A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 25
Capítulo 25




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Gustavo estava no átrio dourado do novo transatlântico com um sorriso fixo no rosto, apertando a mão dos convidados, guiados pela tripulação. Cecília estava em algum lugar por ali. Estava a bordo do navio desde a parte da manhã, trabalhando com Silvana e outros membros da equipe executiva dele para garantir que tudo estivesse a postos.

Ele ainda não a vira.

Não a encontrara nas três semanas que se passaram desde que a deixou em casa. Também não se falaram. Fora o e-mail que se sentiu obrigado a escrever para ela quando Dulce, sem querer, mencionou que Cecília não queria ir, não houve contato direto. O átrio logo encheu, gente bonita e sofisticada por toda parte, a fragrância pesada de perfume francês no ar.

Ele deu um sorriso forçado ao ver o irmão, a prima e o cunhado.

Gustavo abriu espaço na multidão e cumprimentou-os.

Era a primeira vez que os via desde que deixara Cecília em sua casa.

Havia desmarcado o almoço a que iria na casa da família no último fim de semana.

— Cecí está aqui? – perguntou Estefânia.

— Está por aí – respondeu ele, sentindo um aperto ao ouvir o codinome do qual ele evitara durante dois anos de casamento e só agora se dera conta de que ela era mais Cecí do que Cecília.

Ouvira muito o nome dela no escritório, especialmente da boca de Silvana, que parecia ter uma admiração por ela, o que era perfeitamente compreensível.

— E Dulce, cadê?

— Está com Fátima. Ela veio comigo, mas criança é curiosa, decidiu ir com a tia desbravar o Navio.

Dulce não parava de falar desse dia, de como seria incrível ter o papai e a mamãe juntos. Gustavo tentou conversar, explicar que não seria bem assim., Mas não houve rendição de sua parte.

Foi interrompido de seus devaneios por Gabriel.

— Então isto é para a organização beneficente de Cecília?  

Gustavo assentiu, sem coragem de falar.

Nesse instante, foram chamados no restaurante principal, onde iria começar a primeira parte dos procedimentos: a refeição. Ele deu as costas e seguiu a multidão até o painel que mostrava a disposição das mesas. Como sempre, ele estava na mesa principal com o capitão, Gabriel, Estefânia, Vitor, Dulce, Cristóvão, Fátima e... Onde estava Cecília? Passou os olhos pelas outras mesas e finalmente encontrou o nome dela perto da entrada, o mais longe possível dele.

Avistou Silvana e fez sinal para ela.

— Por que minha mulher está ali? – exigiu saber.

— Vai sentar com as crianças e as famílias. Achou que seria melhor que ficassem mais perto da porta para poder sair discretamente se estranhassem a comemoração e decidiu deixar Dulce em sua mesa, pois não iria poder dar muita atenção a ela. As crianças da escola necessitam de muitos cuidados. Ela é fantástica, não é? – perguntou Silvana com reverência.

Sete crianças, foram escolhidas para comparecer com as famílias. Se dependesse de Gustavo, todas teriam ido, mas, para a maioria delas, não era possível. Em vez de aproveitar a noite, poderiam ficar estressadas com o ambiente estranho e a interrupção da rotina.

Entretanto, todas as famílias foram convidadas, assim como todos os empregados da Escola e seus acompanhantes.

Ele planejava arrancar cada centavo que conseguisse dos convidados, mas, para as crianças, as famílias e os empregados, a noite era por conta dele.

Avistou um menino alto de cadeira de rodas cujo nome lhe fugia... E então a viu.

Ela estava vindo em sua direção, entretida numa conversa com a mãe de uma criança.

Cecília devia ter percebido que Gustavo olhava para ela, pois fez uma pausa e olhou-o nos olhos.

O coração dele pulou.

Linda. Ela estava linda. Radiante. Usava um vestido longo preto que deixava as curvas maravilhosas à mostra, e o cabelo cascateava pelos ombros. Mesmo de longe, ele notou a animação nos olhos dela.

Um homem alto que ele reconheceu, talvez um cantor famoso, foi para a frente dela e interrompeu o contato.

Todos foram para os seus lugares.

O champanhe foi servido e a noite começou. Os inúmeros pratos foram levados aos convidados por um exército de garçons eficientes, e a risada preenchia o recinto e abafava o pianista no canto. Em meio a tudo isso, a todas as conversas que teve com os convidados à sua mesa, Gustavo não tirou os olhos de sua mulher.

A mesa dela parecia estar se divertindo horrores. Cecília conversava animada enquanto comia. De vez em quando, lançava-lhe olhares e ele sentia a atração que sempre tiveram, desde o início, que ele sabia bem no fundo da alma que nunca o abandonaria.

Ele olhou para as crianças. À esquerda dela, o menino de cadeira de rodas estava sendo alimentado pelo pai. Uma onda de tristeza o invadiu quando pensou que aquele garoto nunca poderia comer sozinho, nem fazer qualquer outra coisa, sozinho. Com a tristeza veio uma centelhazinha de orgulho de estar fazendo algo para tornar a vida do menino um pouco mais alegre.

Então olhou para Dulce, sentada ao seu lado, alimentando-se sozinha. Sentiu uma onda de felicidade por estar ao lado dela, por poder lhe proporcionar aqueles momentos. Ele sabia que Cecília sentia essa mesma felicidade. Ela simplesmente nunca abandonaria alguém que ama. A não ser que precisasse, ou achasse que precisava.

Enquanto esses pensamentos eram filtrados pelo seu cérebro, os pratos vazios de sobremesa eram levados e, de canto de olho, ele viu Cecília se dirigir a um canto onde havia um microfone.

Após mexer no microfone por alguns instantes, ela deu tapinhas nele, que reverberaram pelo salão lotado.

— Todo mundo consegue me ouvir? – perguntou.

Aplausos e gritos de incentivo ecoaram no recinto. – Muito bem. – Ela limpou a garganta.

Quando tornou a falar, sua voz estava clara e calorosa.

— Antes de começar o leilão, gostaria de dizer, em nome de todas as crianças, das famílias e dos funcionários do Novo Centro, que agradecemos muito por estarem aqui esta noite e por gastarem seu dinheiro suado no nosso centro. Eu prometo que cada centavo será bem gasto.

Ainda mais gritos reverberaram pelo salão. Ela ficou quieta, sorrindo, esperando fazerem silêncio.

— Gostaria de agradecer em especial a minha filha que sempre me deu o estimulo necessário para seguir em frente e ao homem fantástico que tornou esta noite possível. - Todos os olhares se voltaram para Gustavo e ele sentiu um arrepio na espinha.

O sorriso dela diminuiu um pouco, mas a voz ficou mais calorosa.

— Se não fosse por Gustavo, não estaríamos aqui, nem essa grande obra que é o novo centro. Por favor, pessoal, vamos fazer um brinde ao Gustavo.

A palavra Gustavo ecoou, todos o encarando e bebendo à sua saúde.

Ele queria sorrir e aceitar o brinde com leveza, mas não conseguiu. Estava errado. Estavam brindando à pessoa errada. Antes que ele pudesse se levantar, Cecília começou a falar de novo e o leilão teve início.


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