A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 17
Capítulo 17




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Gustavo pôs o cinto de segurança sem saber exatamente no que ia se meter.

 Combinaram de encontrar Cristóvão no escritório. Cecília estava tão radiante de felicidade quanto o sol.

A tempestade que varrera a cidade nos últimos dias se fora. O ânimo dela voltara.

— É melhor eu dirigir – disse ele ao vê-la sentar no banco do motorista.

Era sempre ele que dirigia com ela.

— O carro é meu e eu o dirijo – disse Cecília alegre, ligando o motor.

— Vamos no meu então.

— Sem dramas, Gustavo. – E, com isso, ela manobrou seu carro e eles pegaram a estrada rumo a São Paulo. Dulce estava excitadíssima. A combinação inicial era Gustavo deixar Cecília em casa e voltar para o escritório, mas Dulce o encarou com aqueles olhos e pediu para que fosse junto.

— Por favor Tio Gustavo, sem você não tem graça.

— O que você me pede que eu consiga negar, hein sua sapeca?

— IUUUPI.

Ele não compreendia por que não conseguiu recusar, e dizer: “Não, eu tenho muito trabalho para fazer e não posso perder tempo.” Provavelmente era curiosidade, por causa do evento.

Ou será que era porque ficar longe delas, de suas meninas, significava uma dor quase física?

A relação dele com Dulce, era maravilhosa, ele era o pai dela, os dois sentiam isso, o amor era recíproco.

Estar com ela, era a melhor parte do seu dia, ansiava sempre por chegar em casa e receber aquele abraço maravilhoso que renovava suas energias. Já era rotina ajudar-lhe na lição de casa, ela dizia que ele era o melhor professor de matemática, enquanto Cecília era a de português. As noites antes de dormir eram só deles três, onde ficavam deitados na cama de Dulce, que era minúsculas quando eles se juntavam, e contavam histórias ou simplesmente falavam do seu dia. Era mágico estar com elas, não tinha dúvidas. E faria de tudo para que Dulce se sentisse amada.

Gustavo sentia falta da palavra pai. Talvez ela ainda não tivesse tido confiança o suficiente para dizer-lhe, mas ele não iria pressioná-la, seria no seu tempo.

Com Cecília, a relação mudara drasticamente após a sedução no escritório. Ela já não tinha mais reservas perto dele. Agora, quando faziam amor, não se continham. Ela ria com facilidade e andava como se tivesse molas nos pés. Ela estava feliz. Estar com ele a deixava feliz.

Estar com ela era como estar com a mulher de quando se apaixonaram, a verdade é que o amor ainda existia ali, era difícil de admitir, mas existia.

Quando chegaram ao hotelzinho diante da praça do povo, palco principal da festa, foram levados pelo gerente direto para o terraço. Pelo que Gustavo pôde perceber, aquele era dos poucos pontos de onde se podia ver o que acontecia. E que visão. Milhares de pessoas espremidas na praça e nas ruelas, caminhões repletos de sacos de tinta em pó estrategicamente posicionados perto das bombas d’água.

Havia cadeiras para eles; o terraço era seguro para Dulce pular de animação. Gustavo nunca sonhara em tirar um dia de folga para assistir a uma guerra de tinta e podia até imaginar a cara do pai se soubesse. A reprovação seria evidente.

— Ano que vem vou tentar passar a semana toda aqui com Dulce para participar do festival – disse Cecília, gritando para ser ouvida em meio aos olés da multidão. Estava vermelha de excitação. Dulce sentou no colo dela e Cecília a abraçou para protegê-la.

— Aposto que você também ia gostar.

Antes que ele pudesse responder, o rugido das bombas anunciou o início da luta.

Seguiu-se uma carnificina, alegre, bagunçada e gloriosa. Cecília e Dulce morreram de rir vendo pó de tinta voando em todas as direções, e logo as ruas e as pessoas se pintaram de todas as cores.

Não acreditava que ele, estava se divertindo com algo tão... grotesco, como a mãe refira-se ao festival. Quando era pequeno, ela vivia lembrando; Os Lários tinham uma imagem a zelar. Sempre eram vistos nos lugares. A guerra de tinta anual, precedida de um festival e entrava em sua lista de atividades indignas.

Sentiu algo em suas costas. Virou-se e viu que Dulce lhe jogara o pó de tinta verde e chorava de rir. Avistou um saco no instante em que Cecília levantou-se da cadeira e correu para agarrar alguns sacos. Com um sorrisão, ela jogou um pouco nele.

Gustavo encarou rindo o que havia sido uma camisa branca imaculada. Então eles entraram na brincadeira. Cecília pôs a mão na caixa onde havia vários sacos e lançou-lhe um olhar de desafio. Gustavo nunca recusava um desafio.

Cecília não se lembrava de já ter tido um dia tão mágico.

Quando a guerra terminou, estavam todos sujos de tinta. O gerente do hotel chegou com uma mangueira para lavá-los. Voltaram para casa e exaustos, mas felizes.

— Você parece ter se divertido – disse ela quando saíram do estacionamento.

 Havia ficado surpresa e encantada ao perceber que ele entrou no espírito, aceitando rajadas de Tintas de Dulce com bom humor e revidando com cuidado. Com cuidado segurou as mão de Dulce, incitando-a a usá-la como alvo. Com ela não foi diferente: segurou suas mãos, incitou Dulce a usá-la de alvo e jogou o pó de tinta dentro da camiseta dela. Tinha pó até no sutiã.

Ele assentiu pensativo, parando o carro num cruzamento.

— Foi divertido. O que você achou Dulce? – olhando pelo retrovisor, vendo ela em sua cadeirinha já cochilando.

— Meu amor, não durma, tente ao máximo manter-se acordada. Você precisa de um banho, tem bastante tinta ainda em você.

— Não tem problema, hoje eu vou dormir com meu amigo Rox, ele vai adorar me ver assim toda colorida, amanhã eu tomo banho.

Gustavo e Cecilia se olharam e caíram na gargalhada.

— Nada disso mocinha, você vai chegar em casa e vai direto para o banho. Amanhã você vê Rox.

— Mas, banho todo dia faz mal, jajá me aparece uma guiripre e aí eu vou ficar doente.

Eles continuaram rindo e Cecília interferiu na conversa.

— Oh Dulce, de onde você tirou essa asneira, minha filha? – continuava a rir – Você não vai pegar uma g r i p e (enfatizou) por tomar banho todo dia.

— Ué, mas...

—Não tem nada de “mas”, mocinha.  

— Está bem, mas eu vou descansar minha beleza um pouquinho aqui.

A gargalhada foi ainda mais alta.

— Façam silencio, assim eu não me concentro para descansar.

— Tudo bem, descansa essa beleza aí, que quando nós chegarmos... Banho!

Não houve resposta, ela já havia apagado. Gustavo voltou a olhar pelo retrovisor e a viu dormindo, linda, cheia de manchinha de tinta.

— De onde ela tira essas coisas Cecilia? – rindo ele colocou a mão na perna dela.

Cecília, sentiu seu coração disparar com aquele toque.

— Como e ela mesmo diz; “da minha cabeça, tia Cecí”. – ela riu, mudando de assunto - Meus braços estão cansados de tanto jogar tinta. – Lançou-lhe um olhar sugestivo. – Preciso de uma massagem.

Ele apertou de leve sua coxa.

— Acho que conheço um bom massagista.

— Também acho.

Ela apoiou a cabeça na janela e fechou os olhos com um suspiro satisfeito.

— Você sabe como estão as vendas para o cruzeiro?

Gustavo montara uma equipe para organizar o cruzeiro beneficente, pelo qual estavam cobrando rios de dinheiro. Cecília estava envolvida nas questões práticas, mas não nas vendas.

Ela o ouviu estalar a língua.

— Estava esperando o momento ideal para contar – ralhou.

— Conte!

— Vendemos tudo.

— Mentira! - Ela fez as contas rapidamente de cabeça. – Só as entradas já vão garantir o salário de todo mundo pelos próximos dois anos.

— Quando a arrecadação acabar, você vai poder garantir salários por uma década. – Ele riu.

— Uau. Imagine só, com esses fundos, vamos poder contratar mais funcionários e aceitar adolescentes. O prédio será dividido em duas partes separadas para abrigar os adolescentes, mas não imaginávamos que seria tão cedo.

— Você pode receber um salário também.

— Aí eu não sei. – Ela balançou a cabeça. – Não acho certo. O dinheiro que eu tenho ainda pode durar bastante.

— Você tem duzentos mil euros, que queria dar para o centro, não emprestar. Se não fosse pelas arrecadações, ficaria sem um tostão.

— Como você...? Ah, o relatório. – Ela indicara a quantia que pretendia doar ao projeto, ou seja, quase tudo o que tinha na conta e as joias, à exceção da aliança. Por mais sentimental que fosse, não conseguiria se desfazer delas.

— Pode começar recebendo um salário. Você trabalha duro.

— Que nada. Eu só dou aulas de português e faço palhaçada para as crianças. – Era só para isso que ela servia, pensou, começando a se desanimar.

— Você faz muito mais que isso.

Ela deu de ombros.

— Cecília, se não fosse por você, as crianças não teriam uma escola nova e os funcionários estariam atrás de um emprego.

— Se não fosse por você. – Enquanto ela passou dois meses batendo de porta em porta para conseguir o dinheiro, cortando gastos pessoais, vendendo objetos de valor e quebrando a cabeça com relatórios, Gustavo cuidou de tudo num instante.

. – Você fez o trabalho duro. Foi tudo planejamento seu. Merece os créditos.

— Besteira. Qualquer um poderia ter feito isso.

— Quando vai parar de se diminuir?

— Não estou me diminuindo. Só quero dizer que qualquer um na minha posição faria o mesmo.

Ao chegar na garagem de casa, ele parou o carro e a olhou com uma intensidade que a fez sentir calafrios.

— Não – respondeu ele devagar. – Não acho que muita gente teria feito o mesmo.

Ela engoliu em seco e o encarou, tentando compreender aquela intensidade.

— Às vezes, Cecília Lários, olho para você e lembro por que me apaixonei.

Ela ouviu calada, não saberia dar a resposta. Sua garganta ficou seca.

Gustavo a encarou um pouco mais antes de sorrir e balançar a cabeça.


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Notas finais do capítulo

Oi gente. Então...
Espero de coração que estejam gostando da história.
Devido as festividades natalinas, ausentar-me-ei durante dois ou três dias, mas calma, logo logo estou de volta com novidades.

Agora vamos falar de spoiler?!
Próximo capítulo, tem aumento de patente para papai e mamae...S2

Feliz Natal meus amores!

Vocês sabem que me adoram. Beijinhos, A Garota da História!

P.S.: Sempre quis dizer isso! kkkkkkkk



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