Ponto de Virada escrita por Cami


Capítulo 2
Capítulo 2




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A semana seguiu como na segunda. Os pombinhos continuavam se atracando como se tivesse cola nos lábios um do outro. A minha vontade era de quebrar um lápis toda vez que eu via eles. E para piorar ela tentava se enturmar, como se fossemos acolher ela de todo coração. Ah, me poupe, como se eu fosse deixar meus fiéis escudeiros chegarem perto dela.  

Para o meu terror, na sexta feira, quando eu cheguei, ela estava sentada no meu lugar, na mesa dos meus amigos. MEUS. O que eu fiz para merecer isso, Senhor? Caminhei furiosamente até lá, eu podia jurar que tinha fumaça saindo dos meus ouvidos. Mas podia ser impressão. A galera perdeu a cor, mas Luke tinha um brilho nos olhos como se almejasse treta. 

—Meu lugar Dare! - falei, sem conseguir disfarçar o ódio na voz.  

Ela me olhou e me senti ótima, pude ver o medo em seu rosto. Sorri enquanto ela puxava outra cadeira do refeitório. Thalia segurava a risada, mas todo o resto me olhava como se eu tivesse sido substituída por uma das vilãs da Disney. Talvez... Nunca se sabe. 

Percy chegou logo depois, e eu adquiri a postura de amável e gentil de sempre, e todos relaxaram. Brinquei e contei piada, mas sempre ignorando a cabeça ruiva do meu lado. 

—Gente, vocês vão na festa na casa do Trevor hoje? Eu soube que vai ter todo tipo de bebida! E beer pong - disse Luke olhando para todos e parando em mim, como se quisesse a minha resposta em especial. Nem hesitei em responder. 

—Mas é claro! Não perderia por nada. Ainda não acredito que perdi a última! - respondi. 

—Não foi sua culpa – respondeu Thalia - além disso, essa vai ser vinte vezes melhor que a outra. 

—Por que? - perguntei. 

—Porque você estará lá, bobinha! - ela respondeu. Soltei um "own" e a abracei. Tinha que mostrar ao Percy que não estava com ciúmes, porque eu com certeza não estava, porque não tinha o porquê, e eu sairia por cima nessa história, já que não tinha o menor motivo para estar com ciúmes.  

O sinal tocou, e eu tinha a primeira aula com o Cabeça de Alga, ele colocou os braços em volta dos meus ombros, como sempre fazíamos, e caminhamos juntos até a sala 52. Ele sentou na mesa atrás de mim, e deu a famosa cutucada com a caneta no meu braço, que sempre fazia durante a aula para contar alguma piada ou comentar como a cabeça do professor parecia um OVNI. 

—Ansiosa para a festa hoje? – ele perguntou. 

—Tá brincando, bebida de graça e rolê com meus amigos. Nada melhor. 

Ele riu e continuou.  

—Estou feliz que esteja acostumando com a Rachel – ai, ele tinha que trazer ela para o assunto – vai ver, daqui a pouco vão ser amigas - dá licença! Talvez daqui a mil anos, mas hoje eu passo. 

—Ah, claro. Com certeza – respondi e virei para frente. 

A aula foi passando e eu ia vendo que teria que estudar em dobro pra conseguir entender essa merda de movimento circular! Pra que que eu tenho que aprender isso, o único movimento circular que eu quero fazer é um soco na cara da Rachel, seria incrível. 

Senti outra cutucada do Percy. 

—Ei, estou sentindo que a gente deu uma distanciada, desde que comecei a sair com a Rach, o que você acha de passar em algum lugar para comer antes da festa, como fazíamos?  

Não consegui conter o sorriso, e disse sim. Era tudo o que eu queria. Pude ver o meu melhor amigo dando as caras depois de uma semana de tristeza. 

—Ah, mas você não se importa de eu levar ela, não é? - desfiz meu sorriso na hora, ele tinha que estragar, apagou minha luz no fim do túnel. 

—Claro que não - dei uma de falsiane – se você não se importar de eu levar Luke, não vou ficar segurando vela. 

Ele deu uma fechada na cara, mas concordou. Sempre tivera ciúmes dele. Éramos amigos há mais tempo, e ele costumava a ficar mais comigo, antes do Percy chegar. Mas nossa intimidade ninguém tira, e isso incomodava o Cabeça de Alga. Era uma carta na manga que eu não sentia a mínima culpa de usar.  

Toda vez que Luke me dava um abraço, beijo na bochecha ou me fazia rir, era uma fuzilada. Mas só comecei a perceber isso no último ano. Depois daquela festa. Talvez ele sempre fizera isso, vai saber.  

A aula de física foi insuportável. A única que eu queria era com o... Peraí, não viaja Annie, pelo amor de Deus, não começa com esses papos, se não vou vomitar! Mas até que não seria ruim...  

O dia passou, e logo eu estava em casa, jogada na cama com o celular na mão, depois de chamar meu amigo, para um quase encontro duplo. Ele aceitou na hora. Encarei meu armário por uns vinte minutos antes de pegar meu notebook e ir ver um Netflix antes de me arrumar. Tinha novos episódios de Supernatural, e se eu não assistisse pelo menos um, minha noite seria mais agonizante do que já seria.  

Depois de lembrar que eu era apaixonada por Sam Winchester, fui tomar banho. Dei um show cantando Arctic Monkeys, e fui me maquiar. Por que não um delineador? Lembrei o porquê assim que comecei a borrar tudo. Mas consegui uma linha respeitável.  

Decidi deixar meu cabelo natural, com ondas douradas e definidas que iam até o meio das costas. Coloquei um vestido preto e all star vermelho. Olhei no espelho e gostei do que vi. Escutei Luke buzinando na rua, mas não lembrava de ter pedido carona. Não iria recusar, sempre bom.  

Dei um beijo no meu pai, e fui para o carro. 

—Uau Annie, desde quando você é bonita assim? - ele perguntou e eu quis esmurrar a cara dele.  

—Ah, vá a merda, Luke! - eu disse e ele riu, não é para ser engraçado, ninguém entende. Revirei os olhos e ele me abraçou de forma brincalhona.  

—Ui, alguém não entende sarcasmo! -  ele disse, e então deu um sorriso malandro - você sempre foi bonita.  

Talvez eu tenha ficado vermelha, mas só talvez. Ele deve ter percebido, porque me deu um soquinho de brincadeira no braço e perguntou onde iríamos comer.  

—No BK, eles tem lanche vegetariano – disse. Era vegetariana há uns dois anos, o que me fez descobrir pratos secretos em alguns lugares. 

—Então BK vamos nós. 

O resto do caminho foi o de sempre, cantaria desafinada e piadas que faziam o tiozão do churrasco ficar com inveja, mas faziam meu estomago doer de tanto rir. Mas aí chegou a hora de fazer perguntas constrangedoras, que talvez não estivesse pronta para responder, mas quem sabe eu não conseguiria desabafar.  

—E então como você tá lidando com o novo casal? - ele perguntou. 

Inspirei e soltei o ar, dando tempo de pensar se eu ia mentir ou dizer a verdade. Decidi ser sincera, nunca consegui mentir pra ele, e não iria começar. 

—Não sei, é muito estranho. Já estou vendo que vai ser como nos filmes, nossa amizade não vai ser a mesma e eles vão ficar grudados até na hora de cagar.  

—Isso é só uma fase. Fase da "Lua de Mel", como os experts dizem.  

—Que horror! - disse e ele riu.  

—Relaxa, nem acho que isso vai durar, eles não fazem muito o estilo um do outro. 

Fiquei quieta por alguns segundos refletindo.  

—Espero que esteja certo.  

—Mas vem cá, por que isso te incomoda tanto? Achei que eram só amigos. Você está gostando dele, ou o que? 

A sede dele por saber se eu gostava dele mais do que amigo era mais do que direta. Mas eu sempre prefiro ignorar o fato dele estar a fim de mim. Talvez seja melhor. O quanto eu puder evitar, eu faria.  

—Você sabe o que rolou naquela festa, fiquei confusa sobre nossa relação desde então. Não sei o que fazer, ele nem se lembra. E inclusive, nem tenho direito, deixei quieto por quase um ano.  

—Acho melhor você deixar ele de lado mesmo. Isso não vai te fazer bem. Só te magoar. Você sabe.  

Paramos na frente do BK, mas ele não saiu, ficou encarando o volante, então esperei.  

—Por que você diz isso? Eu nem falei que estava a fim dele... Só disse que estava confusa.  

—Então tudo bem se eu tentar algo? - ele perguntou e eu gelei. 

Eu não sabia o que responder, tinha certeza do que ele queria tentar. Demorei muito pra falar alguma coisa. E ele concluiu pelo ditado "quem cala consente". Olhou para meu rosto, e puxou meu queixo. Para minha própria surpresa eu não segurei, nem impedi. Ele me beijou e eu deixei levar seguindo seus movimentos. Talvez eu estivesse tão curiosa tanto. Enterrei minha mão em seu cabelo, o que lhe deu mais segurança para aprofundar o beijo. 

Depois de alguns minutos, tive que me distanciar. Sua mão ainda estava na minha cintura quando vi que Percy nos encarava na entrada da lanchonete, segurando a mão de Rachel. Eles tinham visto tudo. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acharam?
Várias tretas estarão por vir (insira risada maligna e ansiosa).
Até o próximo capítulo.



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