A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 4
Capítulo 4




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O domingo passou rápido, Cecília prometeu a si mesmo que não se deixaria abater e daria um jeito. Orou para que tudo desse certo.

Na segunda o dia amanheceu chuvoso, era véspera de natal e estavam todos de férias e recessos de final de ano, Cecília acordou com Dulce abraçada a ela, ainda dormindo. Ela riu, fazia apenas três dias que estava com a menina e já se sentia tão parte da vida dela. Sentiu um embrulho no estômago, quando lembrou da conversa com Gustavo na noite passada e de como ele ainda afetava seus sentidos, lembrou também de Dulce, como iria conta-la que não poderia ficar com ela. Sentiu uma lágrima cair, não queria a menina infeliz, era só uma criança, e ela sentia como se fosse dela.

Decidiu que iria levantar e fazer um café enquanto Dulce dormia, deu um beijo na testa de Dulce e levantou-se, foi para cozinha fazer o café. Quando Dulce levantou foi atrás dela.

— Tia, tia Cecília, cadê você? - Falou com uma vozinha desesperada.

— Estou aqui meu amor, calma. O que foi? – foi até o quarto e sentou ao seu lado abraçando-a.

— Eu sonhei com meu padastro, fiquei com medo – falou com a voz embargada de choro – no sonho, ele me levava embora.

 - Calma minha linda, foi só um sonho ruim, você está aqui comigo, que tal você levantar, tomar um banho e a gente tomar café?

— Tia, promete que você nunca vai me deixar, promete?

Cecília não sabia o que fazer, não sabia que dizer. Dulce era tão pequena, mas já sofrera tanto, não queria que ela continuasse a sofre, ainda mais por sua causa. 

—  Dulce, enquanto você estiver aqui comigo, eu não vou deixar ninguém te fazer mal. Ok?

— OK – falou ainda com o olhar distante.

— Agora já para o banho mocinha.

Após o banho, comeram, conversaram e Cecília perguntou se ela não queria ir no parquinho do condomínio, que era fechado e não tinha perigo de Dulce ir sozinha. Dulce saiu, já um pouco mais sorridente que antes. Quando a campainha do apartamento tocou e ela pensou ser Dulce.

— O que você esqueceu, hein?... Gustavo? – Falou com espanto – O que você faz aqui e como te deixaram entrar sem telefonar?

— Posso entrar Cecília? – falou

Cecília fez um gesto com as mãos e ele entrou.

— Veio aqui debochar de mim né?

— Esperava muito mais, com a fortuna que eu lhe dei – falou apontando para o lugar – nunca pensei que voltaria a morar em casa popular.

— Quem gosta de esbanjar dinheiro aqui é você e não eu. Bom, não sei como você descobriu onde moro e como te deixaram entrar, mas vá direto ao ponto, tenho muito o que fazer.

— Seu endereço esta nos papeis do divorcio e eu conheço o porteiro.

— Você ainda não disse o que veio fazer aqui. – falou meio impaciente e ele riu, sabia muito bem como lhe dar com aquilo.

— Vim lhe fazer uma proposta.

— Uma proposta, vai me ajudar?

— Vai depender de você. Tem mais alguém aqui?

— Não, a Dulce desceu para brincar no...

— Dulce? – falou interrompendo-a.

— Dulce Maria, a garotinha que eu quero adotar, ela está morando aqui comigo, pelo menos até eu tomar coragem de entrega-la para o juizado.

— Faz quanto tempo que ela está contigo?

— Três dias, dois dias e algumas horas, mas Gustavo, você deixou bem claro que isso não é problema seu, o que você quer?

— Você, quero você na minha cama novamente, como esposa, – falou com um leve sorriso nos lábios -  até a conclusão do processo, me informei e deve durar uns quatro meses.

Cecília ficou branca, Gustavo até pensou que ela iria desmaiar, em seguida voltou ao normal e disse:

— O que você quer dizer com como esposa? Nós vamos nos divorciar.

— Nós podemos suspender.

Ele estava se divertindo com aquilo.

— Mas por que justamente isso? Faz dois anos que não nos víamos, nosso casamento acabou.

— Nosso divorcio não foi concluído, vamos dar uma pausa até o documento ficar pronto.

— Não entendo porque precisamos fingir que estamos junto.

— Nosso casamento não era fingimento e respondendo a sua  vou dar a menina o meu sobrenome, com uma clausula de que quando nos divorciarmos, ela fique apenas com seu sobrenome de solteira. Garantirei também uma boa quantia para que a vida dela esteja garantida até depois da faculdade. E preciso me certificar que você não irá desistir.

— Jamais faria isso.

— Você e a menina ficarão em minha casa durante esses meses e você me dará a assistência necessária, entenda como um aprendizado para a sua escola. E a menina precisa ao menos me conhecer, pois no dia da audiência, claro que vão entrevista-la também.

Cecília adorava crianças. Eles haviam conversado sobre ter filhos, sobre constituir uma família e ele fora paciente ao entender seu pedido para que esperassem um pouco até ter o próprio filho.

Dera a ela, todo o amor do mundo, em troca, negou-lhe o que ele mais desejava: um filho.

— Está fazendo isso por orgulho, não é? Porque tive coragem de larga-lo e agora você quer me humilhar.

— Claro que não – respondeu calmo, contrastando com a ira dela. Sentiu coisas só de lembrar que ela estava vermelha do mesmo jeito que quando faziam amor – estou disposto a ajudar, mas quero seu corpo em troca.

— Você quer que eu me prostitua.

— Só quero que você, minha esposa, volte para nossa cama por um período predeterminado e que nesse período esteja ao meu dispor.

— Durante todos esses anos, jamais odiei você, mas odeio agora mais do que achei que fosse possível.

Gustavo se levantou e foi até a direção de Cecília, chegando muito perto dela, disse:

— Eu não ligo para o seu ódio ou para o seu amor. – Estendeu a mão e introduziu-a sob os botões abertos da blusa dela.

Tentou não reagir ao toque dele em sua pele...

Segurou a respiração, seu toque passando uma carga energética para o corpo de Cecília, certamente conseguiu sentir o coração dela acelerado. Fazia muito tempo que não a tocava desse jeito. Ele murmurou:

— Estou disposto a fazer o que você quer, está disposta a me oferecer o que eu quero?

Se o dedo dele não chegasse exatamente no local que lhe causava arrepios de desejo, teria reagido mais rápido àquelas palavras. Levou um tempo para assimilar o que estava acontecendo e afastar as mãos dele imediatamente.

— Como ousa, acha que eu sou brinquedo Gustavo?

Aproximando mais ainda, encurralou-a contra a parede.

— “Brincar” comigo nunca foi problema para você.

Um calor tomou conta de seu corpo e todas as lembranças que tentara esquecer, voltaram a tona.

— Isso quando eu te amava, e se você tivesse algum dia sentido algo por mim, jamais teria exigido algo repugnante.

— Eu ainda gosto muito de você.  – Percorreu o dedo pelo pescoço dela, aproximando-se ainda mais.

 Controle-se Cecília, não demonstre fraqueza!

— Você não pode me obrigar... – falou quase num sussurro, embriagada com o cheiro dele. O corpo dela se lembrava de como esse cheiro a fazia vibrar de desejo.

Gustavo sorriu suavemente, passando o dedo ao longo do rosto dela, falou junto ao seu ouvido:

— Eu não preciso obrigá-la.

Como se quisesse provar que estava certo, agarrou os seios dela sobre a blusa e passou o dedo por um dos mamilos. O calor que ela sentia aumentou, fazendo-a apertar as coxas para resistir.

Era verdade, o que a deixava ainda mais constrangida. Obviamente, essa era a intenção. Ela o humilhara e esse era o preço que queria fazê-la pagar.

Pior ainda: seu corpo conspirava contra ela.

— Odeio você.

— Eu sei – disse, beliscando o lóbulo da orelha dela. – Imagine que incrível vai ser todo este ódio alimentando o seu desejo.

Encheu-se de prazer, cada centímetro do corpo cheio de energia com o toque dele, com a respiração tocando sua pele.

Dois anos longe dessa sensação...

Agarrou o pescoço dele e beijou-o com os lábios sedentos. Não conseguia pensar no que fazia. Agia por instinto para conquistar aquilo que o corpo tanto queria. Naquele instante, todo resquício de racionalidade havia evaporado. Num emaranhado de bocas e línguas, eles se uniram, devorando um ao outro, ela agarrando a cabeça de Gustavo e ele a segurando pelas costas, subindo até seu cabelo, agarrando a sua cabeça com força.

Ficou impregnada com o gosto dele, a respiração dele misturada à sua, despertando nela um desejo incontrolável. Cada milímetro do seu corpo ansiando por ser tocada, beijada, acariciada... Levou a mão até a coxa dela e colocou-a sob o short, ainda envolvidos num beijo ardente.

Cecília gemeu... E então a campainha da porta tocou e ele a soltou, de maneira tão repentina que teria caído, caso a parede não estivesse lá para apoiá-la. Percebeu brevemente a descompostura de Gustavo, antes de ele voltar a si.

— Viu? Eu tinha razão. Todo aquele ódio alimentou seu desejo. Você não vai atendê-la?

Bastou para trazê-la de volta a si.

Que diabos tinha acontecido?


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