Mistério em Alto Monte escrita por HugoMartins


Capítulo 5
A bomboniere




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MISTÉRIO EM ALTO MONTE - FINAL

O sol que aparece após a grande chuva, ilumina a rua em frente ao Hospital Geral de Nova Olinda, que, está repleta de carros, jornalistas, curiosos, vãs de várias emissoras, além de policiais e enfermeiros.

Um jornalista com um topete estilo Elvis, aparece atrás do monitor de uma câmera. Ele segura o microfone com força enquanto fala misterioso.

— Os últimos dias não foram fáceis pra quem vive na cidade de Alto Monte. Com a grande tragédia que acometeu a cidade, como vocês sabem, o paredão sul da represa se rompeu inundando todo o vale. Isso causou a morte de milhares de pessoas que estão sendo contabilizadas pela Defesa Civil. Eles estimam que mais de 25.000 pessoas morreram ou estão desaparecidas. Casas foram totalmente destruídas. Árvores arrancadas. E o cenário é o de mais puro horror. E, em meio a tantas tragédias, encontramos um sobrevivente que estava no topo do monte da família Meyson. Ele nos conta os momentos de aflição que viveu.

Uma gravação entra no ar. Jordan está em frente ao Hospital Geral de Nova Olinda. Ele está cercado por repórteres que apontam seus microfones, gravadores e fazem inúmeras perguntas.

Jordan contrai os olhos se protegendo dos primeiros raios de sol. Uma repórter insistente chama a atenção dele.

— Jordan, nos conte o que aconteceu no alto do monte? O que ocasionou a tragédia familiar que chocou toda a comunidade? - pergunta a repórter.

— Sinceramente, são momentos tão desconfortáveis, medonhos, que eu preferiria não lembrar novamente. - responde Jordan.

— Você presenciou o assassinato então? - pergunta a repórter - Qual o motivo do crime?

— Tudo que eu sei, eu já respondi ao delegado. O que eu posso afirmar é que nós devemos confiar mais em nosso sistema de justiça. A vingança, o fazer justiça com as próprias mãos é muito perigoso. Muitas vezes, nós achamos que sabemos de fatos que na verdade são boatos, e agimos de acordo com mentiras. Precisamos confiar mais nas nossas instituições. Precisamos conhecer mais as pessoas, e nunca achar que sabemos tudo. E principalmente, precisamos reconhecer quando cometemos um erro. - Jordan responde e sai da roda de repórteres, em seguida entra em um carro.

A câmera volta para o apresentador com topete de Elvis. - O que será que aconteceu no alto do monte? O que teria motivado o crime? Não saia dai! Logo mais traremos mais informações a respeito da manhã sangrenta na mansão da família Meyson.

    

Ligia e Jordan continuam caminhando em direção à mansão da família Meyson. O sol preguiçoso, começa a alongar-se distribuindo raios de calor pelo céu nublado. A chuva que outrora abundava, agora cessou.

— Você não imagina a minha alegria em saber que meu filho está bem. Tudo o que eu mais quero é abraça-lo e dizer o quanto o amo. - diz Ligia.

— É um sentimento nobre este. Pena que não tive a mesma sorte com meu pai. Pelo contrário, eu fiquei meses depressivo ao saber da sua morte. Não tive como despedir-me. - fala Jordan emotivo.

— Sinto muito pela sua perda. Quero dizer que seu pai deve ter se orgulhado de você - fala Ligia.

— Como você pode saber isso? - pergunta Jordan.

— É impossível para um pai, não sentir orgulho em ter um filho. Sabe que uma das lembranças mais marcantes da minha vida, são do nascimento do David - Ligia fala emocionada.

— Por quê? -

— Eu não posso esquecer da enfermeira...

FLASBACK - Sala de parto. Uma enfermeira carrega um bebê nos braços. Ela se aproxima da cama em que Ligia está sentada, e com todo cuidado do mundo, entrega a criança no colo dela.

Ligia está com os olhos repletos de lágrimas. Ela beija carinhosamente a face de seu filho. Depois com o indicador ela alisa levemente as bochechas rosadas.

— Todo o amor do mundo estava comigo naquele momento. Parecia que meu coração transbordava de um sentimento até então nunca sentido. Eu estava completa. Cheia de amor e orgulho de ter um filho. É por isso que eu sei que seu pai também se orgulhava de você - diz Ligia olhando para Jordan enquanto eles caminham.

— Isso é reconfortante - diz Jordan.

  

Enquanto isso na mansão dos Meyson. Madalena abre a porta do quarto devagarzinho. Ela observa Camila dormindo. De repente Camila abre os olhos e pula da cama assustada.

—Filha! Calma, tá tudo bem! Você está segura - diz Madalena se aproximando da cama e segurando a mão de Camila.

Camila respira ofegantemente enquanto se situa dentro do quarto.

— Que horas são? - pergunta Camila.

— São seis horas da manhã - responde Madalena - Está tudo bem, pode voltar a dormir.

— Não! Eu quero falar com Arnoudo. Quero saber onde ele escondeu minha mãe?

— Eu já disse, o Arnoudo não vai te dizer isso. Ele preza pela segurança dela - responde Madalena.

— Como eu posso acreditar nessa história se eu não ver a minha mãe? - grita Camila.

— Filha, você precisa se acalmar - diz Madalena.

— Não me chama de filha, pois você não é minha mãe! - diz Camila chateada.

— Tudo bem, mas eu havia avisado que é costume nosso chamar os mais velhos de pai, e os mais novos serem chamados de filhos. - diz Madalena.

— Eu só tenho uma mãe. E somente ela pode me chamar de filha. Por acaso minha mãe morreu? Então assim eu vou ser órfã e vou precisar de uma mãe! O que é tudo isso aqui? É o lar dos desamparados? Filhos que perderam suas mães. Mães que perderam seus filhos. Filhos que perderam seus pais. Que merda toda é essa? - grita Camila.

— Você deveria agradecer por salvarmos a sua vida. Você deveria ser mais grata porque o Arnoudo ajudou sua mãe. Se não fosse por causa dele, você e sua mãe estariam mortas agora. Se não fosse por ele, eu estaria morta agora. Então, um pouco de gratidão seria bem-vinda. - diz Madalena levantando-se chateada.

— Espera! - diz Camila segurando na mão de Madalena - Me perdoa. Eu só queria saber da minha mãe. Você não imagina o que é viver sem saber o que aconteceu com a sua mãe. Sem poder ao menos enterrá-la com dignidade. Você não imagina o que é ver as suas amigas da escola contando como as suas mães são chatas e pegam no pé, mas ao mesmo tempo como é bom ter uma mãe amiga e que se preocupa com você. Eu nunca tive isso. Então, eu nem preciso imaginar. Eu vivi isso. - diz Camila emocionada.

— Eu só quero que você entenda que o Arnoudo nos salvou. Ele não é o vilão dessa história. - diz Madalena.

— Você nem imagina o porque de eu estar aqui. - diz Camila.

— Por que você veio até aqui Camila? - pergunta Madalena.

Camila olha para Madalena tentando esconder sua vergonha. - Eu vim pra matá-lo. Mas me arrependo disso sabendo o que o Arnoudo fez por mim. Agora, eu só quero encontrar a minha mãe.

Uma sala-de-estar na mansão dos Meyson foi transformada em bomboniere. Várias prateleiras, repletas de doces, bombons e guloseimas enfeitam a sala.

De volta ao quarto em que Camila está, ela olha para Madalena demonstrando arrependimento. - Eu preciso que você traga a minha bolsa. Eu quero ir embora. - diz Camila.

— Tudo bem. Eu vou pegá-la pra você. - diz Madalena levantando-se. Mas, antes de sair da sala, ela olha pra Camila e pergunta: - Como você queria matar o Arnoudo?

FLASHBACK - Camila caminha até chegar à bomboniere da cidade de Alto Monte. A atendente Marcela se dirige até ela.

— E aí? Já contou suas mentiras pra Ligia? Ela acreditou? - pergunta Marcela sendo sarcástica.

— Vai a merda Marcela. Quero bombons de hortelã - diz Camila determinada.

— Vou alertar Ligia sobre o seu caráter duvidoso. Você não merece crédito algum. - diz Marcela.

Camila guarda os bombons em sua bolsa. Ao chegar em casa, ela joga os bombons na mesa. Em seguida, pega uma seringa, e começa a injetar um líquido transparente em cada um dos bombons.

— Camila? De que forma você queria matar o Arnoudo? - Pergunta Madalena.

Camila se ajeita na cama. - Eu não tinha nenhum plano específico. Só raiva!

Madalena passa pelo corredor. Um silêncio perturbador toma conta da mansão. Os dois saltos de Madalena fazem eco pela casa. Ela passa em frente à bomboniere e sem querer vira a bolsa de Camila. Um bombom sorrateiro escorrega e cai em frente à porta da bomboniere. Madalena não consegue ouvir o tilintar do bombom por conta do barulho que os saltos causam.

Madalena entra no quarto e entrega a bolsa pra Camila. Ela confere se tudo está dentro.

— Agora, eu só preciso falar com Arnoudo. - diz Camila.

— Eu vou chamá-lo - diz Madalena saindo do quarto.

Mais uma vez Madalena passa pelo corredor fazendo barulho pela casa. É possível ver o bombom caído em frente à porta da bomboniere.

Madalena volta ao corredor. Logo atrás, Arnoudo a segue com suas pantufas rosas. Ele para em frente à bomboniere, agacha e sorrateiramente pega o bombom, e põe as mãos atrás das costas. - Você está com a chave? - pergunta Arnoudo referindo-se à bomboniere.

Madalena se vira para ele e diz: - Você sabe que não pode comer bombons durante a semana. A sua glicemia está muito elevada.

Arnoudo permanece com as mãos para trás e com cara de desconfiado.

— Eu reconheço essa cara. O que você tá aprontando Arnoudo? - pergunta Madalena inquisidora.

— Nada! Eu não achei nada. - Ele fala mexendo as mãos.

— O que você está me escondendo Arnoudo? - pergunta Madalena. - Quero ver suas mãos!

Ligia e Jordan se aproximam dos portões que dão acesso à mansão. Um senhor se aproxima deles e sorri alegremente para Jordan - Meu filho! - ele grita alegremente abraçando Jordan.

Ligia observa confusa a cena.

— Meu pai! - diz Jordan retribuindo o abraço.

O senhor entrega uma pistola pra Jordan. Ele agradece e abraça mais uma vez o senhor. Ligia observa Jordan guardando a pistola no coldre.

— Você disse que seu pai havia morrido! - Ligia fala confusa.

Jordan parece estranhar a pergunta e fica confuso. - Ahh, essa parte eu não tinha falado. Aqui, os mais velhos são chamados de pai. E, os mais novos são como filhos. É um costume nosso. Somos uma grande família aqui em cima.

Ligia parece desconfiada. - Costume estranho.

Um jardim florido se apresenta diante da mansão. Ligia percorre o jardim ansiosa. - Não vejo a hora de encontrar o David.

Na mansão, Arnoudo continua negando que não esconde nada. Enquanto Madalena insiste desconfiada.

— O que você está me escondendo Arnoudo.

— Nada! Eu já disse.

Um sonolento David se aproxima por detrás de Arnoudo. Ele caminha com calma. Passos de um pequeno anjo em um assoalho brilhante.

— Eu não vou perguntar novamente. O que você tem nas mãos Arnoudo? - pergunta Madalena.

David se aproxima por detrás de Arnoudo e olha pra Madalena.

— Ele não tem nada nas mãos tia. Isso eu garanto. Mostra as mãos pra ela Arnoudo - diz David por detrás de Arnoudo.

Arnoudo rapidamente mostra as duas mãos abertas para Madalena.

— Eu disse que não tinha nada - diz Arnoudo inocente.

— Vocês não me enganam - diz Madalena dando as costas para os dois e indo em direção ao quarto de Camila.

Arnoudo sorri e olha para David.

— Agora me dá meu bombom - pede Arnoudo estendendo a mão.

Madalena entra no quarto e encontra Camila transtornada procurando algo embaixo da cama.

— O que você está procurando Camila - pergunta Madalena.

— Eu preciso encontrar um bombom que estava nessa bolsa. Eu tinha cinco bombons, mas só encontrei quatro. Você viu algum bombom por ai? - pergunta Camila desesperada.

— Não! Mas acho que sei onde está! - Madalena fala voltando para o corredor.

David mastiga o bombom e o engole por completo.

— Seu egoísta! Era o meu preferido! Por que você não dividiu comigo? - Arnoudo fala baixinho.

— Ia fazer mal pra você - David diz inocente.

Madalena se aproxima dos dois. Camila vem logo atrás.

— Era um bombom que você estava escondendo, não era? Quero ele agora. Ele pertence a Camila. - diz Madalena para Arnoudo.

Arnoudo e David olham desconfiados para as duas.

— Ele tomou da minha mão e comeu todinho - diz Arnoudo apontando para David.

— Não! Ah não! - Camila diz em completo desespero.

— Que foi Camila? - pergunta Madalena.

David cai ajoelhado com a mão na barriga. - Ai! Ta doendo! Minha barriga tá doendo. - grita David sem forças.

Madalena corre em sua direção. - Ele está branco! Meu Deus o que aconteceu?

— Chame um médico urgente! - grita Camila desesperada.

David começa a vomitar sangue sem parar. Seus olhos começam a lacrimejar gotas de sangue. Seu nariz espreme sangue. Ele cai morto.

— Ahh meu Deus do céu! - grita Arnoudo pegando David nos braços.

Arnoudo corre angustiado pela mansão. Ele abre a porta principal e a poucos metros de distância ele vê Ligia e Jordan se aproximando.

Ligia reconhece David e entra em desespero - Meu filho! Não, meu filho não.

Arnoudo se aproxima com David nos braços. Ligia o agarra e se ajoelha colocando David em seu colo.

— David acorda! - grita Ligia sacolejando ele - David acorda!

— Ele… - Arnoudo nao consegue falar.

— Se afasta do meu filho - Ligia diz chorando - David, não me deixa. Me perdoa meu filho - Ela fala afastando a franja dos olhos dele.

Ligia permanece ajoelhada no jardim em frente a mansão, segurando seu filho no colo.

— David! Eu errei, me desculpe. Você, me perdoa! - Ligia está com os olhos repletos de lágrimas. Ela beija carinhosamente a face de seu filho. Depois com o indicador ela alisa levemente as bochechas rosadas.

— Vem comigo - diz Jordan pegando ela pelos braços.

Arnoudo está parado olhando a cena. Ele está atônito.

Jordan abraça Ligia e sai caminhando ao lado dela. - Vai ficar tudo bem! -  Ele diz tentando reconfortá-la.

Ligia saca a arma que está no coldre de Jordan e aponta para Arnoudo.

— Seu assassino! Você matou meu filho! Você matou a mãe da Camila. E agora você não vai mais escapar! - diz Ligia transtornada.

Camila aparece atrás de Arnoudo e grita: Não foi ele. Fui eu!

Mas é tarde. Ligia dispara acertando o pescoço de Arnoudo. Jordan se aproxima tentando desarmá-la, mas ela aponta a arma para ele.

— Mentiroso! Seu pai está vivo! - ela fala colocando a arma dentro da sua própria boca.

Arnoudo cai morto. Ligia segura a arma. O seu dedo está prestes a puxar o gatilho e… um estrondo nos remete à cena com o repórter com o cabelo de Elvis. Ele está de frente para a câmera segurando o microfone.

— Estamos de volta com novas informações sobre a tragédia na mansão Meyson. Agora a sobrevivente Camila, nos dá detalhes do que aconteceu. - diz o repórter.

Camila aparece cercada de repórteres - O Arnoudo atirou na Ligia e depois se matou.

— Mas o que motivou ele a fazer isso? - pergunta uma repórter.

— Bem, disseram que ele ficou louco depois que a represa ruiu. Aquilo era o projeto que ele tinha mais orgulho. E, ver tudo aquilo desmoronar, afetou o seu psicológico.

— Soubemos por algumas fontes que Jordan desmente os seus relatos. O que você diz sobre isso? - pergunta a repórter.

— Eu vi Arnoudo dando um bombom ao David, e mais tarde descobrimos que estava envenenado. Ele destruiu tudo e todos que estavam ao seu redor. É só isso que eu tenho a dizer - Camila fala saindo do meu da roda.

O repórter com cabelo de Elvis volta à tela - Então, é isso. Logo mais voltaremos com mais informações sobre os crimes que perturbaram a mansão Meyson.

FIM.


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