Cold Coffee escrita por amysantiagos


Capítulo 5
In the middle


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Estou de volta com mais um capítulo. O personagem de hoje vai ser o Leonard, que eu e a Mafe visualizamos como o Andrew Garfield. Agora, sem enrolar muito, boa leitura!!



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Capítulo IV

Diana 

Nunca fui uma de falar palavrão, mas por algum motivo a única palavra que se passava em meus pensamentos era: merda.

Não consegui imaginar o que Philip havia pensado no momento em que nossos olhos se encontraram, mas tenho certeza de que não fiz uma boa impressão de mim mesma ao largar tudo e sair correndo. Após tantos anos, tantas palavras não ditas e tantos sentimentos não confessados, eu simplesmente fugi. Já estava acostumada a passar papel de boba na frente das pessoas, mas aquele momento foi o ápice. 

Quando encontrei Jade, nem percebi o que ela estava fazendo, porque meu coração estava acelerado – mais pela presença de Philip do que pela corrida, isso posso garantir – e meus ouvidos apitavam. Ela, sem hesitar, também quis ir embora, e foi assim que nós duas fizemos nossa saída triunfal da primeira festa do ano: correndo como se não houvesse amanhã.

Assim que chegamos no quarto, nos deitamos na cama e esperamos um tempo antes de começar o falatório. Não sabia como dizer que o motivo da minha confusão era Philip, mas as palavras conseguiram sair de minha boca sem que eu pensasse muito. 

Jade me ajudou a processar aquilo que havia acabado de acontecer, mas a ficha simplesmente não caía. Como que uma coisa dessas cismou de acontecer? Dentre todas as universidades da Inglaterra, por que diabos ele escolheu justo a que eu escolhi? Sim, nós tínhamos alguns planos voltados para Manchester, mas depois do ocorrido... era difícil de acreditar que os mecanismos do destino agiram de tal forma que o puseram no mesmo lugar que eu.

Depois de ter falado a minha noite para Jade, estava na hora dela contar o motivo pelo qual ela tanto queria ir embora. Porém, meu telefone tocando fez meu corpo inteiro parar, porque eu sabia que estava me esquecendo de algo. A voz irritada no outro lado da linha só fez confirmar o meu instinto. 

—  Leo! Meu deus, me desculpa! –  eu soltei várias palavras em um período curto de tempo, sendo que nem eu conseguia entender o que elas significavam. Eu sabia que ele estava nervoso e que provavelmente estava pensando no pior, então meu modo de pânico que já estava ativado se fez presente mais ainda. 

—  Calma! Jesus! – ele gritou. –  Onde você tá? 

— No meu quarto...

— Por que foi embora tão de repente? Sem avisar? Eu estava morrendo de preocupação aqui, cacete! Eu te avisei pra prestar atenção com aqueles caras lá, porra! 

Fechei meus olhos e senti meus olhos arderem. 

— Leo, eu... eu passei mal! – levantei o olhar para Jade e ela estava se segurando para não rir. –  Sério, acho que tinha alguma coisa naquele cachorro-quente... não é possível... 

— QUE? Você passou mal? E por que não avisou antes de ir embora? Você foi sozinha pro dormitório? Quem te acompanhou?! – Suas perguntas vinham como tiros, um a cada segundo.

— Jade me acompanhou... Desculpa, Leo... Eu estava passando tão mal, quase vomitei em um dos arbustos, então não consegui pensar em te ligar...

— Não conseguiu pensar em me ligar? Que diabos...?

— Não é o que você está pensando, Leonard! Eu estava passando muito mal, eu te falei... por favor entenda isso!

— Eu sei, eu sei... Só que, cara, eu fiquei preocupado contigo, poxa – ele suspirou. –  Quer que eu vá aí te visitar?

— Ah... não precisa... estou quase dormindo...

— Hm...

Nossa conversa durou quase uma hora, e quando desliguei percebi que minha mão estava tremendo. Jade viu o meu estado deplorável e me abraçou.

— Amiga... vai dar tudo certo. Já te falei que as chances de Philip te encontrar são muito pequenas. Já viu o tamanho desse campus? Ah, e além disso, você tem mais coisas com que se preocupar. Amanhã já temos nossas primeiras aulas... enfim, relaxa na caixa. 

Acabamos indo dormir logo depois, meu coração ainda acelerado, e a imagem de Philip ainda marcada em minha memória. 

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Quando acordei de manhã, senti meus olhos marcados por olheiras. Jade já havia ido para sua primeira aula do dia, que era um período antes da minha, por isso o quarto estava silenciosamente vazio. Meu telefone carregava três ligações perdidas de Leonard, mas como eu havia acabado de acordar, decidi ignorá-las até pelo menos tomar um banho e respirar um pouco.

Minha primeira aula era de Introdução ao Jornalismo e seria em um prédio longe do meu dormitório. Isso já me causou um pânico alarmante, porque as probabilidades de um possível encontro com Philip aumentavam consideravelmente.

Me arrumei com a cabeça cheia e percebi que estava sendo boba. Pra que essa paranoia toda? Eu sabia que aquele rosto era o de Philip, mas vai que ele não queria se comunicar comigo? Eu estava fazendo tempestade num copo d'água, era isso. Tentei esfriar minha cabeça no caminho para a sala, mas as preocupações ainda me atormentavam. 

Consegui lidar com alguns períodos antes do intervalo do almoço, mas a verdade era que eu estava me coçando para conversar com Jade – desde sobre minha preocupação com Philip até a história que ela não tinha conseguido contar na noite anterior. Por isso, quando a vi sentada em uma mesa, sozinha, me esperando, não pude deixar de sorrir. 

— JADE. 

Ela ficou surpresa com a minha rapidez e arregalou os olhos. 

— DIANA. Nossa, tá tudo bem? – ela logo depois riu. – Amiga, eu te falei pra relaxar, mas agora você está quase que petrificada. Você viu ele? 

— Não. Graças a Deus. Mas ainda não estou preparada, sabe? Estou quase que perdendo a minha sanidade mental. 

— Di, não vai ser o fim do mundo se vocês se encontrarem de novo! Vocês eram amigos antes da briga! Qualquer coisa que você ou ele tenham pra falar, no começo pode ficar meio estranho, mas no final tudo vai dar certo... 

— Talvez... Ah, que saco! Nem um minuto de descan... –  eu fui continuar minha frase, mas Jade chutou minha canela por baixo da mesa, indicando que Leonard estava próximo. Me virei para onde ela estava olhando e dei um sorriso, esperando que ele não estivesse estressado ainda pela noite anterior. 

Ele veio em direção a nós segurando sua bandeja e estava com a testa franzida. Imediatamente notei que algo estava errado. 

—  Oi Leo... Tudo bem? – perguntei. Ele me olhou incrédulo. 

—  Não, porque tenho quase certeza de que encontrei aquele tal de Philip saindo do prédio 2.  

Jade quase cuspiu sua água e eu senti todas as peças já desmoronadas do meu ser pegando fogo. Todo aquele tempo que passei preocupada pensando na possibilidade de encontrar Philip ao redor do campus, e em nenhum momento me dei conta de que Leonard era tão capaz de encontrá-lo quanto eu. 

É, não era uma tempestade num copo d'água. Era um tsunami e um terremoto e um furacão. 

— Hm... É.... – eu sabia que Leonard ficaria mais estressado ainda caso soubesse que Philip realmente estava lá, e eu não estava preparada para lidar com mais um de seus episódios. Por isso, fiz o que tive que fazer. –  Impossível. Na última vez que conversamos, ele... disse que, hm, estaria se mudando pra França. Não é, Jade? 

Jade, que estava apenas observando e sentindo falta de uma pipoca com refrigerante, acenou com a cabeça. 

— Sim... é... 

— É, você talvez tenha visto alguém muito parecido com ele e tenha se confundido. Acontece comigo o tempo todo – ele me olhou confuso. – Não com Philip especificamente, claro, mas com outras pessoas. Wow. 

Ele ignorou minhas palavras esfarrapadas e deu um gole em sua bebida. 

— Se vocês garantem que ele está na França, então ok. Realmente não estava querendo arrumar encrenca com ele novamente. Sei lá, o rosto dele me dá raiva.  

— Te entendo completamente, Leonard... – Jade comentou antes de se levantar. O clima, por mais que Leonard não notasse, estava tenso. Eu sabia que a situação não estava totalmente resolvida mesmo após a minha doce mentira, mas eu esperava que um esclarecimento fosse me atingir no meio daquilo tudo e me ajudar a consertar as coisas. Eu precisava disso. 

Depois do almoço, me despedi de Leonard e fui para o prédio 3, que seria local do resto das minhas aulas. Apesar da confusão com Philip e, agora, Leonard, eu ainda estava conseguindo aproveitar as aulas que no futuro me fariam uma jornalista renomada. Era o meu sonho desde criança, e eu esperava que ele fosse ser atingido mesmo com aqueles contratempos em meu caminho. 

No fim da última aula do dia, me despedi do professor e saí em direção a meu dormitório. Leonard havia dito que queria me levar para jantar, mas eu respondi afirmando que ainda estava me sentindo mal por causa da festa. Sendo assim, ele concordou em transferir o encontro para o fim de semana; ou seja, eu teria a noite para conversar com Jade. Finalmente. 

Enquanto caminhava para o quarto, respirando o ar frio de Manchester, minhas preocupações que estavam me atormentando desde a noite passada finalmente se concretizaram, pois meus olhos pousaram em ninguém menos que Philip Waters, conversando com um estudante qualquer. 

Sem nem pensar nas palavras de Jade e na necessidade que eu tinha de conversar com ele, andei o mais rápido possível sem ser notada em direção ao dormitório feminino. Eu ainda não estava preparada. Uma baita covarde, admito, mas de novo, ele havia aparecido tão de repente. Minha guarda estava baixa, e isso não estava no protocolo. 

Assim que entrei no quarto, Jade notou a minha falta de ar. 

— Como foi a maratona? –  ela perguntou. 

— Phi-Philip. Estava aqui perto. 

— Mentira. Sério?! E você... ah, não me diga que você saiu correndo, Di! Não é possível! 

— EU NÃO ESTAVA PREPARADA. Tipo... Ele não tem o direito de aparecer assim do nada! Eu estava andando normalmente e BOOM, ele apareceu. Como que eu vou reagir, Jade? 

— Hm, não sei... Talvez, hm... FALANDO COM ELE?! – Jade não conseguia acreditar. –  Caracas, Di, uma hora ou outra você vai ter que falar com ele... Por que não logo agora? 

— Porque.... – eu suspirei e vi o quão patética eu estava sendo. –  Ah, quer saber, você está certa. Não adianta ficar aqui chorando que nem uma criança. O que eu tenho a temer? Ele que foi embora mesmo! 

—  Isso, menina! Arrasa! Vai lá e mostra quem você é! Na verdade, ele já sabe disso, mas você entendeu. Arrasa! 

Levantei determinada e fui correndo ao lugar onde havia avistado sua figura. Infelizmente, o lugar estava vazio, e como o campus era um lugar grande, eu provavelmente me perderia caso tentasse procurá-lo. Uma parte de mim ficou aliviada, visto que teria uma desculpa, ainda que esfarrapada, para não ter conversado com ele; a outra ficou triste, porque eu sabia que precisava falar com ele. Mesmo com Leonard, mesmo com as minhas inseguranças, eu precisava de algo para preencher o vazio que Philip havia deixado de alguma forma. 

Quando me virei para voltar ao meu quarto, lá estava ele, olhando para mim. Não consegui perceber se aquilo em seus lábios era um sorriso ou simplesmente uma contração facial, mas não importava. Meus braços se relaxaram e, diferentemente da noite anterior, eu não senti medo ou saí correndo. Ao invés disso, segui em sua direção calmamente, meu coração batendo forte e minhas palmas suando. Ele fez o mesmo, e juntos paramos frente a frente no meio do campus. 

— Oi. – eu disse. 

— Oi. – ele respondeu. 

Ficamos nos encarando; eu, pelo menos, processando todos os detalhes de seu rosto – aqueles que eu conhecia bem e aqueles trazidos pelos anos que passamos longe um do outro. Sua voz estava mais grossa, mas, levando tudo em consideração, era basicamente o mesmo Philip do colegial, com a cicatriz minúscula na bochecha e a pinta perto de seu maxilar. 

— Olha... 

— Diana.  

— Philip. 

— Pode continuar... – ele riu timidamente. 

— Ah, eu não... – olhei para a grama sob meus pés e esperei que a ficha fosse cair, o que não aconteceu. – É... 

— Complicado, né? 

Eu ri em resposta. 

— Nem me fala. Eu... eu tenho muito pra te falar, pra ser sincera. E a verdade é que eu nem sei como começar. Primeiro, aquela briga. Eu queria... 

— É, sobre aquilo... desculpa. Pelo que eu falei, digo. Eu fui um babaca, tentando impor o que eu achava... Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas isso não justifica o que eu disse naquele dia. Desculpas. – A voz de Philip era como uma melodia familiar para meus ouvidos, e eu não conseguia acreditar que depois de tudo que eu dissera durante a briga, ele era o único que estava se desculpando. 

— Não, Philip! Quer dizer... eu te perdoo, claro, mas eu também te devo umas desculpas. Você não foi o único que falou coisas das quais se arrependeu depois. E, por isso, te peço perdão. 

Philip sorriu, seus dentes brancos como as nuvens num dia ensolarado, e coçou a parte de trás de sua cabeça. 

— Bom... –  ele se fingiu de pensativo. – Acho que o que me resta é te perdoar. 

Rimos juntos de sua brincadeira e ficamos mergulhados no silêncio por um tempo, ambos com muito a dizer mas sem o incentivo para começar. Finalmente, Philip quebrou o silêncio. 

— Então... quem diria, huh? 

E, quase que como num teletransporte, senti uma presença súbita atrás de mim. Uma mão se pousou em meu ombro e um calafrio percorreu o meu corpo. 

— É, Waters. Quem diria. 

Era Leonard. 


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que vocês tenham gostado do capítulo de hoje. Não se esqueçam de comentar, por favor, isso incentiva MUITO a gente!!! E agora só vamos nos ver em 2018, então feliz ano novo galera!! Espero que o 2018 de todos vocês sejam repleto de paz, amor, saúde, felicidade e muitas realizações. Um beijo ♥