What hurts the most escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
It's hard to deal with the pain of losing you


Notas iniciais do capítulo

Presente para a minha flor por ser seu casal favorito do fandom.

Para quem quiser ouvir a música do título:

https://www.youtube.com/watch?v=7qH4qyi1-Ys



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I can take a few tears now and then and

just let them out

I'm not afraid to cry

Every once in a while

Even though going on with you gone

still upsets me

(Eu posso chorar algumas lágrimas às vezes e

apenas deixar que elas saiam

Eu não tenho medo de chorar

De vez em quando

Mesmo que continuar com você longe

ainda me deixe triste)

 Rascal Flatts – What hurts the most

 X

Existem prisões piores que as palavras.

Hinata sempre havia se apegado à essa expressão que lera certa vez em um dos infinitos livros contidos na biblioteca dos Hyuuga—o favorito de seu primo Neji. O nome era A Sombra do Vento, e contava a história de um ninja que havia perdido sua mãe em uma idade tão tenra que sequer se lembrava do rosto dela. E uma noite acordava gritando por causa disso.

Hinata nunca havia sido expressiva. Ela nunca soube como colocar em palavras as coisas que sentia e mesmo seus gestos eram travados e taciturnos. Talvez ela fosse a representação mais pura daquilo que os Hyuugas significavam se o medo não a paralisasse na maioria das vezes.

Mas foi com Uzumaki Naruto, um jovem hiperativo, energético e irritante para a maioria das pessoas que ela aprendeu a superar a maioria de seus temores pessoais e sair da inércia.

Enquanto a maioria das pessoas sentia apenas nojo ou pena pelo que Naruto era—por carregar um demônio que não pedira dentro do próprio corpo—, tudo o que Hinata conseguia sentir pelo jovem ninja, desde a tenra idade, era admiração e respeito por ele nunca desistir de seus sonhos, por mais distantes e impossíveis que eles parecessem.

Foi com ele que ela finalmente aprendeu o que significava força. Mas foi Neji quem lhe ensinou o que significava garra.

− Neji. – disse ela. – Neji-nii. – repetiu o nome ensaiado em sua boca. Lá fora, os passarinhos cantavam cânticos de lamento, os mortos eram enterrados e os vivos choravam suas perdas.

Ela não havia se ferido demais. Dentre aqueles que sobreviveram à batalha, era uma das pessoas que se encontrava em melhor condição. Algumas costelas quebradas e escoriações leves, nada além disso. Mas por dentro, seu coração estava dilacerado.

Hinata deveria fazer o discurso de morte do primo. Ela deveria dizer o que ele significara para o clã—pois se não fizesse isso, seu sacrifício seria esquecido. Ele seria apenas mais um membro da família secundária que se sacrificou por alguém da família primária.

Seus punhos se cerraram com força, mas sempre que Hinata olhava para as próprias mãos ou para o próprio reflexo no espelho, tudo o que conseguia enxergar era o sangue do primo, manchando seu rosto e seu corpo; tornando seu próprio sacrifício pessoal em algo inútil.

− Por que fez isso, Neji-nii? – Sua pergunta ecoou no tempo e espaço; seus olhos se desviaram para o corpo morno que respirava lentamente diante dela.

Lá fora, Hinata escutou o grito das crianças, que mesmo diante da tragédia, brincavam e pulavam nas poças d’água. Será que se fosse uma criança, pura e inocente, também agiria assim? Saltaria sob as lápides dos mortos fingindo ser um pássaro prestes a voar? Ela e Neji costumavam fingir que eram animais e imitavam seus sons e suas atitudes. Em uma época tão distante que ela quase não se lembrava. Nem das brincadeiras, nem do seu sorriso.

− Mas ele estava sorrindo. Neji-nii estava sorrindo quando se sacrificou por nós. – Sua voz, anestesiada e embargada, narrava os acontecimentos que pareciam estar em segundo plano em sua mente durante a batalha. Naruto deu um suspiro mais alto, dormindo alheio à toda a situação e ao seu sofrimento; seu luto. – Uma vez ele me disse que eu deveria lutar por você, Naruto-kun. Que deveria lhe dizer como me sentia. Acho que não escolhi o momento propício para isso, não é mesmo? – Uma risada nervosa.

Neji não havia sido a sua única perda naquela guerra. Soubera, por intermédio de outros, que seu pai havia sido gravemente ferido em uma explosão; seu estado era crítico. Estava mais vivo do que morto quando os ninjas médicos chegaram até ele. Sua sobrevivência estava por um fio e ele era mantido apenas por jutsus poderosos intermediados pela própria Tsunade. Hanabi também estava em observação, dormindo. Hinata não sabia se havia alguma sequela para a irmã.

− Tão nova e tendo que ser arrastada para isso. – O sangue, ele permanecia em suas mãos. Hinata ainda o enxergava. Aproximou-se de Naruto ao ouvi-lo gemer e umedeceu um pano, colocando sobre a testa febril do shinobi. – Vai ficar tudo bem, Naruto-kun. Você vai ficar bem. Foi ótimo... durante toda a guerra. Não sei o que teria acontecido sem você por lá.

Uma voz egoísta dentro de si disse que Neji ainda estaria vivo. Que provavelmente não teria se colocado entre os dois se ela não tivesse se arriscado.

− Mas ele teria, Naruto-kun. – respondeu a si mesma. – Ele teria se arriscado por você, porque Neji-nii aprendeu a respeitar quem você se tornou e tudo pelo que lutou e conquistou.

Arriscou-se, ainda que timidamente, a tocar sua mão. Tudo ao seu redor estava ruindo, a vida de seu pai estava por um fio e sua irmã... ela apenas esperava que quando Hanabi acordasse, tudo estivesse bem.

− Houve uma grande baixa entre os Hyuugas. – prosseguiu Hinata. – Fiz um recenseamento antes de vir aqui te ver e perdemos grande parte de nossas forças. O clã está longe de ser extinto, mas... as baixas foram grandes. – Engoliu em seco ao dizer isso. Lembrava-se da discussão que havia sido levantada dentro do conselho do clã, sobre Hinata ter que tomar a frente do clã e assumir certas responsabilidades enquanto o pai estivesse naquele estado. E que teriam que pensar na possibilidade de isso ser permanente.   

 Hinata havia sido treinada e moldada para esse momento; o momento em que assumiria o lugar do pai como líder do clã. Mas intimimamente, ela tinha a esperança de que isso acontecesse apenas muitos anos depois. Que ela tivesse tempo de, ao lado de Neji, moldar as leis do clã e ver a promessa de Naruto se cumprir quando ele finalmente se tornasse o Hokage—e ela sabia que ele se tornaria.

− Mudar as coisas e acabar com essa divisão idiota entre o nosso clã, Naruto-kun. Você se lembra dessa promessa que fez à Neji-nii? – Hinata sentia o nó se formar em sua garganta. Seus dedos tímidos se entrelaçaram aos de Naruto; ele não ofereceu resistência, murmurando algo ininteligível para a garota. – Eu não vou permitir que o sacrifício dele seja esquecido. Não vou permitir, também, que se torne apenas mais um. Otou-sama... otou-sama o amava como se fosse um filho. Ensinou técnicas que nenhum membro da família secundária deveria saber a ele. E Neji-nii treinou arduamente comigo para que eu me tornasse mais forte. Não porque ele era um membro da família secundária que havia jurado proteger alguém da família primária. Mas porque ele era um irmão mais velho protegendo a irmã.

As lágrimas presas junto com o nó formado em sua garganta ameaçaram cair, mas Hinata as refreou firmemente, enquanto olhava para o semblante calmo de Naruto. Retirou a toalha umedecida de sua testa, deu-lhe um beijo terno que nunca teria coragem caso o loiro estivesse acordado e tornou a umedecer a toalha, repousando-a novamente em sua testa.

− S-Sakura-chan... – murmurou ele.

A dor que atravessou o semblante de Hinata não poderia ser descrita em palavras naquele momento, mas ao invés de expressá-la, a jovem kunoichi apenas sorriu para Naruto. Se declarara para ele durante a guerra, diante da destruição e da morte. Seus amigos estavam morrendo ao redor e tudo o que ela conseguiu pensar é que não queria morrer sem que ele soubesse. Mas talvez Naruto apenas tivesse levado aquilo como o desespero de uma jovem que quer provar algo para o mundo. Talvez fosse apenas isso para ele. Talvez nunca fosse mais do que a garota tímida que sempre desmaiava em sua presença. Mas provaria a todos que eles estavam enganados. Que ela não era mais a mesma Hinata de antes.

− Fique bem, Naruto-kun. – disse ela. – Preciso retornar ao clã e preparar o meu discurso para assumir o comando temporário. E preciso estar à frente sobre o velório de Neji-nii e de todos os outros Hyuugas que morreram. Estou adiando isso por enquanto e tentarei mais um pouco. Quero que otou-sama seja capaz de ver. Quero que ele esteja lá para ver que não sou mais a menininha assustada que tinha medo de assumir as próprias responsabilidades.

Engoliu em seco. O nome de Sakura—alguém que nunca o amaria como Naruto merecia—ainda ressoava na mente de Hinata, mas aquele era o menor de seus problemas. Com o coração em frangalhos, ela saiu do quarto, sem ouvir o restante que Naruto tinha a dizer em seus delírios.

− S-Sasuke....Kakashi-sensei...

Os nomes continuavam a escapar em múrmurios, cada uma das pessoas com quem Naruto havia criado vínculos e pelas quais havia se esforçado tanto. Hinata nunca soube, mas seu nome foi o último a escapar dos lábios do loiro.

Não importava agora. O que importava era estar lá pelo seu clã, por seus amigos e por sua família. As dores do coração, Hinata trataria depois.

 


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Notas finais do capítulo

Esta é a segunda fanfic do projeto Estigma, que traz consigo outro shipp que será desenvolvido durante a história. Em 'Un-break my heart', eu retratei a perda que aconteceu para Shino e Kiba e aqui, retratei as perdas sofridas por Hinata.

Quem ler as duas fics, verá que existem sutis citações sobre o acontecido, mas uma fic não precisa da outra para se complementar. Esses spinoffs são testes para eu saber a melhor forma de abordar a temática e também uma maneira de eu ir introduzindo a fic aos poucos no universo.

A dor vai ser a temática principal, seguida da superação e dos passos que cada personagem tomará para isso. Não vai de longe ser uma história bonita ou simples de abordar ou ler. Eu acredito que será bastante longa também. Ainda falta um spinoff com Sasuke e Sakura. Os outros dois casais, Temari e Shikamaru, Ino e Sai, serão abordados como núcleos secundários da história.

Mas enfim.

Espero que gostem do resultado! Eu gostei bastante e confesso que com um pouco de receio, pedi pra minha namorada ler antes de postar. Obrigada pelo fôlego de coragem, amor ♥ Essa é pra você.

Comentem o que acharam dessa narrativa e se o projeto parece bom!

Até a próxima!



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