Elo rompido escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Toxicidade


Notas iniciais do capítulo

Fanfic não revisada. Perdoe os erros



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O silêncio imperava sobre a sala do conselho como se fosse um convidado de honra. Dentre as cadeiras, a ausência de Danzo era sentida, mas os outros dois anciões haviam se escondido sob a proteção de um abrigo que havia sido criado para esse tipo de situação—abrigo o qual nem mesmo a Hokage tinha ciência da existência até encontrá-los aprumados como os covardes que eram, escondidos enquanto esperavam que os outros agissem por eles. Malditos velhos decrépitos que só sabiam opinar sobre suas vidas. Como Tsunade queria varrer suas existências para longe daquela vila.

Ao redor da mesa oval, os olhares inquietos se dirigiam para ela, como que inquerindo que o assunto em pauta fosse logo discutido.

− Godaime-sama, acho que já esperamos demais. – pigarreou Mitokado, tomando a atenção da Hokage para si.

− E esperaremos quanto tempo for preciso. – rebateu Tsunade. – Quiseram esta reunião, quiseram decidir o destino de Uchiha Sasuke e o mínimo que irão fazer, é ouvir seus companheiros de time e o sensei responsável por eles. E não quero interrupções.

− Isso é uma afronta! – Utanane se manifestou. – Sabe muito bem que devemos decidir pelo melhor da vila e—

O barulho das portas duplas se abrindo foi ouvido e antes que pudessem prosseguir com uma discussão inflamada e inútil, Kakashi entrou acompanhado de seus dois outros pupilos: Sakura e Naruto.

O ninja copiador por si só já era bastante intimidador, mas a presença de Haruno Sakura—também pupila de Tsunade—e do portador da Kyuubi conseguiam ser tão piores quanto. Kakashi vinha apoiado sobre uma muleta, o olho do sharingan oculto sob a bandana abaixada e Naruto usava suas costumeiras roupas laranjas, deixando em vista aquilo que lhe faltava: o braço direito. O cotoco estava bem preso, enfaixado e envolvido em uma tipoia.

− Uau. – Naruto se manifestou ao notar o silêncio na sala. – Alguém morreu ou isso tudo é a nossa entrada triunfal, ‘tte bayo?

Um sorriso de satisfação pintou o rosto de Tsunade.

− Parece que passar por uma guerra e quase morrer não foi o suficiente para tirar o seu senso de humor, Naruto. – Sorriu. – Sentem-se, por favor.

Os três tomaram os assentos vazios que lhes eram por direito. Os dois anciões se remexeram na cadeira, claramente desconfortáveis com suas presenças ali.

Naruto empertigou-se, como se fosse fazer algum comentário inconveniente, mas Sakura o calou com um pisão doloroso no pé. Ele achou por bem não reclamar disso ou sua situação poderia acabar muito pior.

− Naruto, Sakura, lembrem-se do por que estamos aqui.

À simples menção do assunto, uma sombra pairou sobre o olhar de ambos, como se a seriedade da situação os tivesse chamado de volta para as sequelas que a guerra havia deixado em todos.

“Tão jovens,” pensou Tsunade “e já tiveram que lutar sua primeira guerra. Espero ter tomado a decisão correta, pois sei que não venceríamos sem eles. Mas que sequelas isso trará para suas vidas? Para a minha, foi quase irreversível. E sei que o que for decidido hoje poderá impactar suas vidas para sempre.”

− Acho que já podemos começar, Godaime-sama? – Mitokado, um lembrete constante que era pior que as dores de cabeça causadas por suas ressacas, tornou a alfinetar.

− Claro. – Mexeu em alguns papéis que estavam diante de si: a pauta das reuniões organizadas por Shizune para decidir o destino de Konoha. A última delas falava sobre sua aposentadoria e a recomendação de Tsunade para o próximo Hokage. Algo que não seria discutido naquele momento. – Vocês já devem saber o motivo que me levou a convocá-los para essa reunião. Temos que discutir o que será feito de Uchiha Sasuke e nada mais justo do que ter os seus membros de equipe para dizerem suas opiniões.

O olhar de Tsunade recaiu sobre os três. Sakura não foi capaz de encarar a própria mestre, pensativa sobre o peso daquela reunião que poderia desistir o destino de Sasuke de uma vez por todas.

− Uchiha Sasuke – Mitokado tomou para si a palavra, ajeitando os óculos de grau – foi acusado dos seguintes crimes: deserção de sua vila para se unir a um nukenin que outrora fizera parte desta vila e se uniu à facção criminosa Akatsuki; assassinato de Danzo Shimura, um antigo membro de nosso conselho e um ninja notável que fez parte da história de Konoha; assassinato de incontáveis shinobis, seja desta ou de outras vilas que o tornaram um criminoso em potencial; criação de um grupo de criminosos tão perigosos quanto ele que se auto-denominavam Taka, composto por Uchiha Sasuke, o líder, Hoozuki Suigetsu, um antigo membro de Kirigakure, Karin e Juugo, cujas habilidades são extremamente notórias e perigosas; posteriormente, Uchiha Sasuke também é acusado de unir-se ao grupo Akatsuki, do qual seu irmão Uchiha Itachi, também fazia parte. – Uma pausa dramática. – Acho que isso é tudo.

− Você se esqueceu, vovô, de incluir o assassinato de Uchiha Itachi, um shinobi que trabalhou por Konoha como um espião que assassinou o próprio clã a mando de todos vocês. – Naruto apontou o dedo na direção dos dois anciões.

− Mas isso é—!

− A verdade. – Kakashi se manifestou. – Sabemos de tudo o que foi feito e todas as coisas que Danzo maquinou. Então não tentem transformar ele em um mártir, pois certamente se ele estivesse vivo, seu destino seria igualmente discutido nessa reunião.

Os lábios de Tsunade se curvaram em um sorriso. Sakura parecia pálida como papel ao ouvir a extensa lista de tudo o que Sasuke havia feito, embora soubesse da verdade. Os anciões, parecendo infelizes com a intercessão de Kakashi, apenas se calaram.

− Agora que todas as acusações contra Sasuke foram colocadas na mesa, vocês, membros do time sete que tiveram contato com ele, têm o direito de opinar. – Tsunade retomou a palavra. – Pois embora Sasuke tenha sido acusado de todas essas coisas ruins que ele certamente fez, ele também foi um dos shinobis responsáveis por ajudar Konoha a sair desta guerra vitoriosa ao lado de todas as outras vilas.

− É ultrajante considerar que o que ele fez de bom apague tudo o que ele fez de ruim. – Era claro o desprezo dos dois anciões por Sasuke e pelos Uchiha. Como se eles fossem uma praga que devesse ser expurgada da Terra. Naruto permanecia estranhamente calado diante dos argumentos, fato que não passou despercebido à Tsunade.

− Ultrajante é ter que escutar tudo o que vocês tem a dizer depois de terem se escondido enquanto nós estavamos ali, na frente de batalha. – Sakura, que até então permanecera calada, se manifestou. – Se Tsunade-sama nos deu o direito de falar, então falaremos. E não há nada que vocês possam fazer sobre isso.

Tsunade se sentiu intimamente orgulhosa da pupila por aquela atitude, mesmo que ela tivesse sido tomada movida pelos impulsos errados. Kakashi também parecia ter aprovado o comentário de Sakura.

− Por que você não começa falando, Sakura-chan? – O sensei a encorajou. – Dê sua opinião sobre Sasuke para que eles escutem.

Sakura abaixou as orbes esverdeadas para um ponto especialmente lustroso da mesa e engoliu em seco. Depois de tudo o que havia acontecido, mesmo que seu coração batesse dolorosamente, ela não conseguia simplesmente abandoná-lo. Haviam lutado tanto para trazê-lo de volta... e mesmo que ele tivesse escolhido um caminho ruim ao dizer que se tornaria Hokage para expurgar todo o mal do mundo à sua maneira, ele estava ali agora, não é? Naruto o havia trazido de volta como prometera.

− Sasuke-kun é... um membro desta vila. – Ela iniciou o discurso. O ensaiara milhares de vezes diante do espelho e até mesmo na presença de Ino, mesmo que a antiga rival já não fosse tão inclinada assim a sentir-se da mesma forma que ela por Sasuke. – Mais do que isso, ele foi alguém que viu toda a família padecer pelas mãos do irmão que ele acreditava e confiava por uma ordem vinda diretamente deste conselho.

A expressão dos dois anciões beirava ao nojo quando ela prosseguiu:

− Quando viu a chance de se tornar forte, ele decidiu seguir aquilo em que acreditava no intuito de se vingar daquele que achou que havia sido o causador de todo mal. Mas quando... quando Sasuke-kun descobriu a verdade, tudo o que ele queria era que Konoha pagasse pelo que fez seu irmão passar. Pelo que fez ao seu clã. Vocês podem realmente julgá-lo por isso? – questionou ela. – Como teriam agido em seu lugar? E mesmo com tudo, ele se arrependeu. Se arrependeu verdadeiramente e nos ajudou na guerra. Sem ele, como Tsunade-sama ressaltou, não teríamos sido capazes de vencer. Acho que... não. Tenho certeza de que Sasuke-kun merece o perdão da nossa vila e merece se integrar novamente. Ele merece a chance de ter uma família aqui.

A velha senhora riu com escárnio.

− Não seja idiota, menina tola. – desdenhou. – Como acha que Uchiha Sasuke será capaz de ter uma família aqui se todos os outros Uchihas foram dizimados, sendo ele responsável por matar o último vivo além dele próprio?

Sakura sentiu o ódio borbulhar em seu âmago e o ímpeto de afundar os dentes restantes daquela velha na própria cara. Por incrível que parecesse, foi a mão de Naruto sobre o seu punho cerrado que a trouxe de volta para a realidade.

− Naruto-kun? – Kakashi o chamou.

− Pode falar primeiro, Kakashi-sensei.

Era estranho, Tsunade pensava, que o garoto sempre hiperativo e disposto a tomar a frente em tudo, deixasse os companheiros falarem primeiro. Mas talvez ele apenas quisesse deixar o melhor para o final.

− Hn. – Kakashi acenou positivamente com a cabeça. – Vocês devem saber, mais do que ninguém, do carinho especial que tenho por Sasuke. Mais do que Sakura, que foi treinada por Tsunade-sama e Naruto, que foi apadrinhado por Jiraya-sama, eu tomei Sasuke como meu pupilo com o intuito de ensiná-lo tudo o que eu sabia a respeito do sharingan e do elemento que nós dois tínhamos em comum. Mas além de todas essas coisas, sempre quis ensinar para ele a respeito da humanidade. E que ele não precisava olhar para trás para ter uma família, porque ele tinha a nós. Ele tinha o time sete.

Sakura sentiu um nó se formar em sua garganta ao ouvir as palavras tocantes de seu primeiro sensei.

− E no entanto, mesmo assim, ele decidiu abraçar as trevas. – prosseguiu o ninja copiador. – Nem assim, Naruto, Sakura e eu desistimos dele. Eu sabia que seria difícil resgatá-lo, trazê-lo de volta para essa realidade depois de todas as sequelas que Sasuke havia sofrido em sua vida. Não acho que Sakura está completamente certa em seus argumentos, mas se nos colocarmos no lugar dele, como poderíamos fazer diferente? Como poderíamos agir de outra maneira quando tudo lhe foi tirado tão injustamente? É claro que temos um exemplo aqui, bem diante de nós. – Ele apontou para Naruto com o olhar. – Naruto passou pela mesma situação que Sasuke ao perder toda sua família em uma guerra da qual sequer participou. E ainda teve que viver com o peso de um bijuu e o preconceito de toda uma vila que tinha medo de que seus filhos se aproximassem dele. Ele, o filho do Yondaime Hokage. Que deveria ter sido amado e respeitado por cada membro desta vila, mas que foi desprezado por todos nós. E que foi o responsável por nos salvar. Uzumaki Naruto escolheu abraçar a luz, fazer em força tudo o que lançaram contra ele com o único intuito de se tornar o Hokage de maneira que jamais fosse desrespeitado novamente. Mas há uma diferença crucial entre Sasuke e Naruto. Sasuke sabia o que era ser amado e ter uma família. E Naruto nunca soube o que era ter isso. Talvez Sasuke tenha sido mais fraco, eu não sei, mas quando você tem algo que lhe é tão caro e perde isso... isso pode te mudar para todo o sempre. Por isso... por isso acho que ele merece uma nova chance.

Todos ali sabiam que Kakashi também compartilhava aquela dor por ter perdido o próprio pai e os companheiros de time no passado. E mesmo assim, o ninja copiador não havia escolhido se tornar um vingador. Mas nenhum dos dois anciões disse nada diante do olhar de ameaça velada que receberam de Tsunade.

Finalmente, todos os olhares se voltaram para o loiro hiperativo que até então permanecera em silêncio, ouvindo tudo o que seus companheiros tinham a dizer. Todos ali tinham certeza de que Naruto endossaria as palavras de Sakura e Kakashi, inflamando-as de uma maneira muito mais intensa, fazendo-os acreditar que sim, Sasuke merecia uma nova chance. Mas os membros do conselho não estavam muito inclinados a favorecer isso. No entanto, cada um ali tinha direito a um voto. E ao que parecia, já tinham dois em favor de Uchiha Sasuke.

− O Sasuke... O Sasuke sempre foi o irmão que eu nunca tive. – Naruto começou. – Quando eu olhava para ele, antes de tudo com o clã acontecer, eu sentia inveja por ele ter uma vida perfeita. Por ter pais que o amavam e um irmão que sempre estava ali por ele, buscando-o na academia e tendo momentos divertidos. Ele sempre se sobressaía em todos os exercícios e foi o primeiro de nós a realizar um jutsu, mesmo que fôssemos novos demais para isso. – Ele engoliu em seco, mas sentiu como se engolisse vidro. – Quando a família dele foi assassinada, eu senti que finalmente tinha algo no qual eu poderia compreendê-lo. E muitas vezes, sem falar nada, fícavamos os dois sentados no balanço do parque, apenas vendo o sol ir embora e a noite chegar.

“Eu nunca disse isso a ninguém, mas gostava muito daqueles momentos, como uma espécie de trégua que nós dois tínhamos, das únicas crianças de Konoha que haviam perdido seus pais. Quando entramos para o mesmo time, eu senti uma euforia tão grande! Eu finalmente teria a chance de ser reconhecido por ele. Tudo o que eu precisava fazer, era me tornar muito mais forte. E por isso, segui treinando incansavelmente, mesmo que o meu controle de chakra fosse lastimável. E quando... quando ele finalmente me reconheceu, quando disse que eu era forte... ele foi embora. Ele foi embora e decidiu que seguiria o próprio caminho, porque precisava ficar mais forte. Ele precisava se vingar.”

O ambiente parecia ter se tornado pesado diante das palavras de Naruto, como se elas sugassem todo o ar.

− E eu decidi, ao lado de Kakashi-sensei e de Sakura-chan que eu salvaria ele dessa escuridão. Que eu traria o Sasuke de volta para nós. Eu prometi... prometi a você, Sakura-chan. – Olhou nos olhos da Kunoichi ao dizer isso. – Mas eu falhei.

Sakura não entendeu o que Naruto queria dizer com aquelas palavras.

− Ele está aqui agora, Naruto. Você o trouxe de volta. – Deu uma risada nervosa.

− Não. – Naruto respondeu. – Sasuke não retornou para nós. Sasuke... – Negou com a cabeça. – Ele escolheu o próprio caminho, Sakura. Será que você não vê? Durante todos esses anos, corremos atrás dele como tolo, tentando fazer com que ele enxergasse a luz por trás de toda a escuridão que se envolveu. Nós fomos até ele, arriscamos nossas vidas e quase morremos! Eu perdi o meu braço!

Ergueu o cotoco, como que para deixar aquilo claro.

− E veja o que ele fez à nossa vila. – Havia um peso enorme nas palavras de Naruto. Um peso que finalmente fez Tsunade compreender porque ele havia deixado por último suas próprias palavras. Ele não queria influenciar ninguém. – Ele destruiu, roubou, matou os nossos próprios companheiros. Ele teria me matado apenas para criar o mundo que ele julgava justo e mesmo assim tentei salvá-lo. Eu tentei, Sakura-chan.

À essa altura, lágrimas grossas escorriam pelos olhos de Sakura.

− Pare com isso, Naruto. Pare de difamar ele assim. – pediu baixinho.

− Eu não estou difamando ele, Sakura! – Naruto exclamou. – Mas veja tudo o que ele fez! Veja a lista interminável que o velhote citou! Acha que Sasuke é capaz de se perdoar por isso?! Acha que ele conseguirá viver uma vida feliz em Konoha encarando o rosto dos sobreviventes? Os sobreviventes de uma guerra que ele ajudou a causar?!

Sakura não conseguia respirar. De repente, era como se toda a sala tivesse ficado sem oxigênio.

− Não acredito no que está dizendo. – murmurou. – Depois de tudo o que fizemos, depois de todo o caminho que percorremos...

− Sasuke é tóxico! – Ninguém ousava a se colocar entre a discussão dos dois. Nem mesmo Kakashi ousou a se manifestar. – Ele é tóxico e intoxicou todos ao redor dele. Intoxicou com sua vingança... – Naruto também chorava, a voz rouca e embargada pelas emoções. – E no fim das contas, ele simplesmente decidiu que suplantaria a sua própria monarquia. Ele criaria um mundo onde ele fosse o único ser absoluto acabando com todos os outros, simplesmente porque ele achava certo. Acha mesmo que ele mudará do dia para a noite, Sakura-chan? – questionou. – Sei que ele se arrepende... sei que cada morte causada irá assombrar Sasuke pelo resto da vida, principalmente a do seu irmão. Mas o primeiro passo para a sua redenção... o primeiro passo para fazer dar certo é assumir a própria culpa. Eu não voto pelo perdão de Sasuke. – concluiu por fim. – Pois sei que não é isso que ele iria querer. E certamente não é o que eu quero para essa vila. Não é esse o símbolo de restauração que precisamos no momento.

− Não acredito no que você está dizendo. – Sakura disse, se colocando de pé. O tapa estalou no rosto de Naruto sem que ele reagisse de volta. – NARUTO-BAKA!

− Acha que se fosse qualquer outra pessoa estaríamos discutindo isso? – Os olhos do loiro se fixaram nos dela.

− Ele é o Sasuke-kun... membro do nosso time! Nossa família!

− Exatamente. – Naruto concordou. – E deu as costas para nós. Todas as vezes em que tentamos salvá-lo. Pare de ser idiota, Sakura. Pare de se intoxicar por ele. E deixe que o Sasuke encontre a própria redenção. Porque tudo o que ele fez... por tudo o que ele fez... simplesmente não há perdão.

− Eu odeio você. – ela disse.

− Tem certeza disso, Naruto? – Kakashi tomou a palavra. Tsunade deixou que o sensei interagisse com os pupilos. Os dois anciões eram estátuas de cera naquele momento, as expressões taciturnas diante das palavras de Naruto.

− Eu tenho, Kakashi-sensei. Essa é minha decisão final.

Não havia sombra para dúvidas em sua opinião. Aquele olhar sério que Naruto carregava não era mais o de uma criança que certa vez pichara os monumentos dos Hokages em busca de atenção, mas o de um homem que havia perdido muito mais na guerra do que as palavras poderiam expressar.

− Acho que podemos prosseguir com a votação então. – Tsunade se pronunciou.

− Tsunade-sama! – Sakura exclamou.

− Se não tem equilíbrio para permanecer nessa reunião, Sakura, pode se retirar. – Tsunade estreitou os olhos. – Eu não vou admitir que deixe suas emoções tomarem a frente aqui agora. O seu voto já foi dado. Então pode sair se você não se sentir à vontade. Também não permitirei que agrida Naruto outra vez. Nem verbalmente, nem fisicamente.

A kunoichi trincou os dentes, desacreditada nas palavras de sua sensei. Mas tornou a se sentar. Naruto era apenas um voto, Kakashi e ela eram dois. Se Tsunade votasse por Sasuke e os anciões apoiassem o voto de Naruto...

− Tenho uma pergunta. – ela disse, por fim.

− Diga. – Tsunade permitiu.

− O que acontece em caso de empate nos votos?

Os dois conselheiros olharam para a Hokage.

− Em caso de empate, o voto de minerva é dado por mim, que ponderarei tudo o que foi dito. E tomarei minha decisão em prol do que for melhor para a vila.

Do que for melhor para a vila. Se a decisão de Tsunade fosse positiva uma vez, seria novamente. Ainda havia esperanças. E depois o idiota do Naruto a agradeceria por isso.

− Podemos prosseguir?

Todos anuiram com a cabeça.

− Mitokado-sama? – Tsunade passou a palavra para ele.

− Não. Não acho que devemos perdoar Uchiha Sasuke.

− Koharu-sama?

− Meu voto é não.

Com isso, todos os olhares se voltaram na direção de Tsunade. A loira suspirou pesadamente, olhando para cada rosto de cada uma das pessoas presentes naquela reunião.

− Tem mesmo certeza de suas palavras, Naruto? Depois de tudo o que fez para trazer Sasuke de volta? – Tsunade tornou a perguntar.

Naruto olhou para ela e Tsunade não viu nele aquele garotinho para quem dera seu colar certa vez. Não via mais ele há muito tempo, porque Naruto havia mudado. Ele não havia apenas se tornado um homem, mas um homem que algum dia, no momento certo, estaria apto para assumir o posto de Hokage. Mas Tsunade não esperaria por isso para abrir mão daquela posição. Só que aquela decisão, aquela última e pesarosa decisão, deveria ser tomada por ela.

− Me diga o que te fez desistir. – pediu ela. – Me diga o que te fez desistir dele.

− Tsu—

Ela ergueu a mão para Sakura antes que ela a interrompesse e seu olhar reprovador pousou sobre a pupila.

− Eu não vou avisar uma terceira vez. – Tsunade deu um ultimato; Sakura se calou, vencida.

Naruto deixou o ar escapar pelos lábios.

− Se fizermos isso... se simplesmente perdoarmos Sasuke depois de tudo o que ele fez, estaremos mostrando ao mundo que Konoha perdoa todos aqueles que cometem atrocidades contra nós. Mais do que isso, estaremos mostrando à nossa própria vila que perdoamos isso. – Naruto cerrou o único punho que tinha. – Não é a decisão que um Hokage deveria tomar. Ele deve aprender com os próprios erros e não simplesmente ter alguém passando a mão na cabeça dele depois de tudo o que fez. Sasuke teve... mais chances do que posso contar para voltar atrás. E negou todas elas em prol da vingança. Ele sabia das consequências. Ele não é mais nenhuma criança.

Sakura só queria estrangulá-lo, mas permaneceu em seu lugar, taciturna.

− E finalmente... – Naruto prosseguiu. – Finalmente descobri que Sasuke não me faz bem. Ele nunca fez. Eu preciso seguir em frente, vovó. Ele também.

Tsunade sentiu a verdade por trás das palavras de Naruto. Ela sabia do peso que elas carregavam, mas sabia também o que isso significava: que ele já sabia o peso que um Hokage precisava carregar.

− Muito bem. – ela se manifestou. – O  meu voto seria sim. Eu estaria disposta a dar uma outra chance a Sasuke apesar de todos os erros que ele cometeu por ter se redimido na guerra. Mas Naruto está certo. Ele escolheu o próprio caminho e escolheu abraçar o mundo ao ódio quando decidiu o tipo de Hokage que queria se tornar ao desafiar Naruto no Vale do Fim. E não é disso que Konoha, uma vila que está se recuperando de profundas feridas na guerra, precisa agora. Portanto, o meu voto é não. Com isso, espalhem as notícias: Uchiha Sasuke é um nukenin. Ele será caçado por todos que o virem e terá uma recompensa sob sua cabeça. Vivo ou morto.

− Não pode estar falando sério. – Novas lágrimas irromperam do rosto de Sakura. – Isso não pode ser verdade.

− Saia. – ordenou Tsunade. – Se não está pronta para lidar com essas decisões, não deveria ter lhe dado uma cadeira aqui nessa reunião, sequer o direito de voto. Eu deveria saber que seu sentimentalismo tolo atrapalharia tudo. Apenas saia. Suma da minha vista, Sakura.

Indignada, Sakura se levantou, mas olhou para Naruto por sobre o ombro.

− Nunca mais chegue perto de mim novamente.

Lançando essas palavras sobre o loiro, ela saiu pelas portas duplas, o estampido surdo da batida ecoando quando ela as soltou violentamente.

− E agora? – Naruto questionou.

− Agora colocamos a lei em vigor.


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Notas finais do capítulo

Quando comecei a escrever essa história, comecei pelo final, que já está pronto, e depois parti para o início da fic. A ideia aqui é de que Sasuke não foi perdoado por Naruto, de que finalmente ele percebeu como essa relação era tóxica para ele e o mal que fazia para ambos.

Essa ideia maravilhosa não é minha, mas da Tamires Vargas. Eu não sei se chego aos seus pés abordando o tema, e peço perdão se tiver algum erro muito grotesco, mas juro que me esforcei bastante no desenvolvimento aqui.

E aí, o que acharam desta faceta amargurada de Naruto? E Sakura dizendo que o odeia por isso?

Comentem sobre o que estão achando! Prometo tentar fazer o próximo capítulo o mais rápido possível!

Até breve!



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