A Proposta escrita por Maria Ester


Capítulo 11
Capítulo 11




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 Cecília ficou a semana inteira presa a ele. Passaram o resto da semana no escritório dele. Estiveram ocupadíssimos, vivendo em reuniões, trabalhando num ritmo alucinante. Naquele momento, estavam em um recesso natalino e, embora o ritmo não estivesse menos frenético, o lugar era mais calmo, e os empregados, mais tranquilos. Provavelmente por estar chegando o Natal.

 Ela também estava sob efeito daquela sensação de descanso iminente.

Detestava admitir, mas ficava empolgada só de pensar nas noites sozinha com ele.

Fazer amor com Gustavo era viciante.

Dulce estava cada dia mais habituada a rotina deles e a da casa, nunca reclamava de nada, estava mais risonha e bem mais falante que antes. Mas ainda era retraída e se sentia bem mesmo, só quando Cecília ou Gustavo estavam por perto.

Eles se sentiam mal em deixar a menina só, com apenas empregados.

Gustavo bem sabia o que era não ter atenção dos pais, principalmente do pai, que só o julgava e menosprezava seus pequenos erros de criança.

Ele tentava compensar a menina, nos tempos livre, com brincadeiras, histórias, ou até mesmo levando ela para brincar com Rox, que por incrível que pareça, adorou Dulce. Foi amor à primeira latida!

Gustavo não queria ter vínculo algum com Dulce Maria, mas foi inevitável se aproximar, a partir do momento que viu seu sorriso ingênuo, sua cumplicidade com Cecília, seu olhar tão sincero. Não tinha como negar que ela era especial.

Talvez pelo fato de ser criança e crianças serem assim, ingênuas, ou por ser bastante esperta.

Ele não sabia, mas tinha certeza de uma coisa; a queria sempre feliz, com aquela gargalhada linda que ele adorava ouvir. Quando ela olhava Cecília ou ele chegando e pulava para o colo de ambos, dizendo um esplendoroso; “Que bom que chegaram, senti saudades”.

Dulce trouxe vida para casa e alegria para o coração de Gustavo, que a muito tempo não sentia-se tão à vontade na presença de alguém, com exceção de Cecília no começo do casamento, como sentia-se brincando com Dulce.

Ele estava cada dia mais afeiçoado a ela, e não tinha dúvidas de que ela sentia o mesmo.

Quanta falta ela faria, quando tudo aquilo acabasse e elas partissem sem ele. Mas não iria pensar nisso agora.

Cecília, observava quieta, a cumplicidade entre Dulce e Gustavo, ficava maravilhada com as cenas que presenciava entre eles.

Ela não queria admitir, mas era fato que a ligação entre eles estava cada dia mais forte e temia o dia quem tudo aquilo acabasse. Não queria que Dulce sofresse, queria sua menina feliz, como estava agora, brincando, rindo, se divertindo.

Já estava tudo diferente entre eles.

Parecia diferente, e não só porque fora chantageada. A dinâmica havia mudado. De um modo doentio, era melhor assim, mais sincero.

 Não precisava mais fingir ser quem não era, não temia mais decepcioná-lo. Devia estar comemorando.

Quatro meses de êxtase físico sem precisar ser quem não era? Em outras palavras, exatamente o que o casamento deles deveria ter sido.

Com a chegada da segunda feira, foram direto para o juizado.

Não foi difícil nem demorado, bastou algumas entrevistas com a assistente social e o decreto logo saiu, autorização concedida aos Lários.

Cecília teve a impressão de que tudo se tornava mais fácil quando se tinha um nome importante.

Como era fácil quando se tinha dinheiro e prestígio!

Mas nada importava mais naquele momento que ter a Dulce no colo e poder dizer; Minha menina, minha menininha.

— Dulce, agora ninguém pode te tirar de mim. – Olhou-a com lágrimas nos olhos – Somos uma família agora, minha pequena.

Dulce estava com os olhos marejados e imóvel no colo dela, não conseguia chorar. Apenas a abraçou forte.

Depois de um tempo disse:

— Tia Cecí, meu padrasto não pode mais me tomar de você? – agora ela chorava.

— Meu amor, não chora. Agora você esta sob minha guarda. Seu padrasto nunca mais vai te fazer mal. Eu prometo.

— Estou chorando de felicidade. Agora eu tenho vocês, tenho o Rox que é meu amigo, a tia Fátima, o tio Cristóvão. – Olhando para Gustavo que não sabia se ria ou se chorava, completou – Papai do Céu demorou, mas caprichou na minha família.

Cecília ficou em choque com aquela confissão. Como poderia privar Dulce do amor e carinho de Gustavo, era um caminho sem volta. Eles já estavam ligados pelo coração.

Todo dia que chegava ao fim, era uma lembrança de que o tempo estava passando muito rápido e que logo chegaria o dia deles dizerem adeus. Não queria imaginar como a Dulce se sentiria, muito menos ela. Teria que ser forte, teria que ser assim, seria melhor para todos.

O dia passou rápido, nenhum dos dois tiveram pensamento para trabalho, somente para a criança que estava com eles.

Dulce adorou ter esse dia só para ela. Visitaram zoológico, parque, shopping e enfim o dia acabou, com ela cansada e dormindo sob o colo de Cecília.

Ao chegarem, Gustavo levou a menina para cima como já era de costume. Cecília o seguiu para que pudesse prepara-la para dormir. Ao terminar, saíram do quarto e se direcionaram para a suíte do casal.

— Meu Deus, a Dulce agora é minha, minha filha.

— De nada.

Olhou para ela, que gargalhou.

— Estou tão feliz e agradecida agora que posso dizer o que você quiser.

Conteve-se para não soltar um gracejo.

Ver aquela empolgação no rosto dela fazia seu sangue ferver. Fazia tempo que não a via sorrir assim.

O celular dela tocou, vibrando. Ela o agarrou.

 – Quem é?

— Diana, aquela minha amiga de infância.

— O que ela quer?

— Está respondendo a um recado que deixei para ela, eu queria saber quando ela pode almoçar comigo.

A expressão dele não se alterou.

— Esqueceu nosso acordo? Seu lugar é aqui comigo.

Ela revirou os olhos.

— Não. Por isso sugeri um fim de semana.

— Você também fica comigo nos fins de semana.

— Até um presidiário tem direito a visitas. Você não acha que pode me impedir de visitar minha amiga, não é? Seria horrível da sua parte.

Ele apertou os olhos.

— Não, eu não a impedirei de ver ninguém, mas você sabe que eu posso. – Piscou para ela – E eu não fui horrível ontem quando a fiz atingir o clímax com a língua.

— Você é muito talentoso – respondeu com doçura, tentando não corar.

— Por que você não vem aqui para eu mostrar meus outros talentos? – Ele a puxou pelo braço e encarou-a com um brilho lascivo nos olhos azuis, beijando-a preguiçosamente.

Devagar, ele passou a mão pelo pescoço de Cecília. Ela via que ele estava pensando em algo.

Quando seus dedos encontraram o seu cabelo e acariciaram sua nuca, ela prendeu a respiração.

Quando o beijo se aprofundou, não houve protesto. Só vontade. Seguida de êxtase.

Após a noite de amor, Gustavo acordou com a impressão de que ouvira um grito, ficou deitado com Cecília dormindo profundamente aninhada em seu peito. Ouvira outro grito seguido de um choro.

Levantou sem que Cecília acordasse e direcionou-se para o quarto de Dulce.

A menina estava sentada na cama, aos prantos e chamava por Cecília.

— Meu amor, calma. O que aconteceu? – Gustavo sentou ao seu lado na cama e a abraçou, colocando-a em seu colo.

— Tio Gustavo...

Dulce apenas chorava em seu peito e o abraçava com força. Aquela cena partiu seu coração, vê-la assim, tão assustada.

—Dulce, você está tremendo, eu estou começando a ficar nervoso. – Ele olhou-a e enxugou suas lágrimas. - Me explica o que aconteceu.

— Eu tive um sonho muito ruim, sonhei que minha mãe mandava meu padrasto vir me buscar e ele me batia muito. – Ela o abraçou – Tio Gustavo, eu prometo que juro que vou ser uma boa menina, não vou faltar com respeito nunca. Eu até arrumo a casa, mas não me deixa ficar longe de vocês.

Gustavo chorou abraçado a Dulce.

Seria essa a sensação de ter um filho, sentir dores que iam muito além de físicas? Ele não sabia. Mas tinha plena convicção de que faria qualquer coisa para tirar aquela dor de Dulce.

— Meu amor, presta atenção. – Olhando seus olhinhos vermelhos. – Aqui você esta segura e não vai ter ninguém que te impeça de viver comigo ou com Cecília.

Ele não poderia usar a palavra “conosco”. Não nas circunstâncias em que o relacionamento dele com Cecilia se encontrava.

— Eu estou com medo, você pode ficar aqui até eu dormir?

Não houve tempo para resposta, Cecília entrou no quarto e deparou-se com aquela cena.

Dulce estava sentada no colo de Gustavo, abraçada a ele, e os dois estavam com os olhos vermelhos de quem estava chorando.

— Gente, o que houve? – Sentou-se ao lado deles e Dulce pulou para o seu colo. – Meu amor, você estava chorando?

— Tia Cecí, me abraça forte e nunca mais me solta, por favor.

Cecília olhou para Gustavo sem entender muito o que estava acontecendo ali. Gustavo olhou-a com um olhar vago de tristeza.

— Gente, eu estou ficando assustada.

— Dulce teve um pesadelo, Cecília, e está muito assustada para dormir sozinha. – Ele continuava com o olhar inexpressivo. – Ela irá dormir conosco hoje.

— Você tem certeza? – ainda abraçada a Dulce. – Eu posso ficar aqui com ela e...

— Nada disso, nós três dormiremos no meu quarto. Além disso, não há justificativa para você dormir aqui, afinal a cama de lá é triplo do tamanho dessa aqui.

Cecília olhou-o com gratidão e ele assentiu com um gesto feito com a cabeça.


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