Elo rompido escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 2
Reflexões


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo de três, desta vez um pouco mais focado na situação. Espero que gostem!



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O dia havia nascido novamente; os pássaros cantavam e as crianças brincavam ao lado de fora das casas. A academia estava sendo reconstruída, bem como a maior parte da cidade, o que significava dias livres para os pequeninos, ao menos enquanto as coisas estavam sendo reconstituídas. Tsunade não podia contar quantas pessoas haviam perdido nessa guerra, embora devesse. Ela se lembrava do rosto de cada paciente que não havia conseguido salvar; de cada grito de cada pessoa que havia ficado com uma sequela irrevogável.

Mas o dia continuava nascendo, mesmo que a nova lei estivesse em vigor.

− Por que mudou sua decisão? – Kakashi, apoiado nas muletas, compartilhava a visão do sol que brilhava em Konoha, indiferente a todas as perdas que haviam sofrido. – Tinha dito que seu voto era a favor de Sasuke e mudou de ideia ao ouvir o voto de Naruto. Por quê?

Ela o havia chamado ali naquela manhã. Haviam assuntos que deveriam ser discutidos com o jounin, mas decidiu ouvi-lo primeiro. Tsunade suspirou, servindo-se de uma dose de sakê e ofereceu para Kakashi; o ninja copiador prontamente negou, alegando estar tomando remédios para dor. Para Tsunade, afogar-se em álcool era a única forma de amenizar a maior dor que sentia. E mesmo assim, não parecia o bastante.

− Uchiha Sasuke foi um mal para esta vila a partir do momento em que decidiu seguir para o lado de Orochimaru. – respondeu com presteza após beber um longo gole do sakê e servir-se de uma nova dose. – Mas ele também foi um filho de Konoha, alguém injustiçado pelo nosso próprio conselho que decidiu que seria melhor exterminar os Uchiha por uma generalização ao invés de tentar compreendê-los e melhorar sua qualidade de vida. Quando ele optou por lutar ao nosso lado na guerra, mesmo depois de toda a palhaçada com Naruto, por ele—por Naruto—eu decidi que daria uma nova chance a Sasuke.

Parecia injusto pensar desta maneira, mas era verdade. Tsunade havia se afeiçoado ao loiro hiperativo ao ponto de abrir mão da própria vida por ele se necessário fosse. E ela sabia o quanto Naruto havia batalhado para trazer Sasuke de volta. Por isso, aceitar as palavras dele não havia sido tão fácil. Mas quando temos uma erva daninha em nossa vida, a única forma de fazer um jardim prosperar, é arrancar ela por completo.

− Acha que foi a melhor decisão? – Kakashi questionou, como se ponderasse o peso que Tsunade carregava em seus próprios ombros.

− Se fosse você, o que faria? – A Godaime lhe devolveu a pergunta. Aquilo fez com que Kakashi encolhesse os ombros.

− Pelo meu pupilo e pelo meu time, eu teria escolhido perdoá-lo. Por ser um filho de Konoha, como você mesma justificou. – Kakashi suspirou pesadamente, empurrando para o fundo de seu coração aquele peso e o sentimento de que havia falhado com Sasuke mais do que qualquer outro. – Mas pela vila? Por tudo o que ele causou a Konoha? Como eu poderia? Eu não sei, Tsunade-sama, o que faria em seu lugar.

Tsunade, que até o momento estava escorada sobre a janela, foi até sua mesa e pegou uma pasta, entregando-a a Kakashi. O ninja copiador a observou com uma das sobrancelhas arqueadas, como se perguntasse se aquilo era algum tipo de missão.

− É bom começar a pensar como Hokage então, Kakashi. Estou te indicando para me substituir quando isso tudo acabar e Konoha se reerguer. Esta foi a minha última decisão oficial como a líder de Konoha.

Finalmente, Kakashi começava a compreender o peso sobre os ombros de Tsunade ao ouvir aquela afirmação.

X

Naruto não se sentia mais leve como achou que se sentiria, mas também não sentia o peso esmagador por sua decisão. Como era de praxe todos os dias pela manhã, ele foi até o hospital de Konoha para a avaliação que lhe permitiria colocar uma prótese no lugar do braço perdido na batalha final contra Sasuke. Ainda havia um misto de sentimentos que o loiro não sabia explicar, mas sabia que amor e carinho não estavam misturados entre eles; talvez decepção e desgosto. Desapontamento.

Sakura o evitou a todo custo no hospital, e os burburinhos começavam a se espalhar entre os moradores de Konoha, de que Naruto havia participado da reunião que culminara com a decisão final de que Uchiha Sasuke se tornaria um criminoso condenado por seus crimes com o status de nukenin.

Mesmo seus amigos que condenaram Sasuke por todos os seus atos hediondos pareciam surpresos pela atitude do jovem Uzumaki. Mas nenhum deles estava em sua pele para saber como Naruto se sentia. Tampouco haviam lhe questionado sobre como havia sido para ele. Tudo o que conseguiam enxergar era como Naruto e Sakura haviam batalhado para trazer Sasuke de volta e como finalmente, após conseguir, Naruto havia virado as costas para ele. Provavelmente a versão contada por Sakura.

Tudo o que Naruto sabia é que, naquela manhã, Sasuke não havia aparecido para o tratamento que supostamente estavam fazendo juntos. E nenhuma notícia dele fora ouvida naquela manhã.

Finalmente, sem Tsunade à frente do hospital, Sakura não teve outra opção que não o atender, pois era quem, além da mestra, sabia como Sasuke e Naruto estavam e que tipo de prótese seria construída para alocar-se ao braço perdido de cada um deles.

Pelo rosto inchado de Sakura, Naruto sabia que a amiga deveria ter chorado a noite inteira, e mesmo assim não conseguiu arrepender-se da decisão que havia tomado. Será que para ela era tão difícil assim enxergar todo o mal que Sasuke havia feito a eles? Como era possível que não sentisse a nuvem tóxica de veneno que ele havia espalhado ao redor de ambos?

Naruto achou também que jamais enxergaria, mas no momento em que Sasuke abandonou ela e Kakashi para morrerem na guerra porque apenas os dois poderiam parar Kaguya, algo se quebrou dentro dele de vez. E a batalha final entre os dois, na qual Naruto batalhava anestesiado, ainda com a ideia de trazer seu melhor amigo de volta, serviu apenas para reforçar isso. Foi preciso muita reflexão e força de vontade da parte do Uzumaki para que finalmente fosse capaz de compreender a verdadeira natureza de Sasuke, e que ele simplesmente não poderia sair livre de tudo o que havia feito só porque havia lutado ao lado deles na guerra. Porque qualquer outra pessoa seria julgada justamente por seus crimes. E Sasuke também deveria ser.

Quando chegaram ao consultório, com um silêncio esmagador entre eles, Sakura começou os exercícios de fisioterapia com Naruto, as falas tétricas e ensaiadas de um médico que mal se importa com seu paciente.

− Ele os deixou para morrer, Sakura. Você e Kakashi-sensei. – Naruto tentou trazer a luz para os olhos da companheira, mas tudo o que recebeu foi um olhar de desprezo e de puro ódio em resposta.

− Fizemos uma promessa, eu e você. – ela disse, empregando mais força do que deveria em um alongamento. – De trazermos Sasuke de volta. De curá-lo de todo o mal ao qual ele havia sido acometido. Finalmente conseguimos isso, Naruto. Finalmente o trouxemos de volta para o nosso lado e você o apunhalou pelas costas o tratando como um traidor!

Suas palavras ficaram completamente ignoradas, como se Sasuke tê-los deixado para morrer fosse algo corriqueiro e comum como respirar, por exemplo.

− Você ouviu o que eu disse, Sakura?! – Indignação transbordou por sua voz enquanto encarava a kunoichi médica. Os olhos verdes dela não refletiam nada se não o vazio de quem ainda era sugada pelo buraco negro Sasuke. – Ele os deixou para morrer! Ele disse que suas vidas não importavam! E quer que eu simplesmente ignore isso?!

− NÃO MORREMOS! – explodiu. – NÃO MORREMOS PORQUE KAKASHI-SENSEI NOS SALVOU! DROGA, NARUTO! TIVEMOS UMA CHANCE DE DEIXÁ-LO AQUI A SALVO EM KONOHA, NO NOSSO LAR! E VOCÊ DECIDIU AFASTÁ-LO NOVAMENTE!

Era impossível não se sentir ferido através das palavras de Sakura, através do ódio despejado por ela sobre si mesmo. Naruto nunca imaginou que seria fácil lidar com a companheira, pois conhecia a paixão e o amor que ela nutria por Sasuke, mas jamais imaginou que ela o trataria como o grande vilão da história. Ele a havia amado de todo o seu coração e ao decorrer dos anos, recebera apenas o seu desprezo e esperanças depositadas de que ele traria Sasuke de volta para a vila. Para que ela pudesse ficar ao lado dele. O sabor amargo da bile chegou à sua garganta e Naruto sentiu que vomitaria aos pés dela.

− Pense como quiser. – rebateu. – Espero que um dia consiga enxergar a burrice que está me dizendo como eu fui capaz de enxergar. Fique bem, Sakura-chan.

Ela quis brigar de volta com Naruto, quis gritar o quanto ele estava errado a respeito disso. Mas ao vê-lo sair dali e encarar suas costas, não conseguiu fazer nada além de se debulhar em lágrimas, sabendo que havia perdido não apenas Sasuke, mas os dois. Talvez para todo o sempre.

X

Doía. É claro que doía. Doía feito o inferno sempre que cada lembrança pontuada pela esperança de que Sasuke lhe reconhecesse como os irmãos que realmente eram invadiam sua mente aturdida e confusa.

Depois de sair do hospital, tudo o que Naruto queria era ficar em paz, mas mesmo no Ichiraku, o tio o olhava com uma expressão indecifrável, que poderia ser pena ou desprezo pela decisão que ele havia tomado. Será que Sakura não sabia o conceito de uma reunião fechada? Como poderiam todos os membros da vila já saberem o que havia acontecido e o pintarem como vilão?

Claro, também existiam aqueles que diziam que Naruto estava certo, que Sasuke realmente deveria pagar por seus crimes; o que não faltava em Konoha eram pessoas para dar sua opinião.

Por fim, e sem poder cozinhar sozinho, Naruto optou pelo churrasco onde raramente ia, mas Tsunade havia sido incisiva a respeito de uma dieta com sustância, e isso não incluía lamen em suas três refeições diárias.

Desanimado sob a perspectiva de novos olhares indagadores e acusadores, Naruto fez seu pedido e sentou-se em um canto reservado onde esperava não ser incomodado por ninguém.

Felicidade que não durou muito quando o trio InoShikaChou começou a cochichar. Era evidente, claro, que Naruto era o assunto da mesa, pois Ino não parava de lançar olhares incisivos em sua direção como a boa fofoqueira que era. A princípio, Naruto pensou que era alguma carne ou vegetal preso entre seus dentes, mas palitou-os tanto que deveriam estar impecáveis agora. E mesmo assim, continuavam lhe encarando. Por fim, a discussão tornou-se um pouco mais acalorada, embora ainda inaudível, ao ponto em que finalmente Shikamaru levantou-se da mesa, completamente contrariado e sentou-se diante de Naruto.

− Não gosto disso mais do que você, cara, e acho problemático. – Shikamaru coçou a cabeça, movendo os ombros de maneira desconfortável. Mas havia uma seriedade por trás do olhar do rapaz que fora recentemente promovido a jounin—fato que ele também achou bastante problemático, pois significava que tinha o dobro de responsabilidades agora. – Ino insistiu para que eu viesse aqui, e também perdi no jogo dos palitinhos. Ela quer saber como você está, mas achou que era... hum... desconfortável para que ela viesse perguntar.

Naruto arqueou as sobrancelhas com uma surpresa quase palpável. Yamanaka Ino querendo saber como ele estava? Isso sim era novidade!

− Desconfortável por causa do Sasuke ou por que ela quer saber o que eu tenho a ver com o fato de Sasuke ter sido considerado um nukenin? Porque, à essa altura, todos da vila parecem saber. – Deu um gole em seu suco de laranja. Shikamaru suspirou pesadamente.

− Não sei o que te dizer sobre isso, Naruto. Não sei mesmo. E não sei que tipo de decisão teria tomado em seu lugar. – Shikamaru apoiou o queixo sobre as mãos e encarou o amigo. – Mas sei o que fiz a Hidan quando ele atacou uma das pessoas que eu mais amava nesse mundo. E sei de todas as coisas que Sasuke fez antes e durante a guerra. Você foi um guerreiro, Naruto, e as pessoas vão te julgar. Positiva e negativamente. Cabe a você saber que decisão irá tomar a partir disso. Vai ser problemático, e você sabe que sim. Mas também sabe que as consequências para os atos de Sasuke aconteceriam de toda forma. Acredito que ele também saiba, porque ouvi dizer que desapareceu da vila.

Naruto concordou com a cabeça, de repente sem apetite algum.

− Eu não te julgo pela decisão que teve que tomar e acho que... bem, não importa o que eu acho. Não tive que passar pela dor de ter um companheiro de equipe que nos abandonou, mas sei como é perder um. Seja para a morte, para a guerra ou para uma vingança. Não acho que a dor aplaca.

Naquelas palavras, Naruto enxergou a perda da dor de Asuma por Shikamaru. O jounin que havia lhe ensinado mais sobre seu elemento nunca havia sido tão próximo assim de Naruto, mas o loiro sabia reconhecer o valor de um companheiro e a dor da perda de um. Sasuke não estava morto, ao menos. Mas Naruto sabia que certas feridas demoravam a cicatrizar mais do que outras.

− Não tenho certeza se depois de tudo, poderemos ser amigos novamente. – Pronto. Aí estava. As palavras que não conseguira dizer em voz alta nem para si mesmo. Sentiu a voz um pouco embargada naquele momento e a garganta seca; deu mais um gole no suco de laranja.

Shikamaru murmurou o quanto aquilo era problemático mais uma vez.

− Talvez não possam. – Ele encolheu os ombros. – E talvez tudo o que viveram seja a prova de que não podem mais ser amigos. Mas vocês foram, Naruto. E isso deve significar alguma coisa. Pense nisso.

O jounin levantou-se da mesa sem esperar uma resposta de Naruto. Estava se dirigindo à mesa dos companheiros quando a voz do loiro o alcançou.

− Obrigado.

− Heh. – Shikamaru riu. – Que problemático, cara. Resolva isso tudo. Se torne o Hokage que disse que se tornaria algum dia. Certamente estarei lá para ver. – Shikamaru colocou as mãos atrás da cabeça e sorriu. Por algum motivo, a conversa com o amigo o havia feito se sentir um pouco melhor.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo saído do forno! Espero que vocês não tenham se cansado de esperar. Como planejado, essa fic só terá mais um capítulo que será a conclusão. Quis dar a ideia de reflexão por parte de Naruto, com o peso de sentir o julgamento das pessoas de Konoha que souberam da decisão que ele havia tomado (ou que ele havia feito parte dela).
Não me crucifiquem, por favor! Coloquei uma Sakura amargurada sim, uma Sakura que não perdoa Naruto por ter ficado contra Sasuke, porque quis dar a ideia de que ela ainda é aquela pessoa cega que não tem forças para cortar as amarras que a aprisionam ao nosso Uchiha devastador de corações.
Por fim, a cereja do bolo foi o Shikamaru. Eu quis colocar alguém que fosse o norte para Naruto, que o fizesse ver que, embora a situação fosse ruim, alguém precisava ter tomado uma decisão. E que, sendo boa ou ruim, ele tomou a frente. E quem melhor que Ino para impulsionar Shikamaru a dar conselhos? Fica subentendido aí que algumas pessoas não foram a favor disso, mesmo com tudo o que Sasuke fez, porque sempre tem os do contra! Ainda assim, a lei está em vigor e agora ele é um nukenin. No próximo capítulo, a conclusão da fic! Deixem seus comentários dizendo o que estão achando e se acham que precisa melhorar em algo!

Até a próxima, pessoal!



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