Ponto de Virada escrita por Cami


Capítulo 1
Capítulo 1




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Nunca entendi por que deixavam aquela máquina de pegar bichinhos de pelúcia para fora da loja, à noite. Eles estavam pedindo para serem assaltados, ou apenas tinham esquecido. Mas eu tinha que aproveitar. Nunca consegui pegar um, e não perderia a chance.  

Tentei de tudo, abrir a parte de cima da máquina, apertar todos os botões, colocar o braço onde o bichinho saía... Nada. Eu não queria quebrar o vidro nem nada do tipo. Ia me sentir culpada, ou a polícia ia me pegar. Ou pior, meu pai ia descobrir. Não estava a fim de passar meu verão em um acampamento militar ou algo do tipo. Eu era muito jovem para me preocupar com a chance do país ser invadido por países inimigos ou anarquistas querendo matar o presidente.  

 Continuava com minha ideia de esticar o braço por aquela abertura e tentar pegar qualquer um! Aquele hipopótamo roxo estava me chamando, eu sei! 

—Você está fazendo isso errado! - ouvi alguém dizer, e eu gelei. Virei para quem dizia e me deparei com lindos olhos verdes cor do mar. Descansei os ombros quando vi que não era os tiras e continuei tentando pegar algum bichinho. 

—Aé! E como se faz então? 

Ele tirou um pedaço de arame grosso que estava segurando nas costas e me mostrou como se fosse a cura do câncer.  

—Mas que porra é essa? - perguntei. 

—Sua solução, pode dizer, sou incrível! - disse ele se aproximando e sentando ao meu lado.  

—Vai envergar com o peso do negócio! - falei, mas foi como se eu tivesse berrado com a parede. Ele só começou a dobrar o arame e me pediu licença. 

—Sua pouca fé em mim, magoa – fez beicinho e tentou pescar um deles. 

—Eu nem te conheço! Como você sabia que eu estava aqui? 

—Eu não sabia, mas adoro pegar esses bichinhos. 

Por que será que eu não acreditava nele? Ah sim, eu nunca o vi na vida, e ele já está agindo como se fôssemos melhores amigos. Não é assim que funciona meu bem. Independente disso, em menos de trinta segundos tentando um hipopótamo roxo saiu por aquela abertura diretamente para meus braços. Eu não podia acreditar!  

—Só não baba em cima da Dolly, ela é uma guerreira, sobreviveu a um mar de pelúcia. - ele disse e eu ri – eu deixo você ficar com ela se me prometer que vai protege-la com sua vida.  

Decidi entrar em seu estranho jogo e concordei. 

—Ah, mas é claro que eu prometo. Ó pescador de pelúcias. 

Ele riu e me estendeu a mão. 

—Sou Percy, navegador dos sete mares e pescador de seres artificiais nas horas vagas. E você? 

—Annabeth, devoradora de livros e protetora de hipopótamos roxos. 

—Nobre posição, Sabidinha – ele disse me chamando pelo apelido que meu pai tinha me dado quando era pequena, me fez sorrir, o que só deu mais confiança para ele se aproximar – e o que uma devoradora de livros faz tão tarde na rua tentando arrombar uma máquina dessas? 

—Estava voltando da biblioteca, e fiquei instigada a pegar um... Não que isso seja da sua conta! E o que um navegador dos sete mares faz aqui, munido com um arame moldável. 

Ele enrubesceu e parou para pensar na desculpa perfeita. 

—Um mistério é sempre bom em noites como essa, não acha? 

—Não me convenceu, Cabeça de Alga. - eu disse inventando um apelido a altura, mas ele pareceu gostar porque inflou o peito como um verdadeiro guerreiro.  

—Muito bem, estava fazendo uma das minhas caminhadas pelo bairro. Já que me mudei faz pouco tempo e preciso conhecer a região. Então te encontrei e decidi ajudar. Achei o arame na rua mesmo.  

—Você se mudou de onde? - perguntei curiosa. 

—De uma terra longínqua e árida, que pretendo não voltar. 

Revirei os olhos e o encarei, ele encolheu os ombros, como se dissesse que não queria tocar no assunto. Eu respeitei e troquei o tópico da conversa. Conversamos e rimos como se nos conhecêssemos há anos. Quando meu celular tocou, percebi que eram nove da noite e meu pai deve ter achado que eu morri. Falei que estava indo para casa e me desculpei pelo atraso. 

Percy me acompanhou, e eu lhe dei o número do meu celular. 

—Quer jantar com a gente? - perguntei, mas ele negou. 

—Minha mãe deve estar me esperando também. O verão apenas começou, a gente se ve depois – ele disse sorrindo e foi embora.  

Isso aconteceu no verão em que eu tinha doze anos. Há cinco anos. Deu início na nossa amizade, Percy e eu não nos desgrudamos desde então. As pessoas foram entrando na nossa panelinha, mas ele era meu melhor amigo. Meu confidente e pescador de bichinhos de pelúcia.  

As coisas estavam indo como deveriam ser, brigávamos e ríamos tudo em uma mesma conversa. Até que aquela putiane entrou na escola atraindo a atenção de todos, principalmente dos meninos, inclusive do Cabeça de Alga. Pode parecer recalque, talvez seja, mas as coisas começaram a mudar e eu não gostava disso.  

Cheguei segunda na escola depois de um fim de semana inteiro no hospital por causa de uma virose, e todos falavam na festa que teve. Estava me remoendo de curiosidade para saber. Vi meus amigos sentados na mesa de sempre e de cara dei por falta do Percy.  

—E ai galera, como foi a festa? Cadê o Percy?- perguntei e todos se entreolharam – Eita gente, parece até que alguém morreu! 

—Não, foi pior – disse Thalia, minha fiel escudeira e amiga minha desde os sete anos. Ela tinha adotado um estilo alternativo com olhos delineados de um preto forte e cabelo azul turquesa. Ela olhou para um canto do refeitório e eu vi Percy beijando, na verdade quase engolindo, Rachel Dare. Por pouco não vomitei na mesa, olhei para eles incrédula. 

—Explicações pessoal! - falei, ainda não acreditava. Quase me dei um tapa na cara para ver se isso era verdade. 

—Bem - começou Luke – ela praticamente atacou ele quando chegamos na festa. Não demorou muito para beijar ele. E sejamos sincero ele é humano e se deixou levar. Deu nisso aí. 

—Só pode ser brincadeira. Ela não vai almoçar com a gente, nem ir nos nossos rolês. Quem estiver de acordo diz sim!  

Todos disseram o que amenizou o pesar no meu coração. Mas nesse momentos os mais novos pombinhos caminhavam em direção a nossa mesa. Revirei os olhos e encarei o Percy, seu sorriso foi aos poucos se desfazendo, mas não o impediu de perguntar. 

—E aí galera, podemos nos juntar? 

Ah, que nojo, ele estava falando como se fossem um só, o enjoo tinha voltado com força máxima. 

—Claro! - disse Nico. Olhei para ele com tudo o fuzilando com os olhos. Ele se encolheu, mas não retirou o que nos levou a ter de testemunhar toda aquela melação que estava me dando diabetes. 

Não me dirigi a palavra ao traidor PJ, nem a putiane. Mas quando o sinal tocou e fui para minha sala, meu ex-melhor amigo me parou no corredor. 

—Não me fala que está brava.  

—Como não vou? Você desaparece o fim de semana todo e nem me conta nada, eu chego hoje e você está quase sentado no colo dela. 

—Está com ciúmes neném? 

—Ah, vá a merda – falei e dei as costas. Escutei ele rindo, como seu eu tivesse contado uma piada, mas não amoleci. Eu não tinha esquecido o que aconteceu naquela festa ano passado. Mas ele continuava a dizer que não se lembrava de nada, porque estava muito bêbado. Beleza, eu não vou ser tratada como idiota. Ele não perde por esperar. 

 


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