Mistério em Alto Monte escrita por HugoMartins


Capítulo 4
A mansão


Notas iniciais do capítulo

Camila consegue chegar até a mansão da família Meyson, mas, em quais circunstâncias?
Ligia continua sua jornada para chegar ao topo do monte.



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MISTÉRIO EM ALTO MONTE - PARTE 4

Por detrás de uma encosta, surge um jipe verde roncando alto. O volante está sujo de sangue, mas Camila continua a apertá-lo com força. Ela engata a primeira marcha subindo o monte. Uma luta ferrenha acontece entre o limpador de para-brisa e a chuva incessante que cai sobre o vidro. Trovões irados sacolejam os altos céus.

Dor e ânsias de morte, perpassam a face de Camila. Gotas de suor frio descem pelas suas têmporas. O sangue parece fugir do seu corpo. Uma morte por hemorragia é inevitável.

Alguns quilômetros adiante, dois seguranças conversam sobre as águas que submergiram a cidade. Eles caminham armados em frente ao portão que dá acesso à mansão. Eles escutam o ronco do jipe e logo ficam de guarda.

O limpador de para-brisa não consegue afastar tanta água. A visão de Camila é turva. Ela não consegue distinguir a imagem dos dois homens adiante.

Os seguranças se aproximam do jipe que acabara de parar.

Camila segura a alça de uma bolsa que está pendurada em seu ombro. Ela retira um bombom de dentro da bolsa.

— Eu vou te matar Arnoudo! Eu juro que vou te matar! - sussura Camila olhando fixamente para o bombom.

Ela sai do jipe cambaleante. Os dois homens se aproximam apontando as armas.

— Por favor, deixe-me passar - implora Camila.

— Quem é você? - pergunta o homem mais alto.

— Eu sou da família do… - Camila não consegue terminar de falar, e cai desmaiada.

Os homens se aproximam e veem o ferimento na barriga.

Camila acorda em uma cama aconchegante. Ao seu lado um abajur está posto sobre uma cômoda de madeira. O quarto é azul claro. As paredes e o piso também são de madeira. Uma luminária feita de bambu, pende do teto no meio do quarto.

Uma faixa está enrolada na barriga dela. Uma mulher loira, jovem, alta, usa uma tiara de joaninhas, entra no quarto segurando uma seringa.

Camila senta-se na cama sentindo uma dor lancinante.

— Você não devia fazer isso! - diz a jovem loira pra Camila.

— Quem é você? Onde estou? - pergunta Camila.

A jovem aplica a injeção em uma bolsa que liga um tubo ao pulso de Camila.

— Eu me chamo Madalena e você está na mansão dos Meyson. E você? Quem é você? E o que está fazendo aqui?

— Cadê a minha bolsa? - pergunta Camila.

— Não se preocupe. Ela está devidamente guardada - responde Madalena.

Camila observa pela janela e vê um lindo pomar.

— Onde está o assassino do Arnoudo? - pergunta Camila.

— Não existe nenhum assassino aqui. Existe um homem generoso, altamente sensível, amável e empático. Nunca mais ouse chamar o Arnoudo assim! - ela fala com raiva e com o dedo apontado para Camila.

— É mentira! Ele matou minha mãe e matou o filho da Ligia! Ele é um mentiroso, assassino e orgulhoso. - Camila grita.

— Quem é a sua mãe? E quem é o filho dessa Ligia? - pergunta Madalena, sentando em uma cadeira em frente a cama.

Camila retira uma foto do bolso e joga pra Madalena.

— Essa é a minha mãe. Ela morreu aqui, no alto desse monte maldito. - diz Camila.

— De fato, sua mãe esteve aqui. - diz Madalena analisando a foto - Mas já saiu do monte a muito tempo.

— Onde ela está? Você a conheceu? - pergunta Camila intrigada.

— Claro! Eu era amicíssima da Régia. Nós chegamos aqui praticamente no mesmo dia. Estava chovendo como hoje. Nós duas batíamos na porta principal como desesperadas. O seu Arnoudo nos acolheu. Falou com a polícia e disse que estaríamos seguras. Era como se estivéssemos cumprindo uma pena, mas, no conforto dessa casa. Mas, alguns meses depois, um homem dizendo ser tio da sua mãe, veio aqui e tentou matá-la. Ele a acusava de ter matado seu filho. De fato, sua mãe matou o jovem. Ela era envolvida com drogas. Mas, além de ter sua liberdade privada, ela precisava de recuperação. Arnoudo passou por cima da ordem do pai dele e escondeu sua mãe em uma clínica. Ele salvou a sua mãe. Mesmo ficando jurado de morte depois - diz Madalena.

— E onde está minha mãe? - pergunta Camila.

— Sua mãe não pode voltar pra cá nunca. Somente o seu Arnoudo sabe onde ela está. - diz Madalena.

Um garoto cabeludo surge na porta do quarto. Camila reconhece David.

— David! Você tá vivo! - Camila fala com surpresa.

David se aproxima devagar. Ele tem 10 anos e longos cabelos loiros que cobrem seu rosto.

— Você sabia que sua mãe está te procurando feito louca? - pergunta Camila.

David balança a cabeça, sem graça.

— O que você está fazendo aqui? - pergunta Camila.

— Eu só queria fugir da loucura que era viver com minha mãe? Ela tá bem? - pergunta David.

— Loucura é o que você fez!

Camila olha para Madalena e pergunta: - E a cabana? O que é aquilo?

— De fato, os boatos de que prostitutas vem pra cá é verdadeiro. Mas, os motivos, não. Arnoudo vive cercado de tias e freiras. Ele é um homem muito amável. Parece uma criança. Claro, que quando ele precisa ser adulto, ele cumpre bem o seu papel. Mas, ele é uma criança no corpo de um adulto. Adivinha o que ele mais gosta de comer? Bombom, doces e guloseimas. Por aí você tira. Enfim, aqui, as mulheres que vendem seu corpo acabam encontrando um refúgio. Uma família com quem podem contar. E, como você foi testemunha. Muitas chegam aqui grávidas. Desesperadas. Com filhos no colo, sem saber o que fazer. Arnoudo e sua família começaram a abrigar essas pobres coitadas. Mas, com uma condição: de que tudo estivesse distante do público. Eles são tímidos e reservados.- conta Madalena.

Arnoudo surge na porta do quarto. Ele é alto e gordo. Usa um pijama rosa e pantufas amarelas.

— Olá! - diz Arnoudo.

Camila parece constrangida.

— Olá! - Ela responde.

— Filho! Tem alguém querendo falar com você! - Arnoudo fala entregando um celular para David.

Madalena levanta-se e pega na mão de Camila.

— Filha, fique a vontade e em paz. Você está em casa! E, ahh, já ia esquecer. Pode me chamar de mãe se quiser. Aqui os mais velhos são como pais e os mais jovens como filhos. Somos uma grande família. Tenha uma boa noite, minha filha. - diz Madalena calorosa.

   

Já passa das quatro horas da manhã quando Ligia e Jordan alcançam o acostamento. O céu permanece sombrio, espremendo uma grande carga d’água. Chuva acompanhada de vento, castigam os dois caminhantes que cambaleiam subindo o monte.

— Meu Deus! Eu não sei o que vai ser. A cidade está coberta pelas águas do rio e certamente poucos sobreviveram. E, se meu filho não estiver no alto deste monte? Se ele não sobreviveu a inundação da cidade? Eu não sei o que fazer se meu filho estiver morto - diz Ligia em desespero.

— Você precisa se acalmar. Nós iremos ajudar você. Tenho certeza que o Arnoudo não irá te desamparar. Aquela maluca com certeza não passou nem da guarita - Jordan fala firmemente.

Ligia para em uma encosta, e observa por cima a cidade de Alto Monte coberta pelas águas. Um inseto da família Tettigoniidae, conhecido vulgarmente como esperança, pousa no antebraço esquerdo de Ligia. Ela olha indiferente para o inseto. Jordan se aproxima dela.

— Eu agradeço por você ter me salvado - diz Jordan observando o inseto no braço de Ligia - Você sabe o que dizem algumas culturas a respeito da esperança?

Ligia permanece em silêncio. Seu olhar perdido fita o horizonte.

— Dizem que a pessoa na qual a esperança pousar, viverá tempos de bonança. Ou, que boas coisas irão acontecer com ela - diz Jordan, repousando a mão no ombro dela.

A esperança salta do braço de Ligia. Eles continuam subindo a estrada, em direção ao monte, até se aproximarem da guarita. Jordan pega um celular que está em cima da mesa e disca um número. Ligia observa o segurança falar ao celular.

— Alguém quer falar com você - diz Jordan se aproximando dela com o celular na mão.

Ligia segura o aparelho desconfiada e, lentamente o encosta ao ouvido. Sem emitir nenhum som, ela pergunta a Jordan quem está do outro lado da linha. Ele sorri e pede que ela fale.

— Alô. Quem tá falando? - pergunta Ligia temerosa.

— Mãe?! Sou eu! O David! - diz o garoto excitado.

— David? Meu filho você tá bem? Como você tá? David você não sabe o que eu passei te procurando! Onde você está David? - pergunta Ligia eufórica.

— Eu tô na mansão do Arnoudo. Mãe, não se preocupe. Eu estou bem. Nós somos bem tratados aqui. Eu já iria voltar pra casa - diz David arrependido - Me desculpe, mãe. Eu não deveria ter fugido assim.

— Eu que peço perdão filho - diz Ligia emocionada - Eu fui egoísta e orgulhosa em não pedir perdão e reconhecer meu erro. Eu sei que você não é um ladrão. Foi engano meu achar que você furtou o meu dinheiro.

Ligia se despede de David e dá um abraço apertado em Jordan.

— Você precisa me levar o mais rápido possível à mansão. Eu preciso encontrar o meu filho. - diz Ligia.

— Eu disse que coisas boas iriam acontecer - diz Jordan sorrindo.

Eles saem da cabine e continuam a caminhar em direção à mansão.


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