Depois daquela bomba que Percy soltou ao telefone eu devo ter ficado alguns bons minutos em choque. Tyson era a pessoa mais amor que você pode conhecer. Era o irmão mais novo do Cabeça de Alga, ele tem 8 anos, olhos grandes de um castanho quase mel, e é o menino mais doce e engraçado que poderia conhecer. Percy é doido por ele, nem consigo pensar em como ele ficaria se algo de ruim acontecesse com Tyson.  

—Annie? - ele me chamou ainda na linha.  

—Oi – respondi, ainda perplexa.  

—Você pode vir ao hospital? Não quero ficar sozinho. 

—É claro! - respondi sem hesitar – estou aí em dez minutos.  

Depois de desligar, chamei minha mãe e expliquei o que tinha acontecid resumidamente, pedi para ela me levar ao hospital, já que eu estava sem cabeça para dirigir. Ela nem esperou eu terminar a frase e já estava pegando a chave do carro. Ela também queria ver como Tyson estava. 

O caminho até lá foi quieto e cheio de tensão, não parava de pensar no que poderia ter acontecido com ele. Estava tão atordoada ao telefone que nem pensei em perguntar. Mas agora não conseguia pensar em mais nada.  

Chegamos em tempo recorde e deixamos o carro nas mãos do manobrista. A secretaria nos mostrou onde a família Jackson estava e assim que vi Percy corri para lhe dar um abraço. Ele começou a chorar em meu ombro e não o soltei até ter certeza de que ele estava pronto. Depois abracei sua mãe, que estava do lado e me virei de novo para meu amigo. Seus olhos que normalmente me remetiam ao mar e a praia, estavam vermelhos e tristes, me dando vontade de chorar junto.  

—O que aconteceu? - perguntei segurando as lágrimas.  

Ele respirou fundo e sentou na cadeira que estava encostada na parede atrás dele. 

—Eu estava levando ele para comer na lanchonete perto de casa, e Tyson pensou ter visto nosso pai. Ele largou a minha mão e saiu correndo para atravessar a rua, mas não viu o carro... - ele nem conseguiu terminar a frase. Sentei do seu lado e o abracei de novo.  

—Tyson está em estado grave na UTI. Os médicos disseram que ele provavelmente vai ficar em coma por um tempo – disse Sally, mãe do Percy, ela estava tentando ser forte, mas sua voz termia enquanto falava.  

Minha mãe a levou para tomar uma água ou um café, nos deixando sozinhos.  

—Você já conseguiu ir vê-lo? - perguntei.  

—Eles ainda não deixaram – Então desviou os olhos, mas voltou a olhar nos meus quase que imediatamente – foi minha culpa. 

—Tá doido? É claro que não. Foi um acidente Cabeça de Alga – eu disse. 

—Eu devia estar prestando mais atenção, eu estava responsável por ele, e agora eu nem sei se vou conseguir abraça-lo de novo.  

—Não fala assim, ele é novo, mas vai aguentar. Tyson é mais forte do que pensa.  

—Eu sei... E ele nem veio vê-lo ainda – disse amargamente.  

—Quem? - perguntei confusa.  

—Aquele que se diz nosso pai. A gente deixou um monte de mensagem, mas ele nem respondeu – pude sentir a raiva misturada com mágoa na voz dele.  

—Vai ver ele estava ocupado em alguma reunião ou alguma coisa assim – tentei acalmá-lo, mas não pareceu adiantar muito. 

—Ele não liga pra gente, Annie. 

—Ele liga do jeito dele, talvez não seja o melhor. Mas ele vai aparecer.  

—Espero que esteja certa. Tyson vai ficar arrasado se não o ver. Faz mais de três anos que ele não aparece. Só um cartão de aniversário, alguns dólares e nem um telefonema a mais.  

O resto da noite ficou na mesma. Sentamos e esperamos alguma notícia do nosso pequeno. Minha mãe se recusou a me deixar lá, e eu me recusei a deixar Percy. Ele estava tão desolado que a ideia de ir embora já me enxia os olhos de lágrimas. Só depois de horas ali sentada me dei falta do meu celular. Tinha esquecido no carro. Pedi a chave da minha mãe e fui buscar.  

O estacionamento estava escuro e bem vazio. Era de se esperar, já que passava da uma da manhã. Quando peguei meu celular tinha incríveis doze ligações perdidas. Tanto de Luke, quanto da Thalia e até algumas do resto do pessoal. Eles devem ter achado que morri. Tentei ligar algumas vezes, pois sabia que eles estavam na festa e duvidava que algum deles iria dormir antes das cinco da manhã. Mas nenhum deles me atendeu. Decidi ligar mais tarde e voltar para ficar com o Cabeça de alga. Ele precisava de mim mais do que os outros. 

Pov Luke. 

1:00 PM 

O vento bateu na janela fazendo as cortinas balançarem e a claridade me atingir como um raio. A ressaca tinha me batido e eu só queria dormir mais meio século. Rolei para o outro lado da cama tentando me esconder do Sol, mas alguma coisa me impediu. Ou melhor, alguém.  

Abri os olhos assustado e encontrei uma Thalia seminua do meu lado. Gelei por inteiro e olhei debaixo do cobertor. Como eu suspeitava, estava sem cueca. Flashs da noite passada começaram a bombardear minha mente, o que só aumentava a dor de cabeça. Eu lembro que a Annie não veio, nem Percy. E que a Rachel encheu a gente de bebida e ideias bem erradas. Mas eu nunca faria isso com minha Annie. Eu a amava acima de tudo. Mas conforme as coisas foram ficando claras o peso da culpa começou a me consumir. Assim como o tanto de bebida que eu tinha consumido.  

O banheiro me chamou e eu corri. Abri a porta com tudo acordando Thalia, e vomitei boa parte do que tinha bebido. Ela tentava falar comigo, mas eu não conseguia ouvir nada. Quando consegui fazer meu estômago parar de me fazer vomitar, ela apareceu com um comprimido e água.  

—O que aconteceu? - perguntei. Thalia não me olhava nos olhos e sentou na cama de costas para mim.  

—A bebida aconteceu. E a Rachel encheu nossa cabeça de coisa. Só me lembro da gente se pegando e depois mais nada. Ela nunca vai nos perdoar. 

—Annie não pode saber do que aconteceu. 

—Acho que todo mundo viu. Pelo menos a Rachel sim. E você sabe que ela não vai se aguentar. 

—Podemos tentar ligar para ela.  

—Eu não vou me humilhar a esse ponto – respondeu Thalia com desgosto.  

—Você prefere perder a amizade da Annie? - perguntei já pegando meu celular e vendo inúmeras mensagens e ligações perdidas – alguma coisa aconteceu ou ela já sabe – eu disse mostrando a tela para Thalia e vendo seu rosto empalidecer.