvar quem amamos.”— ele terminou e desapareceu antes que a castanha perguntasse quem ela tinha que encontrar e o significado de “voltar às origens”.

*****

Hermione Jean Granger despertou ao sentir o macio de sua cama. Abriu os olhos lentamente e viu que estava em seu quarto. Seu corpo ainda doía, mas não se sentia como se tivesse sido pisoteada por um hipogrifo bêbado.

— Bom dia, flor do dia. – uma voz a assustou.

— George, que susto. – ela colocou a mão em seu coração acelerado. – Você quer me matar do coração? O que faz aqui no meu quarto?

— Quanta consideração, Mia. – fingiu estar magoado. – Depois da nossa noite incrível você me dispensa assim? Me sinto usado. – ele limpou umas lágrimas falsas. – Ainda por cima me confunde com meu irmão. Eu sou Fred, amor.

— Me desculpe, Fred. – Hermione se aproximou do ruivo e colocou a mão na lateral do rosto dele. – Eu nunca que esqueceria nossa noite juntos. Que tal um flashback agora de manhã como forma de desculpa, hun? – ela o olhou de forma intensa.

— Er... Mione? – o ruivo a sua frente falou incerto e a mais nova gargalhou.

— Consegui deixar um dos gêmeos sem fala, já posso morrer em paz. – ela sorriu marota e se afastou. – Eu sei que você é o George, querido. – ela falou enquanto se jogava na cama novamente.

— Não conhecia esse lado maroto, Hermione. – George sorriu – E como pode ter certeza de que sou George?

— Também não sei, mas todos os meus sentidos estão gritando que é você.

— Isso não soou muito inocente, - o ruivo deu um sorriso malicioso e desviou de um travesseiro que voou em sua direção. – Ontem depois que você desmaiou, Fred te levou até a sala do diretor e lá deram a sua poção e a senha do seu mais novo dormitório, que por sinal é muito confortável. – o ruivo explicou e analisou o quarto. – Fred tinha um encontro com Angelina de manhã e por isso não está aqui, mas passamos a noite aqui.

— Eu não sei se eu bato ou agradeço vocês. – Hermione ignorou a pontada que sentiu ao ouviu o nome da outra garota. – Prometeram para mim que não iam se aproximar.

— Eu sei, Mia, mas você nos conhece muito bem para saber que iríamos te socorrer mesmo assim. – George falou.

— Obrigada, de coração. – a castanha sorriu. – Agora fora do meu quarto porque eu preciso me trocar.

— Eu estou bem aqui, obrigado. – o ruivo falou antes de desviar novamente de um travesseiro. – Okay okay, já estou indo. – levantou suas mãos em forma de rendição e saiu do quarto rindo.

*****

A semana da Lua Cheia passou rápido. Com a presença dos gêmeos, Hermione se sentia mais segura durante suas transformações que graças às poções de Snape, eram muito bem disfarçadas. Leo não apareceu novamente naquela semana, mas seus sonhos sempre eram em relação ao anjo aprisonado por Voldemort. Enquanto estudava loucamente, ajudava Harry com seu ovo do torneio, passava o tempo com seus amigos e os gêmeos, Hermione também passava seus horários livres na biblioteca, tentando entender mais sobre suas transformações e claro, entender o que Voldemort procurava.

— Antes de pensar no que ele quer, tenho que saber quais são os poderes dos anjos e dos anjos caídos. –Hermione estava sentada na mesa mais afastada da biblioteca e bagunçava seu cabelo frustrada. Estava também fugindo de Krum que sempre estava a sua cola. Gostava do rapaz, nada comparado ao que sentia por Ron claro, mas precisava de um tempo sozinha para colocar sua vida em ordem.

— Granger? – uma voz a chamou e a castanha levantou sua cabeça dos livros. – a prof. McGonagall me pediu para te entregar isso. – um garoto da Corvinal lhe entregou uma carta.

— Obrigada. – ela sorriu e ele se afastou. Ela abriu a carta e leu o conteúdo.

“Srta. Granger,

Assim que possível, venha à minha sala. Tenho assuntos importantes para tratar com a senhorita.

Minerva McGonagall.

A grifinória arrumou suas coisas rapidamente e saiu em direção à sala de sua professora. Assim que ficou em frente à porta, ela bateu de leve, entrando na sala assim que teve permissão.

— Professora? Aconteceu algo? – A castanha perguntou assim que se sentou na cadeira onde a mais velha indicou.

— Não, não. Porém, preciso da ajuda da senhorita para realizar a segunda tarefa do Torneio. – McGonagall lhe explicou.

— Estou disposta a ajudar no que for preciso. – a castanha afirmou e a professora passou a explicar o que aconteceria nos próximos dias.

*****

Sem dúvidas, a semana da Lua Cheia foi a semana mais intensa até então. Não foi jogado para longe como na primeira vez, pelo contrário, foi relativamente tranquilo. Bom, de fato, ver Hermione Granger se contorcendo de dor não era tranquilo. Fred sentia-se torturado toda vez que ouvia os gritos dela, mas sabia que o melhor que poderia fazer era oferecer seu apoio. Foi fácil arranjar desculpas para seus colegas de quarto, ainda mais com a ajuda de Lee que mesmo sem saber o motivo ajudava os gêmeos. Nessa mesma semana também, começou a namorar sério com Angelina que apesar de ciumenta, era uma namorada carinhosa.

— Fred? – uma voz o tirou de seus pensamentos. – Está tudo bem?

— Está sim, Angie. Só estava distraído. – o ruivo sorriu e deu um beijo de leve na morena. – Não era nenhuma garota, amor. – ele acrescentou ao receber um olhar dela.

— Sei. – ela o olhou desconfiada, mas logo se rendeu aos encantos dele. Tudo estava indo maravilhosamente bem e esperava que continuasse assim.

Claro, Freddie, continue acreditando nisso, claro.