Mistério em Alto Monte escrita por HugoMartins


Capítulo 2
A cabana


Notas iniciais do capítulo

Subir o monte em busca de uma criança desaparecida não parece ser uma ideia original. Mas, quando se trata de subir um monte à noite, e com a suspeita de que um homem orgulhoso sequestrou seu filho, as coisas pode ficar mais interessantes. Eventos nessa história sempre serão pano de fundo pra contar sobre o interior dos personagens. Embarque nessa aventura!



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Os pés enlameados de Ligia e Camila estão cansados de subir o monte. As bicicletas ficaram escondidas embaixo de folhas de palmeiras, alguns metros atrás. Elas seguem determinadas a encontrar o menino David.

Uma nuvem negra está suspensa sobre a cidadela, prenunciando uma tempestade ruidosa. O céu escuro cobre a floresta que se ergue até à mansão no pico da montanha. Já é noite, quando elas caminham pela floresta.

Camila segue alguns passos atrás de Ligia.

— Tia Ligia você conheceu a minha mãe? - pergunta Camila.

Ligia continua caminhando em silêncio.

— Me disseram que todos na cidade simpatizavam com ela, apesar dela fazer o que fazia. Você chegou a ter amizade com ela? - insiste Camila.

—Sim. Eu conheci sua mãe - responde Ligia.

Ligia sobe o terreno íngreme, afastando alguns galhos que atravessam seu caminho.

— Me contaram que ela era prostituta, porque não tinha o juízo muito certo - diz Camila.

Com o tom de voz um pouco agressivo, Ligia responde: - Já te disse garota. Nem tudo o que dizem por aí é verdade.

Ligia dirige o foco da lanterna para um barranco que se ergue no meio do caminho. O breu do mato, submerge as duas criaturas cansadas.

Ligia senta-se em um tronco caído. Enquanto Camila coloca-se diante dela.

— Acho que estamos chegando próximo da muralha que cerca a propriedade - diz Ligia.

— Mais uma coisa tia Ligia. Também me disseram que o Arnoudo estava envolvido com o sumiço da minha mãe - segreda Camila.

— O que você tá dizendo garota? - Ligia pergunta desconfiada.

O facho da lanterna reflete no aparelho da jovem Camila.

— Eu ouvi um policial dizendo que Arnoudo matava algumas prostitutas em sua mansão e, o delegado nunca investigava os crimes envolvendo ele, pois tinha medo de perder seus favores. - diz Camila.

— Eu não acho que Arnoudo tenha algo com o sumiço da sua mãe - diz Ligia secando o suor da testa com as costas da mão.

Um barulho atravessa o céu fazendo tudo tremer. As duas olham para o alto, no momento em que gotas pesadas de chuva caem sobre os seus rostos. O som do trovão ecoa por toda a mata.

Ligia levanta-se e vira à esquerda dando a volta no barranco e subindo uma pequena inclinação.

— Então você acha que Arnoudo não está envolvido com a morte da minha mãe, mas, acredita que ele tem algo a ver com o sumiço do seu filho. Sinceramente acho isso contraditório - alfineta a jovem Camila.

Ligia continua caminhando em silêncio. As gotas pesadas atravessam as camisetas de algodão encharcando toda a roupa. O cheiro de terra molhada viaja no ar perfumando a floresta.

Camila continua provocando Ligia. - O que você vai fazer se encontrar seu filho na mansão? E se ele não estiver mais vivo?

Ligia para de caminhar e, todo o ruído ao redor se cala esperando sua reação.

— O que você acha que está fazendo Camila? Eu acreditei em você! Acreditei quando disse que viu a bicicleta do meu filho - responde Ligia.

— Vi a bicicleta sendo descartada pelo Arnoudo. Se você acreditasse na inocência dele, não estaria subindo o monte. Então, se acredita que ele é capaz de ferir seu filho, porque não seria capaz de machucar minha mãe? - Camila pergunta rangendo os dentes.

Ligia dá de ombros e continua subindo o barranco. O vento carregado de folhas empurra as duas contra o barranco. Camila se agacha buscando equilíbrio. Ligia para diante de um alto muro de pedras, que delimita a propriedade. Ela amarra a corda em um gancho e, arremessa em direção ao muro. Ligia escala com perícia. Ela chega ao topo e chama por Camila que se agarra à corda e sobe com dificuldade. Ligia segura a mão de Camila e a ajuda puxando para o topo do muro. Elas conseguem descer com facilidade no outro lado.

— Estamos nos aproximando da propriedade - diz Ligia.

Camila vai adiante. Parece determinada.

— Você não vai ser tão misericordiosa se encontrar seu filho morto ou violentado naquela mansão - Camila diz irritada.

Ligia para segurando o pulso de Camila com força.

— Já chega! Onde você quer chegar? Ligia pergunta.

— Quando eu encontrar aquele gordo maldito, eu vou matá-lo envenenado. Eu quero vê-lo morrendo aos poucos, enquanto eu o lembro das maldades que ele fez com a minha mãe! - Camila confessa com ódio.

— Eu sinceramente espero, que a história sobre a bicicleta do David, não seja mais uma de suas criações, senão, eu mesmo vou te dar uma boa surra - ameaça Ligia, apertando ainda mais o braço de Camila - Você não inventou isso só pra me fazer subir o monte e, executar sua vingancinha não, né? - Ligia pergunta desconfiada.

— Você deveria me ajudar a matar aquele maldito! - berra Camila.

— Eu não tenho aptidão nem pra matar barata, quanto mais pra matar gente! - responde Ligia.

— Me solta! - Camila se desvencilha de Ligia e continua caminhando.

— Volta aqui sua pirralha! - Ligia aumenta o tom de voz irritada.

— Xiiiiiii - Camila se agacha com o indicador na boca, pedindo silêncio à Ligia.

— O que foi - sussura Ligia espantada.

Camila aponta para uma clareira alguns metros à frente. Uma cabana de madeira com uma varanda aconchegante, ilumina a floresta ao redor. Risos e canções sonolentas, entram e saem de lá. Uma fogueira desanimada em frente à varanda, de vez em quando, estala alguns galhos secos que entram em combustão. Dentro, as luzes estão acesas, e, no exterior, não há ninguém por perto.

As duas sombras se achegam próximo a uma janela. Uma dúzia de crianças brincam distraidamente ao redor de uma mesa. Enquanto outras, conversam despreocupadamente. Todos usam macacão branco. Duas senhoras, de aspecto amigável e maternal, acariciam uma das crianças, enquanto uma terceira senhora, dá de comer a um bebê de colo. Eles parecem contentes e saudáveis.

— O David! O David tá ali! - Ligia sussurra, apontando para um garoto cabeludo, que está de costas para ela.

— Espera, temos que ter certeza - Camila fala, segurando no ombro dela.

Uma das senhoras sorridentes se aproxima da criança que supostamente seria o David e, lhe entrega um caderno. O garoto levanta e caminha em direção a janela.

A decepção fica estampada na face de Ligia ao ver que aquele não era o seu David.

— Agora você acredita em mim? - pergunta Camila.

— Sobre o quê? - pergunta Ligia.

— Você não vê essas crianças em cativeiro? - Camila fala chateada. - Eles estão usando essas crianças pra alguma experiência esquisita.

— Elas parecem bem tratadas. Parece mais um orfanato do que um laboratório - Ligia diz.

— Você que se engana. Eu vejo isso como mais um indício de que seu filho foi pego pelo Arnoudo - segreda Camila.

Um segurança parrudo e armado se aproxima da cabana, e, flagra as duas olhando pela janela. Ele retira a arma do coldre e aponta para elas.

— Ei vocês! Fiquem paradas se não quiserem levar um tiro - Ele ameaça em alta voz.

Ligia e Camila se viram para o homem assustadas. Elas são pegas de surpresa.

O segurança retira um rádio do bolso e começa a chamar reforço.

Em um piscar de olhos, Ligia e Camila correm em direção à floresta.

— Aqui é o Alfa 01, preciso de reforços. Duas invasoras na região da cabana. Tragam o Zeus e o Ades - diz o segurança pelo rádio. Ele corre, apontando a arma para as duas

— Corre! - Ligia grita para Camila.

Elas correm uma atrás da outra. As botas entram na lama dificultando a corrida. Galhos secos cortam os braços e o rosto delas. A chuva insistente caí pesadamente sobre o monte.

Dois seguranças se aproximam trazendo dois cachorros pitbulls adultos. Zeus, tem dentes afiados como navalha de barbeiro. Enquanto Ades, foi apelidado de máquina mortífera. Os seguranças soltam os animais atrás das duas invasoras.

— Mata! Mata! - grita o segurança para as bestas.

Ligia corre na frente afastando os galhos, pulando troncos caídos, desviando das árvores adiante. Seu fôlego puxado denuncia sua localização. Enquanto que Camila, tenta segui-la cheia de espinhos nas pernas e, com a visão turva pelas gotas da chuva.

Os pés ligeiros de Ligia sentem o chão com firmeza, até que de repente, um buraco se abre diante dela, fazendo-a cair numa vala escura.

Camila vem logo atrás e, para abruptamente, se equilibrando na beirada da vala. - Você tá bem? - pergunta Camila do alto.

Ligia levanta-se, limpando a lama de seu braço. - Eu tô viva! - ela diz retirando uma folha seca da testa.

Camila se agacha e, estica o braço em direção à Livia. - Me dá a mão. Eu te ajudo a subir!

Ligia segura a mão de Camila e começa a subir da vala. Os cabelos nas costas de Camila estão molhados e desgrenhados. Ligia olha para cima e vê Camila se esforçando pra segurar a mão dela.

Som de pegadas ligeiras se aproximam atrás de Camila. Um rosnado crescente vem correndo ao encontro dela. Camila se vira e, uma besta cheia de dentes afiados, pula com cólera em direção ao pescoço dela. Os dois caem na vala violentamente.

O bicho raivoso, avança em Camila, empurrando-a na parede lamacenta. O ambiente claustrofóbico do buraco, torna-se mais assustador com o grunhido demoníaco do pitbull feroz. Ele range os dentes e abocanha com força a região abdominal de Camila, rasgando a barriga dela com seus dentes afiados.

Ligia agarra o bicho por trás e, começa a estrangulá-lo com a sua coleira. O cão estrebucha de um lado para o outro como um terremoto animalesco. Seu focinho coberto com sangue e pedaços de pele, se mistura à lama da vala. Ligia aperta com mais força o bicho contra o próprio corpo, até que ele cede e morre sem fôlego.

Um segurança aparece no topo da vala e observa a cena. Ele fala no rádio e diz: - Elas mataram o Zeus cara. Elas mataram o Zeus! - ele fala com ódio.

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Camila e Ligia estão algemadas no banco traseiro de um jipe. Um segurança mal encarado, dirige, indo em direção ao portão que dá acesso à saída do monte. Ele atende o celular enquanto estaciona o jipe no acostamento.

— Oi chefe! - diz o segurança. - São duas invasoras. Uma mulher na casa dos 30 e uma pirralha de 15 anos, talvez.

Ligia e Camila se entreolham. Camila faz careta com a mordida profunda do pitbull. Ligia percebe que o ferimento não para de sangrar.

— Uma delas foi mordida pelo Zeus. Sim, ela tá muito mal. Eu vou levá-las pro hospital. Vou me certificar de que nunca mais irão subir o monte. - diz o segurança ao celular.

Ele desliga o fone e volta a dirigir. Alguns minutos depois, ele estaciona o jipe ao lado de uma cabine de segurança. Dentro da cabine, cinco monitores transmitem a imagem das câmeras de segurança que vigiam a mansão, e, a represa de Alto Monte.

O segurança desce do jipe e entra na cabine. Um homem alto e cheio de sarda sai do banheiro dos fundos e cumprimenta o segurança.

Camila descansa a cabeça no encosto do banco, enquanto Ligia observa os monitores. É possível ver as grandes quedas d’água da represa e, a fumaça que sobe quando elas caem de uma altura de 80 metros.

— Eu falhei! - diz Ligia frustrada - Mas você vai ficar bem. Nós voltamos em outro momento.

O som das gotas caindo no teto do jipe parecem pedras sendo lançadas contra a lataria. A tempestade parece não ter fim.

— O rio transbordou - diz o segurança ao homem sardento.

Ligia escuta a conversa dos dois com atenção.

— Me disseram que lá na planície as coisas estão feias. Muita água caindo, o rio transbordando. Parece que o município vai entrar em estado de emergência. - o segurança fala preocupado.

BRUUUUUMM!POOOUUUWW. Um estrondo ecoa por toda a cidade. Um barulho como terremoto faz tremer o coração de todos.

— O que foi isso? - pergunta o homem sardento.

BRAAAAAAA! Um barulho faz o chão tremer.

O segurança aponta para o monitor assombrado. - Meu Deus do céu! Olha!

Ligia se endireita para enxergar melhor o monitor. O que ela vê na imagem lhe perturba. As paredes da represa começam a rachar. Água espirra pelas frestas que se abrem.

BRUUUUUUM! E uma parede se racha por completo, derrubando a represa e criando uma onda gigante.

Ligia e os seguranças olham perplexos a represa ruindo e, as águas do rio Papuá inundando a cidade de Alto Monte.

CONTINUA.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo será publicado em 22/12.



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