Os garotos foram acompanhados pela diretora e por mais três professores até a saída da floresta. Eles foram levados ao castelo e logo Xavier e Christopher já estavam no corredor da sala da diretora, com a grande estátua de águia guardando a entrada. A professora McGonagall pediu para ficar a sós com os dois. Lá dentro, a diretora andou em direção à escada que dava acesso ao andar de cima da sala e disse para os dois, apontando para duas cadeiras na frente da mesa grande que ficava no centro do andar de baixo:

— Podem se sentar aqui. Eu já volto.

E então ela subiu, deixando os garotos sozinhos se olhando com aquele ar de constrangimento.

— Desculpa – disse Xavier em voz baixa, sem demora.

— Não foi nada, relaxa, está tudo bem – respondeu Christopher.

— Nós vamos receber uma detenção e a culpa é minha.

— Não, a culpa não é sua. Eu entendo sua curiosidade em perseguir aquele cara. Na realidade eu entendo até demais...

— O que quer dizer? – perguntou Xavier, franzindo a testa.

— Eu também tenho visto esse homem – disse Christopher, agora quase cochichando.

— É sério? – perguntou Xavier, surpreso.

— Sim. Uma vez numa aula de Poções, a porta da sala de aula estava aberta. E então num momento eu olhei na direção da porta e vi justamente ele passando no corredor pela frente dela – disse Christopher. – Se ele é um intruso e procura alguma coisa, no mínimo esperto ele é. Ele aparece em locais vazios. Eu pedi pra sair da sala e fui dar uma olhada no lado de fora. Não tinha mais ninguém. Ninguém acreditaria em mim...

— Nós não deveríamos contar a ela? – perguntou Xavier. – Tem um intruso no castelo! – completou ele, cochichando.

— Você tem coragem? – perguntou Christopher, com um ar sombrio. – Cara, ele nos viu na floresta. Se contarmos, ele saberá que fomos nós. Quem sabe o que pode acontecer?

Xavier queria contestar, mas teve que admitir que o amigo tinha razão.

— O fato de eu tê-lo visto naquela aula é o que mais me preocupa... – disse Xavier.

Christopher não reagiu ao comentário. Xavier respirou fundo e começou a reparar na sala. Não tinha mudado muita coisa. O Chapéu Seletor estava repousando numa prateleira ao canto, cercado de livros e outras papeladas. Do outro lado estavam os retratos com os antigos diretores de Hogwarts. Xavier viu os retratos de Alvo Dumbledore e Severo Snape, todos cochilando em suas respectivas cadeiras. A distração de Xavier foi interrompida pelos passos da professora descendo as escadas. Ela se sentou na cadeira na frente deles e afastou uns livros de cima da mesa.

— Vocês estudam aqui há quatro anos. Eu acreditava que não era preciso repetir que a floresta é terminantemente proibida a todos os alunos – disse ela.

Os garotos olharam para baixo e depois de novo para ela.

— Eu prefiro não saber por que vocês estavam lá. Por favor, fiquem longe de confusão e longe daquela floresta. Essa regra existe porque aquele lugar é perigoso até para bruxos experientes – disse ela, em tom mais severo.

— Desculpa, professora – disse Christopher, em voz baixa.

A professora respirou fundo e continuou:

— Vocês dois sofrerão detenções e 50 pontos serão tirados de cada um. Ainda vou decidir qual será suas detenções. Vocês logo saberão.

Os dois garotos olharam desapontados para ela... Cinquenta pontos era bastante coisa.

— Eu sugiro que vocês voltem aos seus dormitórios agora, em silêncio.

— Sim, professora – disseram os dois ao mesmo tempo.

E então eles saíram da sala. Xavier acompanhou Christopher até a entrada das masmorras e depois seguiu direto para a sala comunal da Corvinal. A sala comunal não estava muito cheia naquela hora e, numa mesa ao canto, próxima a uma das grandes janelas, ele viu Frank e foi até ele.

— E aí? Você está muito encrencado mesmo? – perguntou Frank, parecendo meio preocupado.

— Sim. A Corvinal perdeu 50 pontos e eu vou cumprir detenção – disse Xavier, desapontado.

— Que pena.

— Qual foi o resultado do jogo?

— Eu não me lembro agora... – disse Frank, desconfortável.

— Como assim não se lembra? – perguntou Xavier. – Você não viu o jogo até o fim, não é?! – Xavier olhava o amigo atentamente, que estava nervoso.

— Quê? Claro que eu vi, eu...

— Foi você! Você chamou a professora McGonagall e disse a ela que eu estava indo na direção da floresta, não foi? – perguntou Xavier, bravo, mas tentando não chamar a atenção dos outros.

— Eu... Eu... Quer saber? Fui eu sim! Satisfeito?

— Por que você fez isso? Olha só a MERDA que deu! – Xavier tentava resistir à tentação de puxar a varinha.

— Porque eu estava preocupado! Eu imaginei que você poderia morrer lá dentro baseado no que você anda me contando.

Xavier respirou fundo, se ajeitou na cadeira e contou a Frank o que tinha visto no jogo de Quadribol e porque tinha ido à floresta.

— E Christopher disse que o viu também? – perguntou Frank.

— Sim. Cara, nós temos sorte de a professora não tê-lo visto. Porque se tivesse, ele poderia muito bem vir atrás de mim e de Christopher, achando que nós contamos a ela. Ele nos viu e provavelmente sabe que ninguém mais no castelo o viu... Ainda – disse Xavier calmamente, porém com vontade de trocar o primeiro “nós” por “você”.

— Tem um intruso entre nós... É loucura guardar segredo – disse Frank, indignado.

— Ah, você pode ter certeza que eu percebi o quão difícil pra você é guardar algum segredo... Nós vamos ter que esperar mais um pouco, infelizmente... – disse Xavier.

Os dois passaram o restante da tarde fazendo tarefas, enquanto a neve voltava a cair e se acumular nos parapeitos das janelas da sala comunal. Eles desceram para o jantar e depois de um tempo foram dormir. Felizmente, Xavier dormiu bem aquela noite.

O dia seguinte parecia estar correndo normalmente. Com a proximidade das festas de fim de ano, as aulas ficavam um pouco mais corridas. No final da tarde, Xavier e Frank resolveram juntos uma atividade de Herbologia e depois seguiram para o jantar. Novamente como de costume, voltaram à sala comunal.

Já se passava de oito e meia da noite quando o silêncio no castelo foi interrompido por um anúncio da professora McGonagall:

— “Todos os alunos devem voltar aos seus dormitórios imediatamente. Professores, peço que, por favor, me encontrem nas masmorras agora mesmo!”

Xavier e Frank ouviram e decidiram apenas abrir a porta da sala comunal. Do lado de fora, eles puderam ouvir gritos e correria.

— Mas gente... O que houve? – perguntou Frank.

— Só há um meio de descobrir. Vamos! – disse Xavier.

— Você ouviu. Ela ordenou que todos voltassem.

— E se for algo relacionado ao “intruso”?

— Mas...

Frank não sabia argumentar. Os dois saíram e seguiram apressados em direção do Grande Salão, tentando não esbarrar em ninguém. E então, num momento, já próximo ao Grande Salão, Xavier avistou a garota da Lufa-Lufa que fizera dupla com Frank na aula sobre o feitiço Accio. Ele seguiu até ela e tentou dizer:

— Você pode nos dizer o que está acontecendo?

Ela, ao ver Frank, deu meia volta, seguiu até onde eles estavam, trouxe os dois garotos para um canto próximo à entrada do salão e disse, em voz baixa:

— Tomem cuidado. E fiquem longe das masmorras.

— Por quê? – perguntaram os dois ao mesmo tempo.

— Acreditem ou não: Baltazar White foi visto dentro do castelo, nas masmorras, por vários alunos da Sonserina. Eles foram correndo até a sala da diretora.

— Quem foi visto? – perguntou Xavier, confuso.

— Baltazar White – repetiu ela. – Vocês precisam ir.

Antes que Xavier pudesse dizer qualquer coisa, Frank advertiu:

— Cara, você já conseguiu a informação que queria, e muito facilmente. Vamos voltar!

— Ok, você tem razão. Vamos – disse Xavier, admitindo que o amigo estava certo.

Eles agradeceram a garota pela informação e voltaram à sala comunal. Os garotos resolveram a charada de entrada em cerca de 10 minutos e ao entrarem, sentaram-se em uma das mesas. Os dois estavam preocupados e um pouco ofegantes. Após alguns momentos, Xavier disse:

— Parece que nós temos mais uma pergunta para responder: quem é Baltazar White?