Pov Annabeth 

O jeito que o pai do Percy me olhava estava me deixando desconfortável. Enquanto voltávamos para o quarto do Tyson ele não desgrudou os olhos de mim, e eu não sabia como o Cabeça de Algas não percebia.  

—Então essa é sua namorada, filho? - ele perguntou e eu devo ter ficado vermelha na hora. 

—Não pai, ela é só minha amiga – ele respondeu também mais vermelho que um tomate.  

Os olhos dele então abaixaram para nossas mãos dadas e depois voltou para nossos rostos vermelho e levantou uma sobrancelha. Então eu logo soltei a mão e comecei a andar mais rápido. Chegando no quarto, nem tivemos a chance de abrir a porta, minha mãe saiu de lá assim que eu coloquei a mão na maçaneta, ainda bem que eu não tinha aberto, ou teria batido na cara dela.  

—Mãe! Ele está bem? - perguntei levando um leve susto. 

—Está sim, querem entrar para vê-lo? - ela disse e seu sorriso desapareceu ao ver o pai de Percy – Poseidon? - ela perguntou, e eu a olhei confusa.  

—Você não mudou nada, Athena – ele disse dando o mesmo sorriso galanteador que tinha dado para mim mais cedo. Senti vontade de vomitar ali mesmo.  

—Ué, vocês se conhecem? – como sempre Percy perguntava as coisas mais óbvias.  

—Ah, sim querido – minha mãe começou - a gente era... amigos, quando eu tinha a idade de vocês.  

—Ela quer dizer que namoramos – Poseidon completou sem vergonha nenhuma na cara. E foi a vez da minha mãe ficar vermelha.  

Ficamos olhando de um para o outro por tempo indeterminado, e um silêncio bem constrangedor se instalou sobre nós, até que a Sally, apareceu na porta: 

—O que vocês estão fazendo parados aí? - seu sorriso logo se desfez assim que viu quem estava ali – ah, oi Poseidon, precisou que um dos seus filhos fosse atropelado para você aparecer? - seus olhos começaram a marejar e o Percy foi até ela e lhe deu um abraço.  

—Sally eu vim aqui ver meu filho, se não se importa é isso que eu vou fazer – ele disse ríspido e eu fiquei parada em choque. Ele entrou no quarto e a gente seguiu logo atrás dele.  

—E aí garotão? - ele perguntou sentando na cadeira ao lado da cama.  

Tyson estava confuso e demorou alguns segundos até reconhecer quem estava lá. 

—Pai? - ele perguntou e quando Poseidon assentiu ele abriu um sorriso que fez o coração de todos derreter. Eles se abraçaram e decidimos deixá-los com Sally. Voltando para a sala de espera eu queria respostas, como assim minha mãe namorou o pai do meu melhor amigo? Aquilo estava tão estranho.  

—Dona Athena – ela levantou uma sobrancelha, e já sabia o que iria vir – quer me esclarecer o que aconteceu com seu ex-namorado/pai do Percy? Só não fala que ele é meu pai! - Percy olhou para minha mãe assustado, só pela possibilidade. 

—Relaxa Perseu, ela não é sua meia-irmã. Mas os dois não tiveram bons pais. Enfim, Poseidon foi um amor de verão que eu tive quando tinha mais ou menos a idade de vocês. Devia ser um ou dois anos mais velha. Mas enfim, estávamos de férias no litoral, e eu me lembro perfeitamente do dia – ela deu um suspiro triste e continuou – eu estava na praia sozinha e ele veio e sentou do meu lado, com um ar todo confiante, como se ele comandasse aquela praia. Seus olhos eram idênticos aos seus Percy, notei isso desde a primeira vez que eu te vi, mas achei que era uma consciência bizarra. Ele veio com um papinho e eu ingênua caí no mesmo segundo. Ele era muito bonito, e acabei me encantando. Mas depois que passamos o resto do verão juntos, indo à praia e jantando juntos, ele sumiu assim que as férias acabaram, nunca mais ouvi falar dele, até hoje, parecia que o mar tinha engolido ele.  

—Eu nem sei o que te dizer – disse Percy.  

—Você não precisa dizer nada, seu pai que me deve explicações.  

Ficamos conversando mais um pouco quando minha mãe decidiu ir tomar um banho em casa e o Percy foi ver o Tyson enquanto eu ia ao banheiro. Poseidon me abordou assim que eu saí.  

—Tirando o cabelo, você é a cópia da sua mãe - ele disse enrolando um dos meus cachos no dedo. 

—Obrigada – eu disse puxando o cabelo da mão dele e saindo de perto. Ele me seguiu e me parou, segurando meu braço.  

—Ei, por que a pressa? - ele deu seu melhor sorriso, tentando parecer charmoso, mas tudo que eu sentia era nojo.  

—Larga o meu braço - eu falei bem devagar e séria para ver se ele entendia cada palavra, mas continuou segurando, só afrouxou um pouco a pegada, me dando brecha pra puxar. 

—Você é nervosinha igual a ela também - ele foi chegando mais perto e eu fui indo para trás, até que encostei na parede do corredor e ele acabou colocando uma das mãos na minha bochecha chegando mais perto ainda.  

—O que você pensa que está fazendo? - eu perguntei tentando sair de lado, mas ele agarrou meus ombros me prendendo contra a parede – isso é assédio, eu posso te denunciar – ele não pareceu preocupado e colocou uma das mãos no meu quadril e a outra ainda segurava meu ombro firmemente. Ele então me puxou para si e colou os lábios nos meus e desceu a mão para a minha bunda. Eu então saí do choque e dei uma joelhada onde mais dói - fica bem longe de mim! - eu saí correndo para fora do hospital, tentando absorver tudo o que tinha acontecido. As lágrimas vieram e eu sentei na calçada com as mãos no rosto, quando senti uma mão no meu ombro. Virei para trás assustada e vi meu amigo olhar para mim preocupado.  

—O que aconteceu? - ele perguntou e eu levantei depressa dando dois passos para trás.  

—Nada, só precisava tomar um pouco de ar. 

—E essa cara de choro Annabeth? Você não me engana não - ele disse, mas eu não conseguiria contar o que tinha acontecido.  

—Não foi nada, depois eu te falo, eu só quero tomar um banho em casa, depois eu te ligo, ok? - falei já me afastando. Mas ele foi atrás de mim e segurou gentilmente minha mão. 

—Não quer que eu te leve? Você está me deixando preocupado.  

—Não precisa Cabeça de Alga – tentei sorrir miseravelmente – fica aqui com seu irmão, ele precisa de você, mais tarde eu te ligo – Voltei a andar, mas parei um pouco e voltei os olhos para ele – eu estou muito feliz que o Tyson está bem. Não vejo a hora de vê-lo correr pra cima e pra baixo de novo – eu disse sorrindo de verdade dessa vez.  

—Eu também - ele respondeu e eu me virei para ir embora - não esquece de me ligar! - ele gritou quando eu já estava longe o bastante.  

—Tá! - respondi e quando já estava em uma distância segura eu comecei a correr para casa. Já estava anoitecendo e eu comecei a tremer à medida que caía a ficha do que tinha acontecido. Entrei em casa e desabei no sofá chorando.  

—Filha, o que aconteceu? - minha mãe sentou ao meu lado e me abraçou - foi com o Tyson? - eu neguei – o que aconteceu, me fala, por favor?  

—Luke me traiu com a Thalia – não sabia como falar isso pra ela. E fiquei com medo do que poderia acontecer, agora que os meninos tinham conseguido o pai de volta, eu não queria estragar aquilo. Mas eu tinha que denunciar, fazer alguma coisa, mas não agora.  

—Ah filha, eu não acredito – ela respondeu e me abraçou mais ainda - você quer conversar sobre isso? 

—Não, eu quero sair daqui. Viajar um pouco, ir pra praia, talvez – ela me olhou pensativa antes de responder.  

—Você pode ir visitar sua prima no litoral, o que acha? - ela perguntou e eu a abracei em resposta, eu precisava pensar em tudo o que tinha acontecido. Sem Luke, Thalia ou o Percy por perto.  

Arrumei minhas malas e dei um beijo na mamãe. Quando estava colocando as coisas no táxi meu melhor amigo apareceu. Seus olhos estavam confusos, mas me lembravam os de seu pai, o que me fez desviar.