Estava me sentindo em uma perseguição. Sabia que ele estava logo atrás de mim, e tive certeza quando ele puxou meu braço e me levou para um canto que queria conversar sobre nós.  

—Tá doido, Percy? - perguntei, tirando sua mão de mim com um puxão.  

Ele me olhou um tanto magoado, mas eu não entendia aquela situação. O que ele queria de mim? Não posso dizer que lamentei que a Rachel não estava em nossa mesa hoje. Mas ele que fez nós ficarmos nesse clima.  

—Nossa Annie, calma – ele respondeu, sua voz chateada cortava meu coração - só acho que precisamos conversar. 

—Conversar sobre o que? A Rachel termina com você, e acha que pode vir atrás de mim, como se eu fosse segunda opção?  

Ele respirou fundo e me puxou para o pátio, onde tinha algumas mesas sobre a grama e ninguém mais em volta. Eu tentava argumentar que não queria perder aula, mas estava curiosa para saber qual seria a desculpa dele. 

—Então... Estou escutando! - disse, e ele parecia ter algo ensaiado pra dizer.  

—Odeio como essa situação nos deixou! Você era minha melhor amiga acima de tudo! Sempre estivemos lá um para o outro. Quando qualquer um tinha um problema era só ligar e cinco minutos depois o outro estava lá. Sinto falta da nossa amizade. Quando a Rachel terminou comigo eu queria conversar com você, mas não para ficarmos ou qualquer coisa, mas para desabafar. E se for para rolar alguma coisa entre a gente, que role, mas agora o que eu mais quero é a minha amiga de volta.  

Nem preciso dizer que fiquei emocionada. Segurei minhas lágrimas e o abracei. Era verdade, nossa amizade vinha na frente de tudo, ou costumava vir. Durante todos esses anos, várias coisas ruins aconteceram, como o pai dele ir embora ou o divórcio dos meus pais, assim como outros relacionamentos amorosos que não deram certo, sempre tivemos nossa amizade para amenizar o peso das coisas. É claro que Luke e a Thalia estavam lá para mim, mas não era o mesmo. Conversar com ele sempre fora mais fácil, estava disposta a tentar voltar. E o que for para ser será. 

—Está certo, de qualquer forma, uma briga não tira seu posto de melhor amigo – ele me apertou mais forte até eu começar a ficar sem ar – Ei! Eu não estou respirando.  

—Ah, foi mal – ele respondeu me soltando - então quer dizer que você e o Luke estão juntos?  

—Nem eu sei, ainda está cedo para dizer ao certo – respondi, ele me encarou um pouco, como se estivesse me analisando.  

—Não posso dizer que fico super feliz com essa história, mas se você estiver, então tudo bem – fiquei levemente corada, mas não era de vergonha, e sim como se meu coração esquentasse, podia sentir os velhos tempos acenando para nós. Sem todo aquele clima ruim e desconfiança que estava lá nas últimas semanas. 

—Ah, que amor – ele sorriu para mim e passamos o resto da primeira aula ali conversando. Não sei como ninguém passou e brigou com a gente. Mas sentia como se tivesse meu melhor amigo de volta e isso valeria, mesmo se eu levasse uma advertência por matar aula.  

Enquanto voltávamos para dentro da escola, ele passou o braço sobre meus ombros como um irmão mais velho e eu o abracei pela cintura, ríamos e colocávamos o papo em dia enquanto seguia para próxima aula. As pessoas em volta não entendiam nada, mas eu nem prestava atenção nelas.  

O dia passou e no almoço encontrei meus amigos sentados na mesa de sempre. Fui até lá e dei um beijo na bochecha de Luke antes de sentar ao seu lado. Ele me olhou confuso e deu sorriu meio murcho para mim. Mas estava tão animada com tudo que nem reparei muito.  Percy chegou logo depois e sentou do meu outro lado.  

Começamos uma conversa bem aleatória sobre teorias da Pixar, envolvendo todos. Sem mais climas estranhos, o pessoal ficou radiante, rindo alto e dando suas opiniões. Tinhamos botado um fim na Idade das Trevas. Até Nico, que normalmente ficava quieto comendo ou desenhando no seu canto se juntou e deu palpites em nossa própria teoria. Apesar de ninguém entender como ficamos de boa tão rápido, nenhum deles perguntou, acho que decidiram só aceitar que era melhor. Apesar de eu ver nos olhos da Thalia e de Luke que eles iriam querer uma explicação depois. 

Dez minutos antes do almoço acabar, Luke pediu discretamente para conversarmos. Ele me levou até um canto e começou o interrogatório. 

—Vocês estão juntos agora? Porque eu vi vocês abraçadinhos no pátio e depois nos corredores. Eu não vou ser feito de idi... - calei sua boca com um beijo e ele me olhou mais confuso ainda. 

—A gente voltou a ser amigo – eu disse como se fosse a coisa mais simples do mundo. Era normal para nossa relação andar daquele jeito e se abraçar, não necessariamente significava algo mais – pode ficar tranquilo, não sei o que somos ainda, mas eu e Percy não estamos ficando, namorando ou tendo uma amizade colorida.  

Ele soltou o ar como se uma bigorna tivesse sido tirada de suas costas. Então me puxou para um abraço e segurou meu rosto com suas mão. Se aproximou e colou sua testa na minha.  

—Que alívio - ele disse e eu dei um leve sorriso. Achei muito fofo o modo como ele se preocupou e sentiu ciúmes. Ficou com medo de acabarmos o que tínhamos antes mesmo de começar de verdade. Deu-me um último beijo antes de voltarmos de mãos dadas para a mesa.  

Percy olhou aquela cena, mas não disse nada. Apesar de fechar um pouco a cara não deixou o papo morrer. Continuamos com nossas teorias da conspiração. Mas uma pessoa que não desgrudava os olhos da nossa mesa era aquela cabeça ruiva. De vez em quando eu olhava para ela, e todas as vezes seus olhos estavam fuzilando a mim ou a Percy. Tinha certeza que ela achava que eu era a culpada por seu relacionamento ir para o lixo. Não sabia se ela era uma pessoa imprevisível ou vingativa. Só esperava que ela não me colocasse em sua lista negra.