A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 16
Capítulo 16




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— Você não parou no último mês – disse Gustavo. – Tire um dia de folga, vá ver Fátima, aproveita que Dulce está na escola.

— Tem certeza?

— Tenho, a demanda burocrática dos seus negócios, estão em dias. – Ele baixou a voz. – A não ser que você queira vir me possuir aqui no escritório.

Mesmo com Gustavo longe, só o sussurro da voz dele já a fazia sentir um frisson.

— Vejo você quando chegar em casa. Tchau.

Ela desligou o celular, foi até a janela e observou a chuva torrencial e as palmeiras balançando ao vento. Era o auge do calor, e caía um dilúvio em Doce Horizonte. Era para ela estar na escola, mas a tempestade forçou o piloto a pousar.

Ia pegar um dos carros de Gustavo, já que o seu estava no lava jato, quando Fabiana ligou insistindo que podia cobri-la.

Estava torcendo para que parasse até sexta. Ela e Gustavo se encontrariam com Cristóvão cedo e depois Cecília iria para casa pegar Dulce para leva-la ao festival de tintas. Mas agora tinha tempo para si. Um banho. Só precisava disso.

Fazia séculos que não tomava um banho demorado. Ela encheu a banheira, entrou e relaxou, ouvindo o barulho da chuva de olhos fechados.

Quando fora a última vez que se sentira tão satisfeita? As últimas semanas voaram. Ela foi com Gustavo e Dulce a Fazenda St Lucia para inspecionar as obras de um complexo de Café e ao Rio Grande do Sul, onde ficava uma das corporações Lários, jantaram com colegas de trabalho e amigos, levaram Dulce ao cinema e ao teatro para assistir o musical A Bela e a Fera, e ainda conseguiu trabalhar alguns dias por semana na escola.

Estava sentindo muitas coisas diferentes. Antes, quando viajava com ele e testemunhava seu império crescente, sentia-se fora do lugar. Então parou de acompanhá-lo com a desculpa de cuidar dos próprios negócios. O efeito colateral era o ciúme que Cecília sentia nessas noites solitárias. Agora suas inadequações não importavam. Suas imperfeições não importavam. Ela e Gustavo estavam juntos por um tempo limitado.

Não era permanente e não precisava fingir ser perfeita.

Se ele estava incomodado com suas limitações, não disse nada, e por que se incomodaria? Em abril, seguiriam rumos diferentes. Tinha a Dulce como um vínculo e ela sabia que nenhum dos dois abriria mão de acompanhar o crescimento da menina, ela sabia que ele não a tomaria, no entanto a veria com frequência. Mas ao fim, iriam divorciar-se e ele poderia escolher a mulher perfeita.

Sentiu uma pontada de dor ao imaginá-lo com outra. Inspirou fundo, esperando o sentimento ir embora, mas, a cada dia que passava, ele se instalava mais. Ela não ia cometer os mesmos erros de antes. Sexo fantástico não era amor.

Foi isso que a meteu em confusão: confundiu tesão com amor e, quando realmente se apaixonou, era tarde e estava numa cilada. Não se reconhecia mais.

Porém dessa vez seria diferente. Dessa vez... A não ser que você queira vir me possuir aqui no escritório...

Ela dissera a si mesma que não tomaria a iniciativa. Que não se entregaria para o homem que a chantageou. No entanto... Não haveria consequências se fosse embora. Gustavo não desistiria da adoção de Dulce, não agora. Sabia que ele estava envolvido demais. E ele também sabia.

Gustavo não poderia fazer nada para chantageá-la. Mesmo que pudesse, desconfiava que ele não faria. Por mais de um mês, tentou se convencer de que estava ali por causa de uma combinação, ainda que odiosa.

Ela abriu os olhos. Só ficou porque quis. A chantagem de Gustavo foi horrível. Ele acreditava em coisas terríveis sobre ela que só conseguiria provar com um detector de mentiras, mas, no último mês, lhe agraciara com algo que nunca demonstrou em anos de casamento: respeito ao espaço dela.

 O coração dela bateu tão forte quanto a chuva na janela, sua cabeça era um trem descarrilado. Será que o casamento deles poderia dar certo? Não, não era bom pensar assim. A relação deles começara bem. No início, era só o sexo que os unia, até ele se ajoelhar e lhe oferecer um anel de brilhante.

Com aquele limite de tempo, talvez pudessem ter o namorico que a relação deles devia ter sido, que deveria ter acabado com o verão e se tornado uma doce lembrança.

Veio-lhe uma tranquilidade quando aceitou que não era uma refém, mas uma participante. Ela queria mesmo gastar os meses seguintes se contendo por causa de um senso de indignação inútil?

Cecília relaxou e começou a viajar, relembrando cenas de sexo entre os dois. Se ela se concentrasse muito, podia sentir o peso dele no seu corpo, a língua...

De repente, ela se sentou, tomada por um pensamento delicioso. A não ser que você queira vir me possuir aqui no escritório... Estava na hora de equilibrar a relação. E sabia muito bem como.

Gustavo tomou um gole d’água e tentou se concentrar na carta que ditava ao assistente pelo laptop sem pensar em Cecília e Dulce, sem pensar em voltar mais cedo para ficar com elas. O telefone tocou. Ele parou no meio da frase e franziu o cenho. Sua equipe sabia que ele não devia ser interrompido. Ele apertou o botão e falou:

— Houve algum problema?

— Sua esposa está aqui – disse Silvana.

— Ela diz que é importante.

Imediatamente, ele começou a pensar em tudo o que podia tê-la trazido ali, com um calafrio pensou em Dulce. Não podia ser coisa boa, o que teria acontecido com sua menina. Ou será que Cecília voltou atrás na sua decisão e queria o fim imediato?

— Pode mandar entrar.

No último mês, a relação deles fora boa. Melhor do que ele jamais sonhara, até quando trocaram votos e o futuro era uma tela em branco. Boa demais. Depois de uma alta, vinha uma queda.

A porta se abriu e Cecília entrou de trenchcoat. Ele se levantou. – O que houve?

Com um sorriso sereno, ela fechou a porta.

— Sente-se – disse, calma.

Gustavo não era de ficar confuso, mas agora...

— Hein?

Ela pôs as mãos no cinto do trenchcoat.

— Eu falei... – disse calma tirando o cinto – para sentar.

Ela abriu o casaco e estava completamente nua.

Livrando-se do trenchcoat, foi até ele só de salto alto. Ele piscou, crente que estava sonhando. Ela pôs a mão no peito dele e o empurrou para a cadeira. O rosto de Gustavo estava quase na altura das suas coxas. O efeito nele foi instantâneo.

O sorriso dela perdeu a serenidade, tornou-se sensual. Com a mão no ombro dele, passou a perna sobre o colo dele para montá-lo, mas sem tocá-lo. Embora não estivesse encostando na pele de Gustavo, a carne dele ardia.

Ela sussurrou ao ouvido dele:

— Resolvi aceitar sua proposta.

Com o peso dos seios dela apoiado no peito e o odor quente de Cecília, era impossível ter pensamentos coerentes.

— Que proposta?

Ela roçou os lábios pelo rosto dele até chegar à boca e foi abaixando a mão até o cinto dele.

— Possuir você no escritório.

Continuou com a boca na dele ao tirar o cinto e descer o zíper.

Ele pôs a mão na cintura dela, e a maciez da pele intensificou o desejo. Nunca ficara excitado tão rápido quanto agora, tão consciente do sangue pulsando. Foi tomado por uma sensação de urgência e puxou a calça e a cueca para baixo. Ela logo o dominou. Ele inspirou fundo para conter um gemido.

Arquejando, ela o conduziu à sua abertura e sentou-se nele. Dessa vez ele não conteve um grunhido e, ao abrir a boca, ela também gemeu, e os dois sons se uniram.

Ela se levantou, pôs as mãos nos ombros dele para se firmar e depois sentou de novo. Com a mão nas costas dela e a outra no quadril, Gustavo começou a se mexer dentro de Cecília, subindo para acompanhar as investidas dela, sem conseguir tirar os olhos dos da mulher. Eles estavam cheios de êxtase, tudo direcionado para ele.

Mas também havia urgência, para os dois, e os movimentos se aceleraram, até que ela desabou sobre ele e seus lábios se uniram. Ele a sentiu se apertar ao seu redor e tentou se conter, até ela mergulhar uma última vez e tremer, agarrando-se a ele. Então chegou a hora do clímax de Gustavo. Ele o tomou em ondas, cegando-o com uma força selvagem, e todo o corpo dele tremeu enquanto lutava por cada gota de prazer. Não fazia ideia de quanto tempo ficaram sentados depois, unidos, o rosto no pescoço um do outro, a respiração arquejante.

Foi só quando ela o beijou que ele sentiu a sanidade voltar.

— Preciso usar o banheiro – murmurou Cecília.

Ela sorriu e, cambaleante, foi ao banheiro.

Sozinho, ele expirou, levantou-se e apanhou as roupas, começando a pensar direito.

Aquela devia ter sido a experiência mais erótica e inesperada da sua vida.

Num instante, Cecília voltou para a sala e apanhou o casaco. Seus olhos encontraram os de Gustavo e ela sorriu ao se vestir. Cecília foi até ele, pôs os braços no seu pescoço e o beijou. Fez menção de ir embora, mas ele lhe agarrou o pulso e a puxou, dando-lhe um último beijo apaixonado.

Com um sorriso sereno, Cecília foi embora em silêncio. Gustavo sentou-se de novo e esfregou os olhos.

O que tinha acontecido? Em todos os anos de casamento, Cecília nunca tinha feito nada parecido. O mais próximo foi usar lingerie sexy e o seduzir no quarto. Ele sentiu um arrepio ao vê-la abrir o trenchcoat e revelar sua nudez gloriosa de novo. Minha nossa. Ela viera pronta para ele. Deus.

Ele tentou se concentrar no trabalho de novo, mas sabia que era uma causa perdida. Chegaria em casa logo. Sentiu outro arrepio e rilhou os dentes. Será que ela estaria vestida ou nua? Ele apertou o comunicador.

— Traga-me café – ordenou, esquecendo as delicadezas. – Forte.

Só com muito esforço conseguiu render alguma coisa.

A libido não chegou a voltar a zero, mas teve que ignorá-la para terminar o trabalho o mais rápido possível e voltar para casa. Gustavo sentia o coração bater no peito.


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